quarta-feira, janeiro 26

José Gil

O livro é pequeno. Barato. Em formato popular. Paradoxal para um livro de filosofia. Assim como a sua actualidade crítica (violenta) do poder e da própria situação política em Portugal.

Acabei de o ler. Não vou sequer entrar no comentário. Se fosse há vinte e cinco anos atrás faria, com fragmentos dele, um livro artesanal. Como fiz de outros que mais me impressionaram.

Agora, depois de tantas experiências, o que posso dizer é que vi neste livro um retrato, a preto e branco, do “ser português”. Conheço, à minha maneira, esta história de algum lado. Também me cabe uma parte dela. Como a todos nós. O mais que posso fazer é recomendar vivamente a sua leitura.

“Portugal, Hoje – O Medo de Existir”, autor: José Gil; Editora: Relógio de Água.

As Contas Públicas

Défice orçamental de 2004 agravou-se 10,1 por cento face a 2003

A divulgação pela DGO (Direcção Geral do Orçamento) destes números só pode ter sido autorizada pela tutela: Ministro das Finanças. Se os números estão errados há que demitir quem os autorizou, se estão certos (o mais certo) é um atestado de incompetência política à gestão do Ministro Bagão Félix.

Afinal, apesar de todas as cosméticas, Bagão Félix é um gastador ou, pelo menos, não foi capaz de controlar a despesa pública. Austero, mas pouco! Quando passar a pasta espero que se fiquem a conhecer os “cadáveres” que o Ministro Bagão Félix guarda no armário – Ministério por Ministério – incluindo o da Defesa.



"Até ao Fim"

“Ora, se não podemos empenhá-la, a juventude herdada pelos filhos apesar de viável resolve mal (não resolve) o problema. Evidentemente, ninguém é o próprio filho, por mais enredadas e complexas que nos pareçam as relações ascendência-descendência, por maior que seja a carga biológica, afectiva, social, histórica, detectável nelas. Não se transmite a individualidade mas apenas alguns cromossomas. O indivíduo (leia-se tudo o que a palavra condensa de insubstituível, irrepetível) continua prisioneiro da sua pele, do seu limite, até ao fim.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 12 (1 de 3)

terça-feira, janeiro 25

Livro Verde da Imigração

A “Comissão Europeia” decidiu recentemente relançar o debate acerca da imigração económica na Europa. Um tema que, como já afirmei, deveria, no debate eleitoral, em Portugal, separar as águas entre a direita e a esquerda.

Antes de abordar a questão nos programas eleitorais dos partidos portugueses, quando todos os tiverem divulgado, assinalo a publicação do “Livro verde – uma abordagem comunitária da gestão das migrações económicas”, que pode ser lido aqui.

Pentimento

Belas as imagens que Marcelo adoptou para ilustrar a transcrição de alguns fragmentos de “O Aprendiz de Feiticeiro”, de Carlos de Oliveira, que fazem parte deste livro artesanal que compus nos inícios de Agosto de 1981. Chama-se a isto uma parceria informal pelo gosto…

"O Ponto Fraco das Utopias"

“O ponto fraco das utopias, porque têm um, consiste na sua qualidade de negócios perdidos à priori; belos mas (redundantemente) utópicos. A juventude reencontrada à nossa espera na derradeira esquina da vida? Ilusões. E então o instinto de Osório segreda-lhe para além do sonho a solução possível: um filho. Creio que, no fundo, o esquema autêntico é esse. Não se reencontra a juventude mas a juventude que ela gera e que não podemos empenhar.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 11 (4 de 4)

O Debate Acerca dos Debates

Muito sintomático este debate. As televisões impõem as regras do debate político. Reparem como “O PSD aceitou hoje a proposta da SIC”. A SIC e o PSD, o PSD e a SIC. Tudo em torno, afinal, do PDS. Pois não é, afinal, Pinto Balsemão, proprietário da SIC, fundador e militante do PSD? Parece um tanto simplista demais, mas é mesmo assim.

Todos sabem que, nas eleições de 2002, Durão Barroso impôs um só debate, a dois, na SIC. Assim foi. Todos sabem que nos debates travados entre Santana e Sócrates, durante mais de um ano na SIC, Sócrates levou sempre vantagem.

