segunda-feira, abril 20

Fenómeno curioso ....

Fenómeno curioso na nossa politica, e não só. Cansamo-nos dos “velhos políticos”, daqueles cujas vozes e rostos ocupam o palco anos a fio. Alguns são poupados a essa erosão da imagem, como é o caso de Mariano Gago, pois poucos o identificavam com o político que, na verdade, foi. Mas quando surgem “políticos novos” exige-se-lhes como que uma patine, misto de reconhecimento e notoriedade, que é próprio dos “velhos políticos” que se rejeitam. Procura-se o modelo de político que esteja no lugar da bissetriz entre a novidade aceitável (suportável) e a experiência suportável (aceitável). Difícil!

domingo, abril 19

25 de abril (VII)

A minha memória dos que viveram os acontecimentos: Com Eduardo Ferro Rodrigues e Diomar Santos.

25 de abril (VI)


A minha memória dos que viveram os acontecimentos: Robin Fior.

Um paradoxo interessante ...

Um paradoxo interessante este que o falecimento do Mariano Gago suscita. Num tempo em que meio mundo fala mal dos politicos, ou pensa mal deles mas não fala, súbito, surge a unanimidade na apreciação pública das virtudes de um politico morto. Pois Mariano Gago, além de cientista, exerceu funções politicas de topo - ministro de vários governos socialistas - durante muitos anos. Estranha polifonia de extremos: da diabolização dos politicos, de forma indiscriminada, à elevação ao altar das virtudes de um politico depois de morto. Não o conheci o suficiente enquanto politico, na ação governativa, mas antes disso, certamente, desde o Liceu de Faro, às direções das associações de estudantes, nos tempos de brasa dos finais dos anos 60, inicios dos de 70. Nada a apontar a não ser uma sensação de bem estar, de plenitude civica, no cumprimento de um dever sagrado de nos opormos à tirania. Desde os tempos da escola, discretamente, o Mariano Gago quebrou o conformismo que o seu estatuto de estudante e profissional de exceção lhe estava destinado. Honra à sua memória! 

quinta-feira, abril 16

25 de abril (IV)


     A minha memória dos que viveram os acontecimentos: Agostinho Roseta.  

16 de abril - 2015


Felizmente não sabemos tudo sobre todos e cada um dos que nos rodeiam e ainda menos sabemos acerca daqueles que adivinhamos viver longe do nosso estreito círculo; pior quando alguém se esforça mesmo que com sincero esforço por se convencer que entende o que determina cada opção daqueles que não conhece nem nunca conhecerá porque nunca de verdade seremos capazes de conhecer os outros; ainda pior quando nos convencemos que nos conhecemos a nós próprios dispensando o que os outros de nós pensam que conhecem; ainda pior, muito pior, quando todos se convencem que a verdade de alguém pode ser a nossa verdade e nos tornamos crentes numa verdade comum que nos transcende.

quarta-feira, abril 15

25 de abril (III)

                  A minha memória dos que viveram os acontecimentos:
                                       Nuno Teotónio Pereira.

25 de abril (II)

A minha memória dos que viveram os acontecimentos: Victor Wengorovius (no jantar de extinção do MES).

segunda-feira, abril 13

25 de abril (I)

A minha memória do 25 de abril de 1974 através de imagens: João Mário Anjos (à esquerda) .

sábado, abril 11

Não há vida sem diálogo ...


" Não há vida sem diálogo. Mas o diálogo foi, hoje, na maior parte do mundo, substituído pela polémica. O século XX é o século da polémica e do insulto. Eles ocupam, entre as nações e os indivíduos, e mesmo ao nível das disciplinas outrora desinteressadas, o lugar que tradicionalmente cabia ao diálogo reflectido. Dia e noite, milhares de vozes, empenhadas, cada uma por seu lado, num tumultuoso monólogo, lançam sobre os povos uma torrente de palavras mistificadoras, de ataques, de defesas, de exaltações. Mas qual é o mecanismo da polémica? Consiste em considerar o adversário como inimigo, por conseguinte a simplificá-lo e a recusar vê-lo. Aquele que insulto, já não sei de que cor são os seus olhos, ou se acaso sorri, e como o faz. Tornados quase cegos por obra e graça da polémica, já não vivemos entre os homens, mas num mundo de sombras." (…)


