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terça-feira, maio 19

Personagens absurdas.


Calígula. O gládio e o punhal.

“Creio que não me compreenderam bem anteontem quando ataquei o sacrificador com o maço com que ele ia matar a bezerra. No entanto era muito simples. Por uma vez, quis alterar a ordem das coisas – para ver, em suma. O que vi, é que nada mudou. Um pouco de espanto e de pavor nos espectadores. Quanto ao resto, o sol pôs-se à mesma hora. Concluí que era indiferente alterar a ordem das coisas.”
Mas por que motivo um dia o sol não nascerá a oeste?

*

Id. (Ptolémée). Mandei-o matar porque não havia razão para que ele fizesse um casaco mais belo que o meu. De facto não havia razão. Claro que também não havia razão para que o meu casaco fosse o mais belo. Mas ele não estava consciente disso e, visto que eu era o único a ver claro, é normal que obtivesse vantagens.

*
Dom Quixote e La Pallice.

La Pallice. – Um quarto de hora antes da minha morte, ainda estava com vida. Isso bastou para a minha glória. Mas essa glória é usurpada. A minha verdadeira filosofia é que um quarto de hora após a minha morte, já não estarei com vida.

Dom Quixote. – Sim. Combati moinhos de vento. Pois é profundamente indiferente combater moinhos de vento ou gigantes. A tal ponto indiferente que é fácil confundi-los. Tenho uma metafísica míope.

In Cadernos (Caderno nº 3 – Abril 1939/Fevereiro 1942) - Albert Camus – Edições Livros do Brasil
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sexta-feira, março 6

"Romance sobre a justiça."


A propósito de justiça e tanto que, por vias abertas e ínvias, se tem discutido acerca dela, seus protagonistas e incidentes, vítimas e carrascos, tantas vezes sendo apresentados, ou apresentando-se, a si próprios, no lado errado da barricada, apeteceu-me transcrever este breve fragmento dos Cadernos de Albert Camus, escrito por volta de finais de 1944:

“Romance sobre a justiça.

O tipo que estabelece as ligações entre os revolucionários (Com.) depois de julgamento ou suspeita (porque é precisa unidade), dão-lhe imediatamente uma missão na qual toda a gente sabe que irá morrer. Aceita porque é o seu dever. Morre, pois.
Id. O tipo que aplica a moral da sinceridade para afirmar a solidariedade. A sua imensa solidão final.
Id. Matamos os melhores do outro lado. Eles matam os melhores do nosso lado. Restam apenas os funcionários e os medíocres. O que é ter ideias."
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quinta-feira, fevereiro 5

O CORPO E O ESPÍRITO

Carla Bruni

É só para relembrar que este é o rosto da primeira-dama de França. A beleza, neste caso, revelou-se não ser, afinal, um contratempo político. Camus apreciaria, certamente, esta primeira-dama apesar de ter escrito: “O pensamento está sempre à frente. Ele vê muito longe, mais longe do que o corpo que está no presente. Suprimir a esperança, é reconduzir o pensamento para o corpo. E o corpo terá de apodrecer.” [In Cadernos.]
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domingo, fevereiro 1

Paisagens


Reli todos estes cadernos – desde o primeiro. O que saltou à vista: as paisagens desaparecem pouco a pouco. O cancro moderno também me rói a mim.

Camus - Caderno nº 5, pelo verão de 1947. (De uma edição antiga da “Livros do Brasil” intitulada “Primeiros Cadernos” contendo, num só volume, todos os Cadernos editados em Portugal.)
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domingo, janeiro 4

CAMUS - PELO 49º ANIVERSÁRIO DA SUA MORTE

Henri Cartier-Bresson - FRANCE. Paris. French writer Albert CAMUS. Around 1945.

Encontrei, por acaso, uma recolha de 25 citações do Cadernos II – que acolhe os apontamentos escritos por Camus entre Janeiro de 1942 e Abril de 1948. É muito interessante a proximidade desta escrita com a que, muitas vezes, somos levados a exercitar nos blogues.

1 – Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário.

2 - Vivemos num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos – e nada mais.

3 - Revolta: Criar para chegar mais perto dos homens? Mas se pouco a pouco a criação nos separa de todos e nos empurra para longe sem a sombra de um amor...

4 – Bob: nos prados de Verão da Normandia. O seu capacete coberto de goiveiros e ervas bravas.

5 - A reputação. É-nos dada por medíocres e partilhamo-la com medíocres e malandros.

