Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, novembro 22
ELEIÇÕES - 22 de novembro
Este fim de semana arrefeceu, (o tempo atmosférico), escureceu, (o céu encoberto), reina a paz nas ruas, nos jornais, telefonias e TV.s passam as mesmas notícias, dominadas pelo terror que se estendeu à Europa, os mesmos divertimentos para o povo, entre comentários, em regra, imbecis. A politica ganhou espaço no debate público e a liberdade faz, no quotidiano, prova de vida. Entre perdas e ganhos, a saúde da democracia, até ao presente, apresenta melhorias. Segue o ciclo eleitoral com as eleições presidenciais, a 24 de janeiro. É também uma mudança de ciclo politico que se adivinha, em simultâneo com os sinais emitidos pelos centros de poder da Europa. Está em falta um governo em plenitude de funções...
quarta-feira, novembro 18
ELEIÇÕES - 18 de novembro
Tudo leva a crer que está a chegar ao fim o "interregno", ou seja, haverá decisão presidencial, acerca da solução de governo, provavelmente na próxima semana. O tempo pode ser medido de diversas maneiras como sabemos, além da ciência do tempo, sendo pouco para quem tem pressa, e muito para quem tem vagar. O tempo é só uma entre diversas variáveis que comandam a nossa vida individual e coletiva. "Estou sem tempo para nada", "tenho todo o tempo do mundo", "chego a tempo", "chego atrasado", pode ser indiferente, e pode fazer toda a diferença, conforme as circunstâncias. Desta vez, no processo pós eleitoral de 4 de outubro, o tempo pode ter sido cruel para os vencedores e bonançoso para os vencidos que o usaram para mudar o modo. A politica tomou o lugar onde se pensava morar a ancestral administração. A surpresa da súbita ascensão da politica não suspende a democracia nem a desvirtua pois é parte dela. Acredito que todos os políticos, em democracia, lutam pelos seus ideais, seja qual for o seu campo, e que estão preparados para outras surpresas que se sucederão. Não julgo prudente da parte dos políticos a impreparação para as surpresas da politica (ela própria), nem a recitação da história como justificação dos hipotéticos males do mundo do porvir.
domingo, novembro 15
ELEIÇÕES - 15 de novembro
Os acontecimentos da passada sexta-feira, dia 13, em Paris, cujos ecos se prolongam no tempo, criaram uma cortina, em termos comunicacionais, que encobre a crise politica portuguesa. O ataque terrorista de Paris faz vitimas inocentes e não deixa ninguém indiferente na condenação. Por enquanto a guerra, que destrói vidas, está fora das nossas fronteiras. A nossa guerra trava-se em torno da formação de um governo 46 dias após a realização de eleições. Convém conjurar a crise politica interna, sem mais demoras, antes que seja preciso enfrentar as labaredas provocadas por alguma faísca que, porventura, nos caia junto da porta. O tempo urge e os sinais não enganam!
