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Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, março 26
O MEU IRMÃO DIMAS ENTRE COLEGAS
Fotografia de Família
(Clicar para aumentar)
Fotografia do meu irmão Dimas (o primeiro em baixo à direita) com um grupo de colegas do Liceu obtida, quase de certeza, na Alameda de Faro. Pela data, manuscrita na fotografia, o meu irmão andava pelos seus 16/17 anos, a fase mais difícil da sua adolescência. Tinha, curiosamente, a mesma idade que o meu filho tem agora.
Pouco tempo depois, no ano seguinte (?), abandonaria os estudos liceais a caminho do Porto onde aprenderia as duas profissões (gravador e óptico) que lhe granjearam, até ao fim da vida, prestígio social e sucesso empresarial.
Anoto a sua tez morena, face compenetrada, fato completo, camisa branca, gravata decorada, relógio de pulso e o relevo das mãos, grandes e finas, suspensas do seu corpo, alto e esguio, com uma medida a mais para a época.
O grupo partilhava um momento de confraternização, todos igualmente bem vestidos, apertados para caberem na fotografia, usufruindo, unidos, os favores do tempo e os prazeres do lugar numa ambiência típica dos anos 50 do século passado.
(Clicar para aumentar)
Fotografia do meu irmão Dimas (o primeiro em baixo à direita) com um grupo de colegas do Liceu obtida, quase de certeza, na Alameda de Faro. Pela data, manuscrita na fotografia, o meu irmão andava pelos seus 16/17 anos, a fase mais difícil da sua adolescência. Tinha, curiosamente, a mesma idade que o meu filho tem agora.
Pouco tempo depois, no ano seguinte (?), abandonaria os estudos liceais a caminho do Porto onde aprenderia as duas profissões (gravador e óptico) que lhe granjearam, até ao fim da vida, prestígio social e sucesso empresarial.
Anoto a sua tez morena, face compenetrada, fato completo, camisa branca, gravata decorada, relógio de pulso e o relevo das mãos, grandes e finas, suspensas do seu corpo, alto e esguio, com uma medida a mais para a época.
O grupo partilhava um momento de confraternização, todos igualmente bem vestidos, apertados para caberem na fotografia, usufruindo, unidos, os favores do tempo e os prazeres do lugar numa ambiência típica dos anos 50 do século passado.
domingo, março 25
O QUE PENSA SIM E O QUE PENSA NÃO
Fotografia de Hélder Gonçalves
Há o que pensa sim e diz que não
há o que pensa não e diz que sim
há aquele que decerto me odeia
e não faz senão rir-se para mim
Há o que diz que sim e diz que não
conforme a meia-cara com que fala
e aquele que diz sim que sim que sim
sem saber o motivo que o embala
Há o que pensa sim e diz que sim
e esse é concerteza meu irmão
esse que diz sim pensando sim
é o que luta por uma razão.
Fernando Miguel Bernardes
Há o que pensa sim e diz que não
há o que pensa não e diz que sim
há aquele que decerto me odeia
e não faz senão rir-se para mim
Há o que diz que sim e diz que não
conforme a meia-cara com que fala
e aquele que diz sim que sim que sim
sem saber o motivo que o embala
Há o que pensa sim e diz que sim
e esse é concerteza meu irmão
esse que diz sim pensando sim
é o que luta por uma razão.
Fernando Miguel Bernardes
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sábado, março 24
LEITURAS
Peter Sloterdijk
A minha mulher pediu-me para comprar o “Expresso” e eu comprei. Antes disso, logo pela manhã, o Madrinha do “Expresso”, no café onde tomo o pequeno-almoço, olhou-me com melancolia quando peguei no “Sol”, disponibilizado gratuitamente, e o folheie com um certo sentimento de náusea. O Madrinha deve ter ficado com pena e eu fiquei com pena que ele não pudesse, apesar de tudo, ter acesso ao meu estado de alma.
