domingo, maio 6

CAMUS - LEITURAS

Posted by PicasaAlbert Camus ou la fatalité des natures

Chegou-me, hoje, às mãos o livro supracitado, de autoria de Frédéric Musso, acerca da obra de Camus. Uma prenda do F e da M. conjuntamente com um recorte de jornal no qual se anuncia a chegada às livrarias, no próximo dia 10 (ou 16), em França, de um outro livro, certamente notável: “Correspondance 1946-1959”, d' Albert Camus e René Char, édition de Franck Planeille.

Próximas leituras a partilhar com o "D. Afonso Henriques", de José Mattoso, já no cap. 4, neste caso, uma leitura de longo curso para compreender um pouco melhor a raiz do nosso ser português.
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2 comentários:

hfm disse...

Isto dos livros é muito complicado! é que o local para os guardar há muito que está esgotado mas a correspondência abriu-me o apetite.

Sabe que na Ericeira, onde estive nos últimos dias a fazer arrumações para estadias mais prolongadas, encontrei um livro que há 3 anos trouxe de França e que julguei perdido:

Le premier homme, Albert Camus, Gallimard.

Depois darei notícias.

Anónimo disse...

Meu Caro Eduardo,
Antes de mais, saudações deste velho condiscípulo dos bons tempos do Liceu.

Leitor habitual de teu excelente blogue, de há muito que não intervenho com comentários aos teus “posts”. Como sabes, por vezes tenho discordado dos teus pontos de vista, mas atrevo-me a tal porque te reconheço probidade intelectual para aceitares as opiniões discrepantes dos outros.
Se me permites, faço-o agora a propósito de Camus, e por imperativo da verdade.

Sei que és admirador incondicional do Nobel, Camus, homem inquieto que perseguiu sempre o sentido da vida. E que falsamente tem sido apelidado de “existencialista”, apodo que ele próprio rejeitava.

A obra de Camus não é uma defesa do absurdo da existência, mas um grito eloquente de que o mundo só responde com o absurdo à inquietação do coração humano para encontrar o sentido da vida.
Só nos seus últimos dias terrenos Camus encontrou o verdadeiro sentido da vida.

A este propósito, pergunto-te se conheces as conversas que Albert Camus e o reverendo metodista Howard Mumma tiveram há 50 anos em Paris.

Saiu, em editora de língua castelhana, o extraordinário testemunho de Mumma que recolhe extensos e profundos diálogos com Camus, e mostra até que ponto o “existencialista” lutou para alcançar a fé que lhe desse aquilo que o mundo não lhe oferecia.

O relato deste processo de inquietação para conhecer a resposta que dá a Fé Cristã às interrogações mais profundos do ser humano, revela um escritor derrotado pelo êxito e insatisfeito pela impossibilidade de encontrar na luta política pela justiça uma solução para os problemas do mundo: “Sou um homem exausto e desiludido. É impossível viver sem sentido”.

Pelos anos cinquenta, o reverendo metodista Mumma oficiava serviços religiosos em Paris. O literato francês frequentava esse templo para escutar o organista Marcel Dupré. Desde logo, porém, a pregação de Mumma o cativou.
Mais de quarenta anos após a morte de Camus, o nonagenário Mumma revela o segredo das suas conversas com Camus: a progressiva aproximação de Camus à Fé Cristã, ao mistério da Graça para superar a angústia da injustiça, do sofrimento e da morte - (“El existencialista hastiado”. Howard Mumma - Voz de Papel. Madrid 2005).

Camus sintetiza assim o seu itinerário espiritual com uma personagem do Evangelho: «Sinto-me totalmente identificado com Nicodemos, porque, tal como ele, não entendo bem o que queria Jesus dizer quando lhe disse que tinha de nascer de novo. Mas é isso o que eu quero, é a esse nascer de novo que eu quero comprometer a minha vida”.
Camus pretendia ser baptizado. Infelizmente, o trágico acidente de viação em que perdeu a vida impediu a concretização de tal desejo.

A despedida de Mumma y Camus terminou com a frase mais desconcertante do relato para aqueles que continuam a ver no Nobel francês um defensor do agnosticismo: “Meu amigo, vou continuar a lutar por alcançar a Fé!”

Forte abraço!
J. Cabrita