Após ganhar o Oscar na categoria de Melhor Direção por Os Infiltrados, Martin Scorsese anuncia seu novo projeto: The Rolling Stones - Shine a Light.
Essa não é a única parceria entre Mick Jagger e Scorsese: mais um filme está sendo produzido por ambos, com estréia prevista para 2009. The Long Play também abordará o rock, mas dessa vez como fator de ligação entre dois amigos. A estréia de The Rolling Stones - Shine a Light está prevista para o dia 21 de setembro nos EUA.
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Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, julho 3
segunda-feira, julho 2
OS "BOYS" AGORA SÃO DOS OUTROS
Fotografia de Hélder Gonçalves
Passou a moda dos “jobs for the boys”. Nunca mais ninguém falou disso. Esperava que surgissem umas estatísticas com os números dos “boys” socialistas admitidos para todo o género de lugares. Passam os meses e nada. Dá que pensar!
A oposição ao governo passou directamente para a fase da defesa dos seus “boys” que o governo socialista deixou ficar no exercício de funções depois de ganhar as eleições ou que nomeou já depois delas ganhas. Assiste-se, hoje, a uma situação paradoxal: o governo socialista é empurrado para a defesa dos “boys” do PSD, e aparentados, sob pena de ser acusado de matar a liberdade.
O mais extraordinário desta situação é alguns socialistas, incluindo dirigentes ilustres, tomarem a defesa dos “boys” da oposição em nome das liberdades que todos, na verdade, exercem à tripa forra. Mas esses mesmos dirigentes, tempos atrás, aquando dos desmandos dos governos de direita não abriram a boca na defesa dos socialistas politicamente perseguidos, humilhados e, com a conivência do silêncio de todos, lançados para a valeta.
Perderam a noção de qual é a cor da liberdade? Como dizia Jorge de Sena, num célebre verso: “é verde, verde e vermelha.”
Passou a moda dos “jobs for the boys”. Nunca mais ninguém falou disso. Esperava que surgissem umas estatísticas com os números dos “boys” socialistas admitidos para todo o género de lugares. Passam os meses e nada. Dá que pensar!
A oposição ao governo passou directamente para a fase da defesa dos seus “boys” que o governo socialista deixou ficar no exercício de funções depois de ganhar as eleições ou que nomeou já depois delas ganhas. Assiste-se, hoje, a uma situação paradoxal: o governo socialista é empurrado para a defesa dos “boys” do PSD, e aparentados, sob pena de ser acusado de matar a liberdade.
O mais extraordinário desta situação é alguns socialistas, incluindo dirigentes ilustres, tomarem a defesa dos “boys” da oposição em nome das liberdades que todos, na verdade, exercem à tripa forra. Mas esses mesmos dirigentes, tempos atrás, aquando dos desmandos dos governos de direita não abriram a boca na defesa dos socialistas politicamente perseguidos, humilhados e, com a conivência do silêncio de todos, lançados para a valeta.
Perderam a noção de qual é a cor da liberdade? Como dizia Jorge de Sena, num célebre verso: “é verde, verde e vermelha.”
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OS TEMPLÁRIOS (II)
Os Templários
Ainda a propósito dos Templários. “São Bernardo passou a apoiar os Templários, que lhe parecia representarem um modelo ideal de regeneração de um sector importante da sociedade. Escreveu então o seu célebre tratado Elogio da Nova Milícia (De laude novae militiae)
Adoptando uma forma literária colorida e vigorosa, o abade de Claraval tece um rasgado elogio àqueles que põem as suas armas ao serviço de Deus e, sem medo, consagram a sua vida a guiar os pobres e os fracos pelos caminhos terrestres percorridos por Jesus Cristo. Os cavaleiros mundanos vivem no luxo, amolecidos sob as suas túnicas de seda e cobertos de ouro, cultivam a frivolidade e a ligeireza, são conduzidos pela vaidade e o desejo de uma glória vã. Não formam uma "milícia" mas uma malícia. Os novos cavaleiros, pelo contrário, defendem, na Terra Santa, a “herança e a casa de Deus” manchada pelos infiéis.”
(…)
“O apoio de São Bernardo que, na década de 1130, e durante os vinte anos que se seguiram, se tornou a mais influente personalidade do mundo cristão, dissipou as reticências que ainda rodeavam o projecto templário. Em 1139, o papa Inocêncio II aprovou sem reservas a nova milícia, por meio da bula Omne datum optimum, e concedeu-lhe a protecção papal, tornando-a dependente da Santa Sé e isenta de jurisdição episcopal.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”4. O Apelo de Jerusalém”,”Os Templários”, pg. 60 (17).
Ainda a propósito dos Templários. “São Bernardo passou a apoiar os Templários, que lhe parecia representarem um modelo ideal de regeneração de um sector importante da sociedade. Escreveu então o seu célebre tratado Elogio da Nova Milícia (De laude novae militiae)
Adoptando uma forma literária colorida e vigorosa, o abade de Claraval tece um rasgado elogio àqueles que põem as suas armas ao serviço de Deus e, sem medo, consagram a sua vida a guiar os pobres e os fracos pelos caminhos terrestres percorridos por Jesus Cristo. Os cavaleiros mundanos vivem no luxo, amolecidos sob as suas túnicas de seda e cobertos de ouro, cultivam a frivolidade e a ligeireza, são conduzidos pela vaidade e o desejo de uma glória vã. Não formam uma "milícia" mas uma malícia. Os novos cavaleiros, pelo contrário, defendem, na Terra Santa, a “herança e a casa de Deus” manchada pelos infiéis.”
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“O apoio de São Bernardo que, na década de 1130, e durante os vinte anos que se seguiram, se tornou a mais influente personalidade do mundo cristão, dissipou as reticências que ainda rodeavam o projecto templário. Em 1139, o papa Inocêncio II aprovou sem reservas a nova milícia, por meio da bula Omne datum optimum, e concedeu-lhe a protecção papal, tornando-a dependente da Santa Sé e isenta de jurisdição episcopal.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”4. O Apelo de Jerusalém”,”Os Templários”, pg. 60 (17).
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domingo, julho 1
CHAR/CAMUS - A FRATERNIDADE
Fotografia daqui
Nos inícios de 1958, no meio de uma troca de correspondência com notícias circunstanciais, surge uma referência a um herói incógnito da Resistência.
