“O deputado de Constantine que é eleito pela terceira vez. No dia da eleição morre ao meio dia. À noite vão aclamá-lo. A mulher aparece à sacada e diz que ele está ligeiramente fatigado. Pouco depois, o cadáver é eleito deputado. Era o que era preciso.”
Albert Camus
“Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, agosto 8
domingo, agosto 7
As Preocupações da Direita
Começa a perceber-se um pouco melhor a razão da insistência no ataque aos projectos de investimento público que o governo anunciou, após longos anos de estudos, alguns com 30 anos, ou mais.
Aqueles que fazem oposição ao governo, à direita e à esquerda, levantam a questão da publicitação dos estudos técnicos que fundamentam as decisões políticas de avançar com os projectos. Uma mera manobra de diversão !
A direita, em particular, está, na verdade, preocupada com as mudanças profundas na comunicação social: –a TVI foi comprada pelo grupo do “El País” e o sector de comunicação social da Lusomundo foi comprado por Joaquim Oliveira. Isto pode significar, antes das presidenciais, uma viragem estrutural no 4º poder previsivelmente, desfavorável à direita
Esta viragem na comunicação social privada preocupa muita gente na direita já que inclui o Canal de TV com maior audiência em Portugal (TVI), jornais diários de referência (DN e JN), uma rádio emblemática (TSF) e, ainda por cima, Mário Soares, candidato presidencial, como brinde.
Para a direita dos interesses “isto parece ... andar tudo ligado”, mas enfim ...melhores tempos virão!
Para a direita ideológica “isto parece uma manobra com visão de futuro...” representando o estreitamento do campo para a propaganda das suas ideias.
Para a direita política “isto” representa uma derrota no seu próprio campo (trata-se da comunicação social privada e não da pública) e o enfraquecimento da capacidade para impor o “Salvador da Pátria” – Cavaco Silva.
Será que, desta vez, o PS não anda a dormir em serviço?
Aqueles que fazem oposição ao governo, à direita e à esquerda, levantam a questão da publicitação dos estudos técnicos que fundamentam as decisões políticas de avançar com os projectos. Uma mera manobra de diversão !
A direita, em particular, está, na verdade, preocupada com as mudanças profundas na comunicação social: –a TVI foi comprada pelo grupo do “El País” e o sector de comunicação social da Lusomundo foi comprado por Joaquim Oliveira. Isto pode significar, antes das presidenciais, uma viragem estrutural no 4º poder previsivelmente, desfavorável à direita
Esta viragem na comunicação social privada preocupa muita gente na direita já que inclui o Canal de TV com maior audiência em Portugal (TVI), jornais diários de referência (DN e JN), uma rádio emblemática (TSF) e, ainda por cima, Mário Soares, candidato presidencial, como brinde.
Para a direita dos interesses “isto parece ... andar tudo ligado”, mas enfim ...melhores tempos virão!
Para a direita ideológica “isto parece uma manobra com visão de futuro...” representando o estreitamento do campo para a propaganda das suas ideias.
Para a direita política “isto” representa uma derrota no seu próprio campo (trata-se da comunicação social privada e não da pública) e o enfraquecimento da capacidade para impor o “Salvador da Pátria” – Cavaco Silva.
Será que, desta vez, o PS não anda a dormir em serviço?
A força de um grito
Na praça da aldeia junto ao terraço da casa de esquina, noite dentro, rebenta uma discussão. A gritaria e as ameaças entre os homens aumentam de tom, chovem impropérios e agressões físicas. Finalmente uma mulher, histérica, desata a gritar e o homem que era o pomo da discórdia afasta-se. A calma aparente, de súbito, regressa. A força de um grito de mulher.
ORAN
“Oran. Baía de Mers-el-Bébir e por cima o pequeno jardim de gerâneos vermelhos e de ”freesias”. O tempo não está muito bom: há nuvens e sol. País em uníssono. Basta um grande pedaço de céu e a calma volta aos corações demasiado tensos.”
Albert Camus
“Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Albert Camus
“Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
sábado, agosto 6
Agosto
Dias intensos de Agosto. Nalguns dias a praia pela manhã arrefece, fica-se sem banho, observa-se o mar grosso. A sua voz impõe-se a tudo e a todos. Então os veraneantes acham que não está bom tempo. Esta costa tem humores e, muitas vezes, o mar embravece. Nos últimos dias o calor intenso satisfez, finalmente, os veraneantes. Eles acham que faz bom tempo. O “bom” e o “mau” tempo são a justificação para o sucesso ou o fracasso de todos os planos. A marcha inexorável do tempo reconduzirá os veraneantes à realidade.
Eu sou assim ...
Encostado ao balcão da cervejaria de praia, para a mulher que o acompanhava, arrastando a voz, apesar de ser meio dia: ”Eu vou lá e resolvo isso ... eu sou assim! ...eu vou lá e resolvo isso ... eu sou assim! Repetidamente...”
