Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, outubro 25
Perplexidade
"Supremo recusa pedidos de consulta de Ivo Rosa", é o titulo da notícia. Um juiz que foi investigado sem ter sido nunca inquirido, nem informado de nada, cheira pelo menos a abuso de poder. Coisa de serviçoes secretos e não de serviços judiciais. Provavelmente o acontecimento mais grave - dos conhecidos - de ataque ao regime democrático. Ninguém quer saber! Um dia destes a casa vai abaixo.
quinta-feira, outubro 23
António Dias
O António Cavalheiro Dias morreu. Sempre me telefonava no dia 24 de abril. Foi com ele (e com o João Mário Anjos) que partipei no 25 de abril, naquela madrugada inesquecível. Ao volante do seu Datsun com ele percorri os mesmos caminhos da coluna de Salgueiro Maia. Arriscámos tudo, e daquela vez, deu certo. Fomos uma pequena gota de água limpida no mar da multidão que se fez à rua, sorvendo o ar da madrugada e ignorando os riscos. Mais tarde, a 9 de junho de 1974, na primeira assembleia de militantes do MES, ele foi eleito para o secretariado do MES (comigo e mais um punhado de boas vontades), mas não nos demos a conhecer em público pois estavamos ainda a cumprir serviço militar. Esteve em todas de forma discreta, mas era de uma coragem imensa. Aqui chegados, com a morte dele e, antes, do João Mário, fico eu a carregar essas memórias. Hei-de ter tempo para as organizar em livro que tenho planeado na minha cabeça. Honra à sua memória.
quarta-feira, outubro 22
Balsemão
Confesso que estou cansado de eleições e dou por mim a desgostar dos cartazes com as caras de candidatos que vão encher o espaço público. Aprendi desde 25 de abril de 75 a gostar de eleições e a vibrar com elas, um método de escolha - um homem um voto - livre e secreto, com o qual muitos sonharam, e do qual Balssemão terá sido um dos maiores entusiastas. Morreu, era da geração do meu irmão, nascidos pelo meio dos anos 30, os anos da guerra civil espanhola e da mais dura ditadura salazarista - o PPD, o Expresso e SIC imortalizaram-no nos anais da democracia portuguesa - uma das mais representativas de todas as democracias da qual a principio desconfiei. Estava errado e de tudo se fez história que a nossa memória preserva, sem esquecer que foi o 25 de abril de 1974 que abriu as portas da liberdade, de todas as liberdades. Salvé Balsemão!
domingo, outubro 19
Arqueologia
Na minha terra por uns dias de fim de semana com sol e temperatura amena sento-mo na esplanada da Gardy. Nesta rua, a principal da cidade onde nasci, vivi uns largos anos e desde sempre conheci e frequentei a Gardy. Na rua defronte da esplanada passa sem parar uma multidão de turistas e nativos de todas as qualidades e feitios. Um mundo em movimento. Mesmo ao lado fica a sede do partido da extrema direita. Numa canteria defronte mantêm-se legivel o simbolo no MES uma inscrição de arqueologia urbana com mais de 50 anos. Causa-me boas sensações e trazer isto para aqui serve para reforçar que este é um espaço estritamente pessoal, de alguma forma, também arqueológico.
sábado, outubro 18
O PS hoje (2)
Olho para a imprensa nas suas diversas formas e são muitas as referências ao PS grande parte das vezes para o atacar. Tento encontrar o racional desta extensa e profunda incomodidade mas não é fácil. Agora mesmo vejo que o almirante toma soares como modelo de presidente. Na nossa sociedade cada vez mais sequestrada pela agenda da extrema direita, xenófoba e racista, os protagonistas precisam do PS para alimentar esperanças. O PS por ora precisa de resistir pois é nele que se reunem a história dos ideais da liberdade e as esperanças de um futuro de progresso económico e social. Mas precisa de mudar sem perder as raizes.
terça-feira, outubro 14
O PS hoje
Faz bem Carneiro em aproveitar esta semana, pós eleitoral, para definir com clareza as posições do PS face ao OE e às eleições Presidenciais. As posições dos outros partidos todos sabem bem quais são. Do PS até hoje não. Sabemos da orientação para a abstenção no OE viabilizando-o, tornando a posição da extrema direita a esse propósito irrelevante. O PS posiciona-se para se opor, espero, às propostas da direita em diversos campos, entre outros, da reforma da legislação laboral, da segurança social e, em geral, da defesa do estado social. A esquerda democrática encarnada pelo PS precisa de ganhar espaço e não precisa de depender de mais ninguém à esquerda, salvo situações excecionais, para ganhar músculo. Assim saiba congregar os seus amainando as rivalidades e ódios de estimação internos. Não sei se será capaz... Por fim apoiar a candidatura de Seguro à Presidência não por que não pudessem haver alternativas - todos baixaram bandeiras - mas por que é a única alternativa e pode, paradoxalmente, ser vencedora. Ou seja, o PS pode e deve, nas atuais circunstâncias e, provavelmente, sempre encarnar a radicalidade da moderação.
