quarta-feira, abril 7

Abandono Escolar

O Governo anunciou um Programa para combater o abandono escolar. Fica assim provada a importância e gravidade do assunto e a urgência da sua abordagem integrada. Congratulo-me com o anúncio. Não conheço os detalhes. É um daqueles projectos que devem merecer a atenção de todas as forças políticas e sociais. Seja para apoiar seja para criticar o seu lançamento, execução e resultados. O artigo sob o título "Abandono Escolar - Uma emergência nacional", publicado na última 6ª feira, no "Semanário Económico", já está disponível aqui.

25 de Abril - notas pessoais

As duas mortes do MES

A sessão final do I Congresso, calorosa e colorida, o símbolo do MES em pano de fundo, desenhado com os pés descalços dos militantes calcando a tinta vermelha, escondia a ruptura que todos assumimos com mais ou menos amargura.

Pela minha parte não falei nem subi ao palco. O argumento da minha recente saída do serviço militar e a invocada necessidade de salvaguardar, por razões de segurança, alguns dirigentes da exposição pública, ajudaram a compor a argumentação que me "salvou" desse sacrifício que a minha timidez natural também favorecia.

Tinha sido o nome mais votado para a Direcção o que pude verificar, pessoalmente, no momento do escrutínio. Mas a lógica colectivista já se tinha imposto, na prática, às afirmações individuais e todos a aceitamos sem questionar o sentido dos acontecimentos.

Assisti a essa sessão de encerramento nos bastidores da Aula Magna, a sós, na companhia de Jorge Sampaio. Posso agora dizê-lo sem constrangimentos: sentia-me um vencedor derrotado e o meu coração estava destroçado. Foi a primeira morte do MES.

Mas a vida tinha de continuar e não deixei de ser solidário, até ao fim, com todos os que julgaram, em boa fé, que o melhor caminho era aquele que a maioria tinha acabado de escolher.

Essa solidariedade assumida, de forma colectiva e responsável, até ao fim, continua presente na convocatória para o jantar de extinção do MES, datada de 31 de Julho de 1981, na qual se afirmava: "Pretende-se assim extinguir o MES, política e públicamente, com a dignidade que a sua rica experiência merece, assegurando, ao mesmo tempo, um destino útil para o seu património."

Os contactos deveriam ser efectuados para o subscritor destas notas e para A. Borges da Gama, dos quais se indicavam os contactos pessoais para recolha das necessárias inscrições prévias. A data apontada para a reunião, que deveria assumir a forma de "almoço ou jantar", era 4 ou 5 de Outubro de 1981. Acabou por ser jantar e deve ter decorrido num destes dias.

Na cópia da convocatória que tenho na minha posse, certamente por ter sido dirigida a um destinatário muito íntimo, escrevi, à mão: "Com mil lágrimas mas com um olhar seco que nestas coisas é preciso. Para tomares conhecimento."

E assim, de forma digna e original, o MES morreu pela segunda vez. Bem hajam todos os que nele acreditaram.

(18 de 32 continua)

terça-feira, abril 6

Abandono Escolar - uma emergência nacional (II)

Contrariar a tendência de agravamento da taxa de abandono escolar, em Portugal, é uma tarefa do Estado, quer dizer, da comunidade. O núcleo essencial para atacar o problema é a escola. A comunidade escolar conhece os problemas dos alunos, as suas dificuldades, as tensões que atravessam as suas vidas concretas.

O combate ao abandono da escola, antes do fim da escolaridade obrigatória, deveria ser considerado um grande desígnio nacional. Assim uma espécie de Euro 2004. Com prazos fatais. E obras emblemáticas. E figuras públicas reconhecidas envolvidas na promoção. Uma campanha a sério com objectivos quantificados e fiscalização da sua execução.

Não sei se seremos capazes de planear a médio/longo prazo um projecto de redução drástica desta hemorragia de recursos que representa o abandono escolar.