Albert Camus – alocução feita na sala Pleyel em Novembro de 1948, in Actualidades - Contexto 

quinta-feira, abril 9

dia 9 de abril - 2015


O romance das eleições presidenciais em Portugal - janeiro de 2016 - está no 1º capítulo, intróito ou prefácio que para alguns candidatos a candidatos será o último. Impressiona somente a voragem comunicacional em torno de algumas criaturas vagamanente irrelevantes. Mas é a lei da vida e a regra de uma sociedade livre em regime democrático. Se continuar a este ritmo a emergência pública de aspirantes a Belém lá para os idos do verão contar-se-ão por dezenas as irrelevâncias. Por mim não estando a pensar em anunciar candidatura, embora preencha os requisitos, espero pelo dia de reflexão para decidir o meu voto. Haja paciência!

sábado, abril 4

SALGUEIRO MAIA

Pelo 23º aniversário da morte de Salgueiro Maia

O tempo faz esquecer. O tempo é malicioso. O tempo mata a memória. Salgueiro Maia não era um oficial crente nos amanhãs que cantam, dizem até que era conservador mas, perdoem-me o plebeísmo, “tinha-os no sítio”, estão a compreender! Para dar lume a uma revolução mais vale um conservador com “eles no sítio” do que um revolucionário desertor da coragem no momento da verdade. Mas, na verdade, todos os testemunhos confirmam que não era um conservador.

Quem fez triunfar a revolução não foi Ramalho Eanes, nem Spínola, nem Costa Gomes, não foi nenhum General estrelado pelo Antigo Regime, ou promovido administrativamente pelo novo, quem decidiu o triunfo da revolução foram os “capitães” e o povo, que alargaram à rua o posto de comando e que tomando a rua para si tudo decidiram.

E entre todos os heróis anónimos, foi a coragem serena de Salgueiro Maia naquele momento breve, na Rua do Arsenal, enfrentando o atirador do tanque da coluna de Junqueira dos Reis, fazendo-o desobedecer às ordens, que decidiu a sorte da revolução. É prudente que, para preservar a liberdade, a democracia - seguindo o exemplo de Salgueiro Maia - não vacile no combate aos seus inimigos.

quarta-feira, abril 1

ALOCUÇÃO AOS SOCIALISTAS


"Na política, como sabeis, o comportamento rectilíneo, sem argúcia alguma, - sincero, aberto, desartificioso, claro, - usa ser censurado, como sendo ingénuo: e, nessa sua qualidade de comportamento ingénuo, como prejudicial, ou pateta. Paciência. Seja. (…) Os essencialmente habilidosos (não faço empenho em negá-lo) alcançam a sua hora de simulacro e de vista. Mas é uma hora e nada mais; mas é simulacro, e só vista. Logo a seguir a esse instante, comunica-se-lhes o fogo da sua iluminação de artifício, e fica tudo em fumaça, que pouco depois não é nada."

"Aos nossos socialistas, quanto a mim, compete-lhes resistirem ao tradicional costume de se empregarem espertezas e competições de pessoas para apressar o momento em que há-de chegar ao poder…"

"Antes de tudo, buscai prestigiar-vos ante a nação inteira pelo timbre moral da vossa alma cívica; porque (como acreditais, creio eu) não é indispensável conquistar o poder para se influir de facto na orientação do estado."

"Não tenhais a ânsia de vos alcandorar no poleiro com prejuízo das qualidades a que se tem chamado "ingénuas". As habilidades dissipam-se; os caracteres mantêm-se."

