sexta-feira, março 26

Obrigada!

O Público assegura que o governo garante que as "Comemorações do 25 de Abril não vão substituir a diversidade ideológica"

Por outro lado vejo na Lusa uma referência ao Diário de Notícias:" Sondagem apresenta socialistas perto da maioria absoluta e PSD em queda.
Os socialistas estão à beira da maioria absoluta, com 43,9% das intenções de voto, de acordo com uma sondagem divulgada sexta-feira pelo Diário de Notícias que aponta ainda para uma quebra no PSD (34,9%).Em relação às intenções de Fevereiro, em Março o PS subiu 1,7% e o PSD desceu 3,8%. Se as eleições legislativas de 2006 fossem hoje, o CDS-PP subia 1,5%, para 3,8%, o PCP alcançaria 6,9% dos votos e o Bloco de Esquerda 5,7%."

Aparentemente o governo não tem razões para ficar preocupado porque a diversidade ideológica está assegurada. De qualquer maneira obrigada pelos cuidados!



25 de Abril - notas pessoais

António Santos Júnior


No movimento operário de base destacou-se, emergindo das lutas da TAP, que antecederam o 25 de Abril, António Santos Júnior. Ele liderou um movimento de novo tipo, associando as reivindicações tradicionais do operariado urbano com os novos desígnios da participação do movimento operário na acção política.

É um admirável homem de acção e de organização, persuasivo e generoso. Aliás Santos Júnior deveria ter discursado na grande manifestação, em Lisboa, do 1º de Maio de 1974, em representação do MES, mas tal objectivo foi impedido pela aliança PCP-PS.

Foi nessa manifestação que surgiu, pela primeira vez, em público a sigla MES inscrita num pano onde se podia ler "Movimento de Esquerda Socialista - em organização".

Outros dois destacados activistas do movimento operário e sindical, com relevante participação no MES, foram Manuel Lopes (sindicalista que aderiu à CGTP, já falecido) e o ideólogo das lutas da TAP, Jerónimo Franco.

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quinta-feira, março 25

LLANTO POR IGNACIO SÁNCHEZ MEJÍAS (1935)


La cogida y la muerte

A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.

El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones del bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡ Y el toro solo corazón arriba !
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde,
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la tarde.

Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡ Ay qué terribles cinco de la tarde !
¡ Eran las cinco en todos los relojes !
¡ Eran las cinco en sombra de la tarde !

Federico García Lorca

Um livro de Lorca (III)

Neste terceiro excerto, José Viale Moutinho, no texto de apresentação do livro de Federico García Lorca intitulado: "ALOCUÇÃO AO POVO DA ALDEIA DE FUENTEVAQUEROS", afirma:

"Ora queria ainda falar-lhes de outra coisa, de algo tão idiota como o propalado apoliticismo de Federico Garcia Lorca. Ian Gibson, seu biógrafo mais atento, nas vésperas de apresentar uma reedição da sua obra "El asesinato de Garcia Lorca", creio que em finais dos anos 70 do século passado, ainda nas provas desse livro mostrou-me documentos que me surpreenderam porque revelavam um Lorca a intervir directa e politicamente.

Eu conhecia alguma correspondência sua a Teixeira de Pascoais, tanto mais que era amigo do sobrinho, o pintor João Teixeira de Vasconcelos.

Porém uma notícia intitulada Comité de Amigos de Portugal, editada no "El Socialista", de 6 de Maio de 35, dava nota da recente constituição de um Comité de Amigos de Portugal "que se propunha popularizar em Espanha os métodos brutais de repressão da ditadura fascista de Salazar em Portugal, organizando uma campanha de protesto entre as massas populares espanholas, assim como a ajuda em todas as suas formas às vítimas do fascismo português".

Entre outros, integravam o comité Ramón J. Sender, Rafael de Olmo, Victoria Kent, Pasionaria, Teresa Leon, Ortega y Gasset e Federico Garcia Lorca. O segundo documento a que me queria referir data de 4 de Julho de 1936 e é considerado como o último que ele assinou, pois foi fuzilado em 19 de Agosto seguinte.

