segunda-feira, novembro 8

As Surpresas da Minha Terra

Nunca duvidei que a minha terra podia ser um ninho de surpresas. Mas que fosse
possível manter um espólio, oferecido há 60 anos, sem nele achar nada de excepcional valor!

60 anos? Se isto for verdade, como espero, é mais um contributo para explicar muita coisa estranha que se passa no nosso país. A importância que se dá ao supérfluo e o desinteresse pelo importante. Não conheço os meandros da história que pode ter inúmeras peripécias.

Mas é um caso para a história da ingratidão. Então um diplomata, filho da terra, doou à Câmara um espólio, ao que parece, com cerca de mil peças, e deixam-nas ficar encerradas numa sala 60 anos? É de uma ingratidão miserável! Mas não deixa de estar estar conforme o padrão nacional. Nada mal! Viva a Cultura!

Obras de Gauguin, Lautrec e Rembrant descobertas em Faro

"Obras de Gauguin, Toulouse-Lautrec e Rembrandt foram recentemente descobertas numa sala do Museu Municipal de Faro, revelou um especialista, baseando-se em análises da leiloeira internacional Sotheby´s.

«Há um desenho de carvão sobre papel do impressionista francês Paul Gauguin (1848-1903), que data de 1875, e depois de analisadas a assinatura e o traço não restam dúvidas da sua autenticidade», garante o especialista André Bento em declarações à agência Lusa.O estudioso analisa desde Maio passado o espólio que o diplomata algarvio Amadeu Ferreira de Almeida doou à Câmara de Faro em 1944 e tem estado numa sala interdita ao público."


TSF on Line

"Guerra Civil"

As notícias acerca da “guerra civil”, em curso nas estradas portuguesas, surgem com regularidade. Mas deixaram de apresentar comparações com o passado. Omite-se a evolução, positiva ou negativa, dos danos. Escamoteia-se o sucesso, ou insucesso, das políticas de prevenção e de combate à sinistralidade. Enfim, ficamos às cegas.

“Desde o início do ano morreram 863 pessoas
Acidentes nas estradas fizeram 21 mortos na semana passada
Vinte e uma pessoas morreram e 592 ficaram feridas, 46 delas com gravidade, nos 2551 acidentes registados pela Brigada de Trânsito (BT) da GNR durante a semana passada, divulgou hoje a corporação.”

“Público on line”

Duas Citações

“Escreve-se nos momentos de desespero. Mas o que é o desespero?”

“O homem que eu seria se não houvesse sido a criança que fui!”

Albert Camus, Cadernos

domingo, novembro 7

"O IRS para os pobres"

Já está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo com o título em epígrafe publicado, na sexta feira passada, no "Semanário Económico"

sexta-feira, novembro 5

"Desaparecimento"

Já tinha reparado no desaparecimento do PM, Pedro Santana Lopes. Passam os dias e nada, nem uma palavra ao país, nem uma visita, de estado ou privada, nem uma reunião do Conselho de Ministros. Nada. É o Congresso do PSD que aí vem? É cansaço? É desânimo?

Sem comparar o incomparável sei que Salazar tinha largos períodos de “nojo” em que se recolhia e não falava com ninguém, muito menos com os ministros. (salvo com a D. Maria!). Mas os recolhimentos de Salazar não tinham eco público pois não havia liberdade de informação. Além do mais faziam parte da sua imagem que ninguém, verdadeiramente, se atrevia a questionar.

Santana Lopes tem a imagem oposta. Do “eremita” ao “homem de sociedade” vai um abismo de diferenças. Por isso ao “desaparecer” de cena Santana Lopes corre o risco de "morrer" para a política ao contrário de Salazar que fazia das suas escassas viagens e intervenções publicas autenticas liturgias que o tornavam omnipresente.

Eis uma questão interessante que o jumento aborda ao seu estilo.


quinta-feira, novembro 4

A morte anunciada de Arafat

Quando Arafat morrer, dir-se-á, secretamente, nos meios da “inteligência” israelita, americana, e de outras mais discretas, que “morreu um terrorista”. Para alguns será um alívio, para outros o início de um pesadelo. Mas pergunto, por antecipação: se um “terrorista” tem um povo inteiro, em revolta, a chorar no seu funeral, o que é afinal o “terrorismo”? Quem é, afinal, aquele "terrorista"?