segunda-feira, outubro 13
Autárquicas
O meu sentimento destas eleições é o de que o voto buscou o equilibrio. Não se trata de bloco central, que bem poderá vir a ser, mas de reafirmar o PS como alternativa de centro esquerda. Este para mim o significado mais relevante destes resultados, ou seja, sinalizar que é possível evitar a bipolarização entre os extremos.
sábado, outubro 11
Nobel
Dois dias após ter tomado conhecimento do Nobel da literatura que lhe foi atribuido em 1957 Camus escreveu: “19 octobre.
Effrayé par ce qui m´arrive et que je n´ai pas demandé. Et pour tout arranger attaques si basses que j´en ai le cœur serré. Rebatet (*) ose parler de ma nostalgie de commander des pelotons d´exécution alors qu´il est un de ceux dont j´ai demandé, avec d´autres écrivains de la résistance, la grâce quand il fut condamné à mort. Il a été gracié, mais il ne me fait pas grâce. Envie à nouveau de quitter ce pays. Mais pour où?
La création elle-même, l´art lui-même, sont détail, tous les jours et la rupture … Mépriser est au-dessus de mes forces. De toutes manières il faut vaincre cette sorte d´effroi, de panique incompréhensible où cette nouvelle inattendue m´a jeté. Pour cela …". Os ataques da extrema direita e dos comunistas (que havia abandonado) sucederam-se. Sempre é assim para aqueles que persistem, contra ventos e marés, na defesa da liberdade.
(**) – Crítico de extrema-direita que escreveu no Dimanche matin, a propósito da atribuição do Nobel a Camus, um texto no qual, por exemplo, se podia ler: “Desde a sua alegoria da Peste, já se diagnosticava em Camus uma arteriosclerose do estilo.”
quinta-feira, outubro 9
Paz
Seria uma perda de credibilidade brutal para o Nobel a atribuição do Nobel da paz a Trump. Nem sequer argumento. Espero que seja escolhida uma organização, ou personalidade, que verdadeiramente tenha pergaminhos reconhecidos na luta pela paz no mundo.
terça-feira, outubro 7
Autárquicas
Os resultadas das autárquicas serão o que cada um quiser. Umas eleições mais, tendo votado em todas já lhes perdi a conta. Em si próprias são uma coisa boa, uma boa opção esta da democracia representativa, depois de tantas dúvidas e ziguezagues após o 25 de abril. Por isso fico feliz no exercício do voto se bem que voto, quase invariavelmente, nos mesmos, ou seja no PS. O mesmo vai acontecer desta vez. Já sei que o PS será, perante a opinião publicada, derrotado. O seu score nas anteriores autárquicas foi tão alto que outra coisa não será de esperar. A extrema direita vai vencer, segundo a opinião publicada, pois nas anteriores quase não existia. O PSD vai resistir pois o poder pode muito. De resto são irrelevâncias para o obervador externo que não para os próprios. No fim: por cá todos bem.
domingo, outubro 5
República
Às 8,30 da manhã passava pela Rua do Ouro, em triunfo, a artilharia, que era delirantemente ovacionada pelo povo. As ruas acham-se repletas de gente, que se abraça. O júbilo é indescritível! A essa hora, no Castelo de S. Jorge, que tinha a bandeira azul e branca, foi içada a bandeira republicana. O povo dirigiu-se para a Câmara Municipal, dando muitos vivas à REPÚBLICA, içando também a bandeira republicana. (…) Vê-se muita gente no castelo de S. Jorge acenando com lenços para o povo que anda na baixa. Os membros do directório foram às 8,40 para a Câmara Municipal, onde proclamaram a República com as aclamações entusiásticas do povo. O governo provisório consta será assim constituído: presidente, Teófilo Braga; interior, António José de Almeida; guerra, Coronel Barreto; marinha, Azevedo Gomes; obras públicas, António Luís Gomes, fazenda, Basílio Telles; justiça, Afonso Costa; estrangeiros, Bernardino Machado. Governador Civil, Eusébio Leão. Em quase todos os edifícios públicos estão tremulando bandeiras republicanas. A polícia faz causa comum com o povo, que percorre as ruas conduzindo bandeiras e dando vivas à República. (Transcrito de O Século, quarta feira, 5 de Outubro de 1910, publicação de última hora.) Raúl Brandão, in Memórias “O meu diário” – Volume II Perspectivas & Realidades
sexta-feira, outubro 3
A devassa
Esta notícia do juiz devassado é da maior gravidade. É urgente que quem de direito esclareça ou exija esclarecimento acerca do que se passou. Escrevi aos meus amigos a propósito a seguinte mensagem: "É preciso não esquecer que a ditadura contou com a complacência ou apoio da maioria do povo incluindo elites, a pide foi tolerada, as prisões politicas idem, muitos oposicionistas deportados sem julgamento, um rosário sem conta de crimes ... impunes". Qualquer passo que se anteveja nessa direção não pode merecer quaiquer tipo de tolerãncia.
