Imagem Daqui
No ano 2050 ninguém se vai lembrar desta madrugada
em que fui dormir com a certeza do resultado amargo
da refrega entre dois campos vizinhos mas separados
pelo largo estuário do rio onde correm diferentes olhares
sobre o homem, a vida, a morte, a paz e a guerra.
Todas as diferenças onde se amparam o viver das gentes,
ilustres e vulgares, milhões que acreditam nas escolhas
que julgam mudarem o seu futuro. Mas qual futuro?
Então ganhou o Bush, não foi?
O meu filho, pelas sete da manhã, abriu a porta do quarto
e deu-me a notícia cheio de uma ingénua esperança
de que a sorte mudasse pelos caprichos de um estado
que acorda mais tardio para a coisa. Mas não, eu já sabia,
desde antes. A noite não se faz dia ao estalido
dos dedos de uma mão mesmo que sejam um milhão,
dez, cem milhões de dedos das mãos dadas todas do mundo.
O guerreiro quer guerra e o infiel é o seu duplo.
Então, ganhou o Bush, não foi?
Perguntou-me, a medo, o empregado de mesa
que me serve todos os dias, solícito, além do melão fresco,
o frugal sumo de laranja e os dois rissóis do meu contentamento.
Pois foi, era o que tinha de ser, e o que tem de ser tem muita força.
Então ganhou o Bush, não foi?
Foi!
Que lhe faça bom proveito e ao povo que nele confia.
Tenho a certeza que os poetas da América não
vão deixar de poetar e a mim só me interessa
a POESIA
nem a mentira,
nem a ignomínia,
nem o negócio da morte,
nem da guerra preventiva a cobardia,
nem a vã glória que o vencedor anuncia.
Então ganhou o Bush, não foi?
QUE VIVA A POESIA!
Lisboa, 3 de Novembro de 2004
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, novembro 4
sexta-feira, novembro 3
TRÊS REFLEXÕES DE OUTONO
Frank Grisdale
Já está disponível no site do “Semanário Económico” e no IR AO FUNDO E VOLTAR, na íntegra, o artigo com o título em epígrafe do qual transcrevo os dois parágrafos iniciais.
“Acerca do Orçamento do Estado para 2007 – Os portugueses são muitos fracos na disciplina da memória, em particular, no que se refere às questões da “coisa pública”. Deixam cair dela os seus heróis, como frutos podres, e apagam, com arrogos mesquinhos, tanto as boas como as más lembranças da governação passada.
No caso do Orçamento de Estado para 2007 é necessário lembrar, para não recuar aos tempos da austeridade, anteriores ao longo consulado de Cavaco, ou à “pesada herança” de Guterres, que o governo em funções herdou, em 2005, dos governos de direita (Barroso+Santana), um deficit das contas públicas de 6,4% do PIB.”
Já está disponível no site do “Semanário Económico” e no IR AO FUNDO E VOLTAR, na íntegra, o artigo com o título em epígrafe do qual transcrevo os dois parágrafos iniciais.
“Acerca do Orçamento do Estado para 2007 – Os portugueses são muitos fracos na disciplina da memória, em particular, no que se refere às questões da “coisa pública”. Deixam cair dela os seus heróis, como frutos podres, e apagam, com arrogos mesquinhos, tanto as boas como as más lembranças da governação passada.
No caso do Orçamento de Estado para 2007 é necessário lembrar, para não recuar aos tempos da austeridade, anteriores ao longo consulado de Cavaco, ou à “pesada herança” de Guterres, que o governo em funções herdou, em 2005, dos governos de direita (Barroso+Santana), um deficit das contas públicas de 6,4% do PIB.”
quinta-feira, novembro 2
O MEDO DA VERDADE
Fotografia de Nana Sousa Dias
Ressonância de 2 de Novembro de 2004. Santana Lopes era Primeiro-ministro. Estava à beira do fim. JA Barreiros é, naturalmente, o advogado José António Barreiros. Era o dia das eleições presidenciais nos USA. Ainda não sabia o resultado. O contexto político nacional é, hoje, diferente. Mas o facto de terem surgido, em força, provedores em muitos órgãos de comunicação social é significativo. Eis o que escrevi:
Um dia fora de Lisboa, a trabalhar, sem notícias e logo no dia das eleições na América. Original. Agora que vejo as notícias não encontro nada de novo. Reparo que JA Barreiros se despediu de colunista do DN e que todos descobrem o que eu já tinha experimentado vai para 2 anos. Bolas, estavam todos ceguinhos ou quê?
