domingo, fevereiro 28

OS EXTREMISMOS EM PORTUGAL

Vamos escrever duas ou três palavras acerca de um tema raras vezes abordado, de forma séria, no espaço público. Escrevo-as a propósito dos termos utilizados por alguns políticos, e líderes de opinião, para qualificar os partidos que se posicionam à esquerda do PS. Deixo de lado a história desses partidos que em Portugal, dispondo de expressão parlamentar, se designam por BE e o PCP. O desconhecimento, pela maioria dos políticos no ativo, da história conduz à asneira discursiva e ao erro politico. No contexto europeu tem vindo a acentuar-se uma radicalização politica como resultado da crise do sistema financeiro que emergiu por volta do ano 2008. O populismo ganhou terreno como resultado do descontentamento, incerteza e desconfiança, de cada vez mais largos setores populares, nas politicas conduzidas pelos partidos do centro que, no pós guerra assumiram o poder de governo. Os eleitorados têm vindo a desertar do centro politico deslocando-se para apoiar partidos que antes, nalguns casos, ou não existiam ou tinham uma expressão politica irrelevante. Esses partidos situam-se à esquerda e à direita oferecendo uma alternativa na qual se juntam a defesa de valores em que avulta o retorno aos nacionalismos e, em alguns casos, à xenofobia e ao racismo. O fenómeno está à vista de todos, sem margem para ser escondido, com jogos de palavras, sendo ainda mais radicalizado com a crise dos migrantes. Em Portugal este processo tem sido amplamente atenuado quer pelo efeito da nossa situação de país periférico com duas fronteiras únicas - Espanha e o Atlântico - quer pelo posicionamento dos partidos, e sindicatos, que têm tido a capacidade de absorver, e canalizar, o descontentamento popular para o interior do regime democrático minorando as manifestações radicais desse descontentamento. Quer o PCP, quer o BE, com suas diferenças, sempre tomaram a opção, após o 25 de novembro de 75, de jogar o jogo democrático optando, no presente, por apoiar um governo socialista, de cariz reformista, mantendo embora a sua autonomia. Apelidar o BE e o PCP de partidos de extrema-esquerda é um erro de quem não sabe, ou finge não saber, o que é a extrema esquerda, as suas ideologias e os seus métodos políticos ao longo da história. Em Portugal poder-se-á dizer, sem correr excessivos riscos de errar, que não existe nem extrema esquerda, nem extrema direita, com expressão politica organizada relevante. O 25 de abril está demasiadamente perto, no plano histórico e pessoal, para que os fenómenos extremistas, ao contrário das democracias parlamentares dos países do centro de Europa, tenham terreno para vencer. Mas virá o tempo, se os democratas não cuidarem de adotar politicas que respondam aos anseios populares, em que os extremismos possam romper as barreiras nas quais, no nosso país se manifestam de forma politicamente irrelevante.

1 comentário:

Anónimo disse...

mas dá jeito, muito jeito, à oposição, a jogar no maniqueísmo.

o engraçado é não repararem nalgumas coisas:
- há o centro-direita e a extrema direita. centro-direita é uma espécie de coliseu dos recreios, cabe lá tudo - até a direita radical. nunca se fala de direita ou direita moderada. é tudo centro-direita.

extrema-direita é aquela que é contra a europa e contra os emigrantes, sem fazer distinção entre os que querem impor um regime autoritário - é o caso do nosso pnr - e aqueles que não querem derrubar a democracia parlamentar - como sucede na holanda ou Dinamarca.

confundem também as direitas de pendor orgânica - como a polaca - com o liberalismo-conservador ou mesmo oligárquico.

e entretanto cá pelo burgo tivemos um governo meio democrático, que só não deitou tudo de pantanas porque não tinha dois terços como na Hungria, que fez gato sapato das instituições, e que também ele passou por centro-direita e, pasme-se, liberal, quando na verdade tinha mais natureza bonapartista que democrática. e já agora, para os que afirmam que um dos traços dos populistas é sempre o nós e os outros, bem populista. como bons bonapartistas. e conviria ver o papel de Miguel morgado nesta deriva; se é que ainda lá há alguma coisa de pensamento e não apenas negócio.