É uma carta aberta do referido comité a Salazar formulando "um enérgico protesto em nome dos direitos e sentimentos que constituem a conquista mais apreciada da civilização: o direito e a liberdade de análise e de crítica e o sentimento de defesa e amparo da dignidade humana." diz depois a mensagem: "calam os escritores e os homens de pensamento em Portugal que não podem iludir a coacção brutal das suas armas, Sr. Salazar. Mas outros portugueses fazem a partir de fora do seu país a melhor homenagem ao seu próprio patriotismo e à sua cidadania, chamando a nossa consciência e a de todos os homens livres do mundo a favor dos lares portugueses desfeitos, dos milhares de concidadãos presos em condições desumanas, de centenas de homens inermes, cujo martírio se renova cada dia, e de milhões de seres humanos, a grande massa do povo português, que você procura envilecer na escravidão e na miséria".

Com Lorca, assinam este documento Largo Caballero, Ramón J, Sender, António Machado, Rafael Alberti, bem como milhares de outros antifascistas espanhóis."

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Um grito

"Senhor Aznar, é responsável pela morte do meu filho" gritou alguém na cerimónia fúnebre de Madrid.

Uma mãe disse, num telefonema, á rádio SER: "Não me sinto capaz de estar face a face com Aznar, Power e Blair, o meu filho colou um cartaz contra a guerra na janela do seu quarto." Daniel tinha 20 anos e morreu no atentado. Pilar, a mãe, não foi a Almudena. Como não foram os fiéis adventistas e muçulmanos, familiares de muitos mortos, por considerarem que a diferença da sua fé não foi respeitada". Vem no Público.

Espero que o Director do Público leia o Público de hoje como um simples cidadão. Um dia, de vez em quando, os directores dos órgãos de comunicação social deviam ser demitidos. No dia seguinte podiam retomar funções se provassem que tinham lido as suas próprias notícias e editoriais, do dia anterior, com os olhos de um vulgar cidadão.

E hoje leia também a entrevista de Saramago no Diário de Notícias. Os ideólogos da direita, de todos os matizes, têm de suportar aquilo que não gostam de ouvir. E, por favor, tenham contenção nas comparações com o nazi/fascismo. Assassinos há muitos e nem todos usam ostensivamente farda, religião ou ideologia ...basta serem fanáticos.

25 de Abril - notas pessoais

Agostinho Roseta


No movimento operário e sindical o activista mais importante do MES foi Agostinho Roseta, já falecido. Ele associava juventude (ou talvez melhor, jovialidade), capacidade teórica e sentido prático de organização, era persuasivo, sedutor e desprendido do poder.

Morreu num 9 de Maio, muitos anos depois do MES ter sido extinto, na plena pujança das suas qualidades humanas e intelectuais A sua morte prematura impediu que tivesse, muito provavelmente, exercido uma influência marcante, a partir de 1995, no movimento sindical (UGT) e no Partido Socialista.

Falar de pessoas é sempre muito delicado. Mas não é possível falar do 25 de Abril sem referir o papel daqueles que foram decisivos na nossa própria formação pessoal e na conformação do nosso percurso político. Sempre que hajam referências pessoais cingir-me-ei às personalidades que, no meu ponto de vista, foram as mais relevantes.

Farei referência a um número restrito de pessoas pois, dessa forma, reduzo os riscos de ser injusto ou mal interpretado. Além do mais o MES foi uma escola de quadros políticos que ocupam, e continuarão a ocupar, no futuro próximo, posições de grande destaque na vida pública portuguesa.

Julgo que isso se deve ao facto, incontroverso, de se terem reunido no MES, na volúptia política dos anos 70, um escol de quadros de grande qualidade humana e intelectual que, discretamente, se orgulham do seu passado de empenhamento cívico e político.

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quarta-feira, março 24

Romance Sonambulo


Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda,
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas.

Verde que te quiero verde.
Grandes estrellas de escarcha,
vienen con el pez de sombra
que abre el camino del alba.
La higuera frota su viento
con la lija de sus ramas,
y el monte, gato garduño,
eriza sus pitas agrias.
¿Pero quién vendrá? ¿Y por dónde?
Ella sigue en su baranda,
verde carne, pelo verde,
soñando en la mar amarga.

-Compadre, quiero cambiar
mi caballo por su casa,
mi montura por su espejo,
mi cuchillo por su manta.
Compadre, vengo sangrando,
desde los puertos de Cabra.
-Si yo pudiera, mocito,
este trato se cerraba.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
-Compadre, quiero morir,
decentemente en mi cama.
De acero, si.puede ser,
con las sábanas de holanda.
¿No ves la herida que tengo
desde el pecho a la garganta?
-Trescientas rosas morenas
lleva tu pechera blanca.
Tu sangre rezuma y huele
alrededor de tu faja.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
-Dejadme subir al menos
hasta las altas barandas,
dejadme subir!, dejadme
hasta las verdes barandas.
Barandales de la luna
por donde retumba el agua.