Essa teia promíscua entre os poderes político, económico e mediático, que agora tantos condenam, não é dos tempos deste governo. Já vem do anterior. A diferença está na gestão que se tornou, dia a dia, mais grosseira, descarada e disparatada. Mas nada de essencial mudou. Mas atenção que muitos dos que agora clamam contra a manipulação desesperada dos “media”, em favor da maioria governamental, amanhã a defenderão se ela satisfizer os seus próprios interesses.
Os únicos que podem ser os verdadeiros detentores do equilíbrio entre a verdade, a justiça e a liberdade, na gestão comunicacional, são os fazedores da própria notícia, ou sejam, os jornalistas. Os jornalistas profissionais, não os comentadores ou colaboradores de ocasião.
Quando se revoltam os jornalistas? Quando decidem tomar a palavra e colocá-la ao serviço da denúncia da corrupção dos seus próprios órgãos de comunicação? Têm medo? A democracia faz medo aos jornalistas? Que estranha democracia é esta em que os jornalistas têm medo da verdade?
Ressonância de 2 de Novembro de 2004. Santana Lopes era Primeiro-ministro. Estava à beira do fim. JA Barreiros é, naturalmente, o advogado José António Barreiros. Era o dia das eleições presidenciais nos USA. Ainda não sabia o resultado. O contexto político nacional é, hoje, diferente. Mas o facto de terem surgido, em força, provedores em muitos órgãos de comunicação social é significativo. Eis o que escrevi:
Um dia fora de Lisboa, a trabalhar, sem notícias e logo no dia das eleições na América. Original. Agora que vejo as notícias não encontro nada de novo. Reparo que JA Barreiros se despediu de colunista do DN e que todos descobrem o que eu já tinha experimentado vai para 2 anos. Bolas, estavam todos ceguinhos ou quê?
Essa teia promíscua entre os poderes político, económico e mediático, que agora tantos condenam, não é dos tempos deste governo. Já vem do anterior. A diferença está na gestão que se tornou, dia a dia, mais grosseira, descarada e disparatada. Mas nada de essencial mudou. Mas atenção que muitos dos que agora clamam contra a manipulação desesperada dos “media”, em favor da maioria governamental, amanhã a defenderão se ela satisfizer os seus próprios interesses.
Os únicos que podem ser os verdadeiros detentores do equilíbrio entre a verdade, a justiça e a liberdade, na gestão comunicacional, são os fazedores da própria notícia, ou sejam, os jornalistas. Os jornalistas profissionais, não os comentadores ou colaboradores de ocasião.
Quando se revoltam os jornalistas? Quando decidem tomar a palavra e colocá-la ao serviço da denúncia da corrupção dos seus próprios órgãos de comunicação? Têm medo? A democracia faz medo aos jornalistas? Que estranha democracia é esta em que os jornalistas têm medo da verdade?
A MORTE DE UM ALPINISTA PORTUGUÊS
À esquerda Bruno Carvalho
O alpinista português Bruno Carvalho morreu na descida, depois de alcançar o cume, a 8.000 metros, do Shisha Pangma. Nesta actividade de alto risco, como em muitas outras, as descidas são mais perigosas que as subidas.
O alpinista português Bruno Carvalho morreu na descida, depois de alcançar o cume, a 8.000 metros, do Shisha Pangma. Nesta actividade de alto risco, como em muitas outras, as descidas são mais perigosas que as subidas.
quarta-feira, novembro 1
FUTEBOL - REMATE
Fotografia Daqui
Volto ao futebol. Terminou, há poucos minutos, a quarta-feira europeia como se dizia antigamente. As três equipas portuguesas participantes na Liga dos Campeões portaram-se acima do que seria de esperar. O Sporting, ontem, encostou às cordas o Bayern, na Alemanha, (0-0) mas, na verdade, merecia ganhar. O F.C. Porto, hoje, ganhou (3-1) ao Hamburgo, também na Alemanha, e o Benfica retribuiu, em Lisboa, a goleada (3-0) que o Celtic lhe tinha aplicado há 15 dias na Escócia.
*
Na disputa da competição de clubes mais importante da Europa as equipas portuguesas, nesta jornada, fizeram sete pontos em dez possíveis. Todas podem ainda passar à fase seguinte da prova e quase certamente todas alcançarão, pelo menos, um lugar na Taça UEFA. Banalidades. Volto ao assunto do futebol porque me dá prazer mas também porque sei da sua importância, não só no plano da competição desportiva, mas também na divulgação da imagem do país no mundo.