Santana está encostado às cordas e vai levar, até ao fim, a campanha da vítima inocente. Pena é o sentimento que tenta instalar entre os eleitores. Triste bandeira política para um líder a quem foi dada, de mão beijada, o estatuto e a tribuna de primeiro-ministro para enfrentar uma campanha eleitoral.

Entre queixas, lamúrias e inaugurações de última hora se arrasta a campanha eleitoral do PSD. Não sei quem ganhará mais votos com o debate acerca dos debates mas não podem ser as televisões a dirigir as escolhas políticas dos portugueses. Este é um caso em que está em jogo mais do que se possa pensar: a ditadura mediática, cavalo em que jogam todos os líderes populistas.

“PSD aceita, PS recusa
O PSD aceitou hoje a proposta da SIC para um frente-a-frente entre Pedro Santana Lopes e José Sócrates no Jornal da Noite, nos dias 2 ou 3 de Fevereiro, mas o PS rejeitou e insistiu num entendimento entre as várias televisões.

«O PSD aceitou a proposta da SIC, que considera muito equilibrada e abrangente», disse à Lusa o secretário-geral dos sociais-democratas, Miguel Relvas.

Contudo, o PS continuou a fazer depender o frente-a-frente televisivo entre Santana Lopes e José Sócrates de um entendimento entre as diferentes estações, manifestando apenas disponibilidade para o debate promovido pelo Clube dos Jornalistas.”


"Expresso on line" (sempre o mesmo grupo mediático!)

Juventude

(…o passado) “Quando incompletamente vivido. Por outras palavras, quando se adia o amor, a acção política, o romance a escrever. Osório fica assim diante de um dilema incómodo: ou poupar a juventude ou vivê-la. No primeiro caso, de que lhe serve a juventude se não a vive completamente, isto é, se não a aproveita no que tem de mais peculiar, a plenitude e até o excesso? No segundo, adeus juventude transferida. E transferida para quê? Para a poupar de novo? Não, para a perder, como veremos adiante.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 11 (3 de 4)

Auschwitz

A “Pública” publicou ontem um expressivo trabalho acerca do campo de concentração de Auschwitz.

“Há 60 anos, o mundo descobriu o campo de Auschwitz – as tropas aliadas chegaram a 27 de Janeiro. As vítimas não perdoam. Os outros fazem por esquecer.”

No verão passado descobri, numa arca, em casa de meus pais, uma brochura do meu velho professor de liceu Elviro Rocha Gomes, intitulada “Hitler – Quem foi e como chegou ao poder”, um libelo acusatório implacável do nazismo e do seu chefe.

Essa brochura abre com os números do holocausto. Entre muitos outros: “250 mil ou talvez perto de 300 mil (mortos) só em 1944, em Auschwitz; 8 milhões de mártires, ao todo, em todos os campos de concentração.”

Para que conste neste triste aniversário.

segunda-feira, janeiro 24

Imigração e Eleições

A imigração é um tema que separa, de forma clara, a direita da esquerda. Os conservadores britânicos assumem essa diferença chamando à primeira linha do seu programa para a próximas eleições gerais a questão da imigração.

Em Portugal, na eminência de eleições, o PSD "engole" os princípios defendidos pelos socialistas e os ultraconservadores do CDS/PP estão, para já, calados que nem ratos acerca do tema aproveitando os deslizes do BE para "deslocalizar" o epíteto de "neo-fascistas", que lhes assenta que nem uma luva, para longe. (Voltaremos ao tema no plano nacional.)

"Michael Howard, líder do Partido Conservador britânico, vai explicar hoje como é que, com cortes orçamentais de 35 mil milhões de libras, logrará estancar a imigração, mantendo uma segurança ininterrupta - 24 horas sobre 24 horas - nos portos do Reino Unido.

Isto depois de, ontem, em anúncio de página inteira no Sunday Telegraph, ter gizado as linhas gerais do seu plano de permitir apenas a entrada de "refugiados genuínos" e familiares de imigrantes já legalizados, caso ganhe as eleições legislativas da Primavera.

Descendente de uma família de imigrantes romenos (o pai imigrou para o sul de Gales em 1939), o líder dos Tories entende ser chegado o momento de impedir o surgimento de mais "Peterborough" no país - cidade com cerca de 157 mil habitantes, o correspondente ao número de imigrantes que, anualmente, entraram no Reino Unido desde 1999. Um ritmo de entradas que, de acordo com o político britânico, está a minar "as boas relações comunitárias, a segurança nacional e a gestão dos serviços públicos".