Porque razão se dão conselhos aos soldados e ao povo de Israel para “evitar qualquer expressão de alegria no caso do anúncio da morte”? Têm medo de quê? Passaram muitos anos mas alguns nada aprenderam com o holocausto!

“Yasser Arafat em estado de coma


Yasser Arafat está em estado de coma, depois de a sua saúde se ter subitamente deteriorado nas últimas horas. O líder palestiniano foi ontem internado na Unidade de Cuidados Intensivos do hospital militar francês onde recebe tratamento.
Os soldados têm ordens para fazer tudo o que puderem para travar eventuais motins ou explosões de violência, e sobretudo para evitar que manifestantes palestinianos tentem entrar nos colonatos ou ultrapassar os "checkpoints". Mas foram também aconselhados a respeitar as manifestações de luto e a evitar qualquer expressão de alegria no caso do anúncio da morte.”

Público on line

quarta-feira, novembro 3

Bush ganhou, não é?

A derrota de Kerry é a nossa derrota. Mesmo que muitos tenham dito que nada seria muito diferente com a vitória do candidato democrata tudo seria, de facto, diferente.

Ganhou quem tinha de ganhar. O normal é que o Presidente candidato ganhe a reeleição. Agora vamos ter de aturar, o mundo vai ter de aturar, a política imperial e belicista da administração Bush e a sua arrogância, assim como a dos seus próceres europeus e domésticos.

Agora mais do que nunca a UE não pode quebrar apesar de todas as suas dificuldades. Incluindo a desastrosa prestação inicial do nosso JMB. Quanto aos efeitos colaterais da vitória de Bush o mundo não ganhará mais estabilidade; os conflitos, entre regiões, estados e religiões, não serão contidos; a estratégia ambiental, no plano global, caminhará para o desastre anunciado e a paz e concórdia entre os povos e as nações dançará ao som do cornetim dos senhores da Casa Branca.

Bush ganhou, não é? Assim seja. As escolhas democráticas não deixam de ser legítimas mesmo quando não nos agradam. Já temos muita experiência e, como dizia o outro, “calos no cu” para aguentar a parada. Venham eles!

ARRE, que tanto é muito pouco!

ARRE, que tanto é muito pouco!
Arre, que tanta besta é muito pouca gente!
Arre, que o Portugal que se vê é só isto!
Deixem ver o Portugal que não deixam ver!
Deixem que se veja, que esse é que é Portugal!
Ponto.

Agora começa o Manifesto:
Arre!
Arre!
Oiçam bem:
ARRRRRE!

Álvaro de Campos
Poesias


"Finanças dão depósitos de tesouraria ao BCP"

Isto tem um nome que não digo qual é. Talvez o Dr. Víctor Constâncio, que nada diz, há tanto tempo, acerca de coisa nenhuma, ao contrário de outros tempos, possa esclarecer cabalmente o assunto.

De facto, o processo de concentração dos recursos financeiros, em particular, dos organismos e fundos autónomos, na Direcção Geral do Tesouro, é antigo. Foi uma medida do governo socialista controversa ou, pelo menos discutível, mas tinha fundamentos técnicos e financeiros razoáveis. Agora esta, se for verdade, de entregar, directamente, ao BCP o negócio da “Tesouraria do Estado” é inimaginável. Bom, mas já nos vamos habituando.

Veja aqui a notícia do "DN".

"Os milhões de euros de organismos públicos passam para o BCP. Concorrência critica protocolo. Bagão Félix autorizou a entrada do banco liderado por Jardim Gonçalves no negócio da Tesouraria do Estado. Restante banca fica à espera

O ministério das Finanças concedeu ao Millennium bcp o direito de captar depósitos dos «organismos públicos» dependentes da Direcção-Geral do Tesouro (DGT). Serão centenas de milhões de euros mobilizados em depósitos e geridos via banco tutelado por Jardim Gonçalves e que, até ontem, passavam pela Caixa Geral de Depósitos, CGD. De fora do «negócio» acordado com o Estado estão os restantes bancos privados."

terça-feira, novembro 2

O medo da verdade

Um dia fora de Lisboa, a trabalhar, sem notícias e logo no dia das eleições na América. Original. Agora que vejo as notícias não encontro nada de novo. Reparo que JA Barreiros se despediu de colunista do DN e que todos descobrem o que eu já tinha experimentado vai para 2 anos. Bolas, estavam todos ceguinhos ou quê?