*
Foi bonito ver, nas bancadas do estádio da Luz, os adeptos escoceses derrotados (10.000) confraternizarem com os adeptos portugueses vencedores. E reparar que imperou o “fair-play” em todas as facetas de todos os jogos.
*
E já agora, para os mais distraídos, confirmo que o clube do meu coração é o Farense mas que, na verdade, também sou benfiquista. Não aprecio é o estilo, os métodos e as opções de gestão que têm imperado pelas bandas da Luz. Mas isso é outra história da qual estou a léguas de distância pois sou, simplesmente, um adepto sem cartão.
Volto ao futebol. Terminou, há poucos minutos, a quarta-feira europeia como se dizia antigamente. As três equipas portuguesas participantes na Liga dos Campeões portaram-se acima do que seria de esperar. O Sporting, ontem, encostou às cordas o Bayern, na Alemanha, (0-0) mas, na verdade, merecia ganhar. O F.C. Porto, hoje, ganhou (3-1) ao Hamburgo, também na Alemanha, e o Benfica retribuiu, em Lisboa, a goleada (3-0) que o Celtic lhe tinha aplicado há 15 dias na Escócia.
*
Na disputa da competição de clubes mais importante da Europa as equipas portuguesas, nesta jornada, fizeram sete pontos em dez possíveis. Todas podem ainda passar à fase seguinte da prova e quase certamente todas alcançarão, pelo menos, um lugar na Taça UEFA. Banalidades. Volto ao assunto do futebol porque me dá prazer mas também porque sei da sua importância, não só no plano da competição desportiva, mas também na divulgação da imagem do país no mundo.
*
Foi bonito ver, nas bancadas do estádio da Luz, os adeptos escoceses derrotados (10.000) confraternizarem com os adeptos portugueses vencedores. E reparar que imperou o “fair-play” em todas as facetas de todos os jogos.
*
E já agora, para os mais distraídos, confirmo que o clube do meu coração é o Farense mas que, na verdade, também sou benfiquista. Não aprecio é o estilo, os métodos e as opções de gestão que têm imperado pelas bandas da Luz. Mas isso é outra história da qual estou a léguas de distância pois sou, simplesmente, um adepto sem cartão.
SIM
Fotografia de sophie thouvenin
"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
SIM. SIM.
"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
SIM. SIM.
terça-feira, outubro 31
HOJE DEU-ME PARA FALAR DE FUTEBOL
Imagem daqui
Hoje deu-me para falar de futebol que acompanho com atenção mas sem fanatismo. É uma daquelas actividades, quer gostemos quer não, na qual Portugal é competitivo no contexto internacional. Nada de novo. Todos os rankings internacionais o confirmam.
*
Acontece, por outro lado, que o futebol permite alimentar as amizades pois mesmo quando as nossas fidelidades clubistas são diferentes das dos nossos amigos sempre nos condoemos com o seu sofrimento de “derrotados” mesmo que nos “regozijemos” com as nossas vitórias. Poucas actividades da vida social permitem tal compensação afectiva.
*
Escrevo a poucas horas de um jogo importante do Sporting, na Alemanha, e penso no meu filho que lhe deu para o sportinguismo, com lugar cativo e tudo, nos meus amigos TL e FF, em todos aqueles que passam a vida a sofrer por um sucesso que é um bem escasso para quase todas as equipas que por aí disputam campeonatos e competições.
*
Como o clube do meu coração – o Farense – está falido e a militar no mais baixo escalão do futebol do Algarve – a II Divisão distrital – já não sofro pois, como sabiamente disse o seu treinador, o grande jogador que foi Carlos Costa, já não dá para descer mais. Por isso restrinjo o meu clubismo a saber dos seus resultados, através do “A Defesa de Faro”, e a sentir que o Farense ainda mexe podendo, a prazo, contribuir para o ressurgimento de uma equipa do sul na Primeira Liga. [A sul de Setúbal não há nenhuma, mas na Madeira há duas!]
