sábado, janeiro 10

MEDITEMOS

Acredito que Mário Crespo não tenha razão nenhuma mas o desmentido da PR é demasiado sério para a sem razão de Mário Crespo. O facto de o desmentido ter sido desmentido, logo no dia seguinte, pela manchete do Expresso não deixa de ser inquietante. A verdade é que se avoluma a sensação de que, no ano de todas as eleições, a oposição política ao governo se deslocou para a Presidência da República. Meditemos!
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terça-feira, janeiro 6

ÀS VOLTAS COM UMA ENTREVISTA


Ontem vi a entrevista do primeiro-ministro na SIC. Ao contrário do que já ouvi não acho que a agressividade dos entrevistadores tenha algo de criticável. A vida de primeiro-ministro é sempre dura e ainda mais dura numa época de crise e na véspera da divulgação da previsão de que Portugal, em 2009, entrará em recessão se não entrou já em finais de 2008. Esta é uma daquelas épocas propícias aos maiores ódios e ressentimentos que despontam nas frinchas abertas pela frustração de expectativas.

Nestas circunstâncias o que marca a entrevista de Sócrates é a sua capacidade em manter, no essencial, a linha de um discurso político coerente deixando duas marcas fortes que são essenciais para o futuro da apreciação política dos méritos do governo maioritário do PS e do próprio primeiro-ministro:

1) Este primeiro-ministro quis mostrar que não foge às dificuldades, nem deserta do seu posto, ao contrário do que aconteceu com outros primeiros ministro no passado recente da nossa democracia; poder-se-á dizer, à maneira popular, que é “teso e hirto” o que, valha a verdade, é o que povo mais aprecia e uma parte das elites detesta;

2) Este primeiro-ministro quis mostrar que, numa situação de profunda crise do sistema financeiro e da incerteza generalizada acerca do futuro da economia, a nível global, não vacila em defender as políticas do seu governo, em todas as áreas, não deixando cair ministros e ousando, à distância, pedir uma nova maioria absoluta dando-se ao luxo de argumentar, o que nunca ouvi a qualquer outro primeiro-ministro, que não poderia deixar de a pedir pois o contrário seria reconhecer a sua própria fraqueza. (por palavras minhas.)

É claro que sem a agressividade dos entrevistadores não seria possível que se destacassem, além do mais, as palavras amáveis dirigidas a Manuel Alegre e uma abertura, que parece inevitável, à esquerda a começar pela arrumação do próprio PS. Até onde chegará esta intuição? É o que vamos ver nos próximos meses.
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QUIQUE FLORES

Eu já tinha lido esta entrevista mas não me queria meter em futebóis, ou seja, não queria meter os futebóis no blogue. Mas como o Fernando Seara, no serão futebolístico da SIC Notícias, a puxou para cima da mesa aqui a deixo para desfrute de todos.

QUIQUE FLORES, para quem não saiba, treinador do Benfica, diz umas coisas simpáticas em relação a Portugal mas mostra aspirações, no plano profissional, a ir mais longe. No que ele se foi meter logo no dia seguinte a ter perdido o jogo com o último classificado.

Também não se entende muito bem o que veio fazer para Portugal se a sua ideia é fazer uma carreira na Europa dos futebóis … Mas lá que o homem tem pinta é verdade e, além disso, apesar da derrota de ontem, o Benfica, ao contrário do costume, continua em posição de disputar o título de campeão.
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segunda-feira, janeiro 5

COMO NA POLÍTICA!

James Friedman

Esta notícia faz-me acreditar que 5ª ou 6ª feira desta semana poderá nevar em Lisboa. Fico feliz com a expectativa apesar da baixa probabilidade de chover nesses dias. Criei uma ilusão. Se nevar, e não estiver a dormir, sairei à rua. Só se sai à rua atrás de ilusões. Como na política!
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domingo, janeiro 4

CAMUS - PELO 49º ANIVERSÁRIO DA SUA MORTE

Henri Cartier-Bresson - FRANCE. Paris. French writer Albert CAMUS. Around 1945.