Em 24 de Fevereiro de 58 Char escreve um postal a Camus: “ (…) Arthur Charmasson, le brave Arthur, a dû être amputé du pied gauche, à la suite d’un accident. Cela m’a bouleversé. Cette bonne bête des bois tout à coup mutilée … »
Camus responde a 3 de Março : « Cher René, Quelle triste nouvelle! Je pense à cet homme, si plein de poids, si « vertical » - et cette atteinte à sa force ! Comme il doit être triste ! Dites-lui beaucoup d’affections de ma part. (…)
Numa outra carta, Char escreve a Jacques Dupin, descrevendo o acidente e uma memória do seu passado como resistente:
“ (…) Mon vieux compagnon, alors que j’avait couvert de mon sang sous l’Occupation quand il me prit dans ses bras après mon accident et me porta à travers les Allemands présents qui me cherchaient, et me sauva, mon vieux compagnon, je l’ai porté dans mes bras à mon tour. […] ce genre d’épreuve est terrible. Arthur durant le trajet de L’Isle à Cavaillon ne cessait de me répéter : « René, fais un miracle. » Ne souris pas, Jacques – c’est cela la fraternité, la confiance en l’homme, cette croyance de bête naïve, dans les cas extrêmes. Je suis bouleversé. »
Nos inícios de 1958, no meio de uma troca de correspondência com notícias circunstanciais, surge uma referência a um herói incógnito da Resistência.
Em 24 de Fevereiro de 58 Char escreve um postal a Camus: “ (…) Arthur Charmasson, le brave Arthur, a dû être amputé du pied gauche, à la suite d’un accident. Cela m’a bouleversé. Cette bonne bête des bois tout à coup mutilée … »
Camus responde a 3 de Março : « Cher René, Quelle triste nouvelle! Je pense à cet homme, si plein de poids, si « vertical » - et cette atteinte à sa force ! Comme il doit être triste ! Dites-lui beaucoup d’affections de ma part. (…)
Numa outra carta, Char escreve a Jacques Dupin, descrevendo o acidente e uma memória do seu passado como resistente:
“ (…) Mon vieux compagnon, alors que j’avait couvert de mon sang sous l’Occupation quand il me prit dans ses bras après mon accident et me porta à travers les Allemands présents qui me cherchaient, et me sauva, mon vieux compagnon, je l’ai porté dans mes bras à mon tour. […] ce genre d’épreuve est terrible. Arthur durant le trajet de L’Isle à Cavaillon ne cessait de me répéter : « René, fais un miracle. » Ne souris pas, Jacques – c’est cela la fraternité, la confiance en l’homme, cette croyance de bête naïve, dans les cas extrêmes. Je suis bouleversé. »
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CAMUS/CHAR E O NOBEL - 1957
Camus e Francine na cerimónia do Nobel
Estocolmo – Dezembro de 1957
O episódio do Nobel, atribuído a Camus em 1957, suscitou as mais diversas reacções. Muitos ficaram, como sempre acontece, condoídos, outros enraivecidos, mas Char, como seria de esperar, entusiasmado, escreveu-lhe, assim que soube da notícia, no dia 17 de Outubro de 1957:
"Mon cher Albert,
J’espére, je crois que l’on ne nous dit pas ce qui ne sera pas. Donc cette assurance dans la presse m’incite déja sans réserve à me réjouir et à truover ce jeudi 17 octobre 1957 le meilleur, le plus éclairé, oui le meilleus jour depuis long-temps pour moi entre tant de jours désespérants.
Je vous pris d’accepter, en souvenis d’aujourd’hui, cette petite boîte qui me sauva la vie jadis dans le Maquis et que j’ai conservée comme une relique vraiment intime.
Je vous presse la main fort, affectueusement, fraternellement,
René Char"
Duas notas:
Estocolmo – Dezembro de 1957
O episódio do Nobel, atribuído a Camus em 1957, suscitou as mais diversas reacções. Muitos ficaram, como sempre acontece, condoídos, outros enraivecidos, mas Char, como seria de esperar, entusiasmado, escreveu-lhe, assim que soube da notícia, no dia 17 de Outubro de 1957:
"Mon cher Albert,
J’espére, je crois que l’on ne nous dit pas ce qui ne sera pas. Donc cette assurance dans la presse m’incite déja sans réserve à me réjouir et à truover ce jeudi 17 octobre 1957 le meilleur, le plus éclairé, oui le meilleus jour depuis long-temps pour moi entre tant de jours désespérants.
Je vous pris d’accepter, en souvenis d’aujourd’hui, cette petite boîte qui me sauva la vie jadis dans le Maquis et que j’ai conservée comme une relique vraiment intime.
Je vous presse la main fort, affectueusement, fraternellement,
René Char"
Duas notas:
1. Camus escreveu nos “Cadernos” nesse dia: “Nobel. Étrange sentiment d’accablement et de mélancolie. À vingt ans, pauvre, et nu, j’ai connu la vraie gloire. Ma mère.”
2. Ainda nos “Cadernos", em 19 de Outubro, escreveu acerca dos ataques a que estava a ser sujeito: “Effrayé par ce qui m’arrive et que je n’ai pas démandé. Et pout tout arranger attaques si basses que j’en ai le coeur serré. Rebatet ose parler de ma nostalgie de commander des pelotons d’exécution alors qu’il est un de ceux dont j’ai demandé, avec d’autres écrivains de la Résistance, la grâce quand il fut condamné à mort. Il a été gracié, mais il ne me fait pas grâce. Envie à nouveau de quitter ce pays. Mais pour où?”
2. Ainda nos “Cadernos", em 19 de Outubro, escreveu acerca dos ataques a que estava a ser sujeito: “Effrayé par ce qui m’arrive et que je n’ai pas démandé. Et pout tout arranger attaques si basses que j’en ai le coeur serré. Rebatet ose parler de ma nostalgie de commander des pelotons d’exécution alors qu’il est un de ceux dont j’ai demandé, avec d’autres écrivains de la Résistance, la grâce quand il fut condamné à mort. Il a été gracié, mais il ne me fait pas grâce. Envie à nouveau de quitter ce pays. Mais pour où?”