quinta-feira, novembro 12
ELEIÇÕES - 12 de novembro
Após as eleições de 4 de outubro - faz um mês e uma semana - e a aprovação de proposta de rejeição do programa de governo, vive-se uma espécie de situação de Interregno. O facto novo que surgiu na politica portuguesa como é conhecido, mas ainda não apreendido por muita gente, é a mudança de posição dos partidos que têm sido chamados, muitas vezes, da "esquerda da esquerda", no caso português, o BE e o PCP. Ao contrário de outros países da Europa não aconteceu, até ao presente, em Portugal uma derrocada dos partidos socialistas e social democratas, nem a emergência de novos partidos de feição populista à direita e/ou à esquerda. O que está acontecendo é um reposicionamento dos partidos já existentes, herdeiros do ressurgimento do processo democrática permitido pela revolução do 25 de abril. Noto que o próprio BE é um partido que resulta de um entendimento entre partidos pré existentes ao 25 de abril, tais como a UDP e a LCI. O que quero dizer é que, em Portugal, continuam a não existir partidos de extrema-direita ou extrema-esquerda. Ao contrário do que certa vozearia sem rumo, que se tem feito ouvir, quer fazer crer o PCP e o BE não são partidos de extrema- esquerda. Nem nos seus programas, nem nas suas ações, se encontram as características próprias de partidos de extrema-esquerda - nem apelos à luta armada, ou à violência, nem ameaças de abandono, ou ataque, do modelo de democracia representativa em cujas instituições, aliás, participam de parte inteira com as suas posições próprias. No caso do PCP deve, aliás, sublinhar-se o papel decisivo na contenção, e enquadramento, do descontentamento popular que as medidas de austeridade mais duras suscitaram nos últimos tempos, em conjunto com a CGTP, papel que sempre foi reconhecido por todas as forças politicas, de todos os quadrantes, incluindo as de direita de forma mais ou menos discreta. As reservas do BE e do PCP a respeito dos tratados europeus e/ou da Nato são partilhadas, de forma aberta, e comummente aceite, por partidos cuja respeitabilidade ninguém ousa por em causa, como é o caso, por exemplo, dos Conservadores britânicos, entre muitos outros. Todas as diferenças programáticas, ideológicas e de ação politica prática sempre foram acomodadas pelo regime politico democrático português ao longo destes 40 anos e nada justifica que a mudança de posicionamento politico de dois partidos que integram o regime possa suscitar tamanho alarmismo a não ser por razões meramente táticas. Também não existe em Portugal uma extrema-direita com expressão politica organizada minimamente relevante e deve reconhecer-se que tal se deve, além da relativa proximidade do 25 de abril, ao posicionamento politico do CDS/PP assumidamente democrático. Claro que o mundo se move e nada, em democracia, está definitivamente adquirido sendo, pelo contrário, necessário lutar pelos seus valores fundamentais sempre e em todas as circunstâncias. O que mais me preocupa neste momento de intenso debate politico/ideológico, que é vivificador da democracia, é que o primado da liberdade se deixe subalternizar pelo princípio da igualdade, o que tem emergido em alguns discursos de tenores da esquerda. Não vou citar Camus mas aprendi à custa de experiência própria, e alheia, além do que li nos livros, que a liberdade está primeiro e que sem a defesa do primado da liberdade, o primado da igualdade se pode tornar em penúria e o primado da justiça em ditadura. Mantenhamos, pois, o equilíbrio no debate democrático, na definição e na ação politica, com respeito pela opinião alheia.
terça-feira, novembro 10
ELEIÇÕES - 10 de novembro
Hoje,o que aconteceu de novo? Desde há dias que se adivinhava! Pela primeira vez, desde o 25 de abril de 74, consumou-se uma aliança de esquerda no parlamento tendo em vista viabilizar um governo do PS. Pode parecer, para alguns, um pequeno feito mas é um acontecimento de relevante importância não só no plano simbólico como prático. A esquerda demonstra que é capaz de se unir em torno de objetivos comuns, e faz a demonstração prática dessa capacidade, criando expetativas positivas de desbloqueamento de uma espécie de monopólio do poder real pela direita que faz escola pela Europa, sob a batuta do PPE; o PCP abandona a sua posição de reserva face à participação plena no jogo da democracia representativa que, após o 25 de novembro de 75, se tornou o regime vigente em Portugal; o BE que tem origem numa federação de partidos e organizações de esquerda revolucionária (UDP, LCI e outras)abandonou também hoje, de facto, as reservas perante o regime "democrático burguês" que havia sido imposto, no período pós revolucionário, pela aliança das forças politicas conservadora, aliadas com o PS de Mário Soares. Assinalo que o MES assumiu esta rutura, de forma radical, muito tempo antes o que conduziu à sua extinção com o celebrado jantar de 7 de novembro em 1981 (um dia curioso!). Desta forma, seja qual for a evolução dos acontecimentos nas próximas semanas e meses, estamos confrontados com uma nova situação politica que poderá desembocar numa transfiguração da estrutura politico partidária portuguesa, desde logo à esquerda, caso os seus dirigentes sejam capazes de entender, em plenitude, o alcance das mudanças a que estão a dar corpo. Caso haja governo PS, apoiado à esquerda, tudo depende, em grande medida, desse governo não defraudar as expetativas que tem vindo a criar em largas camadas da população portuguesa. Acresce que o programa politico deste governo PS, já elaborado, consensualizado e assumido, é um programa de centro esquerda não se confundindo com qualquer devaneio esquerdista ou deriva conservadora liberal.
