quinta-feira, novembro 12

ELEIÇÕES - 12 de novembro

Após as eleições de 4 de outubro - faz um mês e uma semana - e a aprovação de proposta de rejeição do programa de governo, vive-se uma espécie de situação de Interregno. O facto novo que surgiu na politica portuguesa como é conhecido, mas ainda não apreendido por muita gente, é a mudança de posição dos partidos que têm sido chamados, muitas vezes, da "esquerda da esquerda", no caso português, o BE e o PCP. Ao contrário de outros países da Europa não aconteceu, até ao presente, em Portugal uma derrocada dos partidos socialistas e social democratas, nem a emergência de novos partidos de feição populista à direita e/ou à esquerda. O que está acontecendo é um reposicionamento dos partidos já existentes, herdeiros do ressurgimento do processo democrática permitido pela revolução do 25 de abril. Noto que o próprio BE é um partido que resulta de um entendimento entre partidos pré existentes ao 25 de abril, tais como a UDP e a LCI. O que quero dizer é que, em Portugal, continuam a não existir partidos de extrema-direita ou extrema-esquerda. Ao contrário do que certa vozearia sem rumo, que se tem feito ouvir, quer fazer crer o PCP e o BE não são partidos de extrema- esquerda. Nem nos seus programas, nem nas suas ações, se encontram as características próprias de partidos de extrema-esquerda - nem apelos à luta armada, ou à violência, nem ameaças de abandono, ou ataque, do modelo de democracia representativa em cujas instituições, aliás, participam de parte inteira com as suas posições próprias. No caso do PCP deve, aliás, sublinhar-se o papel decisivo na contenção, e enquadramento, do descontentamento popular que as medidas de austeridade mais duras suscitaram nos últimos tempos, em conjunto com a CGTP, papel que sempre foi reconhecido por todas as forças politicas, de todos os quadrantes, incluindo as de direita de forma mais ou menos discreta. As reservas do BE e do PCP a respeito dos tratados europeus e/ou da Nato são partilhadas, de forma aberta, e comummente aceite, por partidos cuja respeitabilidade ninguém ousa por em causa, como é o caso, por exemplo, dos Conservadores britânicos, entre muitos outros. Todas as diferenças programáticas, ideológicas e de ação politica prática sempre foram acomodadas pelo regime politico democrático português ao longo destes 40 anos e nada justifica que a mudança de posicionamento politico de dois partidos que integram o regime possa suscitar tamanho alarmismo a não ser por razões meramente táticas. Também não existe em Portugal uma extrema-direita com expressão politica organizada minimamente relevante e deve reconhecer-se que tal se deve, além da relativa proximidade do 25 de abril, ao posicionamento politico do CDS/PP assumidamente democrático. Claro que o mundo se move e nada, em democracia, está definitivamente adquirido sendo, pelo contrário, necessário lutar pelos seus valores fundamentais sempre e em todas as circunstâncias. O que mais me preocupa neste momento de intenso debate politico/ideológico, que é vivificador da democracia, é que o primado da liberdade se deixe subalternizar pelo princípio da igualdade, o que tem emergido em alguns discursos de tenores da esquerda. Não vou citar Camus mas aprendi à custa de experiência própria, e alheia, além do que li nos livros, que a liberdade está primeiro e que sem a defesa do primado da liberdade, o primado da igualdade se pode tornar em penúria e o primado da justiça em ditadura. Mantenhamos, pois, o equilíbrio no debate democrático, na definição e na ação politica, com respeito pela opinião alheia.

1 comentário:

Anónimo disse...

Meu caro Eduardo Graça

Parece que a UDP, formalmente, foi constituída em Dezembro de 1974; estarei enganado?