sexta-feira, setembro 5

setembro - dia 5


Em muitos dias, mais noites, quando quero escrever mudo-me para o meu velho computador, uma espécie de Cadillac dos anos 50, daqueles que circulam com abundância em Cuba, porque gosto do seu ronronar e do ruído do bater das teclas mais próximo do compasso do andar quotidiano. É uma deriva através da qual suponho que busco fazer coisa diferente, fazendo o mesmo que faço todo o dia. Escrever para mim próprio, alimentando um diálogo entre o trabalho do dia a dia e o outro lado, o lugar do dia a dia dos outros. Um regresso a uma utópica reconciliação com o lado desconhecido do mundo e o desespero dos homens que o habitam abandonados à sua sorte. Hoje é tanto o afastamento entre as imagens projectadas da realidade e a própria realidade que as pequenas extravagâncias me aquietam  o espírito. O meu velho computador sendo ainda uma máquina humaniza a minha relação com ela. E os ruídos que emite aproximam-me, sem que saiba explicar a razão, do mundo real onde não existem imagens mas a realidade que as imagens em regra distorcem.      

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