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sábado, junho 30
MEMÓRIAS - I
Fotografia de Hélder Gonçalves
Aquela singular corrente de memórias voa no tempo
Revolto-me em mudança permanente com o espelho
No qual espreito e nele me revejo em reminiscências
De mim naqueles olhares pacientes de mãos quentes
Abertas ao contar dos dias ou fechadas como punhos
Em seus gestos diligentes revendo o futuro do futuro
Com a morte pendurada nas paredes, os meus muros
São transparentes de cal pura brancos sem espessura
E o meu sangue goteja dos retratos sem que me veja.
Lisboa, 5 de Setembro de 2006
Aquela singular corrente de memórias voa no tempo
Revolto-me em mudança permanente com o espelho
No qual espreito e nele me revejo em reminiscências
De mim naqueles olhares pacientes de mãos quentes
Abertas ao contar dos dias ou fechadas como punhos
Em seus gestos diligentes revendo o futuro do futuro
Com a morte pendurada nas paredes, os meus muros
São transparentes de cal pura brancos sem espessura
E o meu sangue goteja dos retratos sem que me veja.
Lisboa, 5 de Setembro de 2006
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sexta-feira, junho 29
CAMUS/CHAR - VERÃO DE 57
"Ne te courbe que pour aimer..." René Char
O verão de 57 parece ter causado uma estranha sensação de ausência em ambos os amigos cada um deles viajando para seu lado. Era o tempo das cartas e dos postais, letras desenhadas à mão, (tenho uma grande colecção de postais trocados entre os meus pais, enquanto namorados, e a minha mãe escreveu-me cartas e postais até à morte.), o tempo tinha um outro sentido, a urgência a dimensão de alguns dias,
Char, em 14 de Setembro de 1957, interrogava Camus através de um postal ilustrado intitulado “Les Dernières Feuilles”: “Un peu, où êtes-vous, cher Albert? J’ai la sensation cruelle, tout à coup, de vous avoir perdu. Le Temps se fait en forme de hache. À quand ? Votre »
Camus, três dias depois, escrevia uma carta que duvido seja de resposta : "Cher René: Je suis en Normandie avec mes enfants, prés de Paris en somme, et encore plus près de vous par cœur. (…) Je rentre dans une semaine. Je n’ai rien fait pendant cet été, sur lequel je comptais beaucoup, pourtant (…)
Triste Normandie ! Sage, médiocre et bien peignée. Et puis un été de limaces. Je meurs de soif, privé de lumière [écrit dans la marge gauche de la lettre.]
Chez Michel Gallimard (…)"
E Char, ainda em Setembro, numa carta sem data, rematava, certamente, em resposta : «Cher Albert, Merci pour votre présence réclamée comme un verre d’eau pure, un matin d’extrême désert. Ils sont en si petit nombre ceux que nous aimons réellement et sans réserve, qui nous manquent et à qui nous savons manquer parfois, mystérieusement, si bien que les deux sensations, celle en soi et celle qu’on perçoit chez l’autre apportent même élancement et même souci …
O verão de 57 parece ter causado uma estranha sensação de ausência em ambos os amigos cada um deles viajando para seu lado. Era o tempo das cartas e dos postais, letras desenhadas à mão, (tenho uma grande colecção de postais trocados entre os meus pais, enquanto namorados, e a minha mãe escreveu-me cartas e postais até à morte.), o tempo tinha um outro sentido, a urgência a dimensão de alguns dias,
Char, em 14 de Setembro de 1957, interrogava Camus através de um postal ilustrado intitulado “Les Dernières Feuilles”: “Un peu, où êtes-vous, cher Albert? J’ai la sensation cruelle, tout à coup, de vous avoir perdu. Le Temps se fait en forme de hache. À quand ? Votre »
Camus, três dias depois, escrevia uma carta que duvido seja de resposta : "Cher René: Je suis en Normandie avec mes enfants, prés de Paris en somme, et encore plus près de vous par cœur. (…) Je rentre dans une semaine. Je n’ai rien fait pendant cet été, sur lequel je comptais beaucoup, pourtant (…)
Triste Normandie ! Sage, médiocre et bien peignée. Et puis un été de limaces. Je meurs de soif, privé de lumière [écrit dans la marge gauche de la lettre.]
Chez Michel Gallimard (…)"
E Char, ainda em Setembro, numa carta sem data, rematava, certamente, em resposta : «Cher Albert, Merci pour votre présence réclamée comme un verre d’eau pure, un matin d’extrême désert. Ils sont en si petit nombre ceux que nous aimons réellement et sans réserve, qui nous manquent et à qui nous savons manquer parfois, mystérieusement, si bien que les deux sensations, celle en soi et celle qu’on perçoit chez l’autre apportent même élancement et même souci …
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quinta-feira, junho 28
PLANANDO SOBRE O REFERENDO
Bart Pogoda
"Sócrates tem medo que um referendo à Europa se transforme num teste penalizador para o seu Governo"
"Sócrates tem medo que um referendo à Europa se transforme num teste penalizador para o seu Governo"
Áurea Sampaio, "Visão", 28-06-2007
A Áurea Sampaio lá sabe mas parece-me uma audácia só ao alcance de adivinhos, ou políticos de grande envergadura, atribuir ao actual primeiro-ministro tal medo. O que me parece resultar da realidade das coisas é que ao assumir a Presidência da UE Sócrates não poderia comprometer-se com a realização de um referendo, em Portugal, já que a redacção do chamado Tratado Reformador será o tema central do seu mandato e, como é evidente, a assumpção de tal compromisso referendário, à cabeça, contaminaria todo o processo de negociação.
Pois, ao contrário do que afirma com zelo, Pacheco Pereira, e outros zelotes do compromisso referendário imediato, a negociação destinada à redacção do projecto de Tratado, apesar do compromisso escrito que saiu da reunião do Conselho de 21 e 22 de Junho, não é um trabalho de casa fácil e com sucesso garantido à partida. Para o provar basta atentar na pergunta que um jornalista polaco fez, hoje, ao Secretário de Estado, Lobo Antunes, numa conferência de imprensa em Bruxelas.
