"Lembro-me de em determinado momento dessa madrugada de 25 de Novembro ter decidido sair do apartamento, no qual me tinha recolhido, vencido mas não convencido, ter rumado a casa, atravessando a cidade de ponta a ponta, de carro, apesar do estado de sítio que tinha sido, ou estava para ser decretado, com uma profunda angústia cravada no peito, fazendo todo o percurso sem ser incomodado por ninguém.
Dormi como um justo. Nessa noite tinha tomado a consciência difusa de que tudo o que pudesse fazer, daí em diante, seria somente um caminho para salvar as aparências de uma escolha passada sem aderência aos sentimentos e expectativas da maioria do povo português.
O vencedor havia sido o PS e o obreiro dessa vitória política da democracia representativa, em Portugal, foi Mário Soares. Como tenho dito sempre, não me arrependo das ideias, nem das acções que empreendi e nas quais participei, mas reconheço que a razão estava do outro lado."
(Texto integral no IR AO FUNDO E VOLTAR)