domingo, novembro 8
ELEIÇÕES - 8 de novembro
Já a caminhar para o final da noite deste dia 8 de setembro de 2015, no que respeita à questão do governo, os dados estão praticamente todos lançados. Foi alcançado um acordo politico entre os partidos da esquerda parlamentar que permite defender a criação de um governo do PS com apoio parlamentar maioritário. O BE e o PCP acordaram com o PS um programa de governo comum que só será aprovado se for votado por todos. Por outro lado parece ser claro, neste momento, que existe um consenso no sentido de viabilizar um governo PS com apoio parlamentar maioritário, ou seja, sem a participação no governo do BE e do PCP. Para que este governo possa vir a ser criado torna-se necessário a aprovação de uma moção de rejeição ao governo empossado pelo PR a votar na próxima 3ª feira. Mais do que isso é obrigatório que o PR, de seguida, convide o líder do 2º partido mais votado nas eleições legislativas, o PS, a formar governo. Se é muito provável que a maioria de esquerda vote uma das moções de rejeição, se não for presente uma única, já é maior a incerteza acerca da posição do PR que pode, no âmbito dos seus poderes, não empossar António Costa. É necessário esperar para ver sendo certo que abundam os palpites. O mais difícil para um provável governo liderado por António Costa será mesmo o exercício da governação em tempos que continuam a ser muito difíceis. O que se aplica a qualquer que seja o governo que resultar deste processo. Um governo do PS, com o apoio da esquerda, terá que se rodear de mil cuidados, antes de mais, acerca da sua própria composição, e estrutura, pois como muito bem sabemos, a ação dos governos depende em muito dos seus titulares. Uma banalidade com mais importância e atualidade do que nunca. As exigências dos cidadãos face aos políticos são hoje, ao contrário de outros tempos, muito elevadas. A continuar.
sexta-feira, novembro 6
ELEIÇÕES - 6 de novembro
Hoje foi dado um passo que representa uma novidade absoluta na politica portuguesa desde o 25 de abril de 74. Diria mesmo desde a desistência de Arlindo Vicente, apoiado pelo PCP, em favor de Humberto Delgado, nas eleições presidenciais de 1958. O PCP declarou, formalmente, apoio à viabilização de um governo PS. Podem fazer-se as mais diversas interpretações, e estão a ser feitas neste momento, acerca desta convergência politica entre as forças politicas da esquerda portuguesa, mas a dita convergência, com efeitos políticos práticos, está consumada. Parece ser claro que existe uma oposição interna em todos os partidos de esquerda (mais visível no PS) a esta orientação de António Costa. É evidente que os partidos da direita dela discordam por razões politicas, ideológicas e práticas. Que se colocam no debate as questões de legitimidade e viabilidade politica da formação de um governo do PS com apoio parlamentar de todos os partidos de esquerda. Tudo se discute e é próprio de um regime democrático que tudo se discuta. Que existe crispação política embora contida nos círculos políticos. Que existem incertezas acerca do desfecho do processo de criação deste governo, quer pelas imperfeições do acordo hoje anunciado que carece, além do acordo programático, da conclusão de um acordo politico. Mas, em boa verdade, o passo dado representa o inicio de uma mudança profunda da estrutura politico partidária portuguesa questão que quase não é referida nem muito menos sublinhada. Não sabemos, com precisão, o tempo nem o modo dessa mudança mas é mais que certo que ela está em curso não só à esquerda como também à direita. É só esperar mais algum tempo para o confirmar.
quarta-feira, novembro 4
1º de maio de 1974
Afinal havia, pelo menos, mais uma fotografia (a quinta) que testemunha o surgimento do MES na manifestação do 1º de maio de 74, em Lisboa. Acaba de me ser enviada pela Inês Cordovil e, por sinal, é a de melhor qualidade de todas e nela é possível reconhecer, com muita nitidez, muitos dos participantes.