Em qualquer caso não há dúvida que, tal como na questão da localização do novo aeroporto de Lisboa, o programa do governo é claro: no que respeita ao aeroporto aquele programa diz, expressamente, que é na OTA; no que respeita ao Tratado europeu diz o seguinte:
“O Governo entende que é necessário reforçar a legitimação democrática do processo de construção europeia, pelo que defende que a aprovação e ratificação do Tratado deva ser precedida de referendo popular, amplamente informado e participado, (…)”
Pela parte que me toca defendo que, salvo qualquer situação absolutamente excepcional que ponha em causa o interesse nacional, o governo, oportunamente, deve propor ao Senhor Presidente da República a realização de um referendo. Para tal será necessário que o Conselho Europeu, previsto para Outubro próximo, aprove o projecto de Tratado que coube à Presidência portuguesa elaborar.
Nesta, como nas matérias decisivas para o futuro de Portugal e da União Europeia, nenhum político que se preze pode ter medo dos grandes desafios e tenho a certeza que se existir algum entrave à realização do referendo não é problema de Sócrates. Será necessário procurar a origem de eventuais resistências noutro lado, porventura, no campo daqueles que, hoje, proclamam a sua urgência!
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quarta-feira, junho 27
OS TEMPLÁRIOS
O Selo dos Templários
“Em Março de 1129, Afonso Henriques confirma a doação que D. Teresa, sua mãe, havia feito do castelo e do termo de Soure à Ordem Militar do Templo de Jerusalém, exactamente um ano antes”. É assim que José Mattoso abre o Capítulo 4, intitulado “O Apelo de Jerusalém”, da sua obra “D. Afonso Henriques”.
Mais à frente prossegue: “O acto a que nos referimos, isto é, a doação de D. Teresa e dos seus barões à Ordem do Templo, e, logo a seguir, a sua confirmação por Afonso Henriques, depois de ter assumido o poder, representam, de facto, a decidida participação do Condado Portucalense nesse amplo movimento de expansão europeia e de projecção da cristandade para fora do espaço onde, até então, tinha estado encerrada.”
(…)
“Trata-se, na verdade, de um acto surpreendente pela sua precocidade, visto que, em Março de 1128, os templários não tinham ainda sido aprovados como uma ordem religiosa, constituíam uma comunidade com pouco mais de uma dúzia de membros e eram desconhecidos na maior parte da Europa.”
E logo de seguida Mattoso faz uma distinção muito interessante: “Além disso, nunca ninguém tinha tido a ideia de criar um exército de monges nem um convento de soldados. O estado de vida religiosa opunha-se à profissão das armas. A função dos milites (os que combatem) considerava-se não só diferente da função dos oratores (os que rezam) mas era incompatível com ela. (…) “Unir num só “estado” cavaleiros e monges parecia uma inovação absurda”.
“Em Março de 1129, Afonso Henriques confirma a doação que D. Teresa, sua mãe, havia feito do castelo e do termo de Soure à Ordem Militar do Templo de Jerusalém, exactamente um ano antes”. É assim que José Mattoso abre o Capítulo 4, intitulado “O Apelo de Jerusalém”, da sua obra “D. Afonso Henriques”.
Mais à frente prossegue: “O acto a que nos referimos, isto é, a doação de D. Teresa e dos seus barões à Ordem do Templo, e, logo a seguir, a sua confirmação por Afonso Henriques, depois de ter assumido o poder, representam, de facto, a decidida participação do Condado Portucalense nesse amplo movimento de expansão europeia e de projecção da cristandade para fora do espaço onde, até então, tinha estado encerrada.”
(…)
“Trata-se, na verdade, de um acto surpreendente pela sua precocidade, visto que, em Março de 1128, os templários não tinham ainda sido aprovados como uma ordem religiosa, constituíam uma comunidade com pouco mais de uma dúzia de membros e eram desconhecidos na maior parte da Europa.”
E logo de seguida Mattoso faz uma distinção muito interessante: “Além disso, nunca ninguém tinha tido a ideia de criar um exército de monges nem um convento de soldados. O estado de vida religiosa opunha-se à profissão das armas. A função dos milites (os que combatem) considerava-se não só diferente da função dos oratores (os que rezam) mas era incompatível com ela. (…) “Unir num só “estado” cavaleiros e monges parecia uma inovação absurda”.
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In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”4. O Apelo de Jerusalém”, “Entre o oriente e o ocidente” e “Uma novidade no mundo cristão””, pgs. 58/59 (16).
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terça-feira, junho 26
CAMUS/CHAR - HUNGRIA 1956
Fotografia daqui
«Correspondência – 1946-1959" trocada entre Albert Camus /René Char. Uma carta curta, dirigida por Camus a Char, após ter recebido, enviada por este, a primeira página do France Soir, de 30 de Outubro de 1956, com a manchete: “Budapest: Staline Abattu”, ilustrada com uma fotografia mostrando o derrube de uma estátua de Staline, que Char anotara com diversas frases de regozijo. Acrescento uma nota do organizador da edição na qual descreve, abreviadamente, os acontecimentos da Revolução Húngara de 1956.
«Correspondência – 1946-1959" trocada entre Albert Camus /René Char. Uma carta curta, dirigida por Camus a Char, após ter recebido, enviada por este, a primeira página do France Soir, de 30 de Outubro de 1956, com a manchete: “Budapest: Staline Abattu”, ilustrada com uma fotografia mostrando o derrube de uma estátua de Staline, que Char anotara com diversas frases de regozijo. Acrescento uma nota do organizador da edição na qual descreve, abreviadamente, os acontecimentos da Revolução Húngara de 1956.
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Albert Camus a René Char – 30 octobre 1956
Cher René:
«La terre tourne» a dit Chepilov.* Oui, elle tourne, et la liberté est le soleil levant. Je garde ce tyran débotté, ces moustaches pleines de sang, en souvenir de nous, de notre long combat, fraternel. Le monde a bon goût, soudain!
Votre ami
A.C.
[*“René Char découpe la une de France-Soir du 30 octobre 1956 et la met sous enveloppe pour Camus. Le 23 octobre, le soulèvement de la Hongrie fait reculer un temps l’URSS. Le 30 octobre, les troupes soviétiques se retirent de Budapest. Nagy annonce la fin du parti unique et la préparation d’élections libres. Mais après un revirement du gouvernement soviétique, le 1 novembre les troupes soviétiques, encerclent à nouveau Budapest. Le 3, le gouvernement demande l’aide de la communauté internationale, le 4 les troupes soviétiques attaquent à l’aube. Des milliers de réfugiés quittent le pays. La résistance hongroise se poursuivra malgré les déportations et les exécutions. Chepilov faisait partie de la vieille garde soviétique qui fut limogée par Khrouchtchev après que celui-ci eut condamné la bureaucratie et le culte de la personnalité sous Staline. Cependant Chepilov revint vite aux affaires. Il fut notamment envoyé à Budapest aux premiers temps de l’insurrection. Ce 30 octobre, Albert Camus prend la parole à un meeting organisé en l’honneur de Salvador de Mandariaga et fait aussi référence à l’héroïque et bouleversante insurrection des étudiants et des ouvrier de Hongrie”.]