Essa teia promíscua entre os poderes político, económico e mediático, que agora tantos condenam, não é dos tempos deste governo. Já vem do anterior. A diferença está na gestão que se tornou, dia a dia, mais grosseira, descarada e disparatada. Nada de essencial mudou. Mas atenção que muitos dos que agora clamam contra a manipulação desesperada dos “media”, em favor da maioria governamental, amanhã a defenderão se ela satisfizer os seus próprios interesses.

Os únicos que podem ser os verdadeiros detentores do equilíbrio entre a verdade, a justiça e a liberdade, na gestão comunicacional, são os fazedores da própria notícia, ou sejam, os jornalistas. Os jornalistas profissionais, não os comentadores ou colaboradores de ocasião.

Quando se revoltam os jornalistas? Quando decidem tomar a palavra e colocá-la ao serviço da denúncia da corrupção dos seus próprios órgãos de comunicação? Têm medo? A democracia faz medo aos jornalistas? Que estranha democracia é esta em que os jornalistas têm medo da verdade?

Diários de Motocicleta - título original

Tempo atrás dei a notícia de que tinha estreado, no Festival de Cannes, o filme brasileiro “Diários de Motocicleta”, de que tinha lido muitas referências positivas na blogosfera do Brasil.

Fui ontem, finalmente, ver o filme que já está em exibição em Portugal. A sala, ao contrário da minha expectativa, estava quase cheia. Não esperava uma profunda reflexão filosófica acerca da revolução. Nem sequer um retrato da mitologia criada em torno de Che Guevara. O filme não caíu nessas tentações.

É simplesmente um filme. Uma sequência de belas imagens da américa latina e da situação social nela vivida no início do anos 50. Gostei porque me suscitou prazer e me comoveu. É o que me interessa, simplesmente. Além do mais o meu pai, na mesma época, tinha uma Norton, igualzinha à "Poderosa" na qual viajaram os dois amigos até certa altura da acção.

Vão ver que vale a pena.


domingo, outubro 31

Cavafy na hora roubada

Eu aproveitei a hora para Federico Garcia Lorca. Preciso, de vez em quando, lá ir. Não sei explicar muito bem a razão mas isso também não interessa para nada.

Mas verifiquei que Pacheco Pereira no Abrupto voltou a Cavafy com o poema “O prazo de Nero”.

Entendi, embora estejam prometidas, para depois, outras notas. E, como da outra vez, eu volto com a tradução, diversa, de Jorge de Sena:

O PRAZO DE NERO

Inquieto, Nero não ficou, ouvindo,
do oráculo a resposta em Delfos:
“Que devia temer setenta anos mais três”.
Pois tem imenso tempo de gozar a vida.
Com trinta anos de idade! Como ainda vem longe
o prazo que o Deus lhe demarcou
para temer de perigos iminentes.

Voltará para Roma, cansado um pouco,
mas tão deliciosamente cansado de uma viagem
que nada foi que dias de prazer –
- nos teatros, nos parques, nos estádios…
o entardecer das cidades da Acaia…
E mais: a volúpia da nudez dos corpos…

Assim Nero pensava. Mas na Espanha Galba
secretamente reúne e prepara um exército:
um velho de setenta e mais três anos.

[1918]

Nota de Jorge de Sena dedicada a este poema:

“É o outro poema que tem Nero como personagem (ou outro intitula-se “As passadas”, anterior a 1911). A fonte pode ser qualquer história romana suficientemente vasta, mas o episódio vem narrado por Seutónio (70-c.122), no De Vita Caesarum, em que conta as biografias dos Césares, desde Júlio César até ao Imperador Domiciano. É histórico que Nero fez uma viagem triunfal à Grécia, em 67, de onde foi chamado, porque as conspirações se sucediam. Galba, general de alta linhagem e governador em Espanha, aceitou, nos princípios de 68, chefiar a revolução que derrubou Nero e o levou ao poder, quando Nero se suicidou. Mas Galba, por sua vez, foi assassinado no ano seguinte. Parece que ou o oráculo de Delfos ou Seutóneo (que recolhia tudo quanto há para a sua deliciosa e pérfida história) se enganaram quanto à idade de Galba que tinha cerca de 62 anos ao conspirar e reinar. Mas isso é de somenos importância para o belo poema."