6 - Peste. Há neste momento portos longínquos cuja água é rósea na hora do crepúsculo.

7 - 1 De Setembro de 1943.
Aquele que desespera dos acontecimentos é um cobarde, mas aquele que tem esperança na condição humana é um louco.

8 - (Dos mentirosos) “E não há nada onde a força de um cavalo melhor se conheça do que ao fazer uma paragem súbita.”

9 - O tempo não corre depressa quando o observamos. Sente-se vigiado. Mas tira partido das nossas distracções. Talvez haja mesmo dois tempos, o que observamos e o que nos transforma.

10 - Não posso viver fora da beleza.
É o que me torna fraco diante de certos seres.

11 - A espessura das nuvens diminuiu. Logo que o sol se libertou, as terras começaram a fumegar.

13 - Esse vento singular que corre sempre à borda da floresta. Curioso ideal do homem: no próprio seio da natureza, possuir uma casa.

14 - 11 De Novembro. Como ratazanas (*).

15 - Quantos esforços desmedidos para ser apenas normal!

16 - O homem que eu seria se não houvesse sido a criança que fui!

17 - A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário.

18 - Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.

19 - O coração a envelhecer. Ter amado e nada todavia ser salvo!

20 – Dezembro. Esse coração cheio de lágrimas e de noite.

21 – Escreve-se nos momentos de desespero. Mas o que é o desespero?

22 - É preciso atravessar todo o país do amor antes de encontrar a chama do desejo.

23 -...foi quando tudo ficou coberto de neve que reparei que as portas e as janelas eram azuis

24 - Sei o que é o domingo para um homem pobre que trabalha.

25 - Há um momento em que a juventude se perde. É o momento em que os seres se perdem. E é preciso saber aceitar. Mas esse momento é duro.

(*) – O desembarque aliado na África do Norte separa Camus da sua terra e dos seus.
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terça-feira, dezembro 30

CAMUS - BASTIDORES DO NOBEL

A partir daqui cheguei a este artigo que ensaia revelar os bastidores do Nobel. Lembrei-me que a “rivalidade” entre Camus e Malraux encobria uma mútua admiração discípulo/mestre. A primeira frase, atribuída a Camus, no dia16 de Outubro de 1957, quando soube que lhe tinha sido atribuído o Nobel da Literatura foi: “C´est Malraux qui aurait dû l´avoir.”
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sábado, dezembro 13

NAMORAR À JANELA


A propósito do namoro entre intelectuais da “esquerda da esquerda”, em busca do tempo perdido, rebuscando nos escombros do MES, passam-me por debaixo dos olhos textos antigos que, apesar de tudo, me tranquilizam. Lembrei-me destas frases antigas de Camus:

"Regra lógica. O singular tem valor de universal.
- ilógica: o trágico é contraditório.
- prática: um homem inteligente em certo plano pode ser um imbecil noutros."

Albert Camus - Caderno nº 1 (Maio de 1935/Setembro de 1937)
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sexta-feira, novembro 7

ALBERT CAMUS


Pelo 95º aniversário do nascimento de Albert Camus anuncio que por estes dias ficará pronto um novo livro (“quase livro”) que baptizei com o título do seu último poema: Há um momento em que a juventude se perde. É o momento em que os seres se perdem. E é preciso saber aceitar. Mas esse momento é duro. Uma micro edição inspirada em Camus para as vésperas do Natal.
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sábado, julho 26

CAMUS - a fidelidade


Não se pode dizer que já não há piedade, não, deuses do céu, nós não cessámos de falar nela. Simplesmente, já não se absolve ninguém. Sobre a inocência morta pululam os juízes, os juízes de todas as raças, os de Cristo e os do Anticristo, que são, aliás, os mesmos, reconciliados no «desconforto».
Aquele que adere a uma lei não teme o julgamento que o reinstala numa ordem em que crê. Mas o maior dos tormentos humanos é ser julgado sem lei. Nós vivemos, porém, neste tormento.
Uma pessoa das minhas relações dividia os seres em três categorias: os que preferem não ter nada que esconder a serem obrigados a mentir, os que preferem mentir a não ter nada que esconder e, finalmente, os que amam ao mesmo tempo a mentira e o segredo. Deixo à sua escolha o compartimento que me convém.
Que importa, no fim de contas? As mentiras não conduzem finalmente à via da verdade? E as minhas histórias, verdadeiras ou falsas, não tenderão todas para o mesmo fim, não terão o mesmo sentido? Que importa, então, que sejam verdadeiras ou falsas se, nos dois casos, são significativas do que fui e do que sou?

