sábado, novembro 4

ENTÃO GANHOU O BUSH, NÃO FOI?

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No ano 2050 ninguém se vai lembrar desta madrugada
em que fui dormir com a certeza do resultado amargo
da refrega entre dois campos vizinhos mas separados
pelo largo estuário do rio onde correm diferentes olhares
sobre o homem, a vida, a morte, a paz e a guerra.
Todas as diferenças onde se amparam o viver das gentes,
ilustres e vulgares, milhões que acreditam nas escolhas
que julgam mudarem o seu futuro. Mas qual futuro?

Então ganhou o Bush, não foi?

O meu filho, pelas sete da manhã, abriu a porta do quarto
e deu-me a notícia cheio de uma ingénua esperança
de que a sorte mudasse pelos caprichos de um estado
que acorda mais tardio para a coisa. Mas não, eu já sabia,
desde antes. A noite não se faz dia ao estalido
dos dedos de uma mão mesmo que sejam um milhão,
dez, cem milhões de dedos das mãos dadas todas do mundo.
O guerreiro quer guerra e o infiel é o seu duplo.

Então, ganhou o Bush, não foi?

Perguntou-me, a medo, o empregado de mesa
que me serve todos os dias, solícito, além do melão fresco,
o frugal sumo de laranja e os dois rissóis do meu contentamento.
Pois foi, era o que tinha de ser, e o que tem de ser tem muita força.

Então ganhou o Bush, não foi?

Foi!
Que lhe faça bom proveito e ao povo que nele confia.

Tenho a certeza que os poetas da América não
vão deixar de poetar e a mim só me interessa
a POESIA
nem a mentira,
nem a ignomínia,
nem o negócio da morte,
nem da guerra preventiva a cobardia,
nem a vã glória que o vencedor anuncia.

Então ganhou o Bush, não foi?

QUE VIVA A POESIA!

Lisboa, 3 de Novembro de 2004

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