quinta-feira, maio 14

CORRENTES - CONFRONTOS COM A MEMÓRIA

Patti Levey

O Tomás Vasques faz-me um desafio ao qual não me passaria pela cabeça corresponder não viesse de onde vem. Quando li o teor da corrente, e nada tenho contra esta modalidade de estimulo à interacção, vieram-me à cabeça um mundo de personagens, sons e imagens, que povoam o meu imaginário. Algumas são muito antigas mas esse facto só confirma, além da minha antiguidade, como o fenómeno audiovisual e, em particular, a televisão exerce uma influência tão forte sobre as nossas vidas. Num primeiro momento senti-me impotente para corresponder ao desafio mas, bem vistas as coisas, sempre se pode tornear a pesada tarefa de investigar programas, ou séries, de televisão marcantes, de que não me lembro, com rigor, dos títulos recorrendo aos autores. Salvo um ou outro caso lá vão os nomes aos quais se associam mais do que um programa, por vezes, vidas inteiras de presença nas nossas vidas, sem pretensão cronológica, nem linhagem valorativa no que respeita à minha formação pessoal e cultural:


- João Villaret (acompanhado, ao piano, pelo irmão: Carlos Villaret) – uma introdução à poesia acessível a todos e sem concessões à facilidade;

- Mário Viegasum amigo que simboliza, para mim, a força da palavra com um mundo de sensações e revoltas lá dentro;

- António Lopes Ribeiro – o mundo do cinema quando o cinema era quase só o “Museu do Cinema”, acompanhado pelo pianista “mudo” António Melo;

- Vasco Granja – a divulgação do mundo do cinema de animação e da banda desenhada polarizado, ao longo de décadas, por um só nome;

- Vitorino Nemésio (“Se bem me Lembro”) – as palestras de um grande poeta esquecido. As palavras enroladas em sabedoria tradicional por um erudito (açoriano);
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- Padre António Ribeiro (futuro Cardeal Patriarca de Lisboa) – um padre, um bispo, um cardeal, que sabia a arte da comunicação; foi um elo na transição da ditadura para a democracia, moderando os ímpetos numa época de fogo;

- Raul Solnado –uma extraordinária carreira de actor, um comediante ímpar, que deixa uma marca profunda na cena cultural portuguesa ampliada com o surgimento da televisão;

- Herman José - um comediante genial, mal amado no seu próprio país, arrumado na prateleira, ainda ouviremos falar dele;

- Artur Varatojo – não perdia os seus programas e cheguei a escrever-lhe, – fascinava-me a sua relação com os temas policiais;

- Festival da Canção – uma ambivalência político-cultural, ao mesmo tempo, no centro do poder e no lugar da resistência: Simone de Oliveira, Madalena Iglésias, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho

- Gabriela Cravo e Canela – uma novela empolgante, luxuriante, sedutora. Assisti a quase todos os episódios como se de uma ida ao cinema se tratasse, …

- A Guerra – por Joaquim Furtado – uma série de documentários para a história do género em Portugal;

- Europeu de Futebol de 2004 – a transmissão dos jogos da selecção portuguesa – ou como sofrer, de forma apaixonada, o sonho da epopeia dos pequenos ganharem aos grandes – ir à janela, sair à rua, olhar as bandeiras nacionais por todo o lado … um ponto de vista acerca do patriotismo …;

- Debate Político – Até ao 25 de Abril de 1974 os portugueses nunca tinham visto um debate político. Muito menos pela TV. Este debate ente Mário Soares e Álvaro Cunhal (6 de Novembro de 1975) foi um momento marcante de uma nova época da vida pública portuguesa.

-RTP Memória - para fechar uma referência a um canal da RTP que é um dos únicos repositórios, na área do áudio visual, da memória da segunda metade do Século XX português.

[Vou passar à Tinta Azul, ao António Pais, ao Macro, à menina_marota e ao Rui Perdigão e que ninguém se sinta obrigado…]
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4 comentários:

Lmatta disse...

bom texto gosto
beijos

António P. disse...

Boa tarde Eduardo,
Gostei do teu critério de escolha.
As minhas escolhas serão mais por séries e segue dentro de momentos.
Um abraço

Anónimo disse...

Um abraço e corrijo: o João Villaret era acompanhado ao piano pelo irmão Carlos Villaret.

tomas vasques disse...

Eduardo: tens uma memória de elefante e um gosto apurado - geracional, mas apurado. Um abraço.