Um livro de Lorca (II)
Continuando, José Viale Moutinho, no texto de apresentação do livro de Federico García Lorca intitulado: "ALOCUÇÃO AO POVO DA ALDEIA DE FUENTEVAQUEROS", afirma:"Ora em Setembro de 1931, cinco meses já desde que Manuel Azaña, outro grande escritor da língua castelhana, tivesse tomado posse como primeiro presidente da II República de Espanha, Lorca, com 33 anos, está em Fuentevaqueros, num acto público.
Folheando as actas municipais nota-se uma actividade vertiginosa. O ministro Fernando de los Rios, primeiro-ministro da Justiça da jovem Republica, é distinguido com o título de "filho adoptivo de Fuentevaqueros". Militante do Partido Socialista Operário, com os seus camaradas Indalecio Prieto e Largo Caballero formavam a ala esquerda do Governo Provisório.
A 9 de Maio, Fuentevaqueros pede a abolição da pena de morte no Estado Espanhol e a expulsão das ordens religiosas, que controlavam grande parte da economia espanhola. Por outro lado, na natural mudança das placas toponímicas, foi deliberado que a Rua da Igreja passaria a chamar-se Rua de Federico García Lorca, que ele agradece nesta alocução.
E verdade é que a sugestão de 1929, a da biblioteca popular, transformara-se, entretanto, em obra prioritária da autarquia republicana em 1931. E isso entusiasmava Federico. Conta o irmão Francisco que este discurso foi pronunciado a coberto do sol por uns toldos, rodeado por balancés e barracas de tiro ao alvo da feira de Fuentevaqueros, estando mudos os músicos enquanto Lorca falava. Informa-nos ainda que o produto daquela festa, que metia bailes e verbenas se destinava à biblioteca popular e que a organização era da Juventude Socialista.
Ora esta segunda alocução não a percam, não deixem de a ler, leiam-na em voz alta, aos vossos amigos, aos vossos filhos, que terão gosto em sentir tão maravilhosamente a história do livro, dos livros de pedra aos livros de papel.
Quando conheci este texto, vindo do entusiasmo do Francisco Duarte Mangas, também me empolguei porque, raio de feitio, também acho que um discurso como este vale tanto como As filhas de Bernarda Alba ou qualquer poema. Apesar de ser um texto pequeno, que escapou aos lorquianos até meio século depois da morte do seu autor."
(Foi introduzida uma correcção necessária a um erro de minha responsabilidade:
o nome do poeta é: Federico García Lorca.)
(2 de 4 continua)
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