Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, julho 31
FÉRIAS 2016
Na véspera de um período de férias no tempo certo, pelo calendário, fora do tempo certo por outras razões, incluindo profissionais. Mas o cansaço exige descanso, afastamento das rotinas, cumprindo rituais diferentes noutros lugares, com outra métrica do tempo. Levo para ler, com prioridade, "Conquistadores", de Roger Crowley, e a expetativa de visitar, uma a uma, as "ilhas barreira" da Ria Formosa, a começar pela "Deserta". As minhas férias são as mais modestas das férias que se possam imaginar: "ir para a terra", no caso, demandar o Algarve.
segunda-feira, julho 25
Turquia - 25 de julho
Faz-se sentir um calor de arrasar, coisas da natureza, que se tolera com dificuldade, mas o pior são as notícias da guerra. Assim falo sem receio algum de exagerar que, por cá, não sabemos, desde algumas gerações, o que é a guerra na soleira da nossa porta, ver trespassado por uma bala assassina um familiar ou um amigo. A nossa guerra é de palavras suaves, imagens de longe, penas constrangidas e vagas condenações. Bastariam as notícias do que se está a passar na Turquia para nos levar à revolta e à mais veemente condenação das prisões em massa e ao silenciamento da imprensa. A Europa civilizada, democrática e de bons costumes, parece mais cúmplice com os atropelos aos direitos e liberdades civis na Turquia, do que disposta a por cobro a tais desmandos. Suponho que a coberto dos acordos celebrados antes do falhado golpe a UE, ou seja, todos e cada um de nós, está pagar a instauração de uma tirania. É o cúmulo da insanidade cívica e politica da UE que é necessário, por todos os meios, denunciar. Não há meias democracias, nem meias liberdades, seja de imprensa, seja de organização ou de expressão. Não há, nesta magna questão da liberdade e da democracia, lugar para assistir sem a mais forte condenação, ao avanço das ditaduras que se alimentam sempre da desistência dos políticos democratas em assumir em plenitude as suas responsabilidades. Um dia destes pode ser tarde e a guerra destruirá, de forma cruel, a nossa própria indiferença.
quarta-feira, julho 20
AMÉRICA - 20 DE JULHO
O campo republicano, no sistema bipartidário nos USA, foi assaltado por uma turba populista que se prepara para disputar ao milímetro, quiçá ganhar, as presidenciais de novembro próximo. Pelos excertos de debates e intervenções a que acedemos, à distância, o campo dos apoiantes do candidato republicano eleito na convenção é uma lixeira a céu aberto. Não se trata de um ou outro dislate, ou da liberdade de linguagem, que a refrega politica sempre suscita. Trata-se de transpor para o campo da politica, para o espaço público, ultra mediatizado, a conversa de rua, o insulto gratuito, o culto da violência banalizando-a nas próprias instituições do poder democrático. A democracia na América resistirá às investidas da boçalidade do candidato presidencial republicano. Mas o espetáculo degradante que se instalou nas eleições presidenciais americanos, e irradia pelo mundo, anuncia duras batalhas na defesa da democracia, da liberdade e da decência.
domingo, julho 17
A Europa - 17 de julho
Domingo. 17 de julho. No extremo ocidental do continente europeu o verão irrompeu e o calor abrasa. Por estas terras discute-se, de forma mansa, a relação com a europa politica. Dizem alguns que o governo socialista, apoiado pela esquerda, se ameaça a si próprio desafiando o dogma austeritário que o centro, sob hegemonia alemã,tem imposto. O que se discute - pasme-se! - não é o regime democrático pois nem a direita - sob todas as suas formas - põe a questão dos partidos de esquerda que apoiam o governo socialista proclamarem as vantagens de um qualquer regime politico alternativo. As lideranças dos partidos de esquerda discutem, pelo menos é o que parece, as margens nas quais possa ser compatível a aceitação das regras dos tratados europeus com politicas que não sucumbam às exigências da voracidade do capital financeiro. Os estrategos europeus terão compreendido as vantagens da paz social que resulta do pacto politico estabelecido pela esquerda portuguesa? Ou preferem a instabilidade à maneira espanhola? Ou à maneira francesa? Ou inglesa? Ou turca? Os estrategas europeus, que se dedicam a pensar o futuro, estão paralisados pelo medo, prisioneiros do presente? Os promotores da guerra longe das suas fronteiras - pois a guerra é um negócio - acabaram por ver-se confrontados com ela dentro de casa. Deixem ao menos viver em paz os que não buscaram, de forma voraz, beneficiar da guerra.
segunda-feira, julho 11
Europeu. Ponto final.
