No dia do 54º aniversário da morte de Albert Camus (7/11/1913-4/1/1960) evoco a sua memória deixando mais um fragmento da sua escrita sobre um dos temas mais relevantes que atravessam a sua obra: justiça e liberdade.
“Antinomias políticas. Vivemos
num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos – e nada mais.
Esta escolha não é fácil. Pareceu-me sempre que na realidade não há carrascos,
há apenas vítimas. No fim de contas, bem entendido. Mas é uma verdade que está
pouco espalhada.
Gosto imenso da liberdade. E para todo o intelectual, a liberdade acaba por confundir-se com a liberdade de expressão. Mas compreendo perfeitamente que esta preocupação não está em primeiro lugar para uma grande quantidade de Europeus, porque só a justiça lhes pode dar o mínimo material de que precisamos e que, com ou sem razão, sacrificariam de bom grado a liberdade a essa justiça elementar.
Sei estas coisas há muito tempo. Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que deveremos pensar, neste caso?”
Gosto imenso da liberdade. E para todo o intelectual, a liberdade acaba por confundir-se com a liberdade de expressão. Mas compreendo perfeitamente que esta preocupação não está em primeiro lugar para uma grande quantidade de Europeus, porque só a justiça lhes pode dar o mínimo material de que precisamos e que, com ou sem razão, sacrificariam de bom grado a liberdade a essa justiça elementar.
Sei estas coisas há muito tempo. Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que deveremos pensar, neste caso?”
Albert Camus, in Caderno n.º 5 (setembro 1945/abril
1948)
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