Ilustração do meu filho Manuel, enquanto criança.
"Abril.
Primeiros dias de calor. Sufocante. Todos os animais
estão deitados. Quando o dia começa a declinar, a natureza estranha da atmosfera
por cima da cidade. Os ruídos que nela se elevam e se perdem como balões.
Imobilidade das árvores e dos homens. Pelas esplanadas, mouros de conversa à
espera que venha a noite. Café torrado, cujo aroma também se eleva. Hora suave e
desesperada. Nada para abraçar. Nada onde ajoelhar, louco de
reconhecimento."
Albert Camus
Albert Camus
[Nesta página da edição portuguesa dos "Livros do Brasil"
escrevi, à mão, em frente a Abril: “3-1968-Faro-Cais”, datando, com precisão, a
primeira leitura. O ambiente da Argélia natal de Camus tem algo a ver com o
ambiente de Faro, a minha cidade natal. Devia ser o período das Férias de
Páscoa. Curiosamente nas vésperas do “Maio de 68”.]
“Avril.
Premières journées de chaleur. Étouffant. Toutes les bêtes sont sur le flanc. Quand la journée décline, la qualité étrange de l´air au-dessus de la ville. Les bruits qui montent et s´y perdent comme des ballons. Immobilité des arbres et des hommes. Sur les terrasses, mauresques qui divisent en attendant le soir. Café qu´on grilles et dont l´odeur monte aussi. Heure tendre et désespérée. Rien à embrasser. Rien où se jeter à genoux, éperdu de reconnaissance.” *
* Citação de 1936, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 1 (Maio de 1935 – Setembro de 1937) - página 25, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier I (Mai 1935 – septembre 1937) – página 806, Oeuvres complètes – II.
“Avril.
Premières journées de chaleur. Étouffant. Toutes les bêtes sont sur le flanc. Quand la journée décline, la qualité étrange de l´air au-dessus de la ville. Les bruits qui montent et s´y perdent comme des ballons. Immobilité des arbres et des hommes. Sur les terrasses, mauresques qui divisent en attendant le soir. Café qu´on grilles et dont l´odeur monte aussi. Heure tendre et désespérée. Rien à embrasser. Rien où se jeter à genoux, éperdu de reconnaissance.” *
* Citação de 1936, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 1 (Maio de 1935 – Setembro de 1937) - página 25, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier I (Mai 1935 – septembre 1937) – página 806, Oeuvres complètes – II.
Na primeira lufada de ar
quente me surgiste
e senti o calor dos primeiros dias de verão,
sufocante fulgor das arremetidas da tua voz
insinuante aberta até ao queixo do enigma
de saber que te quero possuir mas não sei.
Ajuda-me a possuir-te mesmo que eu não
queira e te deites mal amada pois eu quero
e desespero perdido por querer que saibas
do meu desejo sincero e louco em possuir-te
nos primeiros dias de calor. Sufocante.
e senti o calor dos primeiros dias de verão,
sufocante fulgor das arremetidas da tua voz
insinuante aberta até ao queixo do enigma
de saber que te quero possuir mas não sei.
Ajuda-me a possuir-te mesmo que eu não
queira e te deites mal amada pois eu quero
e desespero perdido por querer que saibas
do meu desejo sincero e louco em possuir-te
nos primeiros dias de calor. Sufocante.
PUBLICADO EM 23 DE JANEIRO DE 2009, IN CADERNO DE POESIA
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