sábado, fevereiro 14

O vento, uma das raras coisas próprias do mundo.

“O vento, uma das raras coisas próprias do mundo.”

“Le vent, une des rares choses propres du monde.”*


o vento,

empurra os odores e espalha as sementes

o vento,

assobia canções de embalar entre dentes

o vento,

canta os amores coloridos e suspira fundo

o vento,

dança nas frestas e sopra as ondas do mar

o vento,

é um mensageiro alado que nos faz sonhar

o vento,

é uma das raras coisas próprias do mundo.


* Citação de 1941, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 3 (Abril de 1939 – Fevereiro 1942) - página 169, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier III (Avril 1939 – février 1942) – página 923, Oeuvres complètes – II. (Mesmo quando surgem duvidas tenho mantido sempre a tradução original. Neste caso muitos amigos me chamaram a atenção para um erro de tradução desta frase de Camus na edição portuguesa que, faz muitos anos, sublinhei. Ora acontece que tomei a frase para epígrafe do poema antes de ler a edição na língua original. Assim se fez o poema que apesar do erro da tradução ganhou vida própria carregando com o dito ... Assim fica assinalado o erro sem rasurar o poema ... ) TAMBÉM NO CADERNO DE POESIA.
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4 comentários:

Anónimo disse...

Um pequeno reparo: 'propre' significa limpo.
Podes rectificar e editar de novo.
Este 'comentário' não é para ser publicado.
Obrigado.
Um abraço,
PM

Eduardo Graça disse...

Tive o cuidado de colocar uma nota no post editado no "Caderno de Poesia" referindo que segui a tradução da edição portuguesa sem lhe fazer qualquer correcção. Apesar de todas as dúvidas que a tradução possa suscitar, nos 3 volumes da edição - colecção miniatura - da Livros do Brasil, e a sua qualidade oscila bastante, segui sempre o mesmo critério, ou seja, de as seguir.

Anónimo disse...

Meu caro,
Percebo o teu critério, mas mantenho a sugestão de correcção.
Para te dar um exemplo da falta de qualidade de certas traduções e revisões dos 'Livros do Brasil'refiro, apenas, o livro 'A América e os Americanos', do John Steinbeck: tem dezenas de erros de tradução e centenas de gralhas.
Um abraço, PM

Eduardo Graça disse...

Para que se compreenda melhor a razão de não alterar a tradução: o poema foi escrito tomando por base um texto que passou a ser "o texto". Quando foi tomada a frase que lhe serve de epígrafe não tinha ainda cotejado o texto traduzido em português com o texto na sua língua original. Fi-lo, por razões circunstanciais, somente depois pelo que o poema ganhou vida própria e, para mim, não faz sentido, mesmo que a tradução não seja a mais correcta, reescrever o poema que passaria, no caso, a ser uma variante, senão mesmo outro poema.Aliás esta não é a primeira vez que se discute neste blog o tema da tradução. Em qualquer caso vou colocar também aqui a nota que já tinha inscrito no Caderno de Poesia. Obrigada pela atenção e pela crítica que é o maior incentivo a que qualquer criador livre pode aspirar.