O euro da bola acabou com um resultado surpresa para quase todos. Portugal ganhou o europeu de futebol como resultado de um investimento estratégico que vem sendo feito desde há muitos anos. É um processo de especialização com muitos ingredientes que contribui para a projeção externa do país. Quem não gosta de futebol tem dificuldades em entender o fenómeno nas suas diversas facetas. Há muita literatura acerca do tema. Não sei se os recursos financeiros aplicados no futebol têm todos origem legitima. Desconfio que não. Não sei se a competição se rege pelos princípios da transparência. Tenho dúvidas. Mas no setor financeiro, por exemplo, quais têm sido os princípios adotados e os resultados? Os países e os povos precisam de vitórias e de heróis. Precisam de sonhar que, como disse Ronaldo, é grátis. Toda a vida, desde criança, tenho vivido a paixão do futebol. Faz parte da minha vida, do meu imaginário, encanta-me pela beleza do jogo, enquanto jogo, e dos jogadores enquanto protagonistas da incerteza do resultado de cada lance. Cada coisa em seu lugar, sabendo que existe o futebol profissional e o popular, mas sei que é das atividades socialmente mais relevantes para combater as misérias deste mundo.
sexta-feira, julho 8
Portugal - julho 2016
Hoje por hoje, como coletivo, Portugal tem poucas hipóteses de ganhar o europeu de futebol (mas alcançou a final), tem poucas hipóteses de escapar às sansões da UE, por incumprimento do deficit (mas obteve uma "saída limpa"), tem poucas hipóteses de acompanhar o ritmo e dimensão da carreira de Durão Barroso, ex-presidente da Comissão europeia, (mas através do voto permitiu que chegasse a 1º ministro), tem poucas hipóteses de apreender o significado do ex-ministro da educação - Crato - depor como testemunha arrolada por privados, suponho que em favor dos seus interesse, em área na qual foi máximo responsável público (mas encolhe os ombros), tem poucas hipóteses de escapar à desesperança no projeto da UE, que alastra todos os dias, (mesmo sem o teste do referendo)... tem poucas hipóteses mas, como coletivo, Portugal tem que resistir a todas as adversidades sem ceder aos populismos e aos cantos de sereia dos inimigos da Europa unida, livre e democrática.
(Fotografia de Hélder Gonçalves)
(Fotografia de Hélder Gonçalves)
segunda-feira, julho 4
Europa - a paz?
Trava-se desde há muito uma batalha na Europa mas, desde o referendo no RU, ameaça estalar a guerra. Não, para já, a guerra tal como por duas vezes no século XX destruiu a Europa que, por duas, se reergueu. Da primeira guerra, a de 14-18 (como é conhecida), na qual Portugal participou com botas no terreno, resultou um armistício desastroso que criou as condições para que viesse a eclodir a segunda. As penas infligidas pelos vencedores ao vencido (no fundo, sempre a Alemanha)foram tão desproporcionadas que geraram um sentimento de profundo sentimento de vingança. Nada aprenderam aqueles que hoje, perante o resultado do referendo no RU, extremam os campos. A politica exige, se quisermos viver em democracia, buscar o máximo de acordo possível adaptado a cada circunstância e, no caso do RU, trata-se de uma democracia com longa história que sobreviveu a todas as tiranias e cuja ação foi decisiva, no século XX, para as derrotar no continente europeu. Nada mudou, de essencial, na Europa a não ser a UE ter permitido o mais longo período de paz geral que reina desde 1945. A guerra pelo poder no seio da UE não deixará de fora o RU mesmo que ele tenha ameaçado colocar-se de fora dela. Mas o continente europeu onde (quase) sempre dominou a Alemanha (sob diversos formatos nacionais conforme as épocas)desequilibrou-se acelerando a erupção de dois partidos: o dos burocratas que se foi consolidando no processo de construção da UE que querem "mais Europa" menosprezando o cansaço dos povos face à decadência, ou fracasso, do "estado de bem estar", e o "partido germanófilo", que sempre emerge em épocas de crise, que defende uma "europa a várias velocidades" ou mesmo uma europa expurgada dos "vícios" caros dos países periféricos do sul. Toda uma crise na qual, como sempre, todos os campos, se apresentam com muitas nuances e sem definição instantânea explicita de propósitos de conquista. Mas os demónios do passado de guerra estão vivos, ameaçando um longo reinado de paz.
domingo, julho 3
Portugal 2016
Não sou capaz de captar o racional da campanha em curso, sob liderança alemã, para penalizar Portugal no contexto da UE. Tem vindo a assistir-se a uma torrente de declarações, de interpretações, assim como de reações, que puxam Portugal ( e Espanha)para o centro da crise europeia em simultâneo com o resultado do referendo no RU e os sinais evidentes de agravamento da crise do sistema financeiro de países como e Alemanha e Itália. Não creio que se trate de um ataque destinado a apear o governo de Portugal pela natureza da maioria que o apoia. Seria demasiado estúpido, assim como usar uma bomba atómica para resolver uma desavença familiar. Serão, certamente, outros os fundamentos para as ameaças de sansões que se forem aplicadas, seja qual for o grau, será uma estreia absoluta. Mas hoje o ministro das finanças alemão abriu um pouco mais o jogo ao afirmar que a UE deverá decidir ao nível intergovernamental, ou seja, não cumprindo os tratados quanto a decisões que exijam unanimidade. Fica mais claro que a Alemanha e seus mais fieis aliados (hoje, que amanhã não se sabe!) quer ficar com as mãos livres para governar sozinha a UE. As ameaças a Portugal serão porventura (conjeturas de quem não conhece nada dos movimentos da diplomacia a não ser os que são públicos) resposta, ou medida preventiva, contra os efeitos do reposicionamento de Portugal (e outros países) no sistema de alianças intraeuropeu e extraeuropeu. Portugal, como sempre, sem abdicar da sua pertença europeia, mantém intata a vocação atlântica e, sem mimetismos históricos absurdos, tem que se fazer à vida, buscando diversificar as suas dependências, sabendo que é nessa arte de buscar "novos mundos" que sempre residiu o segredo da sua independência.
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