quarta-feira, junho 4

ALEGRE

uma chamada esquerda do PS que é a esquerda e a direita de si própria. O seu lugar situa-se algures entre o passado o presente e o futuro. O seu passado é republicano laico e socialista, o seu presente é ser “do contra” e o seu futuro é admirar o seu passado. Há uma esquerda do PS que se move em torno de princípios que estão enunciados em tábuas antigas, prossegue lutas em prol das conquistas da história e nutre a crença que há sempre uma porta entreaberta para o futuro. Há uma chamada esquerda do PS que sempre encarnou as dores do parto de uma esquerda nova. Geme, trina, sentencia, pontua, comunica, compunge-se, chora e, na versão popular, acena lenços brancos nas bancadas.
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JORGE DE SENA - pelo 30º aniversário da sua morte

[Lisboa, 2 de Novembro de 1919 - Santa Barbara, Califórnia, 4 de Junho de 1978]

Quisera adormecer
como a criança acorda,
à beira de outro tempo, que é o nosso.

Só quero o que não posso.

8/4/53

Em finais de 1979, não sei precisar a razão, interessei-me por conhecer a obra de Jorge de Sena. Talvez tenha sido a memória, muito viva, que retive do seu empolgante discurso na cerimónia realizada, na Guarda, no dia 10 de Junho de 1977. Talvez tenha sido o resultado da busca de refúgio para as dores de uma ruptura amorosa; talvez tenha sido a necessidade de me reencontrar com a obra de artistas que, tal como Camus, fizeram do culto pela liberdade o seu lema de vida.

Hoje preocupam-me os sinais da ascensão de novas formas de autoritarismo que, inevitavelmente, brigarão com a liberdade. E dou comigo a pensar como é possível que os herdeiros das diversas variantes do estalinismo, no nosso país, ganhem créditos, cívicos e eleitorais, apresentando-se como estrénuos defensores da liberdade que, na verdade, abominam. E de como por essa Europa fora se adensam os sinais da ascensão de um novo (ou velho?) fascismo.

Na roda da história volta à tona a velha contradição entre justiça e liberdade sendo que os defensores do primado da liberdade sempre se vêem isolados em épocas de escassez material, relativa ou absoluta, em favor da popularidade de ideologias igualitárias, sejam de matiz comunista ou fascista.

Quando escasseia o pão, e a vida encarece, ganham fôlego os demagogos, de todas as cores, que aproveitam o descontentamento popular para cavalgar a onda e alcandorar aos píncaros o “discurso social” que o mesmo é dizer a reivindicação do predomínio dos princípios, e das políticas, da igualdade sobre os princípios, e as políticas, da liberdade.

Por mim advogo, correndo todos os riscos, o primado da liberdade. Nem novo estalinismo, nem novo fascismo. Nem a sombra dos tiranos quanto mais os seus rostos. No tempo da sociedade da informação a liberdade está na ponta dos nossos dedos mais do que pensam alguns energúmenos cujo maior prazer é vigiar os passos dos amantes da liberdade.

Meus caros: é por isso que me dou ao trabalho, minoritário e persistente, mas afinal na companhia de tantos outros, de lembrar personagens, que arrostando com o silêncio da nossa cultura oficial, pelo seu exemplo e pela sua obra, nos conclamam à vigilância activa, apesar da flacidez das chamadas democracias consolidadas, na defesa da liberdade.

Eis a razão de fundo porque presto a minha homenagem a Jorge de Sena, morto faz hoje 30 anos, e que jaz sepultado, para vergonha da pátria portuguesa, na última das terras da sua peregrinação – os Estados Unidos da América. Salvé Jorge Cândido de Sena!