segunda-feira, novembro 2
ELEIÇÕES - 2 de novembro
Na situação politica atual há uma questão que, pelo menos de forma generalizada, não está presente na agenda dos políticos que tomam a palavra no discurso público e muito menos dos comentadores encartados que pululam por tudo o que é espaço comunicacional. Trata-se da transformação, reforma ou reformulação, dos partidos que ganharam expressão, e peso politico, no período pós 25 de abril. Não sei das razões de não se discutirem os partidos por dentro de si próprios e ainda menos das razões de não serem estudados, enquanto entidades autónomas, e sujeitos à critica vinda de fora, não só pelo lado das politicas que preconizam mas também da forma como se organizam para prosseguir essas politicas. Nada justifica que tendo mudado, de forma substancial, a realidade socioeconómica do país ao longo destes 40 anos de regime democrático, nada, ou quase, tenha mudado na realidade partidária. Este é um debate que está por fazer, e que deverá ser feito de forma aberta e participada, não sendo subsidiário de guerras nos aparelhos partidários. O momento politico presente, de forma evidente à esquerda, abre as portas a esse debate pois não haverá governo apoiado pela(s) esquerda(s) que se sustenha se entre elas não forem acordados mais do que pactos que sirvam as conveniências de momento; nem haverá à direita, a breve prazo, convergência que se sustenha fora do exercício do poder. Será que as lideranças político-partidárias terão a coragem de serem elas próprias, de forma aberta, a colocarem os termos da reforma partidária? Neste contexto não é de admirar os movimentos internos, como o de Francisco Assis (no PS)e outros que surgirão (noutros quadrantes), que representam, no essencial, a necessidade de debater uma reforma profunda dos partidos herdados do 25 de abril de 74.
domingo, novembro 1
ELEIÇÕES - 1 de novembro
Quase um mês passado,após o dia do voto, para o cidadão comum, o momento é de espera. Os diretórios partidários movimentam-se e buscam posicionar-se para uma nova fase da luta politica que se adivinha ser de confronto entre duas barricadas nas quais tendem a acantonar-se a direita e a esquerda. A imagem pública que resulta destas semanas pós eleitorais é a da erosão do centro politico, quiçá do seu desaparecimento. Parece-me, no entanto, que o centro politico permanece como espaço no qual vão desaguar todas as aspirações do diálogo e compromisso políticos. O que está em causa, no essencial, neste processo é mais do que a formação do governo e sua natureza politico/ideológica, é a resposta a uma necessidade de reformulação do desenho da organização político-partidária herdada do 25 de abril de 74. Mais do que a questão do governo está em equação a questão do futuro do regime democrático. Para que a democracia se não esvaia em prol do vencimento de um qualquer populismo, que assoma por toda a Europa, é crucial manter viva a capacidade de levantar pontes e mantê-las abertas em todos os sentidos, envolvendo todos os partidos democráticos, sem exclusões, nem concessões às pulsões populistas sejam de direita ou de esquerda. A tarefa sempre mais difícil para os democratas de todas as ideologias é a de acreditar, mesmo nas situações, aparentemente, de rutura que os compromissos são possíveis, a todos os níveis, envolvendo todos os protagonistas.
quarta-feira, outubro 28
ELEIÇÕES - 28 de outubro
Ainda no rescaldo das eleições de 4 de outubro. Percorrem-se as curvas e contracurvas na sequência do resultado eleitoral. Como já foi assinalado por alguns (poucos) comentaristas o desenho partidário em Portugal manteve-se no essencial ao contrário de outros países da UE. Não emergiram novos partidos nem soçobraram os partidos tradicionais. Criou-se uma nova correlação de forças impulsionada pela mudança de orientação do PCP tornando a esquerda tradicional, de súbito, aspirante a partilhar o poder a nível de governo. De que forma? Não se sabe ainda ao certo. Pela primeira vez, após o período do PREC, a surpresa sobrepõe-se ao adquirido. Numa Europa sofrendo de uma multiplicidade de encruzilhadas, na defensiva no plano estratégico face aos USA, em pleno questionamento do próprio modelo de união, Portugal torna-se alvo de atenções redobradas. Mas também a Espanha, pelo movimento independentista da Catalunha, com eleições nacionais à vista (20 de dezembro), também a Polónia com a vitória nas eleições do último domingo de um partido de ultra direita, e outros casos que se seguirão revelando, certamente, a ascensão dos partidos populistas e a erosão dos social democratas e socialistas. Faz lembrar, com as devidas distâncias, o período que antecedeu a 2ª grande guerra, com disputas na proteção das fronteiras nacionais, emergência de nacionalismo exacerbados, perseguição ou levantamento de barreiras a refugiados ... Portugal é somente um pequeno país no meio da imensidão de uma fogueira que ameaça a democracia dia a dia mais difícil de controlar!
