Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, fevereiro 9
O sofrimento humano
sexta-feira, fevereiro 8
quinta-feira, fevereiro 7
terça-feira, fevereiro 5
segunda-feira, fevereiro 4
... le droit d´aimer sans mesure.
“Je comprends ici ce qu´on appelle gloire: le droit d´aimer sans mesure. Il n´y a qu´un seul amour dans ce monde. Étreindre un corps de femme, c´est aussi retenir contre soi cette joie étrange qui descend du ciel vers la mer.»
Albert Camus, in “Noces à Tipasa”
Na fotografia María Casares
Albert Camus, in “Noces à Tipasa”
Na fotografia María Casares
SE EU SAIR DAQUI VIVO
Se eu sair daqui vivo
da Casa de Saúde do Telhal
crivo numa pedra nua e resistente
o tamanho do meu mal.
Assanho-me de tal
e vou e venho
onde me seja mais natural.
Se sair daqui vivo
privo-me de tudo
da minha liberdade
que não sou um homem mudo
sou um homem de verdade.
Privo-me na idade
do bem que não fizeram
do bem que tudo tem.
É numa simplicidade
que convém.
António Gancho
14/3/96
Casa de Saúde do Telhal
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da Casa de Saúde do Telhal
crivo numa pedra nua e resistente
o tamanho do meu mal.
Assanho-me de tal
e vou e venho
onde me seja mais natural.
Se sair daqui vivo
privo-me de tudo
da minha liberdade
que não sou um homem mudo
sou um homem de verdade.
Privo-me na idade
do bem que não fizeram
do bem que tudo tem.
É numa simplicidade
que convém.
António Gancho
14/3/96
Casa de Saúde do Telhal
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A POESIA ESTÁ NA
RUA25º Aniversário 25 de
Abril
Conspiração
A poesia. A conspiração da metáfora saiu à rua. Num Abril assim: de palavras, de palavras sem endereço. Porque eram para todos os que as desejassem colher. Assim como quem colhe a manhã, ou um lírio ou um simples papel para amarrotar e atirar ao chão. Poesia na rua, no espaço livre e inalienável.
Será esta a sua casa? Em Abril será sempre esta a sua frágil casa.
A associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto agradece a todos os poetas que deram rosto à conspiração – simples afinal, frágil como a casa da poesia.
Francisco Duarte MangasPresidente da AJHLP
Poesia – Sonho de uma nova liberdade
O 25 de Abril foi um sonho que sobreviveu. Poucos acreditavam ser possível dar asas, em Portugal, a esse sonho de uma nova liberdade que a poesia antecipou, tantas vezes, em palavras escritas e ditas.
Sejamos claros e honestos: o regime político que exausto acabou os seus dias no 25 de Abril de 1974 era uma ditadura, certamente com adeptos entre os portugueses, que desprezava as mais elementares regras do respeito pelo povo, desde logo negando-lhe o direito à escolha, em eleições livres, do tipo de regime ou de governo que mais lhe aprouvesse.
As profundas aspirações do povo português à liberdade e à justiça foram, finalmente, cumpridas e para mim esse sonho transfigurou-se, no Quartel do Campo Grande, pela poesia dita pelo Mário Viegas, amigo e companheiro de armas, num desses dias febris de Abril aos militares reunidos de improviso.
Sem querer esconjurar os demónios do passado, a revolução, para mim, só ganhou sentido verdadeiro nesse momento mágico de poesia.
Eduardo Graça
Presidente do INATEL
Estes dois textos foram escritos em 1999 e impressos na caixa/envelope que guardou os 50 panfletos, de cores variadas, transportando as 50 poesias que outros tantos poetas escreveram, ou cederam, para esta iniciativa, levada a cabo a nível nacional, aquando do 25º aniversário do 25 de Abril de 1974.
O mérito, alcance e êxito da mesma ficaram a dever-se, no essencial, a Manuela Espírito Santo, à época, Vice-presidente do INATEL, e a Francisco Duarte Mangas. Para eles as minhas homenagens.
Lembrei-me de arriscar um exercício de divulgação destes 50 poemas, de autores consagrados, à época todos vivos, associando, a cada um deles, uma fotografia da colecção que o Hélder Gonçalves ofereceu aos seus amigos pelos seus 50 anos, conforme o meu critério e gosto pessoal.
Aqui fica, deste modo, uma homenagem à poesia e, através dela, ao 33º aniversário do 25 de Abril.
