O centenário de Albert Camus, celebrado ontem, foi
assinalado na comunicação social portuguesa de forma mais extensa do que eu
imaginava possível. É verdade que não se produziram números especiais, nem separatas,
nem surgiram nos escaparates reedições dos seus livros (não sabemos o que se
passa com a editora que aparentemente tem o exclusivo da edição da obra de
Camus em Portugal!). Mas não nos podemos queixar, pois se nem a maior parte dos autores
clássicos portugueses são reeditados! Esta foi uma oportunidade para que
muitas referências à sua obra e a diversas facetas da sua vida tivessem surgido à luz do dia, o que não é assim tão
pouco importante como muitos querem fazer crer, em particular, os seus
detratores. Os tempos que vivemos trazem no seu ventre perigos de ressurgimento
de totalitarismos de diversas matizes, sejam de direita ou de esquerda, que
Camus sempre combateu de forma frontal. Os tempos que vivemos são perigosos
para a liberdade não tanto enquanto princípio filosófico mas na prática da vida
quotidiana – liberdade de expressão de pensamento, liberdade de imprensa,
liberdade de associação e de manifestação, que Camus sempre defendeu com todas
as suas forças como jornalista, homem de teatro, romancista e resistente ao nazi
fascismo. E mais importante, a celebração da obra e da vida de Camus, a propósito
do centenário do seu nascimento, abriu algumas janelas para a valorização, hoje
como ontem, da esperança no futuro, pois como ele próprio escreveu “o que mais nos impressiona hoje, com efeito, é que no mundo atual, em geral (e à exceção dos crentes de todas as espécies), a maior parte dos homens se encontra privada da noção de futuro. Ora não há vida vivida sem projeção no tempo, sem esperança de amadurecimento e progresso." ("Atuais")
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