*
Quanto aos jogos de hoje e amanhã das três equipas do topo do futebol português, na Liga dos Campeões Europeus, os prognósticos são reservados. Cada uma delas segue a sua estratégia própria: o Sporting aposta nos jovens talentos, nascidos e criados na sua academia, adoptando uma estratégia inteligente e ousada; dá prazer, a qualquer um, observar o desempenho da equipa e o potencial dos seus jovens jogadores. O F.C. Porto aposta no mercado sul-americano buscando aí alguns dos melhores jogadores dos respectivos países, uns já consagrados, outros que o virão a ser. O Benfica prossegue, desde há anos, uma estratégia de acaso na qual as escolhas – de treinadores a jogadores – parecem navegar ao sabor dos objectivos mais ou menos indecifrável dos seus dirigentes.
*
Se quisesse fazer um ranking dos três clubes mais representativos do futebol português de clubes classificava-os assim: 1º – Sporting; 2º – F. C. Porto; 3º – Benfica. Este é o ranking competitivo, segundo os padrões tradicionais a qualquer negócio. Mas, na minha afectividade, o clube que ocupa o primeiro lugar no ranking é um dos últimos no ranking da competição. E não imaginam quantos milhares de clubes ocupam os últimos lugares nas competições e o primeiro lugar nos corações dos adeptos.
Hoje deu-me para falar de futebol que acompanho com atenção mas sem fanatismo. É uma daquelas actividades, quer gostemos quer não, na qual Portugal é competitivo no contexto internacional. Nada de novo. Todos os rankings internacionais o confirmam.
*
Acontece, por outro lado, que o futebol permite alimentar as amizades pois mesmo quando as nossas fidelidades clubistas são diferentes das dos nossos amigos sempre nos condoemos com o seu sofrimento de “derrotados” mesmo que nos “regozijemos” com as nossas vitórias. Poucas actividades da vida social permitem tal compensação afectiva.
*
Escrevo a poucas horas de um jogo importante do Sporting, na Alemanha, e penso no meu filho que lhe deu para o sportinguismo, com lugar cativo e tudo, nos meus amigos TL e FF, em todos aqueles que passam a vida a sofrer por um sucesso que é um bem escasso para quase todas as equipas que por aí disputam campeonatos e competições.
*
Como o clube do meu coração – o Farense – está falido e a militar no mais baixo escalão do futebol do Algarve – a II Divisão distrital – já não sofro pois, como sabiamente disse o seu treinador, o grande jogador que foi Carlos Costa, já não dá para descer mais. Por isso restrinjo o meu clubismo a saber dos seus resultados, através do “A Defesa de Faro”, e a sentir que o Farense ainda mexe podendo, a prazo, contribuir para o ressurgimento de uma equipa do sul na Primeira Liga. [A sul de Setúbal não há nenhuma, mas na Madeira há duas!]
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Quanto aos jogos de hoje e amanhã das três equipas do topo do futebol português, na Liga dos Campeões Europeus, os prognósticos são reservados. Cada uma delas segue a sua estratégia própria: o Sporting aposta nos jovens talentos, nascidos e criados na sua academia, adoptando uma estratégia inteligente e ousada; dá prazer, a qualquer um, observar o desempenho da equipa e o potencial dos seus jovens jogadores. O F.C. Porto aposta no mercado sul-americano buscando aí alguns dos melhores jogadores dos respectivos países, uns já consagrados, outros que o virão a ser. O Benfica prossegue, desde há anos, uma estratégia de acaso na qual as escolhas – de treinadores a jogadores – parecem navegar ao sabor dos objectivos mais ou menos indecifrável dos seus dirigentes.
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Se quisesse fazer um ranking dos três clubes mais representativos do futebol português de clubes classificava-os assim: 1º – Sporting; 2º – F. C. Porto; 3º – Benfica. Este é o ranking competitivo, segundo os padrões tradicionais a qualquer negócio. Mas, na minha afectividade, o clube que ocupa o primeiro lugar no ranking é um dos últimos no ranking da competição. E não imaginam quantos milhares de clubes ocupam os últimos lugares nas competições e o primeiro lugar nos corações dos adeptos.
segunda-feira, outubro 30
PEQUENOS ATÉ A OLHAR A GRANDEZA DOS IRMÃOS
Fotografia de sophie thouvenin
É chocante a falta de atenção que as estações de TV portuguesas dedicaram às eleições presidenciais no Brasil. Tudo espremido foi zero. O horário até não era desfavorável. Ao fim da noite os resultados estavam, neste 2º turno, definidos mas, no 1º turno, a indefinição durou até ao fim.