Conspiração
A poesia. A conspiração da metáfora saiu à rua. Num Abril assim: de palavras, de palavras sem endereço. Porque eram para todos os que as desejassem colher. Assim como quem colhe a manhã, ou um lírio ou um simples papel para amarrotar e atirar ao chão. Poesia na rua, no espaço livre e inalienável.
Será esta a sua casa? Em Abril será sempre esta a sua frágil casa.
A associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto agradece a todos os poetas que deram rosto à conspiração – simples afinal, frágil como a casa da poesia.
Francisco Duarte MangasPresidente da AJHLP
Poesia – Sonho de uma nova liberdade
O 25 de Abril foi um sonho que sobreviveu. Poucos acreditavam ser possível dar asas, em Portugal, a esse sonho de uma nova liberdade que a poesia antecipou, tantas vezes, em palavras escritas e ditas.
Sejamos claros e honestos: o regime político que exausto acabou os seus dias no 25 de Abril de 1974 era uma ditadura, certamente com adeptos entre os portugueses, que desprezava as mais elementares regras do respeito pelo povo, desde logo negando-lhe o direito à escolha, em eleições livres, do tipo de regime ou de governo que mais lhe aprouvesse.
As profundas aspirações do povo português à liberdade e à justiça foram, finalmente, cumpridas e para mim esse sonho transfigurou-se, no Quartel do Campo Grande, pela poesia dita pelo Mário Viegas, amigo e companheiro de armas, num desses dias febris de Abril aos militares reunidos de improviso.
Sem querer esconjurar os demónios do passado, a revolução, para mim, só ganhou sentido verdadeiro nesse momento mágico de poesia.
Eduardo Graça
Presidente do INATEL
Estes dois textos foram escritos em 1999 e impressos na caixa/envelope que guardou os 50 panfletos, de cores variadas, transportando as 50 poesias que outros tantos poetas escreveram, ou cederam, para esta iniciativa, levada a cabo a nível nacional, aquando do 25º aniversário do 25 de Abril de 1974.
O mérito, alcance e êxito da mesma ficaram a dever-se, no essencial, a Manuela Espírito Santo, à época, Vice-presidente do INATEL, e a Francisco Duarte Mangas. Para eles as minhas homenagens.
Lembrei-me de arriscar um exercício de divulgação destes 50 poemas, de autores consagrados, à época todos vivos, associando, a cada um deles, uma fotografia da colecção que o Hélder Gonçalves ofereceu aos seus amigos pelos seus 50 anos, conforme o meu critério e gosto pessoal.
Aqui fica, deste modo, uma homenagem à poesia e, através dela, ao 33º aniversário do 25 de Abril.
[Curiosamente este post foi dado à estampa no dia 4 de fevereiro de 2007. Hoje, 4 de fevereiro de 2013, passam 10 anos sobre o dia em que fui exonerado de presidente da direção do INATEL. A resposta à questão subliminarmente colocada pelo título do poema escolhido é: sim, saí vivo!]
domingo, fevereiro 3
sábado, fevereiro 2
sexta-feira, fevereiro 1
O CORVO
1 Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste, Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais, E já quase adormecia, ouvi o que parecia O som de algúem que batia levemente a meus umbrais. "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais. É só isto, e nada mais." "O Corvo", de Edgar Allan Poe, Tradução de Fernando Pessoa. Versão integral no IRAOFUNDOEVOLTAR |
quarta-feira, janeiro 30
terça-feira, janeiro 29
segunda-feira, janeiro 28
domingo, janeiro 27
Poemas para Lili
Pia, pia, pia
O mocho.
Que pertencia
A um coxo.
E meteu o mocho
Na pia, pia, pia...
------------------
Levava eu um jarrinho
P'ra ir buscar vinho
Levava um tostão
P'ra comprar pão:
E levava uma fita
Para ir bonita.
Correu atrás
De mim um rapaz:
Foi o jarro p'ra o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!
Se eu não levasse um jarrinho,
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
Pra ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia.
Fernando Pessoa
O mocho.
Que pertencia
A um coxo.
E meteu o mocho
Na pia, pia, pia...
------------------
Levava eu um jarrinho
P'ra ir buscar vinho
Levava um tostão
P'ra comprar pão:
E levava uma fita
Para ir bonita.
Correu atrás
De mim um rapaz:
Foi o jarro p'ra o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!
Se eu não levasse um jarrinho,
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
Pra ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia.
Fernando Pessoa
sábado, janeiro 26
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