Ya suben los doscompadres
hacia las altas barandas.
Dejando un rastro de sangre.
Dejando un rastro de lágrimas.
Temblaban en los tejados
farolillos de hojalata.
Mil panderos de cristal
herían la madrugada.

Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas.
Los dos compadres subieron.
El largo viento dejaba
en la boca un raro gusto
de hiel, de menta y de albahaca.
-¡Compadre! ¿Dónde está, dime?
¿Dónde está tu niña amarga?
¡Cuántas veces te esperó!
¡Cuántas veces te esperara,
cara fresca, negro pelo,
en esta verde baranda!

Sobre el rostro del aljibe
se mecía la gitana.
Verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Un carámbano de luna
la sostiene sobre el agua.
La noche se puso íntima
como una pequeña plaza.
Guardias civiles borrachos
en la puerta golpeaban.
Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña.

Federico García Lorca

(Há uma magnífica tradução em português
deste poema de autoria de
Eugénio de Andrade em "Trinta
e Seis Poemas e Uma Aleluia Erótica",
Editorial Inova, 1968)

Federico García Lorca

Federico García Lorca fue un poeta, en el sentido más determinante y profundo que puede tener esta afirmación. Fue un poeta porque la poesía condicionó toda su vida e incluso su misma muerte: de no ser el escritor triunfante que era y la criatura radicalmente libre que la poesía le enseñó a ser, es probable que la barbarie no lo hubiera asesinado. Él lo dijo en una ocasión: "...yo no como, ni bebo, ni entiendo más que en la Poesía".

Su poesía fue, en efecto, su médula y su raíz, su supremo y cotidiano alimento terrestre. Lejos de toda torre de marfil, para él ser poeta era ante todo ser fiel a la voz de la muerte, a la voz del arte, a la voz del amor: las tres voces que escuchaba el poeta, según reclamó. La voz de la muerte, "con todos sus presagios" llamaba al canto exasperado y agudo de la vida; la voz del arte decía la superior verdad de las formas, el equilibrio cenital en el que la palabra del poeta se llena de sentido y trasciende el tiempo, sin dejar de ser tiempo, la voz del amor hacía llamear la plenitud de los cuerpos y las almas, la belleza divina de la creación. Nunca hubo en él oposición entre poesía y vida. Por eso hablaba de "la inmensa alegría consciente de crear".

Porque la poesía no era una huida del mundo; bien al contrario, representaba la inmersión en el mundo.

(De la monografía de Miguel García-Posada en la Agenda Cultural 1998)

Um livro de Lorca (II)

Continuando, José Viale Moutinho, no texto de apresentação do livro de Federico García Lorca intitulado: "ALOCUÇÃO AO POVO DA ALDEIA DE FUENTEVAQUEROS", afirma:

"Ora em Setembro de 1931, cinco meses já desde que Manuel Azaña, outro grande escritor da língua castelhana, tivesse tomado posse como primeiro presidente da II República de Espanha, Lorca, com 33 anos, está em Fuentevaqueros, num acto público.

Folheando as actas municipais nota-se uma actividade vertiginosa. O ministro Fernando de los Rios, primeiro-ministro da Justiça da jovem Republica, é distinguido com o título de "filho adoptivo de Fuentevaqueros". Militante do Partido Socialista Operário, com os seus camaradas Indalecio Prieto e Largo Caballero formavam a ala esquerda do Governo Provisório.

A 9 de Maio, Fuentevaqueros pede a abolição da pena de morte no Estado Espanhol e a expulsão das ordens religiosas, que controlavam grande parte da economia espanhola. Por outro lado, na natural mudança das placas toponímicas, foi deliberado que a Rua da Igreja passaria a chamar-se Rua de Federico García Lorca, que ele agradece nesta alocução.