terça-feira, outubro 27
ANIVERSÁRIO
Neste dia, 25 anos passados, nasceu o meu filho Manuel. Pouco tempo, muito tempo, todo o tempo na minha lembrança seja qual for a felicidade ou a dor que, a cada momento, nos acompanhe. Venho a esta velha tela branca, escrevendo directamente nela, como tantas vezes no passado, para assinalar o seu aniversário e com ele a vontade de sempre, com a sua mãe, o acompanharmos em todas as suas andanças cada qual à sua maneira. Que seja feliz!
sábado, outubro 24
ELEIÇÕES - 24 DE OUTUBRO
Mais de 40 anos depois do 25 de abril de 1974, como resultado de eleições livres e democráticas, por sobre as mais diversas vicissitudes, incluindo um histórico de tentativas de assassinato de carácter, Ferro Rodrigues foi eleito Presidente da Assembleia da República. O contexto e as circunstâncias politicas desta eleição são dissecadas, em todos os sentidos, pró e contra, pelos políticos e pela comunicação social. Nada a acrescentar. O que me leva a escrever estas linhas é a necessidade de assinalar que, pela via democrática, esta eleição coloca no lugar da segunda figura do Estado um cidadão impoluto, livre, justo e incorruptível. Para o exercício destas funções são, certamente, necessários os votos e não é indiferente a cor politica e ideológica do eleito. Mas o mais relevante é o seu perfil pessoal e a confiança de que, em circunstância alguma, deixará de honrar os princípios da ética republicana. Não que a anterior presidente da AR e outros que a antecederam, desde Henrique de Barros, Presidente da Assembleia Constituinte, não tenham honrado os compromissos próprios da função. Mas a eleição de Ferro Rodrigues, no inicio de uma nova época politica, com redobradas exigências de equilíbrio entre as instituições e firmeza na defesa da democracia, são uma garantia de abertura, diálogo e busca incessante de consenso apesar de toda a crispação deste início de mandato. Haja saúde!
quinta-feira, outubro 22
terça-feira, outubro 20
ELEIÇÕES - 20 de outubro
Continuo a não conhecer o que se passa nos bastidores da politica nacional mas torna-se cada vez mais evidente o regresso em força da politica. As disputas em democracia podem ser duras mas a sua dureza no quadro democrático, através do voto e do debate, é uma alternativa à violência. Muitas cabeças lúcidas - faço questão de acreditar que em todos os campos em confronto elas existem - já identificaram a natureza da situação criada pelos resultados das eleições legislativas de 4 de outubro e as suas novidades. A novidade mais relevante é a decisão do PCP de aceitar partilhar o poder a nível de governo que sempre havia recusado desde, pode dizer-se, antes do 25 de abril. Quem conheça, mesmo que só ao de leve o PCP, sabe que as suas decisões estratégicas, ou mesmo as táticas mais relevantes, não são tomadas do dia para a noite. Acredito, no entanto, que a assunção da liderança do PS por António Costa terá favorecido a decisão do PCP. Poucos falam, nestes momentos de viragem, de questões que estão para além do "pronto a vestir", mas eu creio que a decisão de Costa de assumir a liderança do PS, trazia no seu bojo a ideia de, mais tarde ou cedo, por fim ao autoafastamento do PCP da esfera do poder a nível de governo. O mesmo não acontece, como todos sabem, a outros níveis como o autárquico em cuja gestão o PCP tem assumido, desde o 25 de abril, um papel relevante embora confinado quase só às Regiões da Grande Lisboa e Alentejo. As personagens politicas, quer seja através da sua tradição familiar, quer do exercício de politicas de proximidade e por cultura pessoal, podem assumir papéis surpreendentes em mudanças politicas de fundo. Esta história não se pode fazer a quente nem sequer é possível avaliar com rigor a direção que vai assumir e, muito menos, o grau de sucesso de uma eventual aliança, mais ou menos formal, entre os atuais partidos que ocupam o lado esquerdo do nosso espetro partidário. Mas tenho a certeza que as personalidade dos dirigentes políticos fazem a diferença. Muita água vai correr debaixo das pontes nas próximas semanas mas é certo que está a acontecer uma mudança politica em Portugal cujas consequências são difíceis de medir. O sistema politico/partidário move-se de forma real, resta saber se os protagonistas têm consciência da amplitude e direção do movimento que estão a desencadear.