"Não existam ciúmes e invejas recíprocas entre os vários componentes da vossa grei socialista: nem tampouco os ciúmes, nem tampouco as invejas, para com os homens que compõem as outras facções da esquerda. Seja vosso lema a unidade. Por mim, quero trabalhar pela unidade, pelo entendimento recíproco, pela existência de convivência amável entre os homens políticos de orientações discordes. Incorrigivelmente "ingénuo", fraterno, cordial."
António Sérgio, In "Alocução aos Socialistas", No Banquete do Primeiro de Maio de 1947.

Veja aqui

segunda-feira, março 30

30 de março - 2015


Voltando a um tema antigo: a polítca. Na Madeira (região autónoma - grande conquista do 25 de abril) tiveram lugar eleições. Os resultados deram expressão a uma mudança, com a peculariedade do protagonista que lidera pertencer ao mesmo Partido do antecessor. O que acontece na RA da Madeira é que não há espaço para mudanças senão pela rotação da liderança no Partido do poder. Simples. É um modelo de rotativismo de um só partido. Porquê? Os restantes partidos assumiram a subalternidade e não a alternativa. E, no caso particular do PS, uma subalternidade abdicando da  identidade própria, ao contrário do CDS.  

sexta-feira, março 27

27 de março - 2015

                                                                   Teresa Dias Coelho

Não se sabe ao certo o que aconteceu pois nunca nada que não se tenha vivido se sabe ao certo. Despenhou-se um avião de um modelo conhecido, dizem que em fim de vida, de uma companhia alemã - alemã - dessas "baratas", negócio de uma das "caras" - voando nos céus da Europa. As primeiras notícias, como quase sempre neste tipo de tragédias, eram confusas pois o que se sabia é que o avião se havia despenhado numa zona de difícil acesso nos Alpes franceses. Todos os mais altos dirigentes políticos dos países, mais directamente atingidos, apareceram à boca de cena declarando o seu pesar o que parece normal. A esta hora ainda decorrem as investigações mas correu mundo a notícia que o copiloto - um jovem alemão - alemão - havia feito despenhar o avião arrastando para a morte todos os que nele viajavam. Alerta geral. Pensava eu que face à ameaça terrorista que, muito compreensivelmente, a todos preocupa, tinham sido tomadas as mais rigorosas medidas de segurança que, aliás, os passageiros sentem na pele - mais nuns aeroportos que noutros - quase sendo despidos naqueles momentos que antecedem o acesso à zona do embarque. Mas não! As medidas de segurança, pelo menos algumas, são inimigas de si próprias. A porta que se fecha a sete chaves para impedir o assalto do inimigo externo pode ser uma arma letal nas mãos do "inimigo" interno. Finalmente torna-se necessário recorrer à mais humana das medidas de segurança: a garantia, e exigência, de uma permanente direcção colectiva, neste caso, na cabine de pilotagem da aeronave. Peritos e técnicas sofisticadas para quê?      

terça-feira, março 24

HERBERTO HELDER


ERA UMA VEZ UM PEQUENO INFERNO E UM PEQUENO PARAÍSO ...
"Era uma vez um pequeno inferno e um pequeno paraíso, e as pessoas andavam de um lado para outro, e encontravam-nos, a eles, ao inferno a ao paraíso, e tomavam-nos como seus, e eles eram seus de verdade. As pessoas eram pequenas, mas faziam muito ruído. E diziam: é o meu inferno, é o meu paraíso. E não devemos malquerer às mitologias assim, porque são das pessoas, e neste assunto de pessoas, amá-l...as é que é bom. E então a gente ama as mitologias delas. A parte isso o lugar era execrável. As pessoas chiavam como ratos, e pegavam nas coisas e largavam-nas, e pegavam umas nas outras e largavam-se. Diziam: boa tarde, boa noite. E agarravam-se, e iam para a cama umas com as outras, e acordavam. Às vezes acordavam no meio da noite e agarravam-se freneticamente. Tenho medo - diziam. E depois amavam-se depressa, e lavavam-se, e diziam: boa noite, boa noite. Isto era uma parte da vida delas, e era uma das regiões (comovedoras) da sua humanidade, e o que é humano é terrível e possui uma espécie de palpitante e ambígua beleza.”

Herberto Helder