Poema e Nota in “90 e Mais Quatro Poemas”, Constantino Cavafy, com tradução, prefácio, comentários e notas de Jorge de Sena, Edições ASA.

O não blog de Clara Ferreira Alves

Trancrevo a crónica de Clara Ferreira Alves publicada, ontem, no "Expresso". Serei um, entre muitos, a dar blog a Clara.

"O meu «blog»

«Aqui para nós que ninguém nos ouve, seria uma péssima ideia ser directora do 'Diário de Notícias'.»

Não tenho um «blog» mas, há alturas em que um «blog» dá muito jeito. Se eu tivesse um «blog» faria estes breves apontamentos.

1. Quem me convidou ao certo para dirigir o «Diário de Notícias»? O Governo, o primeiro-ministro, o presidente da PT, os accionistas da PT, ou o Mário Bettencourt Resendes e o Luís Delgado? Ou será que sonhei? Porque esse lugar de director não estava vago.

2. Uns dias antes da minha recusa em dirigir o «Diário de Notícias» apareceu publicado nesse jornal um texto de uma assessora política do primeiro-ministro. Eis o tipo de texto que eu jamais publicaria se fosse directora do «Diário de Notícias» mas, curiosamente, enquanto os jornalistas se afadigavam a atacar-me e ao meu famoso «santanismo», ninguém com excepção de José Pacheco Pereira no seu «blog» (o jeito que dá um «blog») reparou neste exemplo de independência, isenção e critério jornalístico do «Diário de Notícias».

3. No dia seguinte à minha recusa em dirigir o «Diário de Notícias», o mesmo «Diário de Notícias» não dava uma única notícia sobre o assunto, ignorando-o jornalisticamente, olimpicamente. Foi o único órgão de comunicação social a fazê-lo. No «Diário de Notícias», que fui convidada para dirigir, eu não sou notícia nem breve nem «fait-divers». Coisa interessante. E tudo na mesma como dantes. Mais isenção.

4. Na mesma semana agitada, daquelas semanas em que mais valia estarmos, como dizia o cómico W. C. Fields, em Filadélfia, uma «fonte governamental» confirmou que a minha decisão «estava tomada». Coisa interessante. Como é que a «fonte governamental» sabe o que eu estou a pensar? E como é que se arroga o direito de responder por mim? Aqui, remeto para a minha carta ao Abrigo do Direito de Resposta que o EXPRESSO publica neste número.

5. O wittgensteiniano Não sei Quantos Cintra Torres, que sempre confundo com alguém que vendia parabólicas, e que para escrever sobre um «reality show» cita Kant, Hegel e o neo-confusionismo, presume de culto e de saber de tudo. E lá veio ele, lesto e molesto, acusar-me de ser uma «santanete» colocada no «Diário de Notícias» para manipular e controlar o jornal a favor do Governo. É bom que Cintra Torres, que também posso confundir com o homem das cervejas Cintra, deixe de se meter comigo, o que ele tem feito modestamente até aqui. Porque eu, ao contrário do que ele pensa, sou incontrolável, e escrevo melhor do que ele (sem citar Wittgenstein). E já agora, Cintra Torres está a fazer um projecto de uma série, ou um filme, ou lá o que é, com o actual director do «Diário de Notícias», (não, não sou eu, não seria, não fui...) para a RTP. A mesma RTP para quem Cintra Torres trabalha como colaborador e crítico imparcial. Será que é ele que vai criticar o trabalho dele na RTP? Mais um caso de isenção e imparcialidade nos «media».

6. Aqui para nós que ninguém nos ouve, seria uma péssima ideia ser directora do «Diário de Notícias», porque deixava de poder escrever estas coisas. Ou então, arranjava um «blog» (o jeito que dá um «blog»).

7. Mudando de assunto, para refrescar, o actual procurador da República veio dizer esta frase «Eu seria o último a prejudicar o PS». Isto, porque foi o PS que lhe deu este emprego. Eis um dos raríssimos casos dos últimos tempos em que não foi Santana Lopes o culpado de tudo. Imaginem se o procurador dissesse «Eu seria o último a prejudicar o PSD». Era mau, não era?