quarta-feira, outubro 1
sábado, setembro 27
sexta-feira, setembro 19
Levar de vencida o medo
Vamos a ver. Ninguém se interessa pelos problemas, queixas ou anseios de ninguém. Existem exceções cada vez menos valorizadas. Como a maioria dos seviços, os públicos em primeiro lugar que a todos assistem. A ganância leva de vencida, o discurso predominante incentiva ao ódio. Todos os sinais são de regresso aos anos 30 do século passado. Como resistir? Muitos se interrogam. O voto é uma arma em democracia. Pode falhar e virar-se contra a própria democracia, mas não se pode desistir dela. E não ter medo! (Fotografia: manifestação em Lisboa nos dias posteriores à vitória dos aliados na 2ª guerra.)
quarta-feira, setembro 17
Nosso tempo, todos os tempos
Guerras guerra, desastres desastre, crimes crime, mentiras mentira, negócios negócio, mortes morte, à beira catástrofe, não terá sido sempre assim?
domingo, setembro 14
Achamento
Ontem reli este documento extraordinário,somente 35 páginas nesta edição, datado de 1 de maio de 1500, relato de um primeiro contato com uma realidade nova, surpreendente e esplendorosa aos olhos do cronista. Ao mesmo tempo ouvia notícias acerca do julgamento de Bolsonaro, o Brasil continua a ser um novo mundo pujante de luz e força criadora.
sexta-feira, setembro 12
Uma lição de história e humanidade, in Expresso
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) citou Jesus Cristo para dizer que não considera católicos quem se afirma crente e tem um discurso contra os imigrantes e contra o acolhimento.
"Isso é o que, a mim, mais me custa entender em tudo isto", disse José Ornelas, confrontado com o facto de muito do discurso xenófobo, populista e anti-imigrantes invocar a fé católica e a matriz judaico-cristã da Europa.
Numa conferência após o XVI Encontro de Bispos dos Países Lusófonos, José Ornelas citou o que respondeu Jesus Cristo aos seus contemporâneos que o acusavam de violar a fé judaica em que havia sido criado: "A resposta é 'não vos conheço'".
"Não só precisamos de imigrantes, mas precisamos de evoluir" e deixar de ter uma "cultura de medo", algo que as leis propostas (da nacionalidade e estrangeiros) parecem acentuar, alertou José Ornelas.
Nesta alteração prevista, "o que tem mais [nos diplomas] é proibição e a preocupação com o medo que se gerou", enquanto, em contrapartida, a redação proposta é "muito, muito parca naquilo que é o dever, a necessidade e o desafio da integração" dos imigrantes, um tema em que, "praticamente, o discurso desapareceu", considerou Ornelas.
Contra os "populismos manipuladores"
Já na terça-feira, representantes das igrejas católicas de língua portuguesa tinham contestado os “populismos manipuladores” que impedem o acolhimento, “num momento em que o mundo atravessa uma noite densa de escuridão”, causada pelas guerras e pela violência.
Na abertura dos trabalhos do 16.º Encontro de Bispos Lusófonos, que decorreu esta semana em Lisboa, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, recordou que a Igreja ensina que o próximo, “independentemente da raça, acento linguístico ou cultura”, é irmão de fé.
Cabe à hierarquia contribuir para uma cultura que leve os governantes a “não cederem a populismos manipuladores, a serem verdadeiramente responsáveis no acolhimento e a saberem integrar os que chegam, na dignidade e na justiça”, acrescentou. “A colaboração das nossas Igrejas neste campo parece-me um tema crucial para o mundo de hoje e para preparar um futuro melhor para os nossos povos”, afirmou o dirigente português, na presença de representantes das Igrejas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe.