A ideia, ou pretexto, para comprar o “Expresso” era uma entrevista com o Jacques Delors. Acabei de a ler. Nada de novo a não ser que o “velho” Delors fala com sabedoria do que sabe … e sabe muito. A Europa a 27 é, ao mesmo tempo, uma dificuldade e uma inevitabilidade. Pode ser esta uma síntese do que ele diz.
Mas o que retive e mais me interessou foi a sua última afirmação, essa sim verdadeiramente importante mesmo para o Portugal dos nossos dias: “à pergunta: “qual foi a decisão política mais importante da sua vida?”, respondeu: “Foi conseguir que o Governo francês aceitasse, em 1970/71, a educação contínua, tornando o ensino possível ao longo de toda a vida. Foi uma decisão de vanguarda que permitiu às pessoas de todas as idades o regresso à escola, para receber formação, enriquecendo-se cultural e profissionalmente. Foi a decisão mais importante da minha vida, porque tal como afirmei há pouco: em cada pessoa existe um tesouro.”
Mas mais importante do que a entrevista com Delors reparei no “Expresso” numa outra com o filósofo alemão Peter Sloterdijk. Respigo algumas passagens das suas respostas que vão ao encontro das minhas próprias preocupações:
“A estagnação demográfica da Europa é acompanhada por uma espécie de diminuição do papel e do potencial intelectuais deste continente. Então compreendemos por que é que há uma espécie de melancolia generalizada nos europeus. A Europa podia ser algo de muito mais entusiasmante se possuísse uma juventude disposta a entusiasmar-se.”
“Para os nazis havia um “povo sem espaço”. Hoje, temos espaço sem povo.”
“O romantismo do político é a ideia de que uma pequena guerra civil – a agitação de massas, os movimentos políticos na rua – não tem nada de nocivo. Nessa pequena guerra civil os intelectuais estão como o peixe na água. E agora os intelectuais estão em terreno seco. Daí, o facto de alguns querem (quererem) reinventar a política para obterem um papel a desempenhar nessa guerra divertida.”
“Continuamos a habitar na Europa, mas emigramos para um outro país. Por vezes, também utilizo o conceito de velha Europa como sinónimo de Europa do pensamento metafísico. E a nova Europa é uma Europa filisteia e pragmática, onde a paixão metafísica se evaporou.”
A minha mulher pediu-me para comprar o “Expresso” e eu comprei. Antes disso, logo pela manhã, o Madrinha do “Expresso”, no café onde tomo o pequeno-almoço, olhou-me com melancolia quando peguei no “Sol”, disponibilizado gratuitamente, e o folheie com um certo sentimento de náusea. O Madrinha deve ter ficado com pena e eu fiquei com pena que ele não pudesse, apesar de tudo, ter acesso ao meu estado de alma.
A ideia, ou pretexto, para comprar o “Expresso” era uma entrevista com o Jacques Delors. Acabei de a ler. Nada de novo a não ser que o “velho” Delors fala com sabedoria do que sabe … e sabe muito. A Europa a 27 é, ao mesmo tempo, uma dificuldade e uma inevitabilidade. Pode ser esta uma síntese do que ele diz.
Mas o que retive e mais me interessou foi a sua última afirmação, essa sim verdadeiramente importante mesmo para o Portugal dos nossos dias: “à pergunta: “qual foi a decisão política mais importante da sua vida?”, respondeu: “Foi conseguir que o Governo francês aceitasse, em 1970/71, a educação contínua, tornando o ensino possível ao longo de toda a vida. Foi uma decisão de vanguarda que permitiu às pessoas de todas as idades o regresso à escola, para receber formação, enriquecendo-se cultural e profissionalmente. Foi a decisão mais importante da minha vida, porque tal como afirmei há pouco: em cada pessoa existe um tesouro.”