8. Conheço o Pedro Santana Lopes há muitos anos e nem ele nem eu temos culpa disso. Mas, se eu sou «santanete», por que não há-de ele ser «clarete»? Eis mais um caso flagrante de discriminação e perseguição das mulheres. Nunca teremos poder suficiente para... E, com mulheres a recusarem cargos de chefia de jornais, nunca teremos. Porque, vê-se bem que todos os jornais em Portugal são feitos por homens (e quase todos os «blogs» também, embora elas comecem a crescer e multiplicar-se.).

9. Na melhor tradição machista e misógina da praça portuguesa, ou melhor, da praceta portuguesa, assim que se soube por esses jornais fora que eu tinha sido convidada para directora do «Diário de Notícias», coisa que todos os jornais sabiam menos o «Diário de Notícias» (coisa interessante), começaram logo a debochar sobre o meu corte e cor de cabelo e os meus «bâtons» berrantes e por aí fora. Nos «blogs». Um tal Luís Nazaré escreve uma palhaçada sobre mim por causa disso. Será o mesmo homem simpático e educado que me convidou há tempos (e à minha probidade intelectual) para um Encontro sobre Educação do Partido Socialista? Não deve ser. Devo dizer que sem um bom corte de cabelo e um bom «bâton», considero impossível dirigir um jornal sério como o «Diário de Notícias». É uma condição contratual tão importante como a garantia da autonomia, independência e isenção.

10. E, a finalizar, por que é que eu não fui afinal dirigir o «Diário de Notícias»? Bom, esperem pelas minhas Memórias. Ou talvez nem seja preciso. Depois do tempo perdido com o jornalismo português contemporâneo, que tão doente anda, bem preciso de regressar aos livros. E escrever um livro é um acto solitário perfeito, como o onanismo.

11. Finalizo em tom nostálgico e «esquerdista», naquele estilo que os meus inimigos literários abominam. Tenho saudades do tempo português em que existiam Natálias Correias (e Veras Lagoas). Muita saudade. O que por aí anda não presta. Muito silêncio, muito medo, muita agenda política disfarçada, muito emprego a segurar. Muita ambição sem talento. Muito cabotinismo.

Romance de la guardia civil española

A Juan Guerrero
Cónsul General de la Poesía

Los caballos negros son.
Las herraduras son negras.
Sobre las capes relucen
manchas de tinta y de cera.
Tienen, por eso no lloran,
de plomo las calaveras.
Con el alma de charol
vienen por la carretera.
Jorobados y nocturnos,
por donde animan ordenan
silencios de goma oscura
y miedos de fina arena.
Pasan, si quieren pasar,
y ocultan en la cabeza
una vaga astronomía
de pistolas inconcretas.

*
¡Oh ciudad de los gitanos!
En las esquinas banderas.
La luna y la calabaza
con las guindas en conserva.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Ciudad de dolor y almizcle,
con las torres de canela.

*
Cuando llegaba la noche,
noche que noche nochera,
los gitanos en sus fraguas
forjaban soles y flechas.
Un caballo malherido,
llamaba a todas las puertas.
Gallos de vidrio cantaban
por Jerez de la Frontera.
El viento vuelve desnudo
la esquina de la sorpresa,
en la noche platinoche
noche, que noche nochera.

*
La Virgen y San José,
perdieron sus castañuelas,
y buscan a los gitanos
para ver si las encuentran.
La Virgen viene vestida
con un traje de alcaldesa
de papel de chocolate
con los collares de almendras.
San José mueve los brazos
bajo una capa de seda.
Detrás va Pedro Domecq
con tres sultanes de Persia.
La media luna soñaba
un éxtasis de cigüeña.
Estandartes y faroles
invaden las azoteas.
Por los espejos sollozan
bailarinas sin caderas.
Agua y sombra, sombra y agua
por Jerez de la Frontera.

*
¡Oh ciudad de los gitanos!
En las esquinas banderas.
Apaga tus verdes luces
que viene la benemérita.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Dejadla lejos del mar, sin
peines para sus crenchas.