"uma franco-maçonaria do cigarro."
Uma retribuição à gentileza do Pentimento com uma alusão directa aquele vício de Camus que a fotografia bem ilustra.
"O prazer que se encontra nas relações entre homens. Aquele, subtil, que consiste em dar ou pedir lume- uma cumplicidade, uma franco-maçonaria do cigarro."
Albert Camus
“Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
"O prazer que se encontra nas relações entre homens. Aquele, subtil, que consiste em dar ou pedir lume- uma cumplicidade, uma franco-maçonaria do cigarro."
Albert Camus
“Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
sexta-feira, agosto 5
Mudar o "estado social" para preservar o "estado social"
Já está disponível na edição online do “Semanário Económico” o artigo com o título em epígrafe.
O mesmo artigo está ainda acessível no IR AO FUNDO E VOLTAR.
O mesmo artigo está ainda acessível no IR AO FUNDO E VOLTAR.
quinta-feira, agosto 4
FRAGMENTO
Meu Amor! Meu Amante! Meu Amigo!
Colhe a hora que passa, hora divina,
Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!
E à volta, Amor... tornemos, nas alfombras
Dos caminhos selvagens e escuros,
Num astro só as nossas duas sombras...
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Tenho por ti uma paixão
Tão forte tão acrisolada,
Que até adoro a saudade
Quando por ti é causada
Florbela Espanca
Colhe a hora que passa, hora divina,
Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!
E à volta, Amor... tornemos, nas alfombras
Dos caminhos selvagens e escuros,
Num astro só as nossas duas sombras...
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Tenho por ti uma paixão
Tão forte tão acrisolada,
Que até adoro a saudade
Quando por ti é causada
Florbela Espanca
"Está visto que não chega"
Pacheco Pereira parece estar muito preocupado. Hoje, numa posta com o título “PARECE SILLY SEASON MAS NÃO DEVIA PARECER”, escreve no ABRUPTO:
“Quem esteja atento ao que se está a passar, verifica que se estão a somar sinais claros de ingovernabilidade, e de declive político acentuado”
Todas as dúvidas da oposição ao governo socialista se justificam ainda para mais quando o governo assume – com coragem - as medidas reformistas que qualquer observador atento verifica, com perplexidade, deveriam, pelo menos em parte, ter sido assumidas pelos governos anteriores de centro-direita dos quais JPP era partidário (do primeiro pois, em boa verdade, era opositor do segundo, embora militante do principal partido que politicamente o suportava).
O que me preocupa, a mim, nesta posta de JPP é a última frase deste parágrafo: “Mas o ambiente é de irresponsabilidade e deixa andar, não é de alarme. Ninguém se alarma em Agosto. Muitos portugueses são empurrados para distracções mais fúteis, mas isto está a ficar complicado. Tanto mais complicado quanto a legitimidade e excepcionais condições políticas, alcançadas onde está a força, nos votos, existem como já não havia desde 1991. Ou seja, não é nas urnas que se pode procurar meios e respostas. Está visto que não chega.”
Então se não é nas urnas que se podem buscar, em democracia, “meios e respostas”, onde é que se podem buscar?
Aqui está uma frase que vinda de alguém que, como JPP, certamente, não aceita receber lições de democracia de ninguém, carece de clarificação.
“Quem esteja atento ao que se está a passar, verifica que se estão a somar sinais claros de ingovernabilidade, e de declive político acentuado”
Todas as dúvidas da oposição ao governo socialista se justificam ainda para mais quando o governo assume – com coragem - as medidas reformistas que qualquer observador atento verifica, com perplexidade, deveriam, pelo menos em parte, ter sido assumidas pelos governos anteriores de centro-direita dos quais JPP era partidário (do primeiro pois, em boa verdade, era opositor do segundo, embora militante do principal partido que politicamente o suportava).
O que me preocupa, a mim, nesta posta de JPP é a última frase deste parágrafo: “Mas o ambiente é de irresponsabilidade e deixa andar, não é de alarme. Ninguém se alarma em Agosto. Muitos portugueses são empurrados para distracções mais fúteis, mas isto está a ficar complicado. Tanto mais complicado quanto a legitimidade e excepcionais condições políticas, alcançadas onde está a força, nos votos, existem como já não havia desde 1991. Ou seja, não é nas urnas que se pode procurar meios e respostas. Está visto que não chega.”
Então se não é nas urnas que se podem buscar, em democracia, “meios e respostas”, onde é que se podem buscar?
Aqui está uma frase que vinda de alguém que, como JPP, certamente, não aceita receber lições de democracia de ninguém, carece de clarificação.