"Ao Passado Não se Volta..."

“ – Ao passado não se volta… mas … o passado quando incompletamente vivido transfere-se (não na memória, mas fisicamente) para o futuro e fica à nossa espera, puro esboço, pronto a desenvolver-se… Nesse sentido, é a própria juventude que vai resistindo ao tempo, que vai esperando por nós lá ao longe.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 11 (2 de 4)

O Púlpito e o Santanismo

Ouço Santana a falar no púlpito adornado com a palavra Competência. A imagem ressoa a falso. A personagem não se encontra a si própria. A mensagem é reduzida a uma espécie de diálogo do candidato consigo próprio. Cada um que se amanhe na decifração da mensagem. Não há memória de um personagem como Santana na política portuguesa contemporânea.

Estou a ler “Portugal Hoje – o medo de existir”, um livro breve, mas cristalino, sobre o ser português, de José Gil, que a certo passo escreve:

“O que é próprio do santanismo, com toda a sua avidez pelo controlo dos meios de comunicação social, não é trazer a vida para o palco mediático, mas moldar a vida à imagem, os comportamentos ao capital de mediatização, produzir acontecimentos cuja importância se deverá medir pelo seu grau de eficácia mediática.” (…)

“A sua falsa “leveza”, no entanto, permite muita estratégia obscura, muito menos leve de poderes económicos e de eminências pardas que eventualmente imporiam políticas de controlo desastrosas. Tão desastrosas que podem levar a formas insuspeitadas de autocracia política ou de ditadura mediática no seio da democracia.


Se não afastarmos agora o nevoeiro que ameaça novamente toldar o nosso olhar, poderá ser demasiado tarde quando nos apercebermos que, sem dar por isso, nos encurralaram num beco, por um período indeterminado. Não pelo regime santanista, que pode ser breve, mas por outro qualquer que aproveite uma série de circunstâncias (económicas, sociais, psicológicas) para operar uma derrapagem da democracia para um sistema autocrático de tipo desconhecido.”


Verdadeiramente preocupante, senão mesmo assustador!

domingo, janeiro 23

Uff...

Tanto esforço, tanto esforço, para quê? Só não sei o que são um “Monumento ao Cristo” e uma pré-escola…palavras para quê! Só gasto espaço com isto para ilustrar a pública falta de vergonha que tomou conta do nosso governo demitido… em gestão, ou lá o que é isto.

“Em cerca de hora e meia, o primeiro-ministro inaugurou hoje, no concelho, uma unidade de cuidados continuados de saúde, um “Monumento ao Cristo”, um complexo cultural e recreativo e outro desportivo e de lazer, uma pré-escola, um terminal de camionagem, um bairro de habitação social nos Pinheirais com 26 fogos, um posto de turismo, a sede da junta de freguesia da Arrifana e ainda o pavilhão polidesportivo municipal Eduardo Campos."


"Quem Tem Medo do Vento?"

(...) "5) Provérbio a propósito: semeias florestas, colhes tempestades. Como todos os aprendizes de feiticeiro. Ainda bem. O vento nas ramagens confusas. Quem tem medo do vento?”

(Pacheco Pereira no Abrupto, certamente, por coincidência reproduz hoje a citação, que intitulei “A Dignidade”, postada no passado dia 19.)

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 11 (1 de 4)

Moralismos Serôdios

Serôdios = “que estão fora do seu tempo” (Houaiss)

Não vi o debate Portas/Louçã que havia de ser o debate entre os dois lideres mais afastados no plano ideológico na política portuguesa.

Mas ouvi e li a frase que marcou esse debate. Acerca da despenalização do aborto Louça atirou a Portas: “O senhor não sabe o que é gerar uma vida! O senhor não sabe o que é gerar uma vida! Não tem a mínima ideia do que isso é! Eu tenho uma filha! Eu sei o que é o sorriso de uma criança!” (transcrito de Ana Sá Lopes – “Público”, de hoje, “ A velha Esquerda Moralista ao Ataque” – não disponível na versão on line).