*
Avanzan de dos en fondo
a la ciudad de la fiesta.
Un rumor de siemprevivas
invade las cartucheras.
Avanzan de dos en fondo.
Doble nocturno de tela.
El cielo, se les antoja,
una vitrina de espuelas.

*
La ciudad libre de miedo,
multiplicaba sus puertas.
Cuarenta guardias civiles
entran a saco por ellas.
Los relojes se pararon,
y el coñac de las botellas
se disfrazó de noviembre
para no infundir sospechas.
Un vuelo de gritos largos
se levantó en las veletas.
Los sables cortan las brisas
que los cascos atropellan.
Por las calles de penumbra
huyen las gitanas viejas
con los caballos dormidos
y las orzas de monedas.
Por las calles empinadas
suben las capas siniestras,
dejando atrás fugaces
remolinos de tijeras.
En el portal de Belén
los gitanos se congregan.
San José, lleno de heridas,
amortaja a una doncella.
Tercos fusiles agudos
por toda la noche suenan.
La Virgen cura a los niños
con salivilla de estrella.
Pero la Guardia Civil
avanza sembrando hogueras,
donde joven y desnuda
la imaginación se quema.
Rosa la de los Camborios,
gime sentada en su puerta
con sus dos pechos cortados
puestos en una bandeja.
Y otras muchachas corrían
perseguidas por sus trenzas,
en un aire donde estallan
rosas de pólvora negra.
Cuando todos los tejados
eran surcos en la sierra,
el alba meció sus hombros
en largo perfil de piedra.

*
¡Oh ciudad de los gitanos!
La Guardia Civil se aleja
por un túnel de silencio
mientras las llamas te cercan.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Que te busquen en mi frente.
Juego de luna y arena.

Federico Garcia Lorca

Um poema longo de Federico Garcia Lorca

Um poema longo significa um intervalo e uma dificuldade.

Os posts querem-se curtos tal como o instante em que a hora mudou. Foi há momentos atrás. Passou a ser uma hora mais cedo.

Vale a pena conhecer Federico Garcia Lorca.

sábado, outubro 30

União Europeia - um fracasso e o que está para vir

Está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo “ELEIÇÕES EUROPEIAS – SINAIS DE PREOCUPAÇÃO” publicado no rescaldo das eleições europeias de Junho de 2004.

O recente fracasso de José Manuel Barroso, na aprovação da proposta de Comissão pelo Parlamento Europeu, é só um primeiro sinal das dificuldades que se vão seguir.

Os processos de ratificação da Constituição Europeia, ontem assinada em Roma, pelos Chefes de Estado e de Governo, de cada um dos 25 países membros, revelarão que, como se afirma, na parte final do artigo, “os sentimentos euro-cépticos e euro-fóbicos, assim como os nacionalismos radicais, que afloraram, com veemência, nas últimas eleições europeias, podem transformar-se em verdadeiras ameaças ao desenvolvimento do projecto europeu e à própria democracia representativa que gerações sucessivas construíram à custa de milhões de mortos e de sacrifícios sem fim.”

E concluo: “A propósito destas preocupações lembro sempre o que Albert Camus escreveu e que é a chave para entender muitas mudanças que, à primeira vista, nos podem surpreender: “Organiza-se tudo: É simples e evidente. Mas o sofrimento humano intervém e altera todos os planos”

Um ano é muito tempo - II

Nicolau Santos, no Expresso, faz qualquer pessoa de bom senso alinhar nas críticas de Cavaco Silva. É uma ironia da história. Mas a realidade tem mais força do que a ideologia.

A política económica de um governo tomado por uma deriva eleitoralista pode colocar Portugal numa situação ainda mais difícil não só face ao cumprimento dos critérios da UE mas à criação de condições para a criação de riqueza nacional e a uma sua mais justa distribuição.

Não é o programa da direita no poder que está em causa é o futuro de uma outra qualquer política económica de um futuro governo socialista.

"Já estamos todos a rezar, professor - Cavaco dá sinal de que não gosta do OE 2005

CAVACO Silva pediu esta semana aos portugueses para rezarem para que o poder político não lance Portugal noutra crise de finanças públicas. Eu, pela minha parte, já comecei. Mas em verdade lhe digo, professor, que embora os ventos divinos sempre tenham estado connosco - e é ver o caso do «Prestige», que só não poluiu as águas marítimas portuguesas por intervenção de Nossa Senhora de Fátima, segundo o ministro Paulo Portas - desta vez o milagre vai ser mais difícil do que o Sporting ganhar jogos com o auxílio do Além, por interposto padre Vítor Melícias.