TERRA TEMPERAMENTAL
Apresentando TERRA TEMPERAMENTAL, com um poema de Fernando Pessoa
O que há em mim é sobretudo cansaço
— Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
O que há em mim é sobretudo cansaço
— Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Dirigentes Sindicais
Os dirigentes sindicais brincam com o fogo ao combater no terreno da defesa, pura e dura, dos chamados direitos adquiridos, chegando mesmo a colocar em causa o fim de um conjunto de privilégios dos titulares de cargos políticos.
Os dirigentes sindicais, de alto a baixo, deveriam aproveitar o verão para olhar para a sua própria casa. Avaliar o peso da burocracia sindical e, em particular, os privilégios de que usufruem muitos sindicalistas.
Verificar até que ponto os cadernos reivindicativos dos sindicatos estão de acordo com o interesse dos trabalhadores que representam. E, ainda mais importante, avaliar de que forma as manifestações que se preparam para desencadear, os colocam do lado do futuro ou do lado do passado. Interrogar-se acerca se vale a pena combater em favor das "conquistas" dos chamados corpos especiais, que se constituíram na administração pública, em boa parte, por iniciativa dos governos de Cavaco Silva.
Reflectir acerca do interesse geral dos trabalhadores. Dirão que não é nada, o interesse geral! Que a missão dos sindicatos é a defesa dos interesses concretos dos trabalhadores que representam. Mas se assim é para que existem Centrais Sindicais que congregam todos, ou quase todos, os sindicatos representativos de cada classe profissional?
Não estará esgotado, carecendo de uma profunda reforma, o modelo de acção e organização do sindicalismo português herdado da revolução de Abril de 1974?
Os dirigentes sindicais, de alto a baixo, deveriam aproveitar o verão para olhar para a sua própria casa. Avaliar o peso da burocracia sindical e, em particular, os privilégios de que usufruem muitos sindicalistas.
Verificar até que ponto os cadernos reivindicativos dos sindicatos estão de acordo com o interesse dos trabalhadores que representam. E, ainda mais importante, avaliar de que forma as manifestações que se preparam para desencadear, os colocam do lado do futuro ou do lado do passado. Interrogar-se acerca se vale a pena combater em favor das "conquistas" dos chamados corpos especiais, que se constituíram na administração pública, em boa parte, por iniciativa dos governos de Cavaco Silva.
Reflectir acerca do interesse geral dos trabalhadores. Dirão que não é nada, o interesse geral! Que a missão dos sindicatos é a defesa dos interesses concretos dos trabalhadores que representam. Mas se assim é para que existem Centrais Sindicais que congregam todos, ou quase todos, os sindicatos representativos de cada classe profissional?
Não estará esgotado, carecendo de uma profunda reforma, o modelo de acção e organização do sindicalismo português herdado da revolução de Abril de 1974?
quarta-feira, agosto 3
Os "Amigos"
"Soares já foi Presidente duas vezes. Não querer deixar espaço a outros, sobretudo a um amigo de tão longa data e tão duras lutas como Manuel Alegre, não abona a seu favor"
Helena Roseta, PÚBLICO, 03-05-2005
Lê-se e pasma-se. Helena Roseta pode ter toda a razão do mundo que acho, sinceramente, que não tem, mas deveria guardar para o agasalho das confidências de amigos estes desabafos. Todos sabem que, em política, é mais certo ganhar o euro-milhões do que assegurar a fidelidade dos amigos. E só os grandes espíritos, raros na política, conseguem ascender à condição de ser fiéis à divisa :“antes ser traído, a trair”.
Helena Roseta, PÚBLICO, 03-05-2005
Lê-se e pasma-se. Helena Roseta pode ter toda a razão do mundo que acho, sinceramente, que não tem, mas deveria guardar para o agasalho das confidências de amigos estes desabafos. Todos sabem que, em política, é mais certo ganhar o euro-milhões do que assegurar a fidelidade dos amigos. E só os grandes espíritos, raros na política, conseguem ascender à condição de ser fiéis à divisa :“antes ser traído, a trair”.
Amor/Egoísmo
“Nós não experimentamos sentimentos que nos transformam, mas sentimentos que nos sugerem a ideia de transformação. Assim também o amor não nos liberta do egoísmo, mas faz-nos senti-lo e dá-nos a ideia de uma pátria longínqua onde esse egoísmo já não teria lugar.”
Albert Camus
“Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Albert Camus
“Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
terça-feira, agosto 2
PURA COINCIDÊNCIA
Apresentando Pura Coincidência, a propósito de duas efemérides: aniversários de nascimento de José Afonso e de António Maria Lisboa
Canção de Embalar
Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p'ra ti
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer
José Afonso
Canção de Embalar
Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p'ra ti
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer
José Afonso
A ÁRVORE
Para mim “a árvore” é a alfarrobeira. Havia muitas no campo da minha infância e à sua vista e, mais importante, à sua sombra, imaginei o mundo à minha maneira. Brinquei com as suas folhas tão características e a minha sensibilidade foi, certamente, moldada pelo seu cheiro. Todas diferente nas suas formas sempre femininas. É isso, as alfarrobeiras são, para mim, como corpos de mulheres que não se esquecem e se imaginam. Daí o seu fascínio.