Ver aqui e aqui algumas referências e poemas de Jorge de Sena.
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Fiz uma pequena alteração no título deste post e, numa primeira leitura da comunicação social, não encontrei uma única referência à efeméride.
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terça-feira, junho 3

RAMMSTEIN


Como manifestação de repúdio em relação às novas exigências das autoridades americanas para a entrada nos Estados Unidos de cidadãos dos países da UE (isso mesmo, da União Europeia!) posto uma música de homenagem à causa palestiniana pela controversa, e popular, banda alemã Rammstein.
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ELOGIO DA VIDA MONÁSTICA

Jorge de Sena (pelo 30º aniversário da sua morte)
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Portrait

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HUMBERTO DELGADO (VI)

Humberto Delgado

Visitei um dia destes o Café Aliança, na minha cidade de Faro, acompanhado pelo meu filho. Aproximei-me das mesas dos “habitués” e meti conversa:

“ – Olá! Como estão, ando atrás de uma fotografia da passagem do Humberto Delgado aqui pelo café. Está difícil de encontrar.” Todos se interessaram pela conversa e, quase todos, tinham bem presente na memória a passagem de Humberto Delgado pelo Algarve.

“Eu vi-o entrar por aquela porta, isto estava cheio de Pides"; “Eu vi duas fotografias dele, uma naquela porta e outra aqui no café!”; “Eu estava, à época, em Olhão e vi a loucura que foi a sua recepção pelo povo!” As fotografias, até hoje, não apareceram mas isso pouco importa.

Foi no dia 3 de Junho de 1958, ao fim da tarde, que Humberto Delgado chegou a Faro: “Ao cair do dia, em Faro, esperava-o uma invulgar concentração de agentes da PIDE, por toda a cidade e no hotel onde ficou hospedado.” “ – Tive de me refrear para não me atirar a eles”, confessou. “O Café Aliança serviu de palco improvisado, numa grande barafunda de populares amontoados à entrada, a revezarem-se para ouvir e ver o candidato presidencial”.

No dia seguinte (4 de Junho) Humberto Delgado rumou a Portimão, visita que o seu neto descreve a traços largos e da qual destaco um detalhe:

“À porta do cemitério, também sobressaiu em arroubos de euforia uma operária conserveira, de seu nome Maria da Conceição Ramos Matias, que utilizou nesse dia as suas moedas de poupança para oferecer flores ao general. Gritou-lhe palavras de ordem de sabor comunista e, rebentando de emoção, impôs o seu desejo de lhe cantar sozinha o Hino nacional, até que, por estar tanto calor, lhe desmaiou nos braços.”

De regresso a Faro é assinalado um almoço tardio e a arrancada para visitar Olhão. Lembro-me da aglomeração de povo à beira dos passeios nas ruas de Faro, acontecimento absolutamente inédito, só comparável com a passagem de algumas procissões e, muito mais tarde, em 1966, aquando da chegada a Faro do bispo Júlio Tavares Rebimbas.

Ninguém sabia ao certo, nem os percursos, nem os horários do General em campanha, mas o meu pai encontrou o caminho, e o momento certo, para se integrar na comitiva que percorreu os nove quilómetros ente Faro e Olhão, que eu acompanhei, ainda criança, certamente, a bordo do Ford Prefect (LH-14-11) familiar. Lembro-me ainda de ter andado na rua, pela mão de meu pai, assistindo à calorosa recepção do povo de Olhão ao General.

Que estranho influxo de coragem atravessou o coração das gentes para que ousassem mostrar, publicamente, a sua dissidência, desafiando um regime político temido pela repressão que exercia sobre os seus opositores? Nesse mesmo dia, 4 de Junho de 1958, a comitiva seguiu para Tavira, Vila Real de Santo António, subindo depois na direcção de Beja cidade na qual a campanha havia de terminar, em apoteose.

[Transcrições, a bold, de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. Omiti as notas que remetem para as fontes. Continua.]
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segunda-feira, junho 2

MOURINHO NO INTER DE MILÃO

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ITÁLIA - O REGRESSO DO FASCISMO?