Mas mais importante do que a entrevista com Delors reparei no “Expresso” numa outra com o filósofo alemão Peter Sloterdijk. Respigo algumas passagens das suas respostas que vão ao encontro das minhas próprias preocupações:
“A estagnação demográfica da Europa é acompanhada por uma espécie de diminuição do papel e do potencial intelectuais deste continente. Então compreendemos por que é que há uma espécie de melancolia generalizada nos europeus. A Europa podia ser algo de muito mais entusiasmante se possuísse uma juventude disposta a entusiasmar-se.”
“Para os nazis havia um “povo sem espaço”. Hoje, temos espaço sem povo.”
“O romantismo do político é a ideia de que uma pequena guerra civil – a agitação de massas, os movimentos políticos na rua – não tem nada de nocivo. Nessa pequena guerra civil os intelectuais estão como o peixe na água. E agora os intelectuais estão em terreno seco. Daí, o facto de alguns querem (quererem) reinventar a política para obterem um papel a desempenhar nessa guerra divertida.”
“Continuamos a habitar na Europa, mas emigramos para um outro país. Por vezes, também utilizo o conceito de velha Europa como sinónimo de Europa do pensamento metafísico. E a nova Europa é uma Europa filisteia e pragmática, onde a paixão metafísica se evaporou.”
LIBERDADE
Fotografia de Hélder Gonçalves
Era ainda a voz da juventude
quando a liberdade entrou
pelo canto da boca
As mãos acariciavam o sonho
enquanto o cheiro cinzento das grades
evadia os ideais
Hoje
em busca da palavra
o novo Abril amotina-se
na memória
Inconformada
pelo preço do não ser
arde agora
a palavra
traída
sem ousar … falar
26/1/99
Fernando Macias
Era ainda a voz da juventude
quando a liberdade entrou
pelo canto da boca
As mãos acariciavam o sonho
enquanto o cheiro cinzento das grades
evadia os ideais
Hoje
em busca da palavra
o novo Abril amotina-se
na memória
Inconformada
pelo preço do não ser
arde agora
a palavra
traída
sem ousar … falar
26/1/99
Fernando Macias
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III CONGRESSO DO MES - UM COMENTÁRIO
(Clique na fotografia para ampliar)
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A constituição da mesa com algumas (poucas) dúvidas. Da esquerda para a direita: 1) Atílio ("velho") 2) José Luís Ganhão 3) Fernando Sousa 4) Francisco Farrica 5) Jerónimo Franco (?) 6) Nuno Teotónio Pereira 7) Eduardo Graça 8) Augusto Mateus 9) Manuel Pires 10) António Machado (?) 11) (?)
Fiquei feliz com a mensagem deixada pela filha do José Luís Ganhão neste post de Outubro passado. Reproduzo, de novo, a fotografia que pode ser vista com uma ampliação maior o que facilita a identificação dos personagens.
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Relativamente aos membros da mesa do III Congresso consigo identificar desde logo o meu pai – José Luís Ganhão, como o segundo a contar da esquerda. Fontes familiares avançam com mais alguns nomes, a confirmar, sempre a contar da esquerda – Joaquim Banha em terceiro, Augusto Mateus em quarto e Eduardo Graça em sétimo.
Já agora, se me permitem, que agradável é ver parte da nossa história disponível para consulta a quem, como eu, era bastante novo quando esteve presente nestes palcos de luta ou para quem não os visitou mas ouve falar de uns tempos em que se defendia com garra aquilo em que se acreditava.
Porque o sonho continua nos filhos de cada protagonista daqueles tempos...
um bem haja
Cristina Ganhão Rodrigues
sexta-feira, março 23
MICHELLE BRITO
Ténis: Michelle Brito enfrenta hoje 12ª classificada do ranking mundial
Grande país que não enxerga as suas riquezas mesmo quando estão debaixo do nariz. Despreza o mérito próprio e cobiça o alheio como ninguém. Quantos talentos, de gente de todas as idades, desperdiçados e, pior do que isso, desprezados. A nossa pobreza está no espírito mais do que no bolso. A nossa visão do mundo, e de nós próprios, embaciou, vá lá saber-se porquê? Quem tenha olhos para ver encontra à sua volta uma multidão de lapsos aterradores na apreciação dos méritos alheios. O Estado não pode valer a todos mas pode ajudar a prestigiar uma verdadeira cultura na qual o mérito não seja uma palavra para encher a boca dos caçadores de subsídios, prémios e comendas. Ponham lá os olhos na Michelle Brito e em mais um montão de “campeões” cujos pais não podem pôr-se a caminho dos USA.