Camus - A Queda (Sublinhados de Ana Alves) in Cadernos de Camus

[Um amigo, através de mensagem electrónica, dizia-me, a propósito do meu post 4000, atraiçoado pelo teclado, preparado para uma língua outra: E obra! Forca, forca camarada Graca! Venham mais 5…mil posts! Grande abraço. Calculo que produzir 5000 postas demorasse, ao meu ritmo, mais de cinco anos e o que posso prometer, por ora, é diminuir o ritmo de produção por uma simples e prosaica razão: férias. Como não sou fundamentalista de nenhuma causa não carregarei um portátil às costas por todos os lugares da peregrinação pela nossa terra. Além do mais preciso de ler, caso contrário desaprenderei de escrever!]
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quinta-feira, março 13

CONSERVEMOS O EQUILÍBRIO


“É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos.”

Cadernos (Setembro de 1945/ Abril de 1948).
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sexta-feira, fevereiro 29

ALBERT CAMUS


“Para os cristãos, a Revelação está no início da história. Para os marxistas, está no fim. Duas religiões.”

Albert Camus - Caderno n.º5 [Setembro de 1945 a Abril de 1948.]
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domingo, fevereiro 10

CAMUS - ESPRIT (JANEIRO 2008)

Albert Camus

Mão amiga fez-me chegar dois artigos da Revista ESPRIT, edição de Janeiro de 2008, versando acerca de Camus e da sua obra. Obrigada. São eles:

Albert Camus, prix Nobel au cœur de la tourmente algérienne
STORA Benjamin

Leitura feita refiro, em particular, o segundo artigo em que o autor dedica umas boas páginas à velha questão da “disputa” entre Sartre e Camus. Para citar só uma oposição entre ambos que origina o título do artigo: “D´un côté, une dialectique des opposés, par où ils se dépassent (Sartre); de l´autre, un équilibre des contraires, par où ils se composent (Camus).”

Sob o sub-título : “L´art est revolte”, uma síntese do pensamento de Camus – do seu discurso da Suécia, de 10 de Dezembro de 1957 - acerca da arte que ele considerava o seu trabalho:
1. L´art est un travail, nom un amusement.
2. C´est un travail collectif, et non individuel …
3. Les valeurs priment les idées … l´artiste doit servir en même temps la douleur et la beauté.
4. L´art est un combat …
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segunda-feira, dezembro 10

ALBERT CAMUS - O DIA DO NOBEL CINQUENTA ANOS DEPOIS


Quando soube da atribuição do Prémio Nobel “pela sua importante obra literária, que foca com penetrante seriedade os problemas que se colocam nos nossos dias à consciência dos homems”, Albert Camus escrevu nos Cadernos: “Prémio Nobel: estranho sentimento de desânimo e melancolia. Aos vinte anos, pobre e nu, conheci a verdadeira fama” .

Camus afirmou então que o Prémio deveria ter sido atribuido a André Malraux e manifestou dúvidas acerca da sua própria capacidade e força criadora que sempre o atormentaram. Após o anúncio da atribuição do Nobel sujeitou-se a ataques odiosos, que o não deixaram indiferente e comentou: “Assustado com aquilo que me acontece e que não pedi. E, para cúmulo, ataques tão infames que o coração se me aperta.”(Cadernos).

Mas Camus, segundo todos os testemunhos, não podia, nem queria, recusar o Prémio. Telefonou, de imediato, à mãe, que sempre viveu na Argélia, como que a agradecer à sua origem a honra que lhe tinha batido à porta. Escreveu a Jean Grenier, o seu professor e mentor intelectual : “(…) quando recebi a notícia, o meu primeiro pensamento foi, depois de minha mãe, dirigido ao senhor. Sem o senhor, sem essa mão efectuosa que estendeu à criança pobre que eu era, sem a sua instrução e o seu exemplo nada disto tinha acontecido.” (citado a partir de Roger Quilliot).

René Char, um amigo de todas as horas, não cabia em si de contente e manifesta esse contentamento de várias formas incluindo um artigo publicado, logo em 26 de Outubro de 1957, no Figaro littéraire, intitulado “Je veux parler d’ un ami”.

