domingo, fevereiro 21

NOTAS NAS VÉSPERAS DA POSSE DO NOVO PR

Na politica, como em todos os aspetos da vida, não dá para adivinhar o futuro. Diz o povo que "o futuro a Deus pertence". Mas a arte da adivinhação é mister de quem se não libertou da estupidez mas já se não pode dizer o mesmo da previsão. E, antes de tudo, na politica a arte está na gestão das expetativas. Todos participamos deste jogo uns como criadores (poucos) outros como espetadores (a maioria). Quanto à situação politica na Europa toda, dentro e fora da UE, dentro e fora do €, as expetativas são crescentemente negativas, se considerarmos o modelo idealizados pelos pais fundadores. Poucos acreditam que a UE se está a fortalecer, a maioria crê que se está desmoronar. A leste medram os populismos de direita, nalguns casos protofascista, a sul agigantam-se os medos de novos resgates, no centro encarniça-se a luta pela disputa dos despojos de uma batalha perdida pela hegemonia do caos. A ameaça de saída do Reino Unido é somente um sinal, historicamente anunciado, de rebeldia contra a hegemonia da potência continental que, sob diversas formas, ao longo da história, foi dominante - hoje designada por Alemanha. Em termos simples ao que se assiste nos nossos dias é a uma velha disputa entre potências continentais e potências marítimas com suas variantes e condicionantes. Nada de estranhar, pois, que o Reino Unido se separe, ou aprofunde as distâncias, da potência continental dominante (Alemanha) e dos seus aliados. Portugal, mesmo com a sua dimensão física reduzida pela perda do "império colonial", faz parte da constelação das potências marítimas. Está mais próxima, no plano geoestratégico, do Reino Unido e dos USA (as potências marítimas) do que da Alemanha e seus aliados continentais. Não nos resta outra solução se não manter os laços da aliança forte com os aliados que hoje, pelas vicissitudes da adesão à UE e ao €, parecem ser os que estão mais distantes. Vem aí um novo PR por um período, no mínimo, de 5 anos coabitando com um governo socialista, apoiado à esquerda, ao qual a direita quer colar a expetativa de uma duração de breve prazo, quando o mais certo é que dure por um prazo mais alargado (sob esta ou outra fórmula politica). A reformulação do sistema de alianças (internas e externas) nunca se faz no curto prazo e as medidas para que possa ser alicerçada em bases sérias, e sólidas, requer estabilidade o que não é sinónimo de "paz podre". É preciso mudar muita coisa e o PR num contexto de mudanças profundas é mais importante do que nas soluções de pura continuidade.

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