terça-feira, maio 21

AS EVIDÊNCIAS III

13

Esta manhã, 3º soneto que me fez chegar ao meio -dia à repartição.

III

Que coisas sois? – se sois como que gente,
se as vozes imitais, se olhando olhais,
se os gestos de fingir com que adorais
os mesmos são de a vida estar presente?

Que coisas sois? – que o mundo humanamente
entre vós e vós próprios limitais?
Se é de outrem essa morte que matais
quando morreis temendo-a frente a frente?

Que coisas sois? – Menos que humanos, vis,
viscosos, fluidos e crustáceos, cães
paridos sem pecado pelas mães
que o súcubo emprenhou, sois de raiz

facas sem lâmina a que falta o cabo,
que a quem se abaixa se lhe vê o rabo.

13-2-1954

Jorge de Sena