Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, fevereiro 28
OS EXTREMISMOS EM PORTUGAL
Vamos escrever duas ou três palavras acerca de um tema raras vezes abordado, de forma séria, no espaço público. Escrevo-as a propósito dos termos utilizados por alguns políticos, e líderes de opinião, para qualificar os partidos que se posicionam à esquerda do PS. Deixo de lado a história desses partidos que em Portugal, dispondo de expressão parlamentar, se designam por BE e o PCP. O desconhecimento, pela maioria dos políticos no ativo, da história conduz à asneira discursiva e ao erro politico. No contexto europeu tem vindo a acentuar-se uma radicalização politica como resultado da crise do sistema financeiro que emergiu por volta do ano 2008. O populismo ganhou terreno como resultado do descontentamento, incerteza e desconfiança, de cada vez mais largos setores populares, nas politicas conduzidas pelos partidos do centro que, no pós guerra assumiram o poder de governo. Os eleitorados têm vindo a desertar do centro politico deslocando-se para apoiar partidos que antes, nalguns casos, ou não existiam ou tinham uma expressão politica irrelevante. Esses partidos situam-se à esquerda e à direita oferecendo uma alternativa na qual se juntam a defesa de valores em que avulta o retorno aos nacionalismos e, em alguns casos, à xenofobia e ao racismo. O fenómeno está à vista de todos, sem margem para ser escondido, com jogos de palavras, sendo ainda mais radicalizado com a crise dos migrantes. Em Portugal este processo tem sido amplamente atenuado quer pelo efeito da nossa situação de país periférico com duas fronteiras únicas - Espanha e o Atlântico - quer pelo posicionamento dos partidos, e sindicatos, que têm tido a capacidade de absorver, e canalizar, o descontentamento popular para o interior do regime democrático minorando as manifestações radicais desse descontentamento. Quer o PCP, quer o BE, com suas diferenças, sempre tomaram a opção, após o 25 de novembro de 75, de jogar o jogo democrático optando, no presente, por apoiar um governo socialista, de cariz reformista, mantendo embora a sua autonomia. Apelidar o BE e o PCP de partidos de extrema-esquerda é um erro de quem não sabe, ou finge não saber, o que é a extrema esquerda, as suas ideologias e os seus métodos políticos ao longo da história. Em Portugal poder-se-á dizer, sem correr excessivos riscos de errar, que não existe nem extrema esquerda, nem extrema direita, com expressão politica organizada relevante. O 25 de abril está demasiadamente perto, no plano histórico e pessoal, para que os fenómenos extremistas, ao contrário das democracias parlamentares dos países do centro de Europa, tenham terreno para vencer. Mas virá o tempo, se os democratas não cuidarem de adotar politicas que respondam aos anseios populares, em que os extremismos possam romper as barreiras nas quais, no nosso país se manifestam de forma politicamente irrelevante.
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1 comentário:
mas dá jeito, muito jeito, à oposição, a jogar no maniqueísmo.
o engraçado é não repararem nalgumas coisas:
- há o centro-direita e a extrema direita. centro-direita é uma espécie de coliseu dos recreios, cabe lá tudo - até a direita radical. nunca se fala de direita ou direita moderada. é tudo centro-direita.
extrema-direita é aquela que é contra a europa e contra os emigrantes, sem fazer distinção entre os que querem impor um regime autoritário - é o caso do nosso pnr - e aqueles que não querem derrubar a democracia parlamentar - como sucede na holanda ou Dinamarca.
confundem também as direitas de pendor orgânica - como a polaca - com o liberalismo-conservador ou mesmo oligárquico.
e entretanto cá pelo burgo tivemos um governo meio democrático, que só não deitou tudo de pantanas porque não tinha dois terços como na Hungria, que fez gato sapato das instituições, e que também ele passou por centro-direita e, pasme-se, liberal, quando na verdade tinha mais natureza bonapartista que democrática. e já agora, para os que afirmam que um dos traços dos populistas é sempre o nós e os outros, bem populista. como bons bonapartistas. e conviria ver o papel de Miguel morgado nesta deriva; se é que ainda lá há alguma coisa de pensamento e não apenas negócio.
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