Imagem daqui

O caldo ideológico em que medra o fascismo faz o seu caminho em Itália. Mais do que a afirmação de uma ideologia estão em marcha politicas visando a perseguição a grupos étnicos minoritários. Espera-se uma reacção enérgica, e exemplar, da Comissão Europeia presidida por José Manuel Barroso. Assim como a condenação pública da política xenófoba e racista do governo italiano por parte dos governos dos países da Europa democrática. Se tal não acontecer tornar-se-ão cúmplices daquela política e perderão a autoridade moral e política para defenderem os seus próprios nacionais emigrantes. Portugal como país de emigração – à vista de todos nas imagens a propósito do europeu de futebol – deveria ser o primeiro país a condenar publicamente a deriva fascizante do governo italiano. E já agora a nova líder do PSD que foi eleita trazendo na boca a palavra “social”.
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domingo, junho 1

A SELECÇÃO A CAMINHO DA SUIÇA

Acompanhei um pouco por acaso, mas com curiosidade, reportagens da viagem da selecção de futebol a caminho da Suíça. Pondo de lado a componente oficial é impressionante a capacidade de mobilização popular da selecção. A chegada a Neuchâtel mostra uma imagem do povo português - emigrante - ao mesmo tempo entusiasta, moderno e disciplinado. Talvez excessivamente confiante no sucesso da selecção neste europeu. Sou céptico mas anseio que a realidade me desminta.
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HUMBERTO DELGADO (V)


O ambiente na cidade dos estudantes estava muito tenso, na verdade, e mais tenso se tornou no dia seguinte, por ser a data prevista para a enguiçada visita de Humberto Delgado a Braga. Tinha sido adiada inicialmente para 3 de Junho, mas acabou sendo antecipada, por sua decisão, para o primeiro dia do mês. Era um domingo, e logo pela manhã Raul Porto Duarte dirigiu-se a Humberto Delgado, no Hotel Astória. Ao ver o inspector da PIDE, este perguntou?

“- Que quer?

“- Quero comunicar-lhe que não está autorizado a seguir para o norte. Terá de regressara a Lisboa.

“ – Oiça: eu só recebo ordens que venham de alguém com a minha categoria ou superior. De si, não as recebo.

“Porto Duarte esboçou um gesto, quase imperceptível, de levar a mão à arma, mas o general atalhou brutalmente:

“ – E se o pretender fazer com uma pistola, tenho aqui outra.” – E mostrou na cintura a arma que trazia. “ – Convença-se que não recebo ordens da PIDE, que não é coisa alguma e não pode prender um general no activo. Estou disposto a seguir para Braga e só não irei se receber uma ordem militar por escrito, emanada do Governo.”

“O General olhava para o outro como se fosse um verme e deu meia volta (…) O pide estava branco como a cal, hesitou uns segundos e saiu.”

Humberto Delgado acabou por não ir a Braga nesse dia seguindo o conselho dos seus correligionários que reuniu para esse fim. A ordem escrita proibindo militarmente a deslocação acabou por chegar à uma hora da manhã por um oficial do Estado Maior do Quartel General da 2ª Região Militar.

A ida a Braga, por si só, não era a principal preocupação de Humberto Delgado, nem foi por acaso que antecipou de 3 para 1 de Junho a projectada visita à capital do Minho. O que estava realmente em jogo naquele início do mês era a eclosão de um levantamento militar pelo qual assumia a responsabilidade. Se os oficiais envolvidos cumprissem a intentona, marcada que estava para o dia 2, Humberto Delgado encontrar-se-ia então no local da arrancada do “28 de Maio”, o que teria um efeito moral , podendo funcionar como catalisador de adesões no exército. A intentona, no entanto, acabou por não ser levada a cabo.

[Transcrição de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. Omiti as notas que remetem para as fontes. Continua.]
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sábado, maio 31

BOICOTE À GALP - CONTRIBUIR PARA A CRIAÇÃO DO MERCADO DE COMBUSTÍVEIS


Apesar desta brincadeira se pensa que uma empresa grande, estratégica e coisa e tal, não pode ser boicotada, desengane-se.
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AS ELEIÇÕES NO PSD

Ilustração daqui

Os resultados das eleições directas para o líder do PSD são os seguintes (extraídos da acta oficial):

• Total de Eleitores – 77.088
• Total de Votantes – 45.444
• Votos Brancos – 254
• Votos Nulos – 97
• Candidato Mário Patinha Antão – 308 votos
• Candidato Pedro Santana Lopes – 13.427 votos
• Candidato Manuela Ferreira Leite – 17.224 votos
• Candidato Passos Coelho - 14.134 votos

Os resultados supra mencionados correspondem ao apuramento obtido até às 20h00 horas do dia 31 de Maio de 2008.