Albert Camus a René Char – 30 octobre 1956
Cher René:
«La terre tourne» a dit Chepilov.* Oui, elle tourne, et la liberté est le soleil levant. Je garde ce tyran débotté, ces moustaches pleines de sang, en souvenir de nous, de notre long combat, fraternel. Le monde a bon goût, soudain!
Votre ami
A.C.
[*“René Char découpe la une de France-Soir du 30 octobre 1956 et la met sous enveloppe pour Camus. Le 23 octobre, le soulèvement de la Hongrie fait reculer un temps l’URSS. Le 30 octobre, les troupes soviétiques se retirent de Budapest. Nagy annonce la fin du parti unique et la préparation d’élections libres. Mais après un revirement du gouvernement soviétique, le 1 novembre les troupes soviétiques, encerclent à nouveau Budapest. Le 3, le gouvernement demande l’aide de la communauté internationale, le 4 les troupes soviétiques attaquent à l’aube. Des milliers de réfugiés quittent le pays. La résistance hongroise se poursuivra malgré les déportations et les exécutions. Chepilov faisait partie de la vieille garde soviétique qui fut limogée par Khrouchtchev après que celui-ci eut condamné la bureaucratie et le culte de la personnalité sous Staline. Cependant Chepilov revint vite aux affaires. Il fut notamment envoyé à Budapest aux premiers temps de l’insurrection. Ce 30 octobre, Albert Camus prend la parole à un meeting organisé en l’honneur de Salvador de Mandariaga et fait aussi référence à l’héroïque et bouleversante insurrection des étudiants et des ouvrier de Hongrie”.]
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ROLLING STONES
Imagem daqui
O tempo passa e deixa as suas marcas mas os Rolling Stones surpreendem pela vitalidade que persiste na sua prestação em palco. Acabei de os rever, dezasseis anos depois, e pensei para comigo o que todos nós pensamos: que pena teria sido perder esta oportunidade de os rever. Comovente a evocação de James Brown assim como a mistura de todos os públicos possíveis que, hoje, constitui o seu público. Além do mais uma lição de profissionalismo!
O tempo passa e deixa as suas marcas mas os Rolling Stones surpreendem pela vitalidade que persiste na sua prestação em palco. Acabei de os rever, dezasseis anos depois, e pensei para comigo o que todos nós pensamos: que pena teria sido perder esta oportunidade de os rever. Comovente a evocação de James Brown assim como a mistura de todos os públicos possíveis que, hoje, constitui o seu público. Além do mais uma lição de profissionalismo!
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segunda-feira, junho 25
POLÍTICOS E CIDADÃOS
Bart Pogoda
Quando um político se considera atingido na sua honra e dignidade pessoal está, pelos deveres da função, inibido de se defender tal como qualquer cidadão? Dizem alguns que ser insultado faz parte dos “ossos do ofício” de um político que se preze.
Caso acontecesse que os detentores de cargos políticos – eleitos ou não eleitos – abdicassem da defesa da sua honra e dignidade, enquanto cidadãos, estaríamos a admitir que a política é uma actividade destinada a ser exercida por heróis ou por crápulas.
Os primeiros, pelas suas qualidades de excepção, sairiam sempre incólumes de todos os ataques, os segundos, sairiam, igualmente, incólumes, por serem protegidos pelas regras da indignidade de que seriam eles próprios os mentores e os gestores.
Mas como a democracia é um regime de cidadãos que respondem em igualdade, de direitos e deveres, perante a lei, os políticos são, regra geral, cidadãos comuns, embora empossados, pelo voto da comunidade, em funções executivas ou de representação.
Por esse facto não perdem os seus direitos de cidadania e mal seria se abdicassem de os exercer da mesma forma que a comunicação social é livre de criticar a acção dos políticos, mas não pode, impunemente, manipular e mentir, pondo em causa a sua honra e dignidade, enquanto cidadãos.
É bom não esquecer que estão a correr nas instâncias judiciais muitos processos, além deste, mais recente, resultante de uma acção de José Sócrates, e que reportam a acontecimentos anteriores nos quais foram envolvidos diversos dirigentes políticos socialistas! Ou já se esqueceram?
[A propósito desta citação de António Barreto feita pelo Tomas Vasques.]
Quando um político se considera atingido na sua honra e dignidade pessoal está, pelos deveres da função, inibido de se defender tal como qualquer cidadão? Dizem alguns que ser insultado faz parte dos “ossos do ofício” de um político que se preze.
Caso acontecesse que os detentores de cargos políticos – eleitos ou não eleitos – abdicassem da defesa da sua honra e dignidade, enquanto cidadãos, estaríamos a admitir que a política é uma actividade destinada a ser exercida por heróis ou por crápulas.
Os primeiros, pelas suas qualidades de excepção, sairiam sempre incólumes de todos os ataques, os segundos, sairiam, igualmente, incólumes, por serem protegidos pelas regras da indignidade de que seriam eles próprios os mentores e os gestores.
Mas como a democracia é um regime de cidadãos que respondem em igualdade, de direitos e deveres, perante a lei, os políticos são, regra geral, cidadãos comuns, embora empossados, pelo voto da comunidade, em funções executivas ou de representação.
Por esse facto não perdem os seus direitos de cidadania e mal seria se abdicassem de os exercer da mesma forma que a comunicação social é livre de criticar a acção dos políticos, mas não pode, impunemente, manipular e mentir, pondo em causa a sua honra e dignidade, enquanto cidadãos.
É bom não esquecer que estão a correr nas instâncias judiciais muitos processos, além deste, mais recente, resultante de uma acção de José Sócrates, e que reportam a acontecimentos anteriores nos quais foram envolvidos diversos dirigentes políticos socialistas! Ou já se esqueceram?