Encontrei, por acaso, uma recolha de 25 citações do Cadernos II – que acolhe os apontamentos escritos por Camus entre Janeiro de 1942 e Abril de 1948. É muito interessante a proximidade desta escrita com a que, muitas vezes, somos levados a exercitar nos blogues.

1 – Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário.

2 - Vivemos num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos – e nada mais.

3 - Revolta: Criar para chegar mais perto dos homens? Mas se pouco a pouco a criação nos separa de todos e nos empurra para longe sem a sombra de um amor...

4 – Bob: nos prados de Verão da Normandia. O seu capacete coberto de goiveiros e ervas bravas.

5 - A reputação. É-nos dada por medíocres e partilhamo-la com medíocres e malandros.

6 - Peste. Há neste momento portos longínquos cuja água é rósea na hora do crepúsculo.

7 - 1 De Setembro de 1943.
Aquele que desespera dos acontecimentos é um cobarde, mas aquele que tem esperança na condição humana é um louco.

8 - (Dos mentirosos) “E não há nada onde a força de um cavalo melhor se conheça do que ao fazer uma paragem súbita.”

9 - O tempo não corre depressa quando o observamos. Sente-se vigiado. Mas tira partido das nossas distracções. Talvez haja mesmo dois tempos, o que observamos e o que nos transforma.

10 - Não posso viver fora da beleza.
É o que me torna fraco diante de certos seres.

11 - A espessura das nuvens diminuiu. Logo que o sol se libertou, as terras começaram a fumegar.

13 - Esse vento singular que corre sempre à borda da floresta. Curioso ideal do homem: no próprio seio da natureza, possuir uma casa.

14 - 11 De Novembro. Como ratazanas (*).

15 - Quantos esforços desmedidos para ser apenas normal!

16 - O homem que eu seria se não houvesse sido a criança que fui!

17 - A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário.

18 - Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.

19 - O coração a envelhecer. Ter amado e nada todavia ser salvo!

20 – Dezembro. Esse coração cheio de lágrimas e de noite.

21 – Escreve-se nos momentos de desespero. Mas o que é o desespero?

22 - É preciso atravessar todo o país do amor antes de encontrar a chama do desejo.

23 -...foi quando tudo ficou coberto de neve que reparei que as portas e as janelas eram azuis

24 - Sei o que é o domingo para um homem pobre que trabalha.

25 - Há um momento em que a juventude se perde. É o momento em que os seres se perdem. E é preciso saber aceitar. Mas esse momento é duro.

(*) – O desembarque aliado na África do Norte separa Camus da sua terra e dos seus.
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sexta-feira, janeiro 2

A OCIDENTE NADA DE NOVO

Ontem ouvi o discurso de Ano Novo. Interessante. Porquê? Suscitou manifestações de aplauso de todos os partidos. Na véspera e ante véspera tinham sido promulgados pelo PR dois diplomas do governo: avaliação de desempenho dos professores e orçamento de estado para 2009. A crise institucional, insinuada através das mais diversas fontes, não deu sinal de vida. Queimou-se fogo de artifício. Talvez seja necessário esperar pelo calendário eleitoral. A ocidente nada de novo!

quinta-feira, janeiro 1

50 ANOS


Um dos melhores retratos possíveis do fracasso da Revolução Cubana está contido neste post, entre todos os que já publiquei acerca de Cuba, intitulado “Cuba me dói”.
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terça-feira, dezembro 30

CAMUS - BASTIDORES DO NOBEL

A partir daqui cheguei a este artigo que ensaia revelar os bastidores do Nobel. Lembrei-me que a “rivalidade” entre Camus e Malraux encobria uma mútua admiração discípulo/mestre. A primeira frase, atribuída a Camus, no dia16 de Outubro de 1957, quando soube que lhe tinha sido atribuído o Nobel da Literatura foi: “C´est Malraux qui aurait dû l´avoir.”
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A VITÓRIA DE CARLOS CÉSAR

