Um 4º soneto, que apareceu a correr pouco antes de eu ir para S. Carlos ouvir a Electra …
IV
Da solidão que o vosso mal povoa
de monstruosas mãos e duros dentes,
lá onde agudo só um latido ecoa,
e o amor se esconde em piolhosos pentes;
Do vácuo fedorento, excrementício,
com que de roubos vosso rasto acaba
idêntico a vós próprios desde o início,
que desde sempre foi a mesma baba;
Da solidão que dais e que roubais,
do vácuo que levais e que deixais,
do pavoroso nada que imitais
quando cobris dos ouropéis legais
o horror de estardes sós em companhia –
o mal que sois em mim se refugia.
Jorge de Sena
15-4-1954*
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