sexta-feira, outubro 16
ELEIÇÕES - 16 de outubro
Não sei o que se passa nos bastidores das negociações neste período pós eleitoral. Assinalo os sinais da sua existência através de declarações, réplicas, respostas e imagens. A vantagem do nosso sistema partidário pelo "bloqueamento" nos extremos, que tem evitado a emergência de partidos populistas, revela-se uma desvantagem quando se torna imperioso debater soluções de governo. A "coligação PSD/CDS-PP" não encontra interlocutor à sua direita, nem sequer qualquer pequeno partido, ou movimento, da direita, ou extrema direita, ao contrário do que acontece em muitos países, e essa desertificação obriga a buscar soluções ao centro esquerda (PS) ou esquerda (BE ou PCP) já que não emergiu outra força com expressão eleitoral suficiente (o PAN pode ser uma surpresa mas somente no futuro). O resultado das eleições de 4 de outubro tornou, pois, o PS a chave para a viabilização de um governo, circunstância que a coligação, aparentemente, menosprezou não entendo, por ora, a razão. Costa explorou o vazio (a politica tem horror ao vazio)e encetou uma "longa marcha" que, paradoxalmente, tem que percorrer em pouco tempo para forjar uma maioria parlamentar de apoio a um governo minoritário do PS (ou de coligação o que será muito mais difícil). Era sabido, para quem estivesse atento aos sinais, que o PCP estava, desde há muito, a preparar a saída do seu auto isolamento politico face à partilha do poder a nível de governo. O BE, por seu lado, soube interpretar a natureza do seu crescimento nas eleições que só poderá consolidar conquistando posições no aparelho de estado já que, ao contrário do PCP, é um partido sem implantação autárquica, urbano, de raiz ideológica, cujo crescimento tem dependido mais que tudo de dificuldades alheias. Costa mesmo sob fogo cerrado abre caminho para, como é próprio da politica, fazer das dificuldades com que se deparam os partidos socialistas e social democratas europeus, as forças que podem permitir a regeneração, ou reforma, do PS português, reconfigurando partidariamente a esquerda. Se for essa a sua aspiração eis um desígnio que vai para além das suas circunstâncias. O seu principal obstáculo é o próprio PS.
quarta-feira, outubro 14
NUNO TEOTÓNIO PEREIRA
A propósito de uma homenagem a prestar no dia 15 de outubro de 2015.
O Arquitecto Nuno Teotónio Pereira é uma daquelas personalidades raras na qual se juntam um notável curriculum profissional e uma postura de intervenção cívica, persistente e pertinente, assumida desde os tempos da oposição à ditadura. Ele é, na verdade, um dos arquitectos portugueses contemporâneos que foi capaz, como poucos, de integrar, sem cedências à facilidade, as preocupações sociais e a arte de «arquitectar». Há por esse país muitas obras de sua autoria, ou co-autoria, que testemunham esta simbiose.
Nos tempos de brasa do 25 de Abril foi um dos mais proeminentes dirigentes do MES, posição que saiu reforçada aquando da ruptura do grupo de Jorge Sampaio, ocorrida no 1º Congresso de Dezembro de 1974. O MES, na sua curta existência, só participou, de parte inteira, nas duas primeiras eleições da nossa III República: as eleições para a Assembleia Constituinte, disputadas em 25 de Abril de 1975, e as primeiras eleições para a Assembleia da República disputadas em 25 de Abril de 1976.