1937- - "ANO TERRÍVEL"
“Ano Terrível: designação dada ao ano de 1937. Correspondeu à fase mais sinistra do Grande Terror estaliniano: execução de Riutine, segundo Grande Processo de Moscovo (Piatakov, Radek, Serebryakov, Muralov e Sokolnikov – exceptuando Radek, todos foram executados), suicídio de Serguei Ordjonikidze, prisão de Bukharine (que será executado no ano seguinte), execução (sem julgamento) do economista e teórico do comunismo Preobrajensky, assim como a execução do Marechal Tukhatchevsky (e de outros sete notáveis chefes militares, todos eles generais).
Por outro lado prosseguiu a “vingança” de Estaline contra Trotsky: o assassínio de Serguei Sedov (filho mais novo) e da execução de Aleksandra Sokolvskaia ( a sua primeira esposa) também ocorreram, neste mesmo ano. No entanto não se pode ignorar o facto de o ano de 1938 não ter sido melhor: execução de Bukharine, Rykov e Krestinsky; e assassínio de Lev Sedov, filho mais velho de Trotsky, em Fevereiro.”
In “Bukharine, Minha Paixão” de Anna Larina Bukharina, tradução do notável comunista Ludgero Pinto Basto, recentemente falecido - “Glossário” - página 419 - (organizado e escrito por Alberto Freire), Edições Terramar
Por outro lado prosseguiu a “vingança” de Estaline contra Trotsky: o assassínio de Serguei Sedov (filho mais novo) e da execução de Aleksandra Sokolvskaia ( a sua primeira esposa) também ocorreram, neste mesmo ano. No entanto não se pode ignorar o facto de o ano de 1938 não ter sido melhor: execução de Bukharine, Rykov e Krestinsky; e assassínio de Lev Sedov, filho mais velho de Trotsky, em Fevereiro.”
In “Bukharine, Minha Paixão” de Anna Larina Bukharina, tradução do notável comunista Ludgero Pinto Basto, recentemente falecido - “Glossário” - página 419 - (organizado e escrito por Alberto Freire), Edições Terramar
segunda-feira, agosto 1
"homens sem ideal e sem grandeza."
Hoje reflectindo com um amigo falávamos de como terá sido possível que uma grande parte da intelectualidade de esquerda tenha apoiado a União Soviética a partir dos finais dos anos 20 e, em particular, ao longo dos anos 30.
Não sabiam nada dos crimes de Estaline? Já aqui assinalei que Camus abandonou o Partido comunista em 1937, no qual tinha ingressado em 34. Talvez Camus tenha entendido o que muitos intelectuais do seu tempo não quiseram ou não puderam entender.
É a essa luz que pode ser lida, entre muitas outras alusões, este fragmento dos seus “Cadernos”, escrito em Dezembro de 1937:
“A política e o destino dos homens são organizados por homens sem ideal e sem grandeza. Aqueles que têm uma grandeza neles próprios não se ocupam de política. Assim em todas as coisas. Mas trata-se agora de criar em si próprio um novo homem. Seria preciso que os homens de acção fossem também homens de ideal e poetas industriais. Trata-se de viver os próprios sonhos – de os pôr em movimento. É necessário não nos perdermos e não renunciarmos.”
Albert Camus
“Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
(Acrescento que o ano de 1937 é designado como o “ ano terrível” por corresponder à fase mais sinistra do Grande Terror estalinista do qual descreverei, a seguir, alguns pormenores.)
Não sabiam nada dos crimes de Estaline? Já aqui assinalei que Camus abandonou o Partido comunista em 1937, no qual tinha ingressado em 34. Talvez Camus tenha entendido o que muitos intelectuais do seu tempo não quiseram ou não puderam entender.
É a essa luz que pode ser lida, entre muitas outras alusões, este fragmento dos seus “Cadernos”, escrito em Dezembro de 1937:
“A política e o destino dos homens são organizados por homens sem ideal e sem grandeza. Aqueles que têm uma grandeza neles próprios não se ocupam de política. Assim em todas as coisas. Mas trata-se agora de criar em si próprio um novo homem. Seria preciso que os homens de acção fossem também homens de ideal e poetas industriais. Trata-se de viver os próprios sonhos – de os pôr em movimento. É necessário não nos perdermos e não renunciarmos.”
Albert Camus
“Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
(Acrescento que o ano de 1937 é designado como o “ ano terrível” por corresponder à fase mais sinistra do Grande Terror estalinista do qual descreverei, a seguir, alguns pormenores.)
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