No ínicio de Dezembro de 1957 Camus partiu com a mulher, Francine, para Estocolmo e, em todas as suas aparições em público, tinha a consciência que devia estar preparado para ser atacado a propósito da sua discrição a respeito do conflicto na Argélia que estava no auge.

Albert Camus , a 10 de Dezembro de 1957, passam hoje 50 anos, recebeu das mãos do Rei Gustavo VI da Suécia o diploma e, no banquete que se seguiu, proferiu o seu discurso de agradecimento. Logo num dos dias seguintes escreveu a Jean Grenier descrevendo, de forma sintética, o que sentia: “A corrida acaba, o touro está morto, ou quase.

Albert Camus – discurso de 10 de Dezembro de 1957

Dircurso pronunciado, segundo a tradição, na Câmara Municipal de Estocolmo, no fim do banquete que encerrava as cerimónias da atribuição dos Prémios Nobel. (Versão integral em francês.)

Alguns excertos:

Je ne puis vivre personnellement sans mon art. Mais je n'ai jamais placé cet art au-dessus de tout. S'il m'est nécessaire au contraire, c'est qu'il ne se sépare de personne et me permet de vivre, tel que je suis, au niveau de tous. L'art n'est pas à mes yeux une réjouissance solitaire. Il est un moyen d'émouvoir le plus grand nombre d'hommes en leur offrant une image privilégiée des souffrances et des joies communes.
(...)
C'est pourquoi les vrais artistes ne méprisent rien ; ils s'obligent à comprendre au lieu de juger. Et s'ils ont un parti à prendre en ce monde ce ne peut être que celui d'une société où, selon le grand mot de Nietzsche, ne règnera plus le juge, mais le créateur, qu'il soit travailleur ou intellectuel.

(...) l'écrivain peut retrouver le sentiment d'une communauté vivante qui le justifiera, à la seule condition qu'il accepte, autant qu'il peut, les deux charges qui font la grandeur de son métier : le service de la vérité et celui de la liberté. Puisque sa vocation est de réunir le plus grand nombre d'hommes possible, elle ne peut s'accommoder du mensonge et de la servitude qui, là où ils règnent, font proliférer les solitudes. Quelles que soient nos infirmités personnelles, la noblesse de notre métier s'enracinera toujours dans deux engagements difficiles à maintenir : le refus de mentir sur ce que l'on sait et la résistance à l'oppression.
(...)
Ces hommes, nés au début de la première guerre mondiale, qui ont eu vingt ans au moment où s'installaient à la fois le pouvoir hitlérien et les premiers procès révolutionnaires, qui furent confrontés ensuite, pour parfaire leur éducation, à la guerre d'Espagne, à la deuxième guerre mondiale, à l'univers concentrationnaire, à l'Europe de la torture et des prisons, doivent aujourd'hui élever leurs fils et leurs œuvres dans un monde menacé de destruction nucléaire.
(...)
Chaque génération, sans doute, se croit vouée à refaire le monde. La mienne sait pourtant qu'elle ne le refera pas. Mais sa tâche est peut-être plus grande. Elle consiste à empêcher que le monde se défasse.
(...)
Je n'ai jamais pu renoncer à la lumière, au bonheur d'être, à la vie libre où j'ai grandi. Mais bien que cette nostalgie explique beaucoup de mes erreurs et de mes fautes, elle m'a aidé sans doute à mieux comprendre mon métier, elle m'aide encore à me tenir, aveuglément, auprès de tous ces hommes silencieux qui ne supportent, dans le monde, la vie qui leur est faite que par le souvenir ou le retour de brefs et libres bonheurs.

Ramené ainsi à ce que je suis réellement, à mes limites, à mes dettes, comme à ma foi difficile, je me sens plus libre de vous montrer pour finir, l'étendue et la générosité de la distinction que vous venez de m'accorder, plus libre de vous dire aussi que je voudrais la recevoir comme un hommage rendu à tous ceux qui, partageant le même combat, n'en ont reçu aucun privilège, mais ont connu au contraire malheur et persécution. Il me restera alors à vous en remercier, du fond du cœur, et à vous faire publiquement, en témoignage personnel de gratitude, la même et ancienne promesse de fidélité que chaque artiste vrai, chaque jour, se fait à lui-même, dans le silence.
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segunda-feira, outubro 1

CAMUS E O FUTEBOL

Posted by PicasaAlbert Camus, gardien de but, parmi ses coéquipiers du R.U.A.