As nossas esperanças iniciais eram muitas elevadas. A lista do MES, pelo círculo de Lisboa, às eleições para a Assembleia Constituinte, foi encabeçada pelo Afonso de Barros a que se seguiram o Eduardo Ferro Rodrigues, o Augusto Mateus e o Luís Martins (padre, ainda a exercer…). A lista candidata às primeiras eleições legislativas, realizadas em 25 de Abril de 1976, foi encabeçada pelo Nuno Teotónio Pereira, seguido do subscritor destas linhas.
Poder-se-ia pensar que o MES havia encontrado o seu líder. Puro engano. Ao contrário dos restantes partidos, sem excepção, a personalidade que encabeçava a lista por Lisboa nunca foi, no caso do MES, o líder do partido pela simples razão de que no MES nunca existiu um líder. O que hoje penso é que, por incrível que pareça, sempre assumimos, do princípio ao fim, o que poderia designar-se como uma obsessão pelo colectivo.
Estávamos perante as primeiras eleições, verdadeiramente, livres e democráticas, após quase 50 anos de ditadura. Ainda hoje me interrogo como foi possível que tenhamos, no MES, encarado essas eleições, cuja transcendência política era inegável, como meros actos de pedagogia, mais do que actos destinados à disputa do poder. Ainda hoje me questiono acerca das raízes da concepção que permitiram à UDP (com o BE ainda tão longe!) ter obtido, nas eleições para a Assembleia Constituinte, menos votos do que o MES, a nível nacional, e feito eleger um deputado.
Existem muitas evidências dessa atitude de participação «não interesseira» do MES, desde o discurso anti-eleitoralista, que emanava de uma desconfiança, de raiz ideológica, acerca da verdadeira natureza da democracia representativa que, na verdade, aceitávamos como um mal menor, até à ausência de sinais de personalização nas campanhas eleitorais nas quais nunca foram utilizadas sequer fotografias dos cabeças de lista pelo círculo de Lisboa. A participação nas campanhas, embora tenha utilizado todos os meios, à época disponíveis, nunca cedeu um milímetro à personalização.
Após o fracasso da candidatura do MES à constituinte, ainda mais me parece estranho, à distância de 35 anos, a abdicação de personalizar na figura do Nuno Teotónio Pereira a campanha para as eleições destinadas a eleger a 1ª Assembleia da República. A sua participação como cabeça de lista pode ser interpretada, não me lembrando dos detalhes do processo decisório, como uma tentativa de credibilizar o MES jogando na refrega eleitoral a figura do seu mais proeminente dirigente.
Mas, ao contrário do que aconselharia a mais elementar lógica eleitoral, a campanha não valorizou a figura do Nuno Teotónio Pereira o que acabou por constituir o haraquiri político eleitoral do MES. Lembro-me de ter ocupado o segundo lugar nessa lista e do desconforto que senti quando, chegada a hora de votar, numa secção de Benfica, no meio da multidão, comovido até às lágrimas, sozinho, pressenti a derrota inevitável. E essa derrota foi ainda mais pesada do que aquela que averbámos nas eleições para a Assembleia Constituinte.
Se há uma personalidade que não merecia sair derrotada da aventura política do MES é o Nuno Teotónio Pereira a quem, como escrevi, em 2004 , devemos todos, os jovens quadros dos anos 60 e 70, uma imensidade de ensinamentos, gestos de desprendida solidariedade e humanidade que jamais poderemos retribuir com a mesma intensidade e sentido de dádiva.
Que viva!
O Arquitecto Nuno Teotónio Pereira é uma daquelas personalidades raras na qual se juntam um notável curriculum profissional e uma postura de intervenção cívica, persistente e pertinente, assumida desde os tempos da oposição à ditadura. Ele é, na verdade, um dos arquitectos portugueses contemporâneos que foi capaz, como poucos, de integrar, sem cedências à facilidade, as preocupações sociais e a arte de «arquitectar». Há por esse país muitas obras de sua autoria, ou co-autoria, que testemunham esta simbiose.