O dia de ontem, apesar de atravessarmos uma época de recato, foi muito agitado para mim. Adiante. Chegada a hora das notícias dei comigo a tentar acompanhar uma quase indecifrável torrente de comentários, e debates, a propósito da tomada de posição do Presidente da República acompanhando a sua decisão de promulgar o novo Estatuto dos Açores. Do lado certo, ou errado, só tenho a certeza de uma coisa: o vencedor foi Carlos César. O presidente do Governo Regional dos Açores, politicamente discreto, ao contrário de Alberto João, (em silêncio acerca do assunto!) fez vencer a sua proposta alcançando, salvo a abstenção final do PSD, a unanimidade em todas as sucessivas votações no Parlamento Regional dos Açores e na Assembleia da República. O povo não se comove com Cavaco porque não entende a questão que ele dramatiza. O equilíbrio dos poderes que a Constituição consagra e o novo estatuto dos Açores, segundo Cavaco, ofende é uma daquelas questões em que se provará que, em política, o tempo tem um valor incalculável.
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segunda-feira, dezembro 29

Breve resenha histórica da imprensa do MES - O jornal «Esquerda Socialista» (II)



Em épocas de revolução o tempo ganha uma dimensão proporcionalmente inversa ao empolgamento dos protagonistas. Quanto mais fervor revolucionário mais o tempo parece escasso. Todos os sonhos parecem realizáveis e as vozes conciliadoras, ou que se atrevam a apelar ao realismo, tendem a ser silenciadas ou desprezadas.
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Apesar do seu temperamento afectuoso e, ao mesmo tempo, irascível, César de Oliveira, uma grande figura de intelectual da esquerda portuguesa do século passado, abandonou a direcção interina do “Esquerda Socialista”, após a edição dos seus seis primeiros números, sob a pressão de uma maioria radicalizada que, considerava o jornal ”politicamente ambíguo”, “graficamente confuso” e “financeiramente desastroso”.

Acusações tanto mais injustas, digo-o hoje sem contemplações, atentas as dificuldades em reunir, à época, as condições para erguer qualquer órgão de imprensa partidária (e mesmo generalista!), fora da esfera de influência do PCP e dos grupos marxistas-leninistas-maoistas, ainda por cima, em oposição, ideológica e política, aos princípios essenciais da orientação político-partidária daquelas organizações.

Foram aliás essas dificuldades que explicam o longo tempo, quatro meses e dez dias (uma eternidade!), que mediou entre o surgimento público do MES, anunciado no pano artesanal que desfilou na grande manifestação do 1º de Maio de 1974, e o dia 11 de Setembro desse ano quando saiu do prelo o nº 0 do “Esquerda Socialista”. O cartaz dizia “Movimento de Esquerda Socialista (em organização) ”, uma fórmula impensável à luz das regras tradicionais do marketing político, mas que explica, em duas palavras, as delongas no surgimento do jornal.

Era preciso dar corpo a uma ideia que andava no ar, ou seja, estabelecer as bases programáticas e organizativas de um partido, criando-o de raiz, a quente, na bigorna da revolução, não deixando perder as energias de tantos e tão promissores movimentos de luta sectorial e o entusiasmo dos militantes que exigiam aderir a um movimento político que nem os seus fundadores sabiam muito bem ao que vinha e nos quais não constava, que me lembre, uma única personalidade relevante ligada à imprensa.

Que experiência mais apaixonante se poderia desejar na volúpia da revolução, que fervilhava nas ruas, do que responder ao desafio de criar um partido de “esquerda socialista” despojado, à partida, de recursos materiais e de apoios internacionais? Mas como encontrar energias para fundar, do nada, o mais depressa possível, um órgão de imprensa que lhe desse rosto e voz?

Ao fim de muitas, e acesas, discussões, nas quais o César de Oliveira se enfurecia amiúde, lançaram-se as bases de uma equipa de trabalho para elaborar o “Esquerda Socialista”, arranjou-se uma sede provisória na Rua Garrett, que a partir do nº 8 passou para a Rua Rodrigues Sampaio e a partir do nº 30 para a Av. D. Carlos I, convenceu-se a Renascença Gráfica a vender “fiado” os trabalhos de edição e impressão, contratou-se uma distribuidora e o “Esquerda Socialista” foi para a rua.