Pois nem na primeira nem na segunda volta (turno) os canais de TV portugueses deram qualquer atenção ao acontecimento. Somente a SIC – Notícias (cabo) se dignou dar notícia que se ficou pela comunicação, via telefone, da sua corresponde no Rio. De resto o que se sentiu foi um profundo alheamento ao contrário do que acontece, habitualmente, com as eleições presidenciais norte-americanas.
Para que se tenha uma ideia da importância das eleições no Brasil basta olhar para alguns números. Falemos, somente, em votos expressos, pois o voto no Brasil é obrigatório, o que não acontece em Portugal. Nas últimas eleições presidenciais, de 2006, em Portugal, votaram 5.590.132 (cinco milhões quinhentos e noventa mil, cento e trinta e dois) eleitores e nas legislativas, de 2005, 5.747.834. No 2º turno das eleições presidenciais, de ontem, no Brasil, votaram 125.912.935 (cento e vinte e cinco milhões novecentos e doze mil, novecentos e trinta e cinco) eleitores. [O apuramento ainda não está concluído.]
Isto quer dizer que os 5.590.132 eleitores das presidenciais, em Portugal, representam cerca de 4,4% do eleitorado que votou nas presidenciais no Brasil. E que esses mesmos 5.590.132 eleitores das presidenciais portuguesas representam, somente, cerca de 9,6% dos 58.295.042 eleitores que votaram em Lula da Silva, reelegendo-o presidente da República do Brasil.
Estou certo ou estou errado? Ora se a tradição da lusofonia está do lado de cá do atlântico, a sua viabilidade está do lado de lá. Se Portugal sempre foi um país pequeno, em dimensão física e demográfica, isso não o obriga a que seja pequeno nas relações que estabelece consigo próprio, com os países de língua portuguesa e com o mundo.
Podíamos ser pequenos no corpo e grandes no espírito mas, infelizmente, teimamos em ser pequenos em tudo. Mesmo na informação que dos outros prestamos a nós próprios. PEQUENOS ATÉ A OLHAR A GRANDEZA DOS IRMÃOS!
É chocante a falta de atenção que as estações de TV portuguesas dedicaram às eleições presidenciais no Brasil. Tudo espremido foi zero. O horário até não era desfavorável. Ao fim da noite os resultados estavam, neste 2º turno, definidos mas, no 1º turno, a indefinição durou até ao fim.
Pois nem na primeira nem na segunda volta (turno) os canais de TV portugueses deram qualquer atenção ao acontecimento. Somente a SIC – Notícias (cabo) se dignou dar notícia que se ficou pela comunicação, via telefone, da sua corresponde no Rio. De resto o que se sentiu foi um profundo alheamento ao contrário do que acontece, habitualmente, com as eleições presidenciais norte-americanas.
Para que se tenha uma ideia da importância das eleições no Brasil basta olhar para alguns números. Falemos, somente, em votos expressos, pois o voto no Brasil é obrigatório, o que não acontece em Portugal. Nas últimas eleições presidenciais, de 2006, em Portugal, votaram 5.590.132 (cinco milhões quinhentos e noventa mil, cento e trinta e dois) eleitores e nas legislativas, de 2005, 5.747.834. No 2º turno das eleições presidenciais, de ontem, no Brasil, votaram 125.912.935 (cento e vinte e cinco milhões novecentos e doze mil, novecentos e trinta e cinco) eleitores. [O apuramento ainda não está concluído.]
Isto quer dizer que os 5.590.132 eleitores das presidenciais, em Portugal, representam cerca de 4,4% do eleitorado que votou nas presidenciais no Brasil. E que esses mesmos 5.590.132 eleitores das presidenciais portuguesas representam, somente, cerca de 9,6% dos 58.295.042 eleitores que votaram em Lula da Silva, reelegendo-o presidente da República do Brasil.
Estou certo ou estou errado? Ora se a tradição da lusofonia está do lado de cá do atlântico, a sua viabilidade está do lado de lá. Se Portugal sempre foi um país pequeno, em dimensão física e demográfica, isso não o obriga a que seja pequeno nas relações que estabelece consigo próprio, com os países de língua portuguesa e com o mundo.
Podíamos ser pequenos no corpo e grandes no espírito mas, infelizmente, teimamos em ser pequenos em tudo. Mesmo na informação que dos outros prestamos a nós próprios. PEQUENOS ATÉ A OLHAR A GRANDEZA DOS IRMÃOS!
domingo, outubro 29
LORCA
Federico Garcia Lorca
Ressonância de 29 de Outubro de 2004. Ainda sem fotografias, neste dia, dois anos atrás, publiquei Pequeño Poema Infinito e, dois dias depois, Romance de la guardia civil española.