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Grande país que não enxerga as suas riquezas mesmo quando estão debaixo do nariz. Despreza o mérito próprio e cobiça o alheio como ninguém. Quantos talentos, de gente de todas as idades, desperdiçados e, pior do que isso, desprezados. A nossa pobreza está no espírito mais do que no bolso. A nossa visão do mundo, e de nós próprios, embaciou, vá lá saber-se porquê? Quem tenha olhos para ver encontra à sua volta uma multidão de lapsos aterradores na apreciação dos méritos alheios. O Estado não pode valer a todos mas pode ajudar a prestigiar uma verdadeira cultura na qual o mérito não seja uma palavra para encher a boca dos caçadores de subsídios, prémios e comendas. Ponham lá os olhos na Michelle Brito e em mais um montão de “campeões” cujos pais não podem pôr-se a caminho dos USA.
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ENOJANTE
Fotografia daqui
O que me espanta é a ideia que determinados jornais sejam “de referência”. Podem-no ter sido, ou sê-lo intermitentemente, ostentarem essa imagem por congregarem a colaboração de “líderes de opinião”. Mas isso não é suficiente para fazer deles “jornais de referência”; quanto muito são-no em “part time”. O jornalismo de referência do “Público”, por exemplo, é pior do que muitos possam pensar: a directoria obedece à voz do dono e presta-se às mais abjectas vinganças. Conheço o género. Enojante.
O que me espanta é a ideia que determinados jornais sejam “de referência”. Podem-no ter sido, ou sê-lo intermitentemente, ostentarem essa imagem por congregarem a colaboração de “líderes de opinião”. Mas isso não é suficiente para fazer deles “jornais de referência”; quanto muito são-no em “part time”. O jornalismo de referência do “Público”, por exemplo, é pior do que muitos possam pensar: a directoria obedece à voz do dono e presta-se às mais abjectas vinganças. Conheço o género. Enojante.
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DOURO DE MIE ALMA
Fotografia de Hélder Gonçalves
Ah! riu de ls mius amores!
Guardian de las streilhas.
Quanto gusto de ti
I de ls tous ancantos!
Que buòno vê
Ber las ailas a bolar.
Ls paixaricos a cantar.
Las fáias a assomar …
Oubir, scuitar …
Ls cachones a fungar.
Niébros i carrascos a silbar.
Pastores sues fraitas a tocar
L’auga a caminar
Sien parar …
Pa l mar eimenso …
A chorar …
Ah! Douro de mie alma!
Tu tenes, boç.
Sós fuônte de bida.
D’einergie i riqueza.
L sangre de la tiêrra.
Como tu.
Nun hai eigual.
Sós la lhuç de Miranda.
Lhuç de Pertual!
Domingos Raposo
(Em língua mirandesa.)
Ah! riu de ls mius amores!
Guardian de las streilhas.
Quanto gusto de ti
I de ls tous ancantos!
Que buòno vê
Ber las ailas a bolar.
Ls paixaricos a cantar.
Las fáias a assomar …
Oubir, scuitar …
Ls cachones a fungar.
Niébros i carrascos a silbar.
Pastores sues fraitas a tocar
L’auga a caminar
Sien parar …
Pa l mar eimenso …
A chorar …
Ah! Douro de mie alma!
Tu tenes, boç.
Sós fuônte de bida.
D’einergie i riqueza.
L sangre de la tiêrra.