Albert Camus era um apaixonado pelo futebol e só não foi praticante “a sério” por razões de saúde. Era guarda redes, ao que dizem, dos bons e a escolha do lugar tem uma comezinha razão de natureza económica. É que lhe permitia gastar menos as solas das botas que a avó inspeccionava, minuciosamente, da cada vez que chegava a casa.

C'est le football qui lui a laissé les meilleurs souvenirs. Il jouait comme gardien de but dans la cour du lycée, et aussi le dimanche dans l'équipe junior du RUA, le Racing Universitaire Algérois. Certes, il n'a jamais joué dans la grande équipe première du RUA, celles des frères Couard et de Faglin. Mais il a écrit sur le foot des pages savoureuses. Il a d'abord joué un an à l'Association Sportive de Montpensier à cause d'un " ami velu " qui avait voulu suivre une fille qui dansait mal. Alors Albert s'est inscrit au Racing Universitaire puisqu'on y jouait " scientifiquement ". Il a raconté des matches mémorables contre l'O.H.D., le club d'Hussein-Dey, où les avants essayaient de l'impressionner en lui montrant le cimetière tout proche; et contre Boufarik, où il avait un avant surnommé Pastèque qui le chargeait furieusement. " Le football, a dit Gabriel Conesa, c'était notre religion ". Et Camus d'ajouter : " Ce que je sais de plus sûr sur la morale des hommes, c'est au sport que je le dois, c'est au RUA que je l'ai appris ". Et encore dans " La Chute " : " Avec le théâtre, le stade est le seul endroit au monde où je me sens innocent ".
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sábado, setembro 22

A MORTE FELIZ . detalhes

Posted by PicasaDivas&Contrabaixos

O assunto de “A Morte feliz” resvala um pouco para uma abordagem de especialistas e, no meu caso, de um leitor interessado pela obra de Albert Camus. Mas como, uns tempos atrás, até o senhor Bush revelou ao mundo que tinha lido “O Estrangeiro”, e muito tinha gostado da leitura, talvez se justifique, mesmo que somente para dois leitores, avançar com alguns simples detalhes. No meu último comentário fiz uma referência ao ano de 1935 (Agosto?) e tinha as minhas razões para isso. De facto, nos Cadernos surge uma referência ao réveillon de 1935, um fait divers, que integrará o desenvolvimento romanesco da obra em questão. Surgem depois notas, nos Cadernos, datadas de antes e depois de Março de 1936. No entanto “A Morte feliz” só foi concebida, por Camus, com a forma que lhe conhecemos, no início do verão de 37. A evolução desse mesmo processo de concepção tem três períodos determinantes: Agosto de 37, Novembro de 37, Janeiro de 38. É preciso levar em conta, finalmente, que as notas de Camus, reunidas nos Cadernos, não foram fáceis de datar na medida em que, originariamente, foram escritas em folhas e Camus não tinha grande preocupação com o referencial tempo. [Este comentário apoia-se em notas contidas nas “Obras Completas – I – pags. 1444/1445 - Gallimard].

Saudações à MRF.
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sexta-feira, setembro 21

ALBERT CAMUS

Posted by PicasaDivas & Contrabaixos

15 de Set. (1937)
(...)
“Lamber a vida como um rebuçado, formá-la, estimulá-la, enfim, como se procura a palavra, a imagem, a frase definitiva, aquele ou aquela que conclui, que detém, com quem partiremos e que de futuro fará a cor do nosso olhar.”
(...)
“Quanto a mim, sinto-me numa curva da minha vida, não devido àquilo que adquiri, mas àquilo que perdi. Sinto-me com forças extremas e profundas É graças a elas que devo viver como desejo. Se hoje me encontro tão longe de tudo, é que não tenho outro desejo senão amar e admirar. Vida com rosto de lágrimas e de sol, vida sem o sal e a pedra quente, vida como a amo e a entendo, parece-me que ao acariciá-la, todas as minhas forças de desespero e de amor se conjugarão.”
(...)
“É como se recomeçasse a partida; nem mais feliz nem mais infeliz. Mas com a consciência das minhas forças, o desprezo pelas minhas vaidades, e esta febre, lúcida, que me preocupa em face do meu destino.”

