terça-feira, outubro 14

O ORÇAMENTO 2009 JÁ ROLA!


“Nunca me senti à vontade senão nas situações elevadas. Até nos pormenores da vida eu tinha necessidade de estar por cima. Preferia o autocarro ao metropolitano, as caleças aos táxis, os terraços às sobrelojas. (…) Os paióis, os porões, os subterrâneos, as grutas, os abismos, causavam-me horror. Ganhara mesmo um ódio especial aos espeleólogos (…)”

As grandes linhas do orçamento de estado para 2009 foram apresentadas. Antecipado de um dia, adiado por um dia. Interessante e, ao mesmo tempo, desconfortável para quem assume a responsabilidade da apresentação. Notava-se o desconforto. O tom severo faz parte da bagagem do protagonista e da natureza do acto. Mas o que interessa é o conteúdo. Ainda não se conhecem os seus detalhes mas nas suas grandes linhas parece um orçamento de regresso à filosofia dos orçamentos concebidos como instrumentos de política económica. Ninguém poderia esperar que Teixeira dos Santos se suicidasse, e com ele o governo, detonando um orçamento de contenção pura e dura. Em época de crise declarada e na véspera do ano de todas as eleições (menos as presidenciais). Nenhum governo na Europa irá além da preocupação de não ultrapassar os 3% do deficit. Talvez um dos grandes números apresentados com mais hipóteses de ser ultrapassado seja a previsão do deficit de 2,2% para 2009, só conhecido em 2010. Com a curiosidade de, a partir deste momento, a previsão do deficit para 2008 não poder ser inferior a 2,2%. Pois se o deficit de 2008 for inferior a 2,2%, os 2,2% previstos para 2009 significarão um aumento do deficit. Politicamente insustentável. Por outro lado se, no final de 2008, o deficit for superior a 2,2% será apontado como um fracasso do governo em ano de eleições. Politicamente insustentável. Por isso uma única coisa é certa: deficit de 2008=2,2%. De resto está assegurado que cada actor desempenhará o seu papel. O PS com esta proposta de orçamento cobre o flanco à esquerda. À direita o PSD está condicionado por muitos obstáculos entre os quais a cruz do deficit de 6, e muitos por cento que deixou, em 2005, de herança ao governo do PS. Resta saber se a crise do sistema financeiro se transformará numa verdadeira crise económica e social. E qual o seu tempo, dimensão, intensidade e profundidade. Por mim, por todas as razões, que as sondagens recentes ilustram, quero crer que o governo se sairá tanto melhor quanto mais forte for a tormenta!
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2 comentários:

Anónimo disse...

Estes dados já estão ultrapassados. O banco central europeu "dispensou" os países do euro de cumprirem os 3% anteriormente exigidos.
Em ano de eleições, o governo "deseja" uma maior tormenta, pois desse modo poderá argumentar que a crise é internacional, o que o iliba de culpas.
Só os parvos é que não percebem isto...

Porfirio Silva disse...

Porque é preciso recomeçar a pensar (a menos que se pense que "a crise" foi um carnaval e já estamos em quarta-feira de cinzas...), permito-me interromper para sugerir Para uma economia política institucionalista .