Um livro de Lorca (I)
O José Viale Moutinho enviou-me, gentilmente, o texto de uma sua apresentação de um livro de Frederico Garcia Lorca intitulado: "ALOCUÇÃO AO POVO DA ALDEIA DE FUENTEVAQUEROS".
O assunto interessa-me, não só pelo autor, e sua obra, como pelo enquadramento político no qual laborou, pelo que decidi divulgar, apesar da sua extensão, em quatro posts, uns excertos deste trabalho de JVM. As escolhas dos excertos são de minha responsabilidade assim como algumas pequenas correcções, de detalhe, ao texto que o autor não levará a mal tenham sido efectuadas e que está sempre a tempo de corrigir.
"Este texto de Lorca devemo-lo ao poeta andaluz, naturalmente, mas a sua descoberta entre nós, ou para nós, é honra e glória de um excelente escritor e jornalista, (…) que, um dia, vai para uns quinze anos, fazendo a ronda das livrarias madrilenas, o Francisco Duarte Mangas, que é dele que falo, encontrou um pequeno livro, aliás numa edição muito bonita de Alocución al pueblo de Fuentevaqueros, combinando o nome de Lorca, que ele já admirava, à surpresa de um seu título novo, titulo este que tinha a bondade dessa maravilhosa expressão "Alocução ao Povo", povo este que era Fuentevaqueros, topónimo arvoradamente rural, tão ao seu gosto.
Pois abriu-o, viu referência a biblioteca popular, naquela aldeia, enfim tudo apelava a que o comprasse. (…)
Então, começamos por saber que Fuentevaqueros é a aldeia natal de Frederico Garcia Lorca. A 21 de Maio de 1929, quando, com retumbante êxito, era representada em Granada a peça de Lorca "Mariana Pineda", a população dos patrícios do poeta decidiu oferecer-lhe um jantar de homenagem.
O alcaide de Fuentevaqueros, Rafael Sánchez, em nome da terra saudou o poeta, seguindo outros dois entusiásticos oradores. Respondeu-lhe Lorca num pequeno texto, que foi publicado apenas num jornal granadino na época e, em 1994, no primeiro tomo das prosas do escritor, reunidas e anotadas por Miguel Garcia-Posada.
Dado que está este texto relacionado com o que aqui se apresenta em volume, entendo traduzi-lo no que se conhece em discurso directo.
É que o jornalista que fez a notícia resumiu a entrada do discurso de Lorca dizendo que "o senhor Garcia Lorca agradeceu a oferta desta homenagem, fazendo um brilhante elogio de Fuentevaqueros. E acrescentou já pela pena do poeta:
E já que estamos juntos, não quero deixar de elogiar a vossa maravilhosa fonte de água fresca. A fonte de água é um dos motivos que mais definem a personalidade desta aldeiazinha. As aldeias que não têm fonte pública são insociáveis, tímidas, apoucadas.
A fonte é o sítio de reunião, o ponto onde convergem todos os vizinhos e onde trocam impressões e arejam os espíritos. A propósito da fonte falam as mulheres, encontram-se os homens, e à beira da água cristalina crescem os seus espíritos e aprendem, não só a amarem-se, como a compreender-se melhor.
A aldeia sem fonte está fechada, como que escurecida, e cada casa é um mundo aparte que se defende do vizinho.
Fonte se chama esta aldeia, fonte que tem o seu coração na fonte da água benfazeja.
Diz a notícia que transcreve esta primeira alocução de Lorca na sua terra, que o orador foi ovacionado. Prossegue a notícia dizendo que Ricardo Rodríguez Garcia leu uma "formosa poesia", também aplaudida, tendo ainda falado Fernando de los Rios e Miguel Molinero.
E diz ainda o anónimo repórter que o alcaide Rafael Sánchez, dando execução a uma proposta de Lorca para criar naquela autarquia uma biblioteca popular ofereceu trezentos livros da sua propriedade. Reparem que isto acontece no penúltimo ano do reinado de Alfonso XIII, um ano e um mês antes de implantada a II República de Espanha.