Ressonância de 29 de Outubro de 2004. Ainda sem fotografias, neste dia, dois anos atrás, publiquei Pequeño Poema Infinito e, dois dias depois, Romance de la guardia civil española.
PRESIDENCIAIS NO BRASIL - ÚLTIMO EPISÓDIO
Imagem Daqui
Hoje o povo vota no Brasil, para a eleição do Presidente da República. O voto no Brasil é obrigatório e electrónico. Lula é o favorito. Se ganhar terá, no renovado mandato, de ser mais Lula e menos PT. Todos os que estão atentos à realidade da América Latina entendem que Lula é, nos nossos dias, um moderado. Não encarna a linhagem populista vencedora em alguns outros países do continente, não coloca a solidariedade social em confronto com a economia de mercado, não perde o sentido de estado nas relações externas, não deixa de ser um parceiro credível para o ocidente mantendo abertas as pontes para o oriente …
Hoje o povo vota no Brasil, para a eleição do Presidente da República. O voto no Brasil é obrigatório e electrónico. Lula é o favorito. Se ganhar terá, no renovado mandato, de ser mais Lula e menos PT. Todos os que estão atentos à realidade da América Latina entendem que Lula é, nos nossos dias, um moderado. Não encarna a linhagem populista vencedora em alguns outros países do continente, não coloca a solidariedade social em confronto com a economia de mercado, não perde o sentido de estado nas relações externas, não deixa de ser um parceiro credível para o ocidente mantendo abertas as pontes para o oriente …
sábado, outubro 28
IMBRÓGLIOS
albert lemoine
Oh Juvenal, obrigado por teres escrito tão claro acerca de dois imbróglios dos mais antigos deste nosso antigo Portugal. Nada é mais difícil do que afrontar as heranças do colonialismo e da ditadura.
Oh Juvenal, obrigado por teres escrito tão claro acerca de dois imbróglios dos mais antigos deste nosso antigo Portugal. Nada é mais difícil do que afrontar as heranças do colonialismo e da ditadura.
OITO VERSOS PARA DEZASSEIS ANOS
SONJA THOMSEN
Perdemos a proximidade, perdemos tudo
Quem nos aqueça a vontade, nos apeteça
Perdemos a luz do lume que nos alumia
Os sentidos despertos, os braços abertos
Se perdem nas curvas quentes do desejo
Nos perdemos se nos encontramos a sós
Naquela fresca voz quente que nos beija
E lembra afinal que não perdemos nada
Lisboa, 27 de Outubro de 2006
Perdemos a proximidade, perdemos tudo
Quem nos aqueça a vontade, nos apeteça
Perdemos a luz do lume que nos alumia
Os sentidos despertos, os braços abertos
Se perdem nas curvas quentes do desejo
Nos perdemos se nos encontramos a sós
Naquela fresca voz quente que nos beija
E lembra afinal que não perdemos nada
Lisboa, 27 de Outubro de 2006
sexta-feira, outubro 27
DIA DE ANIVERSÁRIO
“Manuel Party” – desenho do meu filho pelos seus 10 anos
Neste dia exacto, 16 anos atrás, nasceu o meu filho Manuel. Este texto foi escrito, em 22 de Setembro passado, a pedido dele, para integrar o “portfolio” da disciplina de português do 10º ano. Publico-o como celebração do seu aniversário e em homenagem à sua mãe que só aparentemente dele está ausente. A professora, por sua vez, com razão, estranhou a ausência de parágrafos. Mas o texto, de facto, é mesmo assim. Uma espécie de mancha compacta povoada de palavras que exprimem uma imagem absolutamente subjectiva de alguém a quem queremos mais do que tudo.