[A propósito desta citação de António Barreto feita pelo Tomas Vasques.]
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domingo, junho 24
BATALHA DE SÃO MAMEDE - UMA EFEMÉRIDE ANTIGA
Imagem daqui
Há exactamente 879 anos, no dia 24 de Junho de 1128, travou-se a batalha de São Mamede que é tomada como tendo sido o início do reinado de Afonso Henriques. Diz a lenda que, ao primeiro embate, com as forças do conde de Trava, seu padrasto, Afonso Henriques teria fugido. O relato mais conhecido acerca do começo do reinado de Afonso Henriques atribuía a vitória de São Mamede aos nobres e não ao Infante:
É este o relato na versão mais antiga da IV Crónica Breve de Santa Cruz em texto que data do princípio do século XIV:
“A fazenda foi feita, e foi arrincado Afonso Anriques e foi mui maltreito. E el, indo a ua légua de Guimarães, achou-se com Soeiro Meedes Mãos d’Água, que o viinha ajudar em a fazenda, e disse-lhe: “como viides, senhor, assi?” Respondeu Afonso Henriques: “Venho mui mal, ca me arrincou meu padrasto e minha madre, que está na fazenda com ele.” E Soeiro Meedes lhe disse: “Nom fezeste siso, que aa batalha fostes sem mim, mas tornade-vos comigo e prenderemos vosso padrasto e vossa madre co ele”. E el disse: “Deus aguise que seja assi,” E Soeiro Mendes lhe disse: “ vós verêes que assi seerá.” E tornou-se entonces com el a batalha, e venceu-a e prendeu seu padrasto e sua madre.” (Simplifiquei alguma pontuação.)
Eis o relato que concede à lenda o seu lugar na história da batalha de São Mamede e aos nobres o papel decisivo na vitória de Afonso Henriques que, assim, teria ficado na sua dependência.
José Mattoso, de cuja biografia de Afonso Henriques retiro os elementos que aqui vos deixo, remata o capítulo 3 da sua obra, intitulado: “Os primeiros passos de um jovem príncipe”, com as seguintes palavras:
“ (…) Tomando como fundamento a evolução dos sinais de validação usados na chancelaria régia, dir-se-ia que só mais tarde, a partir dos anos 1150-1160, se atribuiria à autoridade do fundador da monarquia o carácter de um carisma pessoal. Estes indícios devem relacionar-se com o papel que os barões portucalenses desempenharam na “revolução” que expulsou os Travas e deu o poder a Afonso Henriques, deixando-o, todavia, dependente da nobreza nortenha até ele se emancipar da sua influência, à medida que foi assumindo um papel cada vez mais decisivo na condução da guerra santa.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”, pgs. 47 e 57 (15).
Há exactamente 879 anos, no dia 24 de Junho de 1128, travou-se a batalha de São Mamede que é tomada como tendo sido o início do reinado de Afonso Henriques. Diz a lenda que, ao primeiro embate, com as forças do conde de Trava, seu padrasto, Afonso Henriques teria fugido. O relato mais conhecido acerca do começo do reinado de Afonso Henriques atribuía a vitória de São Mamede aos nobres e não ao Infante:
É este o relato na versão mais antiga da IV Crónica Breve de Santa Cruz em texto que data do princípio do século XIV:
“A fazenda foi feita, e foi arrincado Afonso Anriques e foi mui maltreito. E el, indo a ua légua de Guimarães, achou-se com Soeiro Meedes Mãos d’Água, que o viinha ajudar em a fazenda, e disse-lhe: “como viides, senhor, assi?” Respondeu Afonso Henriques: “Venho mui mal, ca me arrincou meu padrasto e minha madre, que está na fazenda com ele.” E Soeiro Meedes lhe disse: “Nom fezeste siso, que aa batalha fostes sem mim, mas tornade-vos comigo e prenderemos vosso padrasto e vossa madre co ele”. E el disse: “Deus aguise que seja assi,” E Soeiro Mendes lhe disse: “ vós verêes que assi seerá.” E tornou-se entonces com el a batalha, e venceu-a e prendeu seu padrasto e sua madre.” (Simplifiquei alguma pontuação.)
Eis o relato que concede à lenda o seu lugar na história da batalha de São Mamede e aos nobres o papel decisivo na vitória de Afonso Henriques que, assim, teria ficado na sua dependência.
José Mattoso, de cuja biografia de Afonso Henriques retiro os elementos que aqui vos deixo, remata o capítulo 3 da sua obra, intitulado: “Os primeiros passos de um jovem príncipe”, com as seguintes palavras:
“ (…) Tomando como fundamento a evolução dos sinais de validação usados na chancelaria régia, dir-se-ia que só mais tarde, a partir dos anos 1150-1160, se atribuiria à autoridade do fundador da monarquia o carácter de um carisma pessoal. Estes indícios devem relacionar-se com o papel que os barões portucalenses desempenharam na “revolução” que expulsou os Travas e deu o poder a Afonso Henriques, deixando-o, todavia, dependente da nobreza nortenha até ele se emancipar da sua influência, à medida que foi assumindo um papel cada vez mais decisivo na condução da guerra santa.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”, pgs. 47 e 57 (15).
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CAMUS/CHAR - CORRESPONDÊNCIA
René Char
Finalizada a leitura da “Correspondance – 1946-1959”, entre Albert Camus e René Char (e Anexos). Este tipo de literatura é, para muitos, nos quais me incluo, fascinante tanto mais quanto melhor conhecemos a biografia e a obra das personagens em presença o que, no meu caso, acontece com Camus.
Nesta “Correspondência”, além de uma amizade, profunda e sincera, entre dois homens, que atingindo notoriedade pública não perderam a capacidade de viver a vida em pleno, transparece a consonância ideológica e a partilha de causas comuns, tanto no plano da literatura, e da intervenção artística, como no plano político.
Não esqueçamos que ambos foram membros activos da Resistência e que, em circunstâncias que Char descreve num belo texto intitulado “Naissance et jour levant d’une amitié”, de Janeiro de 1965, se tornaram amigos e confidentes desde o Outono de 1946 (ou 47) até à morte de Camus, em 4 de Janeiro de 1960. Esta é uma daquelas amizades que vai além das circunstâncias da vida tornando-se num caso de fidelidade que, além do mais, é consciente e merecedora da própria reflexão de ambos.