E verdade é que a sugestão de 1929, a da biblioteca popular, transformara-se, entretanto, em obra prioritária da autarquia republicana em 1931. E isso entusiasmava Federico. Conta o irmão Francisco que este discurso foi pronunciado a coberto do sol por uns toldos, rodeado por balancés e barracas de tiro ao alvo da feira de Fuentevaqueros, estando mudos os músicos enquanto Lorca falava. Informa-nos ainda que o produto daquela festa, que metia bailes e verbenas se destinava à biblioteca popular e que a organização era da Juventude Socialista.

Ora esta segunda alocução não a percam, não deixem de a ler, leiam-na em voz alta, aos vossos amigos, aos vossos filhos, que terão gosto em sentir tão maravilhosamente a história do livro, dos livros de pedra aos livros de papel.

Quando conheci este texto, vindo do entusiasmo do Francisco Duarte Mangas, também me empolguei porque, raio de feitio, também acho que um discurso como este vale tanto como As filhas de Bernarda Alba ou qualquer poema. Apesar de ser um texto pequeno, que escapou aos lorquianos até meio século depois da morte do seu autor."

(Foi introduzida uma correcção necessária a um erro de minha responsabilidade:
o nome do poeta é: Federico García Lorca.)

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25 de Abril - notas pessoais

Independentes e rebeldes


A nossa visão do papel da luta operária e do movimento sindical era muito diferente da perspectiva do PCP. Defendíamos a "auto organização" dos trabalhadores e a emancipação do movimento sindical fora do controle político partidário do PCP ou de qualquer outra formação partidária.

A raiz da nossa concepção da organização operária e sindical bebia da tradição anarco-sindicalista e dos ideais auto-gestionários. As diferenças entre as nossas concepções da vida, da luta de emancipação dos trabalhadores e da organização do Estado, tornaria muito difícil qualquer tentação de aliança estratégica com o PCP e, por maioria de razão, tornava-nos imunes a ser absorvidos pela sua reconhecida vocação hegemónica.

No MES confluíram quadros intelectuais e operários cujos destinos pessoais não eram compatíveis com a submissão a qualquer autoridade. Éramos (e somos!) ferozmente independentes e rebeldes.

Por isso não admira que o MES tenha sido o único Partido, criado na aurora do 25 de Abril, que se extinguiu, por vontade da maioria dos seus militantes, com uma festa.

Nem sequer admira que sejam raros os ex-activistas do MES que tenham, algum dia, aderido ao PCP, ou às teses neoconservadoras, ao contrário do que aconteceu com muitos ex-activistas dos movimentos políticos marxistas-leninistas que se reivindicavam do maoismo.

Anti-autoritários e de esquerda toda a vida...

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terça-feira, março 23

Um livro de Lorca (I)

O José Viale Moutinho enviou-me, gentilmente, o texto de uma sua apresentação de um livro de Frederico Garcia Lorca intitulado: "ALOCUÇÃO AO POVO DA ALDEIA DE FUENTEVAQUEROS".

O assunto interessa-me, não só pelo autor, e sua obra, como pelo enquadramento político no qual laborou, pelo que decidi divulgar, apesar da sua extensão, em quatro posts, uns excertos deste trabalho de JVM. As escolhas dos excertos são de minha responsabilidade assim como algumas pequenas correcções, de detalhe, ao texto que o autor não levará a mal tenham sido efectuadas e que está sempre a tempo de corrigir.


"Este texto de Lorca devemo-lo ao poeta andaluz, naturalmente, mas a sua descoberta entre nós, ou para nós, é honra e glória de um excelente escritor e jornalista, (…) que, um dia, vai para uns quinze anos, fazendo a ronda das livrarias madrilenas, o Francisco Duarte Mangas, que é dele que falo, encontrou um pequeno livro, aliás numa edição muito bonita de Alocución al pueblo de Fuentevaqueros, combinando o nome de Lorca, que ele já admirava, à surpresa de um seu título novo, titulo este que tinha a bondade dessa maravilhosa expressão "Alocução ao Povo", povo este que era Fuentevaqueros, topónimo arvoradamente rural, tão ao seu gosto.

Pois abriu-o, viu referência a biblioteca popular, naquela aldeia, enfim tudo apelava a que o comprasse. (…)

Então, começamos por saber que Fuentevaqueros é a aldeia natal de Frederico Garcia Lorca. A 21 de Maio de 1929, quando, com retumbante êxito, era representada em Granada a peça de Lorca "Mariana Pineda", a população dos patrícios do poeta decidiu oferecer-lhe um jantar de homenagem.