O meu filho pediu-me para escrever um texto acerca dele próprio. Este é o texto mais difícil de escrever. Quando tinha a idade que ele tem agora as minhas dificuldades nos estudos eram mais acentuadas. A descoberta do corpo, nos alvores da adolescência, é fonte de prazeres e de medos. Julgo que sofri mais nessa fase da vida. Subjectividades. Nunca seria capaz de pedir aos meus pais que escrevessem um texto acerca de mim. Não que não fossem capazes apesar do nível de escolaridade que alcançaram ser mais baixo do que aquele que me deixaram de herança. Mas porque o olhar do meu filho acerca do papel dos pais mudou. Assim como mudou o seu olhar acerca do papel do professor e da escola. Ele tem, ao contrário dos pais na sua idade, mais capacidade de crítica e mais autonomia para expressar as suas opiniões. Gosta de participar e excede-se, porventura, na sua vontade de partilhar o espaço comum. Desde criança que exercita a sua curiosidade ouvindo todas as notícias. Mas, ao contrário das aparências, é tímido. Uma herança familiar. Receia enfrentar o desconhecido mas gosta de ouvir as discussões que transcendem a sua capacidade de entendimento. Gosta de discutir os temas da política e, em regra, é capaz de formular sínteses coerentes e equilibradas. Precisa de participar em actividades colectivas. Não sendo o teatro, ou a música, que seja o “parlamento”. Exercitará a capacidade de argumentação, a arte da palavra e as vantagens da síntese. Tem aprendido, progressivamente, a gerir a autonomia que lhe é oferecida e a organizar os seus tempos. Amadureceu a consciência de que precisa de trabalhar mais tempo e de forma mais organizada. É gentil. Vive no seio de uma família estruturada, uma tradição familiar que enraíza nas gerações passadas. É seguro. Desde criança que se enfurece quando lhe escapa das mãos qualquer objecto. Aprendeu a ouvir música para a qual sempre manifestou uma especial predilecção. É apreciador da natureza e da sua preservação, em particular, dos animais. Em criança aprendeu a pescar e a arranjar o peixe de que conhece todas as espécies. Aprecia os amigos, honra a intimidade e guarda os segredos. Entusiasma-se e distrai-se. Amadurece devagar. Sonha.
Neste dia exacto, 16 anos atrás, nasceu o meu filho Manuel. Este texto foi escrito, em 22 de Setembro passado, a pedido dele, para integrar o “portfolio” da disciplina de português do 10º ano. Publico-o como celebração do seu aniversário e em homenagem à sua mãe que só aparentemente dele está ausente. A professora, por sua vez, com razão, estranhou a ausência de parágrafos. Mas o texto, de facto, é mesmo assim. Uma espécie de mancha compacta povoada de palavras que exprimem uma imagem absolutamente subjectiva de alguém a quem queremos mais do que tudo.
O meu filho pediu-me para escrever um texto acerca dele próprio. Este é o texto mais difícil de escrever. Quando tinha a idade que ele tem agora as minhas dificuldades nos estudos eram mais acentuadas. A descoberta do corpo, nos alvores da adolescência, é fonte de prazeres e de medos. Julgo que sofri mais nessa fase da vida. Subjectividades. Nunca seria capaz de pedir aos meus pais que escrevessem um texto acerca de mim. Não que não fossem capazes apesar do nível de escolaridade que alcançaram ser mais baixo do que aquele que me deixaram de herança. Mas porque o olhar do meu filho acerca do papel dos pais mudou. Assim como mudou o seu olhar acerca do papel do professor e da escola. Ele tem, ao contrário dos pais na sua idade, mais capacidade de crítica e mais autonomia para expressar as suas opiniões. Gosta de participar e excede-se, porventura, na sua vontade de partilhar o espaço comum. Desde criança que exercita a sua curiosidade ouvindo todas as notícias. Mas, ao contrário das aparências, é tímido. Uma herança familiar. Receia enfrentar o desconhecido mas gosta de ouvir as discussões que transcendem a sua capacidade de entendimento. Gosta de discutir os temas da política e, em regra, é capaz de formular sínteses coerentes e equilibradas. Precisa de participar em actividades colectivas. Não sendo o teatro, ou a música, que seja o “parlamento”. Exercitará a capacidade de argumentação, a arte da palavra e as vantagens da síntese. Tem aprendido, progressivamente, a gerir a autonomia que lhe é oferecida e a organizar os seus tempos. Amadureceu a consciência de que precisa de trabalhar mais tempo e de forma mais organizada. É gentil. Vive no seio de uma família estruturada, uma tradição familiar que enraíza nas gerações passadas. É seguro. Desde criança que se enfurece quando lhe escapa das mãos qualquer objecto. Aprendeu a ouvir música para a qual sempre manifestou uma especial predilecção. É apreciador da natureza e da sua preservação, em particular, dos animais. Em criança aprendeu a pescar e a arranjar o peixe de que conhece todas as espécies. Aprecia os amigos, honra a intimidade e guarda os segredos. Entusiasma-se e distrai-se. Amadurece devagar. Sonha.
quinta-feira, outubro 26
SIM
Fotografia de sophie thouvenin
"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
SIM
"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
SIM
TRÁGICAS IRONIAS
Fidel Castro
Ressonância de 26 de Outubro de 2004. Fidel Castro está, ao que tudo indica, gravemente doente e … Loyola de Palácio também.