Falta apurar os resultados das seguintes Assembleias de Voto:

• Almeirim;
• Constância;
• Ferreira do Zêzere;
• Mesão Frio;
• Penedono;
• Peso da Régua;
• São Paulo;
• Londres;
• Newark;
• Rio de Janeiro

Como sempre acontece neste tipo de eleição – no PSD e no PS – vai correr um rio de tinta da pena de comentadores e uma torrente de palavras da boca de comentaristas. Mas, valha a verdade, a legitimidade deste processo eleitoral não esconde, ao mesmo tempo, a sua assustadora debilidade. Já não falo da guerra entre os candidatos e seus apoiantes. O que me chocou quando abri o sítio do PSD para me certificar dos resultados é ter verificado ser tão pouca gente a decidir dos destinos de um partido e, quiçá, de um povo.
Dos 77 088 militantes inscritos votaram 45 444 (59%). O expoente máximo desta espécie de paródia democrática é Patinha Antão que obteve 308 votos apesar de ter ocupado infindáveis minutos de tempo de antena nos órgãos de comunicação – incluindo as televisões. Manuela Ferreira Leite, que vai liderar o PSD, obteve 17 224 votos (37,9% do total de votos expressos)!
A legitimidade das eleições democráticas não se discute. Mas convenhamos que estes números (sem falar da qualidade de eleitos e eleitores!) revelam uma democracia restrita, limitada, talvez doente, que permite um sem número de interrogações acerca da sustentabilidade, e viabilidade, do próprio regime político democrático. Como podem tão poucos – ao nível dos partidos que são o sustentáculo do regime de representação que é o nosso – deter o poder de definir políticas nacionais cruciais para a vida de toda a comunidade?
Quem se der ao trabalho de percorrer os quadros de resultados, distrito a distrito, concelho a concelho, não pode deixar de sentir um arrepio de desconforto. Quer ao nível nacional, quer local, existem muitas entidades associativas, de natureza diversa, com mais filiados activos e participantes (muitos mais) do que os 77 088 eleitores para não falar dos 45 444 votantes nestas eleições directas do PSD. Todos podemos fingir que tudo vai bem, que a democracia é mesmo assim, mas algo vai mal no “Reino da Dinamarca”.
Ah! Já agora parece-me que o equilíbrio da repartição dos magros votos pelos três candidatos institucionais vai – pelo que entendi das palavras de Santana Lopes – apoiado por Jardim (que nem votou) - transformar a vitória de Manuela Ferreira Leite num inferno. Uma espécie de continuação da guerra civil interna por outros meios. A ver vamos!
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JORGE DE SENA (pelo 30º aniversário da sua morte)

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Passionata, de David LaChapelle

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quinta-feira, maio 29

REFERENDO NA IRLANDA

Margens de Erro
(Clique na imagem para ampliar)

Realiza-se, no próximo dia 12, na Irlanda o referendo ao Tratado de Lisboa. Este acontecimento é mais importante do que parece. O SIM tem fortes hipóteses de sair vencedor. Caso contrário, pelo menos no plano político, a UE sairá ainda mais enfraquecida. Em época de crise económica, e nas vésperas das eleições presidenciais americanas, seria, pelo menos, grave.
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EXERCÍCIO DE CIDADANIA

Dane Shitagi

Entendo. Pretende-se demonstrar que há outras esquerdas para além da que suporta politicamente o governo. Mas para que esta manifestação seja um saudável exercício de cidadania, além de montra de vaidades pessoais e nostalgias frentistas, é preciso que sirva para apresentar alternativas concretas – e viáveis – ao chamado deficit social. A ver vamos. Assumir a responsabilidade de governar é uma maçada … e o Dr. Mário Soares que o diga! Já agora assinalo a originalidade da sessão ser acolhida no Teatro da Trindade … pois não lhe conhecia a vocação … pelos menos nos tempos modernos!
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