Esta aventura, FAÇA-SE JUSTIÇA, não teria sido possível sem o empenho do José Manuel Galvão Teles e como, ainda hoje, não sei se alguém lhe agradeceu o suficiente daqui lhe envio o meu tardio obrigado!

No decurso da 2ª fase da sua existência, de Dezembro de 1974 a Julho de 1975, a direcção do “Esquerda Socialista” foi atribuída, pela Comissão Política Nacional (CPN) a Augusto Mateus, tendo sido editados mais 27 números, do nº 12 ao 38, com periodicidade semanal, compostos por 12 páginas a 2 cores e ao preço de venda ao público de 3$00. (a única excepção foi um nº especial, a propósito do 11 de Março de 1975, que saiu apenas com 4 páginas ao preço de 1$00).

Se não erro, pois não tenho a colecção completa na minha frente (não sei que é feito dela), foram editados, contando com o nº 0, quarenta números do “Esquerda Socialista”, com uma tiragem, no seu ocaso, entre 17.000 e 20. 000 exemplares, mesmo assim bastante relevante acerca da presença política do MES no processo revolucionário em curso, como era da praxe dizer-se.

O jornal “Esquerda Socialista”, carregando, em particular, nesta derradeira fase, as marcas próprias da sua época, mais criativo e anarquizante, na sua primeira fase, constitui um testemunho interessante para uma análise política, e cronológica, do período revolucionário compreendido entre o 28 de Setembro de 1974 e a aprovação do “Plano Aliança Povo-MFA, em Junho de 1975.

Mas ainda não tinha acabado a aventura do “Esquerda Socialista” e já tinha sido criado o “Poder Popular”, o outro órgão de imprensa do MES, que se pretendia mais próximo da luta das classes populares, porta-voz de um programa político do MES que nunca deixou de reflectir, a partir do final de 1976, embora sem expressão pública, a luta interna entre facções que se digladiavam no seu seio.
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domingo, dezembro 28

BLOG DO ANO - ASSINO E SUBSCREVO


A cubana Yoani Sánchez é a blogueira do ano. Autora a partir de abril de 2007 do blog Generación Y, ganhou vários prêmios, entre eles o BOBS (Best of Blogs) dado na Alemanha e o Ortega y Gasset de jornalismo digital, na Espanha, e entrou na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2008 da revista Time.Yoani e o marido, o jornalista Reinaldo Escobar, criaram o portal DesdeCuba, onde há links para vários blogs cubanos, revistas digitais, informação independente. É o primeiro veículo livre de informação em Cuba.
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sábado, dezembro 27

A VIAGEM DO ELEFANTE

A Viagem do Elefante é o último livro de Saramago. Li-o neste período natalício num trago. Coisa rara. De Saramago tinha lido um só livro, na íntegra, sendo que dos outros as leituras se ficaram por tentativas inacabadas. Não sei se este Saramago que agora li num trago é o mesmo que antes tentara, em vão, ler. Não sei se passei a gostar do personagem que se esconde por detrás do escriba de que antes nunca gostara. Mas deste gostei. Talvez, no caso, tenha conseguido, como leitor, o que antes nunca conseguira: ler sem preconceitos. Do mais acho que nada mudou. Nem autor nem leitor.
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terça-feira, dezembro 23

OBRIGADA

Joseph McDonald

Para se compreender a razão de uma actividade como a de manter um blogue vivo tanto tempo – falo dos meus cinco anos – que o mesmo é dizer dos cinco anos do absorto seria necessário estar por dentro da cabeça do seu autor. Tarefa impossível para qualquer um e difícil para o próprio. O que posso assegurar, nesta quadra natalícia, dada ao relaxamento do corpo e à libertação do espírito, é que no fim do caminho, deste caminho, tentarei dar a público uma explicação da razão desta empresa na esperança de que até lá encontre as palavras para tal. Por agora interessa-me manter o equilíbrio estético que neste meio é vital para que seja apreensível, aos olhares fugidios, a mensagem moldada à imaginação de cada um. Tudo para agradecer os parabéns que me foram dirigidos a propósito da passagem do 5º aniversário. Obrigada.
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