Mais alguns dos meus sublinhados de leitura:
Albert Camus a René Char – 29 de Junho 1953
(…) “Je comprends votre fatigue. Je l’éprouve en ce moment. Ou le monde est fou, ou nous le sommes. Lequel est supportable? Finalement, l’âme est recuite, on vit contre un mur. Mais il faut durer, vous le savez comme moi. Durer seulement, et un jour peut-être … (…)»
René Char a Albert Camus – 13 de Julho de 1953
“On ne se trempe pas deux fois dans la même forêt …Oui peut-être, mais on ne l’apprend que plus tard. Je ne vous envoie pas «une carte postale» mais ma pensée très affectueuse qui peut vous venir de partout où je me trouve.»
E em 20 de Outubro de 1953
(…) “Je me suis souvent entendu demander par des gens au sentiment incrédule: Comment commencer une amitié? Par le vide qui la précède?
«Dans une mains où je me lis et dans un cœur où je me sens», etc. (…)
Finalizada a leitura da “Correspondance – 1946-1959”, entre Albert Camus e René Char (e Anexos). Este tipo de literatura é, para muitos, nos quais me incluo, fascinante tanto mais quanto melhor conhecemos a biografia e a obra das personagens em presença o que, no meu caso, acontece com Camus.
Nesta “Correspondência”, além de uma amizade, profunda e sincera, entre dois homens, que atingindo notoriedade pública não perderam a capacidade de viver a vida em pleno, transparece a consonância ideológica e a partilha de causas comuns, tanto no plano da literatura, e da intervenção artística, como no plano político.
Não esqueçamos que ambos foram membros activos da Resistência e que, em circunstâncias que Char descreve num belo texto intitulado “Naissance et jour levant d’une amitié”, de Janeiro de 1965, se tornaram amigos e confidentes desde o Outono de 1946 (ou 47) até à morte de Camus, em 4 de Janeiro de 1960. Esta é uma daquelas amizades que vai além das circunstâncias da vida tornando-se num caso de fidelidade que, além do mais, é consciente e merecedora da própria reflexão de ambos.
Mais alguns dos meus sublinhados de leitura:
Albert Camus a René Char – 29 de Junho 1953
(…) “Je comprends votre fatigue. Je l’éprouve en ce moment. Ou le monde est fou, ou nous le sommes. Lequel est supportable? Finalement, l’âme est recuite, on vit contre un mur. Mais il faut durer, vous le savez comme moi. Durer seulement, et un jour peut-être … (…)»
René Char a Albert Camus – 13 de Julho de 1953
“On ne se trempe pas deux fois dans la même forêt …Oui peut-être, mais on ne l’apprend que plus tard. Je ne vous envoie pas «une carte postale» mais ma pensée très affectueuse qui peut vous venir de partout où je me trouve.»
E em 20 de Outubro de 1953
(…) “Je me suis souvent entendu demander par des gens au sentiment incrédule: Comment commencer une amitié? Par le vide qui la précède?
«Dans une mains où je me lis et dans un cœur où je me sens», etc. (…)
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sábado, junho 23
UM PEQUENO DETALHE ...
O caminho para a adopção do novo tratado da UE foi difícil. Portugal dispõe da oportunidade de baptizar o tratado de Lisboa. Um pequeno detalhe de um grande desafio.
"Nous venons de nous mettre d'accord sur un mandat très précis confié à une conférence intergouvernementale qui devra avoir fini de travailler avant la fin de l'année 2007 pour l'adoption d'un traité simplifié", a déclaré le président français devant la presse, tôt samedi matin. "C'est une très bonne nouvelle pour l'Europe, pour la France."Le Portugal, qui succède le 1er juillet à l'Allemagne à la présidence de l'Union européenne, ouvrira dès le 23 juillet la Conférence intergouvernementale (CIG), a annoncé samedi le Premier ministre, José Socrates, qui souhaite que le traité soit adopté en octobre à Lisbonne.
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O calendário e a determinação portuguesa, face às exigências da adopção do novo tratado, na imprensa de Espanha; uma nota de espanto pelo facto de Sócrates ter convocado a imprensa para as 6 da manhã e, certamente, um amargo de boca pelo calendário ter colocado Portugal na hora das grandes decisões. Por cá à esquerda e à direita do PS, à falta de melhor, clama-se pelo referendo. A ver vamos ...
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"Nous venons de nous mettre d'accord sur un mandat très précis confié à une conférence intergouvernementale qui devra avoir fini de travailler avant la fin de l'année 2007 pour l'adoption d'un traité simplifié", a déclaré le président français devant la presse, tôt samedi matin. "C'est une très bonne nouvelle pour l'Europe, pour la France."Le Portugal, qui succède le 1er juillet à l'Allemagne à la présidence de l'Union européenne, ouvrira dès le 23 juillet la Conférence intergouvernementale (CIG), a annoncé samedi le Premier ministre, José Socrates, qui souhaite que le traité soit adopté en octobre à Lisbonne.
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O calendário e a determinação portuguesa, face às exigências da adopção do novo tratado, na imprensa de Espanha; uma nota de espanto pelo facto de Sócrates ter convocado a imprensa para as 6 da manhã e, certamente, um amargo de boca pelo calendário ter colocado Portugal na hora das grandes decisões. Por cá à esquerda e à direita do PS, à falta de melhor, clama-se pelo referendo. A ver vamos ...