Como tu.
Nun hai eigual.
Sós la lhuç de Miranda.
Lhuç de Pertual!
Domingos Raposo
(Em língua mirandesa.)
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quinta-feira, março 22
OTA
Imagem daqui
Comentário que escrevi directamente na caixa dos ditos no “A Defesa de Faro” a propósito da localização – ou lá o que seja – do futuro aeroporto a que se convencionou chamar a questão da OTA:
É possível que sejamos um país muito especial. Tudo o que seja obra de grande porte – estruturante – é sempre de parto difícil. O Duarte Pacheco - como Ministro das Obras Públicas de Salazar - construiu várias obras de vulto, algumas delas, ao arrepio da opinião do próprio Presidente do Conselho. Depois morreu num desastre de viação esborrachado contra uma árvore. A ponte sobre o Tejo - a primeira - chamada, por ironia, Salazar e depois 25 de Abril - também mereceu as maiores reservas ao ditador. Penso mesmo que o homem saiu da sala de reuniões do Conselho de Ministro na hora da aprovação da coisa. Custava muito dinheiro e não se percebia muito bem para que servia uma ponte daquelas tão grandes. Salazar não sabia nada de aeroportos nem lhe faziam falta nenhuma esses conhecimentos pois só uma vez andou de avião. Fez uma viagem Lisboa-Porto e quando aterrou, meio enjoado, exclamou que nunca mais andava numa coisa daquelas. O Metro de Lisboa nunca construiu a ligação do Aeroporto da Portela a Lisboa o que sempre foi um verdadeiro mistério - alguém que explique! Desde o verão 1932, quando tomou posse como Presidente do Conselho, até ao fim, muitos decénios depois, Salazar nunca visitou sequer as colónias que eram uma das razões principais da sua política e a maior riqueza - no plano económico e estratégico -de Portugal nos tempos ante 25 de Abril. Portugal, ou pelo menos uma parte dele, ainda continua a viver no Salazarismo: o ideal seria viver em autarcia, fechados sobre si próprios, isolados do mundo, um quintal, uma rosa e o trinado de uma guitarra. Um dia destes quando uma máquina voadora, daquelas grandes, cair em cima de Lisboa, na aproximação a essa espécie de bairro de Lisboa, com pistas de aterragem e torres de controle, aqui d'el rei que já nos deixamos atrasar.
[Corrigi até dois ou três erros que resultaram da escrita rápida e directa deste sobredito cujo comentário.]
Comentário que escrevi directamente na caixa dos ditos no “A Defesa de Faro” a propósito da localização – ou lá o que seja – do futuro aeroporto a que se convencionou chamar a questão da OTA:
É possível que sejamos um país muito especial. Tudo o que seja obra de grande porte – estruturante – é sempre de parto difícil. O Duarte Pacheco - como Ministro das Obras Públicas de Salazar - construiu várias obras de vulto, algumas delas, ao arrepio da opinião do próprio Presidente do Conselho. Depois morreu num desastre de viação esborrachado contra uma árvore. A ponte sobre o Tejo - a primeira - chamada, por ironia, Salazar e depois 25 de Abril - também mereceu as maiores reservas ao ditador. Penso mesmo que o homem saiu da sala de reuniões do Conselho de Ministro na hora da aprovação da coisa. Custava muito dinheiro e não se percebia muito bem para que servia uma ponte daquelas tão grandes. Salazar não sabia nada de aeroportos nem lhe faziam falta nenhuma esses conhecimentos pois só uma vez andou de avião. Fez uma viagem Lisboa-Porto e quando aterrou, meio enjoado, exclamou que nunca mais andava numa coisa daquelas. O Metro de Lisboa nunca construiu a ligação do Aeroporto da Portela a Lisboa o que sempre foi um verdadeiro mistério - alguém que explique! Desde o verão 1932, quando tomou posse como Presidente do Conselho, até ao fim, muitos decénios depois, Salazar nunca visitou sequer as colónias que eram uma das razões principais da sua política e a maior riqueza - no plano económico e estratégico -de Portugal nos tempos ante 25 de Abril. Portugal, ou pelo menos uma parte dele, ainda continua a viver no Salazarismo: o ideal seria viver em autarcia, fechados sobre si próprios, isolados do mundo, um quintal, uma rosa e o trinado de uma guitarra. Um dia destes quando uma máquina voadora, daquelas grandes, cair em cima de Lisboa, na aproximação a essa espécie de bairro de Lisboa, com pistas de aterragem e torres de controle, aqui d'el rei que já nos deixamos atrasar.