É que, logo por azar, no mesmo dia em que Cavaco fazia tão lancinante apelo, o comissário europeu Joaquín Almunia, divulgava as previsões de Outono da Comissão Europeia, onde se afirma que em 2005 Portugal não vai violar um, mas os três critérios do Pacto de Estabilidade. Não vamos cumprir o défice de 3%, a dívida será superior a 60% do PIB (já vai em 62%) e o défice estrutural não descerá meio ponto do produto como nos dois anos anteriores.

Sejamos justos: dois dos critérios não vamos cumprir. Mas o défice, com mais alguma desorçamentação, com mais algum fundo de pensões transferido para a Caixa Geral de Aposentações, com mais alguma venda de património, acabará por ser cumprido.
O mais importante, contudo, é que já se deitou por terra todo o trabalho de contenção feito nos dois anos anteriores e a política económica mudou radicalmente.


Como Cavaco disse, tem dúvidas sobre o rumo do país e as grandes orientações estratégicas da política económica. Nós também, professor. E uma única certeza: isto não é obra do Demo, mas de um Governo e de um ministro das Finanças que vão andar por cá até ao final de 2006."

Nicolau Santos

"Expresso"

sexta-feira, outubro 29

Um ano é muito tempo

Dizem-se palavras cada vez mais duras. Surgem apelos à revolta da pena de intelectuais, artistas, políticos e comentadores conceituados mesmo que deles, aqui e ali, discordemos.

Este clamor não tem paralelo nos tempos mais recentes. Talvez só se encontrem semelhanças nos confrontos do período pós revolucionário de 1975. Tenho dito, citando conversas que oiço no quotidiano: “um dia vai haver uma revolta popular”.

Não é preciso saber muito de economia, nem de política, para entender que a corda, se esticar mais, vai partir. Não são as medidas reformistas que indignam, mas as injustiças, os linchamentos públicos, a descarada partilha partidária do poder, as negociatas e a promiscuidade entre os poderes económico, político e mediático. Toda a gente já percebeu tudo.

A igreja já o denunciou a propósito do agravamento dos fenómenos de extrema pobreza. Todos os dias milhões de conversas e frases reproduzem, pelo país fora, sentimentos profundos de desilusão, amargura e desespero.

As eleições podiam ser um escape e uma resposta para retemperar a esperança perdida. Mas em tempo normal as próximas eleições – autárquicas – serão daqui a um ano. Mas um ano, nestas condições, é muito tempo!

Pequeño Poema Infinito

Para Luis Cardoza y Aragón

Equivocar el camino
es llegar a la nieve
y llegar a la nieve
es pacer durante veinte siglos las hierbas de los cementerios.

Equivocar el camino
es llegar a la mujer,
la mujer que no teme la luz,
la mujer que mata dos gallos en un segundo,
y luz que no teme a los gallos
y los gallos que no saben cantar sobre la nieve.

Pero si la nieve se equivoca de corazón
puede llegar el viento Austro
y como el aire no hace caso de los gemidos
tendremos que pacer otra vez las hierbas de los cementerios.

Yo vi dos dolorosas espigas de cera
que enterraban un paisaje de volcanes
y vi dos niños locos que empujaban llorando las pupilas de un asesino.

Pero el dos no ha sido nunca un número
porque es una angustia y su sombra,
porque es la guitarra donde el amor se desespera,
porque es la demostración de otro infinito que no es suyo
y es las murallas del muerto
y el castigo de la nueva resurrección sin finales.
Los muertos odian el número dos,
pero el número dos adormece a las mujeres
y como la mujer teme la luz
la luz tiembla delante de los gallos
y los gallos sólo saben volar sobre la nieve
tendremos que pacer sin descanso las hierbas de los cementerios

10 de enero de 1930. Nueva York


Federico Garcia Lorca

Eleições na Améica

O caso não se passa na Venezuela. Nem no Sudão. O caso passa-se no país que se intitula a Pátria da Liberdade e da Democracia: Os Estados Unidos da América!

Roubo de boletins de voto na Florida