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sexta-feira, junho 22
CHAR/CAMUS - CORRESPONDÊNCIA
René Char
René Char à Albert Camus (6 de Maio 53):
(…) Vous êtes un des rares hommes, Albert, que j’aime et que j’admire d’instinct et de connaissances à la fois (les deux si souvent se détruisent), ces hommes que le temps, le souci, l’espoir, la fatigue puis l’allégresse de vivre font grandir chaque jour dans notre cœur dont ils occupent et dessinent le sommet que la nature ne nous a point donné et qui n’est dû qu’à nous et à cet infime nombres de frères que nous chérissons et qui nous éclairent à tout moment là-haut.» (…)
Albert Camus à René Char (13 de Maio 53):
(…) C’est une bonne, une grande chose, que de pouvoir vous lire en ce moment, spécialement, et, en tout temps, je pourrai revenir vers votre poésie, la seul avec laquelle je vive, depuis des années maintenant.» (…) Tant que je n’aurais pas trouvé un ordre acceptable, ma vie continuera d’être une exténuante tension. Par bonheur ma santé est bonne – et j’ai mon travail, où je peux rire et pleurer à mon aise.» (…)
René Char à Albert Camus (6 de Maio 53):
(…) Vous êtes un des rares hommes, Albert, que j’aime et que j’admire d’instinct et de connaissances à la fois (les deux si souvent se détruisent), ces hommes que le temps, le souci, l’espoir, la fatigue puis l’allégresse de vivre font grandir chaque jour dans notre cœur dont ils occupent et dessinent le sommet que la nature ne nous a point donné et qui n’est dû qu’à nous et à cet infime nombres de frères que nous chérissons et qui nous éclairent à tout moment là-haut.» (…)
Albert Camus à René Char (13 de Maio 53):
(…) C’est une bonne, une grande chose, que de pouvoir vous lire en ce moment, spécialement, et, en tout temps, je pourrai revenir vers votre poésie, la seul avec laquelle je vive, depuis des années maintenant.» (…) Tant que je n’aurais pas trouvé un ordre acceptable, ma vie continuera d’être une exténuante tension. Par bonheur ma santé est bonne – et j’ai mon travail, où je peux rire et pleurer à mon aise.» (…)
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quinta-feira, junho 21
SILÊNCIO, A OBRA VAI COMEÇAR!
Bart Pogoda
Sempre que perguntarem ao povo português se prefere a obra ou a discussão acerca dela obterão, por regra, como resposta a discussão. Depois da obra realizada, se perguntarem ao povo português, se acha bem que se tenha realizado a obra obterão, em regra, como resposta que sim. Caso a obra tenha sido adiada, se perguntarem ao povo português, se acha bem o adiamento obterão, em regra, como resposta que sim. O problema do povo português não é ter opinião acerca de tudo, e do seu contrário, é o trabalho que dá decidir e mais do que decidir começar, e mais do que começar levar a obra até ao fim.
Sempre que perguntarem ao povo português se prefere a obra ou a discussão acerca dela obterão, por regra, como resposta a discussão. Depois da obra realizada, se perguntarem ao povo português, se acha bem que se tenha realizado a obra obterão, em regra, como resposta que sim. Caso a obra tenha sido adiada, se perguntarem ao povo português, se acha bem o adiamento obterão, em regra, como resposta que sim. O problema do povo português não é ter opinião acerca de tudo, e do seu contrário, é o trabalho que dá decidir e mais do que decidir começar, e mais do que começar levar a obra até ao fim.
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Os primeiros passos de um jovem príncipe
Na Batalha de São Mamede [24 de Junho de 1128], Afonso Henriques apoderou-se da herança de D. Teresa pela força. Segundo os Anais, prendeu os seus adversários, isto é, o conde Fernão Peres de Trava e os seus colaboradores; a tradição popular diz que prendeu também sua mãe, mas sabemos, por documentos autênticos, que pouco depois estavam ambos livres na Galiza. (…) Tinha então 19 anos. Podia tomar decisões pessoais. Mas os senhores que o apoiaram eram muito mais velhos, e governavam há muito tempo importantes territórios; entre eles estava, sem dúvida, o seu aio; sem o seu auxílio, Afonso não teria poder algum. Onde estava a verdadeira autoridade? Nas suas mãos ou nas dos nobres que com ele combatiam?
(…)
O papel da nobreza na Batalha de S. Mamede foi representado de forma simbólica no relato “popular” que dela fez a Crónica Galego-Portuguesa (…) D. Afonso Henriques, derrotado logo no primeiro embate com Fernão Peres de Trava, foge do campo de batalha. Mas surge Soeiro Mendes. Censura-o pela fuga, como se fosse um adolescente, fá-lo regressar ao combate, e ajuda-o a vencê-lo. O significado social deste episódio é evidente: o fundador da nacionalidade devia o seu poder aos nobres.
(…)
Depois de expulsar o conde de Trava e os seus homens, Afonso Henriques concedeu, decerto, algumas benesses aos seus colaboradores, mas estas, se existiram, deixaram poucos vestígios na documentação até hoje preservada. Com efeito, os primeiros diplomas por ele emitidos não favorecem a nobreza mas a Igreja. Destinam-se, em primeiro lugar, a pobres eremitas e a um mosteiro quase desconhecido nas terras de Neiva e Barcelos. Dir-se-ia que o Infante pretende, antes de mais, obter a protecção divina por meio dos privilégios concedidos aos monges mais austeros.
(…)
Assim os primeiros anos do governo afonsino decorrem sob a dupla tutela dos ricos-homens nortenhos que asseguraram a vitória de São Mamede, e do clero que obedecia ao arcebispo de Braga.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”,”A relação com a nobreza”, “A relação com o clero”, pgs. 47/49 (14).
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O papel da nobreza na Batalha de S. Mamede foi representado de forma simbólica no relato “popular” que dela fez a Crónica Galego-Portuguesa (…) D. Afonso Henriques, derrotado logo no primeiro embate com Fernão Peres de Trava, foge do campo de batalha. Mas surge Soeiro Mendes. Censura-o pela fuga, como se fosse um adolescente, fá-lo regressar ao combate, e ajuda-o a vencê-lo. O significado social deste episódio é evidente: o fundador da nacionalidade devia o seu poder aos nobres.
(…)
Depois de expulsar o conde de Trava e os seus homens, Afonso Henriques concedeu, decerto, algumas benesses aos seus colaboradores, mas estas, se existiram, deixaram poucos vestígios na documentação até hoje preservada. Com efeito, os primeiros diplomas por ele emitidos não favorecem a nobreza mas a Igreja. Destinam-se, em primeiro lugar, a pobres eremitas e a um mosteiro quase desconhecido nas terras de Neiva e Barcelos. Dir-se-ia que o Infante pretende, antes de mais, obter a protecção divina por meio dos privilégios concedidos aos monges mais austeros.
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Assim os primeiros anos do governo afonsino decorrem sob a dupla tutela dos ricos-homens nortenhos que asseguraram a vitória de São Mamede, e do clero que obedecia ao arcebispo de Braga.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”,”A relação com a nobreza”, “A relação com o clero”, pgs. 47/49 (14).
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quarta-feira, junho 20
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