[Corrigi até dois ou três erros que resultaram da escrita rápida e directa deste sobredito cujo comentário.]
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AS CERTEZAS DO PCP !
Imagem Daqui
No caso em apreço do qual não conheço nada a não ser o que a comunicação tem reproduzido do que outros têm dito o que mais me surpreende é a posição do PCP. Não sei porquê mas dá-me a sensação que dispõe de muitas certezas acerca do assunto. Eu sei que faz parte do património ideológico do PCP dispor de muitas certezas mas “estar seguro” neste caso parece-me um bocadinho “forçado”.
No entanto, António Filipe afirmou estar seguro de que as disquetes do "Envelope 9" nunca foram abertas porque "não houve ninguém que tenha reconhecido que tenha tratado aquilo", concluindo que "a dúvida é forçada".
No caso em apreço do qual não conheço nada a não ser o que a comunicação tem reproduzido do que outros têm dito o que mais me surpreende é a posição do PCP. Não sei porquê mas dá-me a sensação que dispõe de muitas certezas acerca do assunto. Eu sei que faz parte do património ideológico do PCP dispor de muitas certezas mas “estar seguro” neste caso parece-me um bocadinho “forçado”.
No entanto, António Filipe afirmou estar seguro de que as disquetes do "Envelope 9" nunca foram abertas porque "não houve ninguém que tenha reconhecido que tenha tratado aquilo", concluindo que "a dúvida é forçada".
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POST-CARD (Os velhos, os pombos, os gatos)
Fotografia de Hélder Gonçalves
Alguns habitantes queixam-se dos pombos. Do mal
que fazem às fachadas, às estátuas, à pintura
dos automóveis. Os pombos não voam a gasolina
e têm humaníssimos hábitos como a gula, as
rivalidades do cio, a sede e a urgência
de defecar. Não entendem coleiras, gaiolas, servidões
de casota, falta de jardins e adornos
de penas alheias. E por esta divina ignorância
recebem, às vezes, algum milho displicente
dádiva de crianças para a fotografia ou de benignos
velhos reformados. Algumas mulheres continuam a
socorrer os antiquíssimos ( e terrestres) gatos
vadios. Gatos da nossa infância. Das traseiras,
dos muros, dos quintais – o Sindbad, a Pardoca – com
restos de arroz em papéis engordurados. Carinhosas
velhas, atentas à famélica e materna condição
das ninhadas, enquanto os pombos e os velhos
debicam espaços onde levavam asas. Por instantes
retomam uma destronada simbologia:
Eles no Céu, elas na Terra.
Inês Lourenço
Porto, 98
Alguns habitantes queixam-se dos pombos. Do mal
que fazem às fachadas, às estátuas, à pintura
dos automóveis. Os pombos não voam a gasolina
e têm humaníssimos hábitos como a gula, as
rivalidades do cio, a sede e a urgência
de defecar. Não entendem coleiras, gaiolas, servidões
de casota, falta de jardins e adornos
de penas alheias. E por esta divina ignorância
recebem, às vezes, algum milho displicente
dádiva de crianças para a fotografia ou de benignos
velhos reformados. Algumas mulheres continuam a
socorrer os antiquíssimos ( e terrestres) gatos
vadios. Gatos da nossa infância. Das traseiras,
dos muros, dos quintais – o Sindbad, a Pardoca – com
restos de arroz em papéis engordurados. Carinhosas
velhas, atentas à famélica e materna condição
das ninhadas, enquanto os pombos e os velhos
debicam espaços onde levavam asas. Por instantes
retomam uma destronada simbologia:
Eles no Céu, elas na Terra.