O alcaide de Fuentevaqueros, Rafael Sánchez, em nome da terra saudou o poeta, seguindo outros dois entusiásticos oradores. Respondeu-lhe Lorca num pequeno texto, que foi publicado apenas num jornal granadino na época e, em 1994, no primeiro tomo das prosas do escritor, reunidas e anotadas por Miguel Garcia-Posada.

Dado que está este texto relacionado com o que aqui se apresenta em volume, entendo traduzi-lo no que se conhece em discurso directo.

É que o jornalista que fez a notícia resumiu a entrada do discurso de Lorca dizendo que "o senhor Garcia Lorca agradeceu a oferta desta homenagem, fazendo um brilhante elogio de Fuentevaqueros. E acrescentou já pela pena do poeta:

E já que estamos juntos, não quero deixar de elogiar a vossa maravilhosa fonte de água fresca. A fonte de água é um dos motivos que mais definem a personalidade desta aldeiazinha. As aldeias que não têm fonte pública são insociáveis, tímidas, apoucadas.

A fonte é o sítio de reunião, o ponto onde convergem todos os vizinhos e onde trocam impressões e arejam os espíritos. A propósito da fonte falam as mulheres, encontram-se os homens, e à beira da água cristalina crescem os seus espíritos e aprendem, não só a amarem-se, como a compreender-se melhor.

A aldeia sem fonte está fechada, como que escurecida, e cada casa é um mundo aparte que se defende do vizinho.
Fonte se chama esta aldeia, fonte que tem o seu coração na fonte da água benfazeja.

Diz a notícia que transcreve esta primeira alocução de Lorca na sua terra, que o orador foi ovacionado. Prossegue a notícia dizendo que Ricardo Rodríguez Garcia leu uma "formosa poesia", também aplaudida, tendo ainda falado Fernando de los Rios e Miguel Molinero.

E diz ainda o anónimo repórter que o alcaide Rafael Sánchez, dando execução a uma proposta de Lorca para criar naquela autarquia uma biblioteca popular ofereceu trezentos livros da sua propriedade. Reparem que isto acontece no penúltimo ano do reinado de Alfonso XIII, um ano e um mês antes de implantada a II República de Espanha.

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25 de Abril - notas pessoais

O PCP


Ao longo da década de 60 travaram-se duras lutas contra a ditadura. Nessas lutas surgiram novas ideias e novos protagonistas. O PCP tinha estratégia e táctica alicerçadas numa apreciável implantação popular, embora circunscrita ás zonas operárias e rurais do sul. A sua organização clandestina era experimentada tendo mesmo, nas vésperas do 25 de Abril, criado a ARA, organização vocacionada para a luta armada.

O MES nunca aderiu à luta armada embora chegasse a desfrutar de uma razoável implantação nas Forças Armadas. Mas participou em organizações de natureza frentista, vocacionadas para a luta política legal, animadas pelo PCP, a mais importante das quais foi, antes do 25 de Abril, o MDP/CDE e, no período pós-25 de Abril, a "coligação", contra o PCP, apoiante da candidatura presidencial de Otelo, em 1976.

Participei, entre muitas outras iniciativas, com o Víctor Wengorovius, no início da década de 70, em diversas reuniões, numa casa da Av. Duque de Loulé, em Lisboa, com um alto dirigente do PCP, na clandestinidade, para tentar encontrar os caminhos de uma coordenação política entre o embrionário MES e o PCP.

É preciso ter presente que naquela época ninguém pensava ou agia, na oposição política portuguesa, escapando à influência do PCP.

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segunda-feira, março 22

Guerra à vista?

Parece que vivemos num tempo de assassinos. Um tempo de fanatismo. De todas as cores e credos. A propósito dos acontecimentos, de hoje, na Palestina lembrei-me de uma frase que Albert Camus escreveu no seu Caderno, em plena 2ª Guerra Mundial:

"1 de Setembro de 1943.
Aquele que desespera dos acontecimentos é um cobarde, mas aquele que tem esperança na condição humana é um louco."


Livro incómodo para George W. Bush

Uma notícia da SIC On Line


"Presidente dos EUA tem feito um "péssimo trabalho" na luta contra o terror, revela Clarke

O antigo assessor para as questões de segurança dos EUA, Richard Clarke, veio dizer que George W. Bush não tem lidado da melhor forma com o terrorismo, que ignorou as ameaças da Al-Qaeda antes do 11 de Setembro e que Bush queria ligar Saddam Hussein aos ataques de 2001. Críticas no dia em que é publicado o livro de Clarke "Contra Todos os Inimigos".