Ler, na íntegra, em IR AO FUNDO E VOLTAR
Ressonância de 26 de Outubro de 2004. Fidel Castro está, ao que tudo indica, gravemente doente e … Loyola de Palácio também.
Ler, na íntegra, em IR AO FUNDO E VOLTAR
EDUCAÇÃO - FEIRA DO LIVRO
Uma Exposição de Livros, editados pelo Ministério da Educação, vulgo Feira do Livro, exclusivamente acerca de temas da educação, é a actividade a que tenho dedicado o meu tempo nos últimos dias. Presente no “Espaço Noesis” – Av. 24 de Julho – 140 C – até à próxima 6ª feira. Quando se abordam os temas da educação, com seriedade, apesar de todas as dificuldades e distorções, percebem-se os grandes avanços alcançados nesta área, em Portugal, nos últimos anos e que prosseguirão, certamente, no próximo futuro.
quarta-feira, outubro 25
PRESIDENCIAIS - FRANÇA
Fotografia Daqui
Ségolène Royal caminha para a Presidência de França. É mulher e dizem que é atraente. Todas as evidências apontam nesse sentido. Ainda bem. A sua imagem faz caminho pois vivemos numa democracia mediática. As suas ideias são bastante claras e soltam-se da cartilha da esquerda tradicional. Os socialistas agitam-se. Ainda bem. A França agita-se. A democracia política agradece. Mas, suponho, que no imaginário dos franceses deve bailar este pequeno problema: nunca a França se confrontou com uma hipótese credível de eleger um presidente – mulher. Isso é duro. Soltam-se os demónios, quer à esquerda, quer à direita. Os conservadores “do género” distribuem-se por todos os lados do hemiciclo.
Entretanto o debate político entre os candidatos a candidatos socialistas às presidenciais francesas está a aquecer. Os socialistas portugueses deveriam segui-lo com atenção. Não se trata de seguidismo em relação aos temas centrais desse debate mas, quer-me parecer, que há matérias merecedoras de atenção e que devem ser levadas a sério.
Royal se impone a sus rivales en el tercer debate de los candidatos socialistas franceses
Ségolène Royal caminha para a Presidência de França. É mulher e dizem que é atraente. Todas as evidências apontam nesse sentido. Ainda bem. A sua imagem faz caminho pois vivemos numa democracia mediática. As suas ideias são bastante claras e soltam-se da cartilha da esquerda tradicional. Os socialistas agitam-se. Ainda bem. A França agita-se. A democracia política agradece. Mas, suponho, que no imaginário dos franceses deve bailar este pequeno problema: nunca a França se confrontou com uma hipótese credível de eleger um presidente – mulher. Isso é duro. Soltam-se os demónios, quer à esquerda, quer à direita. Os conservadores “do género” distribuem-se por todos os lados do hemiciclo.
Entretanto o debate político entre os candidatos a candidatos socialistas às presidenciais francesas está a aquecer. Os socialistas portugueses deveriam segui-lo com atenção. Não se trata de seguidismo em relação aos temas centrais desse debate mas, quer-me parecer, que há matérias merecedoras de atenção e que devem ser levadas a sério.
Royal se impone a sus rivales en el tercer debate de los candidatos socialistas franceses
RUY BELO
e neste momento eu sei eu sinto ao certo o que significam certas palavras como a palavra paz
Deixa-te estar aqui perdoa que o tempo te fique na face na forma de rugas
perdoa pagares tão alto preço por estar aqui
prossegue nos gestos não pares procura permanecer sempre presente
deixa docemente desvanecerem-se um por um os dias
e eu saber que aqui estás de maneira a poder dizer
sou isto é certo mas sei que tu estás aqui
Ruy Belo
Tu Estás Aqui – in “Toda a Terra”
Tu Estás Aqui – in “Toda a Terra”
[Excerto de um dos mais belos poemas da língua portuguesa. Repito depois de o ter lido na íntegra na Catedral.]
terça-feira, outubro 24
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