(1 de 4 continua)
O assunto interessa-me, não só pelo autor, e sua obra, como pelo enquadramento político no qual laborou, pelo que decidi divulgar, apesar da sua extensão, em quatro posts, uns excertos deste trabalho de JVM. As escolhas dos excertos são de minha responsabilidade assim como algumas pequenas correcções, de detalhe, ao texto que o autor não levará a mal tenham sido efectuadas e que está sempre a tempo de corrigir.
"Este texto de Lorca devemo-lo ao poeta andaluz, naturalmente, mas a sua descoberta entre nós, ou para nós, é honra e glória de um excelente escritor e jornalista, (…) que, um dia, vai para uns quinze anos, fazendo a ronda das livrarias madrilenas, o Francisco Duarte Mangas, que é dele que falo, encontrou um pequeno livro, aliás numa edição muito bonita de Alocución al pueblo de Fuentevaqueros, combinando o nome de Lorca, que ele já admirava, à surpresa de um seu título novo, titulo este que tinha a bondade dessa maravilhosa expressão "Alocução ao Povo", povo este que era Fuentevaqueros, topónimo arvoradamente rural, tão ao seu gosto.
Pois abriu-o, viu referência a biblioteca popular, naquela aldeia, enfim tudo apelava a que o comprasse. (…)
Então, começamos por saber que Fuentevaqueros é a aldeia natal de Frederico Garcia Lorca. A 21 de Maio de 1929, quando, com retumbante êxito, era representada em Granada a peça de Lorca "Mariana Pineda", a população dos patrícios do poeta decidiu oferecer-lhe um jantar de homenagem.
O alcaide de Fuentevaqueros, Rafael Sánchez, em nome da terra saudou o poeta, seguindo outros dois entusiásticos oradores. Respondeu-lhe Lorca num pequeno texto, que foi publicado apenas num jornal granadino na época e, em 1994, no primeiro tomo das prosas do escritor, reunidas e anotadas por Miguel Garcia-Posada.
Dado que está este texto relacionado com o que aqui se apresenta em volume, entendo traduzi-lo no que se conhece em discurso directo.
É que o jornalista que fez a notícia resumiu a entrada do discurso de Lorca dizendo que "o senhor Garcia Lorca agradeceu a oferta desta homenagem, fazendo um brilhante elogio de Fuentevaqueros. E acrescentou já pela pena do poeta:
E já que estamos juntos, não quero deixar de elogiar a vossa maravilhosa fonte de água fresca. A fonte de água é um dos motivos que mais definem a personalidade desta aldeiazinha. As aldeias que não têm fonte pública são insociáveis, tímidas, apoucadas.
A fonte é o sítio de reunião, o ponto onde convergem todos os vizinhos e onde trocam impressões e arejam os espíritos. A propósito da fonte falam as mulheres, encontram-se os homens, e à beira da água cristalina crescem os seus espíritos e aprendem, não só a amarem-se, como a compreender-se melhor.
A aldeia sem fonte está fechada, como que escurecida, e cada casa é um mundo aparte que se defende do vizinho.
Fonte se chama esta aldeia, fonte que tem o seu coração na fonte da água benfazeja.
Diz a notícia que transcreve esta primeira alocução de Lorca na sua terra, que o orador foi ovacionado. Prossegue a notícia dizendo que Ricardo Rodríguez Garcia leu uma "formosa poesia", também aplaudida, tendo ainda falado Fernando de los Rios e Miguel Molinero.
E diz ainda o anónimo repórter que o alcaide Rafael Sánchez, dando execução a uma proposta de Lorca para criar naquela autarquia uma biblioteca popular ofereceu trezentos livros da sua propriedade. Reparem que isto acontece no penúltimo ano do reinado de Alfonso XIII, um ano e um mês antes de implantada a II República de Espanha.
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