A polémica lançada com a publicação do livro de Richard A. Clarke (esta segunda-feira) vem na pior altura para George W. Bush dada a caminhada para as presidenciais de 2 de Novembro deste ano.

Neste livro "Against All Enemies" (Contra Todos os Inimigos), o antigo assessor para as questões de segurança propõe-se contar "a verdade" sobre a guerra ao terror levada a cabo pela Administração Bush. E, de acordo com Richard A. Clarke - que durante 11 anos fez parte do núcleo duro da Casa Branca para a prevenção do terrorismo - a resposta que o actual Presidente dos Estados Unidos tem vindo a dar é "terrível".

Em entrevista à rede de televisão norte-americana CBS, Clarke afirma que Bush ignorou as ameaças da Al-Qaeda antes do 11 de Setembro de 2001, não soube lidar com o terrorismo e revela que, no dia seguinte aos ataques, o líder norte-americano queria, por força, que fossem encontradas ligações entre os atentados terroristas e Saddam Hussein, quando elas não existiam.

- "Revejam tudo, tudo. Vejam se Saddam fez isto
- Mas, senhor Presidente, foi a Al-Qaeda que fez isto
- Eu sei, eu sei, mas... vê se Saddam está envolvido. Procura. Eu quero alguma prova"

Este é um excerto de uma alegada conversa entre George W. Bush e Richard Clarke na noite de 12 de Setembro de 2001 e que vem publicada no livro que hoje chega às livrarias dos Estados Unidos. Mesmo com todos os responsáveis pela segurança a afirmar que os atentados eram da responsabilidade da organização de Bin Laden, o Presidente norte-americano queria mostrar que o então líder iraquiano também estava envolvido.

Em declarações à CBS, Clarke adiantou ainda que no dia a seguir aos atentados, o secretário norte-americano da Defesa, Donald Rumsfeld apelou a ataques de retaliação no Iraque, mesmo sabendo que a Al-Qaeda estava sediada no Afeganistão.

Richard Clarke - assessor para as questões de segurança até Fevereiro de 2003 - diz ter ficado tão espantado que pensou, inicialmente, tratar-se de uma brincadeira.

Em relação à conselheira para a Segurança Nacional, Clarke conta que Condoleezza Rice mostrou-se "céptica" quando foi avisada, no início de 2001, para a ameaça que a Al-Qaeda constituía e pareceu-lhe que ela nunca devia ter ouvido falar naquela organização terrorista.

Clarke critica ainda a resposta dada por Bush aos atentados terroristas de Nova Iorque e Washington e diz ser "revoltante" que o combate ao terrorismo seja uma das bandeiras da campanha eleitoral de Bush, quando ele não soube lidar com o assunto desde o início.

A Casa Branca nega as acusações contra o Presidente e adianta que Richard Clarke entendeu as coisas "de forma errada". A mesma fonte sugere que as alegações de Clarke têm uma motivação política. Ou seja, pretendem prejudicar George W. Bush- que procura a reeleição.

No entanto, Clarke é uma figura respeitada no meio e as suas afirmações, provavelmente, irão causar algum constrangimento à Casa Branca."

Ainda esta semana, o antigo assessor para as questões de segurança será interrogado pela comissão independente que investiga dos atentados de 11 de Setembro.












25 de Abril - notas pessoais


O MES (Movimento de Esquerda Socialista)


Em 1971 o país ainda vivia na esperança de uma solução política para a crise do Estado Novo. Sabíamos que o futuro não podia esperar muito mais. Mas não sabíamos quanto iria ainda durar a ditadura apesar das timoratas tentativas de abertura política de Marcelo Caetano.

O MES (Movimento de Esquerda Socialista) nasceu da confluência de três movimentos que despontaram e ganharam corpo ao longo das décadas de 60 e 70. O movimento operário e sindical, o movimento católico progressista e o movimento estudantil.

A cumplicidade entre um numeroso grupo de activistas que actuavam, com autonomia, contra o regime, nestes diversos movimentos sectoriais, foi sendo reconhecida por alguns de nós o que, a certa altura, desembocou na consciência de que estávamos perante um movimento político informal. Daí até à ideia da sua institucionalização foi um pequeno passo.