Inês Lourenço
Porto, 98
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quarta-feira, março 21
A TÉCNICA DA MORTE
Imagem daqui
Forca de Ramadan medida para evitar decapitação
A técnica vai sendo afinada. Se um dia chegasse a hora de escolher a corda para os assassinos dos assassinos ia tudo correr na perfeição. A pena de morte reduzida à técnica do algoz.
Forca de Ramadan medida para evitar decapitação
A técnica vai sendo afinada. Se um dia chegasse a hora de escolher a corda para os assassinos dos assassinos ia tudo correr na perfeição. A pena de morte reduzida à técnica do algoz.
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Só escrevo
Fotografia de sophie thouvenin
Só escrevo para me soltar de mim
E me fazer acompanhar pelo eco
Das palavras que se soltam vivas
E vibrantes da ponta da espada
Como a voz que não reconheço
Só escrevo uma vez e por vezes
Esqueço-me de tornar viável
A palavra deixando-a pendurada
No estendal das ideias húmidas
A arrefecer das dores de que padeço
1/3/2007
Só escrevo para me soltar de mim
E me fazer acompanhar pelo eco
Das palavras que se soltam vivas
E vibrantes da ponta da espada
Como a voz que não reconheço
Só escrevo uma vez e por vezes
Esqueço-me de tornar viável
A palavra deixando-a pendurada
No estendal das ideias húmidas
A arrefecer das dores de que padeço
1/3/2007
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terça-feira, março 20
tábua
Fotografia de Hélder Gonçalves
haverá ainda esta lua de água
se a cinza nos cobrir os próprios passos.
março, noite a arder, o rumor e a frágua,
e estreiteza de todos os espaços.
à cidade doámos outra fome,
um arrepio de canto e florescer,
barcos correndo as ruas já sem nome,
um jeito de euforia a incandescer.
e andámos inscrevendo o timbre azul
onde era o abandono e a solidão,
a folha ressequida, a finitude.
caminhamos agora para sul.
a harpa e o destino em cada mão
mesmo que a vida fira e nos demude.
José Manuel Mendes
haverá ainda esta lua de água
se a cinza nos cobrir os próprios passos.
março, noite a arder, o rumor e a frágua,
e estreiteza de todos os espaços.
à cidade doámos outra fome,
um arrepio de canto e florescer,
barcos correndo as ruas já sem nome,
um jeito de euforia a incandescer.
e andámos inscrevendo o timbre azul
onde era o abandono e a solidão,
a folha ressequida, a finitude.
caminhamos agora para sul.
a harpa e o destino em cada mão
mesmo que a vida fira e nos demude.
José Manuel Mendes
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DEFICIT - ENCURTANDO CAMINHO
Marilyn Monroe
O INE anunciou um deficit, em 2006, de 3,9% do PIB, ou seja, 0,7% abaixo do previsto pelo governo. Acresce que a divida pública ficou também abaixo das previsões.
Este resultado significa: a) uma verdadeira e expressiva vitória política do governo; b) a abertura de uma forte possibilidade de alcançar um deficit de 3% já em 2007*, ou seja, salvo qualquer crise imprevisível a antecipação num ano das metas previstas; c) lançar, em 2008, medidas mais agressivas indutoras do relançamento da economia.
Como dizia num artigo recente esta notícia confirma “sinais de esperança”, ou seja, que poderemos estar a caminho de uma consolidação orçamental duradoura assente na redução da despesa que permitirá daqui a dois anos uma inflexão significativa das prioridades da política orçamental.