Nos tempos de brasa do 25 de Abril foi um dos mais proeminentes dirigentes do MES, posição que saiu reforçada aquando da ruptura do grupo de Jorge Sampaio, ocorrida no 1º Congresso de Dezembro de 1974. O MES, na sua curta existência, só participou, de parte inteira, nas duas primeiras eleições da nossa III República: as eleições para a Assembleia Constituinte, disputadas em 25 de Abril de 1975, e as primeiras eleições para a Assembleia da República disputadas em 25 de Abril de 1976.
As nossas esperanças iniciais eram muitas elevadas. A lista do MES, pelo círculo de Lisboa, às eleições para a Assembleia Constituinte, foi encabeçada pelo Afonso de Barros a que se seguiram o Eduardo Ferro Rodrigues, o Augusto Mateus e o Luís Martins (padre, ainda a exercer…). A lista candidata às primeiras eleições legislativas, realizadas em 25 de Abril de 1976, foi encabeçada pelo Nuno Teotónio Pereira, seguido do subscritor destas linhas.
Poder-se-ia pensar que o MES havia encontrado o seu líder. Puro engano. Ao contrário dos restantes partidos, sem excepção, a personalidade que encabeçava a lista por Lisboa nunca foi, no caso do MES, o líder do partido pela simples razão de que no MES nunca existiu um líder. O que hoje penso é que, por incrível que pareça, sempre assumimos, do princípio ao fim, o que poderia designar-se como uma obsessão pelo colectivo.
Estávamos perante as primeiras eleições, verdadeiramente, livres e democráticas, após quase 50 anos de ditadura. Ainda hoje me interrogo como foi possível que tenhamos, no MES, encarado essas eleições, cuja transcendência política era inegável, como meros actos de pedagogia, mais do que actos destinados à disputa do poder. Ainda hoje me questiono acerca das raízes da concepção que permitiram à UDP (com o BE ainda tão longe!) ter obtido, nas eleições para a Assembleia Constituinte, menos votos do que o MES, a nível nacional, e feito eleger um deputado.
Existem muitas evidências dessa atitude de participação «não interesseira» do MES, desde o discurso anti-eleitoralista, que emanava de uma desconfiança, de raiz ideológica, acerca da verdadeira natureza da democracia representativa que, na verdade, aceitávamos como um mal menor, até à ausência de sinais de personalização nas campanhas eleitorais nas quais nunca foram utilizadas sequer fotografias dos cabeças de lista pelo círculo de Lisboa. A participação nas campanhas, embora tenha utilizado todos os meios, à época disponíveis, nunca cedeu um milímetro à personalização.
Após o fracasso da candidatura do MES à constituinte, ainda mais me parece estranho, à distância de 35 anos, a abdicação de personalizar na figura do Nuno Teotónio Pereira a campanha para as eleições destinadas a eleger a 1ª Assembleia da República. A sua participação como cabeça de lista pode ser interpretada, não me lembrando dos detalhes do processo decisório, como uma tentativa de credibilizar o MES jogando na refrega eleitoral a figura do seu mais proeminente dirigente.
Mas, ao contrário do que aconselharia a mais elementar lógica eleitoral, a campanha não valorizou a figura do Nuno Teotónio Pereira o que acabou por constituir o haraquiri político eleitoral do MES. Lembro-me de ter ocupado o segundo lugar nessa lista e do desconforto que senti quando, chegada a hora de votar, numa secção de Benfica, no meio da multidão, comovido até às lágrimas, sozinho, pressenti a derrota inevitável. E essa derrota foi ainda mais pesada do que aquela que averbámos nas eleições para a Assembleia Constituinte.
Se há uma personalidade que não merecia sair derrotada da aventura política do MES é o Nuno Teotónio Pereira a quem, como escrevi, em 2004 , devemos todos, os jovens quadros dos anos 60 e 70, uma imensidade de ensinamentos, gestos de desprendida solidariedade e humanidade que jamais poderemos retribuir com a mesma intensidade e sentido de dádiva.
Que viva!
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