Lembro sempre entre os esquecidos criadores do movimento o designer Robin Fior, um estrangeiro em Lisboa. Foi ele que desenhou o símbolo do MES o único, adoptado pelos partidos portugueses, com uma declarada feição feminil; Robin foi também o autor da linha gráfica do jornal "Esquerda Socialista" e concebeu um conjunto de cartazes surpreendentes pela sua ousada modernidade. Quantas horas passadas na sua companhia, e de sua mulher, desenhando uma imagem que ficou gravada, para sempre, na minha memória. Admirável Robin...

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domingo, março 21

Justiça

Juíza pode mandar repetir todos os actos de Rui teixeira

O "Jornal de Notícias" coloca este titulo na sua edição de hoje que vi na versão on line. A leitura da notícia é muito útil para entender o processo. Muito pedagógico nas vésperas do início da chamada instrução.

DIA MUNDIAL DA POESIA

Os dias evocativos valem o que valem. Mas está bem de ver que a poesia marca um espaço relevante no meu espírito e ocupa uma boa parte do meu tempo livre. Resolvi, aquando da criação deste blogue, nele não publicar senão poesia de outros. E, entre todos os poetas portugueses, vivos ou mortos, o meu preferido é Jorge de Sena. Assim não admira que, neste dia, tenha escolhido publicar um dos poemas mais extraordinários de sua autoria e da poesia portuguesa de todos os tempos.


UMA PEQUENINA LUZ


Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una piccola ... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não iluminam também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui.
no meio de nós.
Brilha.

1950

Jorge de Sena
In Fidelidade (1958)


Ópera "Os fugitivos"


Fui ver "Os Fugitivos" uma ópera original criada por portugueses e falada em português. Quantas vezes na história recente da nossa cultura foi construída uma ópera por encomenda de uma qualquer entidade? Poucas. Raramente e quase sempre só a propósito de grandes eventos nacionais.

Mas esta foi uma encomenda resultante de um projecto de teatro musical e popular que o Teatro da Trindade, através da iniciativa do seu director, Carlos Fragateiro, concebeu e que o INATEL, em tempo oportuno, sob a minha direcção, aprovou.

É um caso exemplar da "pesada herança" socialista assumida, neste caso, pela actual direcção do INATEL. Ainda bem, pois demonstra bom senso e bom gosto. Vamos a ver as cenas dos próximos capítulos…

Gostei da Ópera. Contemporânea. Aderindo aos problemas do nosso tempo. Aberta ao quotidiano. Estruturada e surpreendente nos planos musical e cenográfico. Sem o aparato das grandes óperas de reportório. Mais na linha da "Ópera de Estúdio". Irreverente e criativa. Com alguns bons interpretes. Uma verdadeira lição de como se pode produzir um espectáculo de qualidade com um pequeno orçamento. Muitos apreciadores do género gostariam de ter participado neste aventura. Tive a felicidade de ter participado e tenho muito orgulho nisso. Obra limpa e séria.

Esta Ópera vai ser gravada pela RTP, ao contrário do que aconteceu com o musical "O Navio dos Rebeldes", o que foi uma pena e uma perda. Estes registos são importantes não só para a história como para a divulgação de obras originais que são produzidas à margem dos teatros nacionais....que, aliás, produzem muito pouco.

sábado, março 20

Setembro de 1941

Albert Camus escreveu no seu Caderno, em Setembro de 1941, uma frase cheia de actualidade:

"Organiza-se tudo: É simples e evidente. Mas o sofrimento humano intervém e altera todos os planos"

"In Caderno n.º 3 - Abril de 1939/Fevereiro de 1942"

Parapente em Linhares acabou?



A notícia de que a Escola de Parapente, dirigida por Vítor Baía, vai abandonar a Aldeia Histórica de Linhares da Beira e passar a funcionar em Manteigas é uma realidade.

A imprensa regional
tinha dado relevo a essa possibilidade.


O INATEL promete manter a actividade do parapente em Linhares mas não parece muito convincente.

O Parapente e, em particular, o Open de Linhares da Beira, são uma realidade que representa muitos anos de trabalho sistemático e estruturado. É o desenvolvimento sustentável…na prática.

O Parapente em Linhares acabou?

(A partir de um alerta do Pedro Pedrosa)