*As previsões do deficit, até à divulgação deste resultado, eram: 4,6%, em 2006, abrindo caminho para alcançar os objectivos de 3,7%, em 2007 e inferior a 3%, em 2008. A partir de agora as previsões poderão ser qualquer coisa como: 3,9%, em 2006; 3% em 2007 e inferior a 2,5% em 2008. (Para não ser demasiado optimista!)
O INE anunciou um deficit, em 2006, de 3,9% do PIB, ou seja, 0,7% abaixo do previsto pelo governo. Acresce que a divida pública ficou também abaixo das previsões.
Este resultado significa: a) uma verdadeira e expressiva vitória política do governo; b) a abertura de uma forte possibilidade de alcançar um deficit de 3% já em 2007*, ou seja, salvo qualquer crise imprevisível a antecipação num ano das metas previstas; c) lançar, em 2008, medidas mais agressivas indutoras do relançamento da economia.
Como dizia num artigo recente esta notícia confirma “sinais de esperança”, ou seja, que poderemos estar a caminho de uma consolidação orçamental duradoura assente na redução da despesa que permitirá daqui a dois anos uma inflexão significativa das prioridades da política orçamental.
*As previsões do deficit, até à divulgação deste resultado, eram: 4,6%, em 2006, abrindo caminho para alcançar os objectivos de 3,7%, em 2007 e inferior a 3%, em 2008. A partir de agora as previsões poderão ser qualquer coisa como: 3,9%, em 2006; 3% em 2007 e inferior a 2,5% em 2008. (Para não ser demasiado optimista!)
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segunda-feira, março 19
CENAS RASCAS
Fotografia Daqui
Vi passar na TV umas cenas rascas do Conselho Nacional do CDS/PP à vista das quais as reuniões do defunto MES eram autênticos “cursos de cristandade”. Só mesmo o saudoso José Manuel deve ter participado, nos seus tempo do MRPP, em cenas de igual ou mais alta promiscuidade paredes-meias com a pura delinquência.
São os governantes que tivemos – e que ameaçam voltar – mostrando ao país o seu verdadeiro carácter. Para eles os fins justificam os meios e vale tudo para conquistar uma bandeira esfarrapada. A única falta que senti foi a do cheiro a incenso exalado da figura do Dr. Bagão Félix.
Vi passar na TV umas cenas rascas do Conselho Nacional do CDS/PP à vista das quais as reuniões do defunto MES eram autênticos “cursos de cristandade”. Só mesmo o saudoso José Manuel deve ter participado, nos seus tempo do MRPP, em cenas de igual ou mais alta promiscuidade paredes-meias com a pura delinquência.
São os governantes que tivemos – e que ameaçam voltar – mostrando ao país o seu verdadeiro carácter. Para eles os fins justificam os meios e vale tudo para conquistar uma bandeira esfarrapada. A única falta que senti foi a do cheiro a incenso exalado da figura do Dr. Bagão Félix.
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domingo, março 18
"O diálogo da pedra e da carne ..."
Fotografia de Família (clicar para aumentar)
O meu irmão Dimas, (o da máquina fotográfica) na pujança da sua juventude, confraterniza com um grupo de amigos cujos rostos reconheço da minha infância. A fotografia sugere-me a união do homem com a terra que fecunda a amizade e é fomento da alegria. A exaltação da natureza e dos corpos livres que a percorrem ou, como dizia Camus, o corpo, como o silêncio, é eloquente e instaura o “diálogo da pedra e da carne à medida do sol e das estações” (Noces).
O meu irmão Dimas, (o da máquina fotográfica) na pujança da sua juventude, confraterniza com um grupo de amigos cujos rostos reconheço da minha infância. A fotografia sugere-me a união do homem com a terra que fecunda a amizade e é fomento da alegria. A exaltação da natureza e dos corpos livres que a percorrem ou, como dizia Camus, o corpo, como o silêncio, é eloquente e instaura o “diálogo da pedra e da carne à medida do sol e das estações” (Noces).
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