Esta é uma daquelas tiradas que devia fazer pensar aqueles que olham o BE como uma força política de esquerda. Na verdade a afirmação de Louçã não é um lapso de um pensamento assente numa base ideológica defensora dos valores da liberdade e da tolerância. É, afinal, o seu contrário, radicando em princípios de intolerância e cultura antidemocrática de uma extrema-esquerda que foi varrida, há muito tempo, para o caixote do lixo da história.

Tem razão Ana Sá Lopes quando afirma: “O uso da vida privada de cada um com objectivos políticos é uma arma sempre populista e quase sempre indecorosa.” “Deliberadamente ou não, o BE fez o jogo da direita mais conservadora, colando-se a ela nos seus valores e preconceitos”. “A velha esquerda polícia de costumes ressurgiu, em todo o seu esplendor, na ira de Francisco Louçã …”.

Por mim sempre defendi, e pratiquei, (com consequências penalizantes para a minha própria vida pessoal, profissional e política) a mais completa e radical defesa da separação entre vida privada, vida profissional ou vida pública, seja por efeito da acção política ou de qualquer outra militância cívica.

Pois, de facto, penso que o fundamentalismo nesta separação de águas é essencial para a defesa dos próprios alicerces em que assenta a convivência humana fundada nos valores da liberdade individual e da democracia representativa.

Mas muitos já se esqueceram que o BE não é mais do que uma “diluição” entre o PSR (trotskista) e a UDP (maoista) que nunca abdicaram das suas verdadeiras ideologias de raiz, ou seja, de vocação totalitária.

Neve em Lisboa?

Será que, cinquenta e um anos depois, vai nevar a sul? O anúncio de uma forte vaga de frio, e da probabilidade de chover no sul, fez-me retornar à realidade de 1954.

“O Instituto de Meteorologia disse à TSF que os dias mais frios serão 26 e 27 de Janeiro, podendo as temperaturas baixar aos 10 graus negativos nas terras altas.

Os técnicos deste organismo consideram também que, a partir do próximo dia 27, há alguma probabilidade, embora muito baixa, de chover no Centro e no Sul do país. Mesmo assim, não deverão ser quantidades significativas.”

sábado, janeiro 22

Programa do PS

O Programa do PS para as eleições legislativas já está disponível aqui.

Uma primeira leitura “em diagonal” permite perceber que se trata de uma peça bem estruturada. Sem prejuízo de um juízo crítico que espero concretizar a propósito, em particular, das áreas que mais me interessam, é um bom augúrio.

Floresta (2)

(…) “Assim continuarei até entrar na floresta donde não se volta. Que seja o mais tarde possível. Apesar de tudo gosto de perder-me entre as árvores. Descobrir belas adormecidas, embora poucas vezes consiga desencantá-las; pensar no som ausente do vento; ver de quando em quando o cristal do céu, a abóbada das clareiras; vaguear, indagar, viver.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 10 (3 de 3)

IRC, chuva de milhões

O Ministro das Finanças é o mesmo, o tal da competência especial! O Director do Fisco é o mesmo, o tal do ordenado especial!

Faltam 28 dias!

"Migração de informação para novo sistema informático não foi assumida correctamente
Fisco devolveu por erro milhões de euros a empresas"


Barata Tonta

No “Expresso da Meia-noite” Santana Lopes parecia uma “barata tonta”. Entrevistado por três jornalistas a sério, mesmo que não se goste deles, parecia um personagem em busca do seu papel. Um vazio absoluto.

No fim não foi apresentada, como é habitual, a primeira página do “Expresso”. Logo me pareceu que quiseram evitar ser deselegantes para Santana Lopes. De facto vejo agora que nessa primeira página se anuncia o primeiro candidato a Presidente do PSD após a derrota de Santana nas eleições.

“Mendes na calha
A SUCESSÃO no PSD já está em marcha. Marques Mendes tem tudo preparado para exigir um Congresso extraordinário e lançar-se na corrida à liderança em caso de derrota do PSD a 20 de Fevereiro, independentemente de José Sócrates conseguir ou não a maioria absoluta. «Se o PSD perder, isso significa uma mudança de ciclo político, uma alteração de fundo para o PSD com a saída do poder. E será necessário um Congresso para decidir o caminho e o futuro», justifica ao EXPRESSO fonte próxima do ex-ministro.”
“Expresso on line”