Albert Camus

“Caderno” n.º 1 (Maio d 1935/Setembro de 1937) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

[Passaram 70 anos sobre estas palavras escritas por Camus enquanto jovem. Vejo que a MRF também sublinha um texto da sua juventude, “La Mort heureuse”, cujo plano foi delineado em Agosto de 1935, tinha Camus a idade de 21 anos, cuja escrita atravessa toda a sua vida, mas só foi publicado postumamente.]
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quinta-feira, junho 14

CORRESPONDANCE - ALBERT CAMUS/RENÉ CHAR

Posted by PicasaAlbert Camus/René Char - Correspondance 1946-1959

Acabei de receber o livro, recentemente editado, contendo a correspondência trocada entre Albert Camus e René Char.

“La fraternité est-elle possible entre les créateurs? La rencontre de deux artistes, et l’amitié parfois, ne peut pas exister en dehors de l’œuvre qu’ils accomplissent et qui s’accomplit en eux. (…) Cette correspondance témoigne d’une rencontre et d’une amitié qui nourrissent notre réflexion sur ces circonstances qui comptent réellement dans une vie, la transfigurant parfois comme une chance fulgurante. « Le paysage, comme l’amitié, est notre rivière souterraine. Paysage sans pays », écrit René Char.
(…)
La rencontre précède l’amitié mais lui donne la tonalité particulière qui peut la transformer en fraternité. Ce ne sont pas seulement deux hommes qui se rencontrent en 1946, mais deux immenses artistes très différents l’un de l’autre et pourtant proches dans cette «rivière souterraine» dont seules leurs œuvres peuvent nous rapprocher L’amitié est alors cette découverte qui dépasse les individus, élargit l’espace de chacun en tant qu’artiste. »

Da Apresentação de Franck Planeille
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segunda-feira, maio 21

FLORENÇA

Posted by PicasaPara a Helena

“Setembro (1937)

Se dizeis: “eu não compreendo o cristianismo, quero viver sem consolação”, então sois um espírito limitado e parcial. Mas se, vivendo sem consolação, dizeis: “compreendo a posição cristã e admiro-a”, sois um diletante sem profundidade. Começo a deixar de ser sensível à opinião.

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Claustro de San Marco. O sol no meio das flores.

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Primitivos “siennois” e florentinos. A sua obstinação em fazerem os monumentos mais pequenos do que os homens não vem de uma ignorância em relação à perspectiva, mas da firmeza na confiança que depositam no homem e nos santos que põem em cena. Inspirar nesse facto para cenário de teatro.

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As rosas retardatárias de Santa Maria Novella e as mulheres, neste domingo de manhã em Florença. Os seios libertos, os olhos e os lábios que vos fazem bater o coração, a boca seca e um calor nos rins”

Albert Camus – Excertos dos “Cadernos” – Edição Livros do Brasil. [Apontamentos de uma visita a Pisa e Florença.]
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sábado, maio 19

O ESTRANGEIRO - 65 ANOS

Posted by PicasaHistoire d'un livre : l'Etranger d'Albert Camus

Uma nota acerca de uma leitura que me permitiu reparar numa efeméride interessante. A tradução é livre e feita na hora.

“Em 1938, com vinte e cinco anos, quando escreve Calígula, Camus pesa 65 kg e mede 1,79 cm. É jornalista no Alger républicain, dirigido por Pascal Pia. Encontra Francine Faure de passagem por Argel. A bela “oranaise” estuda matemática em Paris e toca muito bem piano. Camus faz-lhe a corte. Casam-se em Lyon, em 3 de Dezembro de 1940, em plena desordem provocada pela derrota, e voltam para Oran onde dão aulas numa escola privada criada por André Bénichou, que se tornará um dos seus amigos mais próximos. (…) “O Estrangeiro” é publicado, em Paris, no dia 19 de Maio de 1942. "(…)

Passam, justamente hoje, 65 anos.

In «Albert Camus ou la fatalité des natures» de Frédéric Musso.
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domingo, maio 6

CAMUS - LEITURAS

Posted by PicasaAlbert Camus ou la fatalité des natures

Chegou-me, hoje, às mãos o livro supracitado, de autoria de Frédéric Musso, acerca da obra de Camus. Uma prenda do F e da M. conjuntamente com um recorte de jornal no qual se anuncia a chegada às livrarias, no próximo dia 10 (ou 16), em França, de um outro livro, certamente notável: “Correspondance 1946-1959”, d' Albert Camus e René Char, édition de Franck Planeille.

Próximas leituras a partilhar com o "D. Afonso Henriques", de José Mattoso, já no cap. 4, neste caso, uma leitura de longo curso para compreender um pouco melhor a raiz do nosso ser português.
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