segunda-feira, fevereiro 23

ANTINOMIAS POLÍTICAS


As caixas de comentários dos jornais online, sites e blogues, tudo o que mexe na esfera da informação no espaço virtual, ou como lhe queiram chamar, são uma choldra. São a face visível da mente de muitos comentadores encartados e bem vencidos (de vencimento) que debitam dislates, insinuações e mentiras no espaço público. A liberdade que a democracia política permite tem a vantagem extraordinária de banalizar o dislate, a insinuação e a mentira. É uma das faces da sociedade de consumo. Mas se o povo ficar à mingua como se vai aguentar a democracia liberal na Europa? De súbito uma velha questão torna-se actual! Camus no imediato pós guerra, num texto escrito entre Setembro e Outubro de 1945, interrogava-se:

Antinomias políticas. Vivemos num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos – e nada mais. Esta escolha não é fácil. Pareceu-me sempre que na realidade não há carrascos, há apenas vítimas. No fim de contas, bem entendido. Mas é uma verdade que está pouco espalhada.

Gosto imenso da liberdade. E para todo o intelectual, a liberdade acaba por confundir-se com a liberdade de expressão. Mas compreendo perfeitamente que esta preocupação não está em primeiro lugar para uma grande quantidade de Europeus, porque só a justiça lhes pode dar o mínimo material de que precisamos, e que, com ou sem razão, sacrificariam de bom grado a liberdade a essa justiça elementar.

Sei estas coisas há muito tempo. Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que devemos pensar, neste caso?
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