Por seu turno, José Manuel Imbamba, presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, recordou que o encontro “acontece num momento em que o mundo atravessa uma noite densa de escuridão devido ao amontoar-se de tensões entre os Estados e de guerras, umas amplamente mediatizadas e outras esquecidas ou silenciadas, que se disseminam praticamente em todos os continentes, cujos horrores e crueldades bradam os céus”.
“Essa cultura da violência tem provocado mortes indiscriminadas, movimentações forçadas de pessoas e famílias; tem produzido insegurança, incertezas e medos e tem lesado gravemente a dignidade da pessoa humana”, avisou o bispo.
O também responsável da diocese angolana de Saurimo, alertou que se está “a agudizar ainda mais a crise do direito internacional, a pobreza, a injustiça social, o desrespeito pela vida e a proporcionar um ambiente em que a mentira vale mais do que a verdade, o mal vale mais do que bem” e que “os valores instrumentais valem mais do que os valores absolutos”.
Perante esta crise de valores, “as Igrejas de expressão portuguesa pretendem ser pontes que unem” as sociedades dos vários países, procurando “fazer da hospitalidade um caminho indispensável para a promoção da cultura do encontro enriquecedor, do abraço acolhedor, da inclusão dignificante, do diálogo integrativo, da justiça restauradora, do amor renovador e da paz libertadora”, disse Imbamba.
Por seu turno, José Ornelas criticou a tentativa atual da humanidade de construir uma Torre de Babel, “sem Deus”, um “projeto humano que quer fazer-se grande” e que impõe a mesma língua a todos, sem respeito da diversidade.
Pelo contrário, defendeu uma “busca da internacionalidade e interculturalidade” que respeite os valores de cada comunidade, recordando que a Igreja tem procurado, “em cada época da história, criar unidade na diversidade”. O objetivo “não é conquistar o mundo, submetê-lo a um projeto único, humano”, mas “garantir a diversidade”, explicou.
O também bispo de Leiria-Fátima reconheceu que a Igreja tem um passado sombrio no que respeita à relação com os países colonizados pela Europa.
“A par do anúncio congregador e libertador, fraterno e universal da mensagem cristã”, o propósito da Igreja cobriu-se “também de sombras e foi contemporâneo silencioso e, por vezes, conivente, de crimes de abuso de poder e de atentado à dignidade das populações e culturas, de que a escravatura humana é escândalo e ferida, que não se pode esquecer”, afirmou o responsável da Igreja Católica portuguesa.
“A verdade purificadora da memória comum é necessária para sarar feridas e criar um futuro de autêntica fraternidade”, acrescentou Ornelas, que também abordou os problemas das migrações e da mobilidade humana.
“Esta mobilidade é objeto de muita discussão, manipulação e oportunismo, cuja fatura é paga pelos mais débeis, que andam à procura de vida digna para si e as suas famílias” e “é um tema que não pode passar ao lado das nossas preocupações”, disse.
“A Igreja é peregrina por natureza: prepara-se para partir, acompanha os que partem, para que não caiam nas mãos de oportunistas e traficantes, e acolhe aqueles que chegam” e, no dia-a-dia, “tem de ser sempre um laboratório e um viveiro de convivências crioulas que geram novas parcerias e solidariedade humana e samaritana”, explicou.
quinta-feira, setembro 11
Sicários
Por estes dias não me sai da cabeça a referência, de autoria de Moedas, a sicários dirigida a dirigentes socialistas. Assassinos. Simplifico. Não pode ser engano pois em intervenções anteriores Moedas fez, por diversas vezes, referências que apontam no mesmo sentido. Hoje mesmo Tramp em reações ao atentado a um propagandista da extrema direita responsabilizou o discurso da esquerda pelo assassinato. Já muito se falou por estes dias, porventura de forma ligeira, acerca de Moedas e da sua postura politica. Tem razão de ser pois Moedas é na prática, na função de presidente da CML, uma das dez personalidades mais influentes na apolitica portuguesa. Como tantas vezes acontece desvaloriza-se a gravidade de um discurso politico que revela um populista radical de direita, encapotado. Tem todo o direito a exprimir o seu ponto de vista e a defender-se na arena pública, mas a mentira, por vezes arvorada na defesa da liberdade, mata a liberdade.
domingo, setembro 7
Guerra
Portugal não conta na guerra que está em curso. Sofrerá indiretamente as consequências, dependendo das orientações das potências europeias. Mas sempre será necessário acautelar o quinhão minimo de autonomia que a longa história reclama. A diplomacia tem a palavra e cuidado com os Açores sempre muito cobiçados em tempos conturbados.
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