Será necessária muita clareza nas medidas, muita determinação e rigor nas acções a empreender tornando-as mobilizadoras para toda a comunidade nacional.

Não se trata tanto de uma questão de recursos materiais mas de vontade política e de mobilização cívica.

(Artigo publicado no "Semanário Económico" - 2 de Abril de 2004)

(2 de 3 continua)

Turismo em retrocesso

A evolução da actividade turística é um importante indicador da "saúde" da economia. O volume de turistas e o número de viagens turísticas realizadas pelos portugueses são indicadores do desenvolvimento sócio-económico do país. Nos últimos anos a actividade turística sempre cresceu assim como as "viagens turísticas dos residentes".

A notícia que nos chega do INE é que, em 2003, andamos para trás…

"Viagens Turísticas dos Residentes descem no último trimestre de 2003

No quarto trimestre de 2003, o número de turistas e de viagens realizadas pelos residentes em Portugal baixou quando comparado com igual período do ano anterior. Esta redução concretizou-se numa quebra de 10,4% no total das viagens realizadas e de 1,5 pontos percentuais na proporção da população que as efectuou. No período em análise, o número total de viagens foi de, aproximadamente, 2,36 milhões, representando um decréscimo homólogo de 10,4%.

Portugal foi o principal destino para 91,2% das viagens realizadas e apenas 8,8% das viagens efectuadas tiveram como principal destino o estrangeiro. Relativamente ao meio de transporte, o automóvel constituiu 79,3% das viagens realizadas, aumentando 10,3% na sua importância relativa face ao período homólogo do ano anterior."

Diário Económico















25 de Abril - notas pessoais

Do MES à "Nova Esquerda"


Nas reuniões e discussões prévias ao I Congresso lembro-me de ter, em diversos momentos, divagado a sós, angustiado pela percepção da "quadratura do círculo" que constituía, naquelas circunstâncias, conciliar a democracia representativa com a democracia directa, ou "poder popular".

Uma síntese impossível. Era necessário ganhar tempo, mas a gestão do tempo não era o nosso forte, nem o "espírito da época" favorecia as esperas sábias e pacientes.

As revoluções criam uma especial escala do tempo em que nos sentimos atraídos pela acção e a acção exige mais acção. A única saída possível para tornar o MES um Partido útil, na construção da democracia representativa e participativa, tinha-se esfumado com o desenlace daquele Congresso.

Os que romperam prepararam pacientemente a sua integração no PS. Os que ficaram, por convicção ideológica ou devoção a amizades autênticas, forjadas nas lutas do passado, foram absorvidos pela voragem dos acontecimentos e foram saindo, em levas sucessivas, até à extinção do movimento no célebre jantar do Mercado do Povo.

Após a extinção do MES alguns de nós dinamizaram, no início dos anos 80, a criação da "Nova Esquerda" em cuja declaração de princípios se preconizava o "desenvolvimento de um novo pensamento de esquerda que, assentando fundamentalmente na ideia do socialismo democrático, clarifique as suas fronteiras, encare os valores da liberdade individual, da solidariedade social e da iniciativa modernizadora (tanto ao nível económico como cultural), como elementos constitutivos essenciais."

Defendia-se, num notável documento de Julho de 1984, que mantém plena actualidade, entre outros objectivos, o debate "aberto e inconformista que envolva todos os sectores interessados na modernização do país", o "reforço da democracia" e a "adesão à CEE".

Esse documento preparado para a criação de uma abortada "Cooperativa Nova Esquerda" foi assumido por Afonso de Barros, Agostinho Roseta, Eduardo Ferro Rodrigues, Eduardo Graça, Eurico de Figueiredo, Jofre Justino, José Leitão, Júlio Dias, Margarida Marques, Sara Amâncio, Tereza de Sousa e Vitor Wengorovius.

Em 21de Abril de 1986 a Comissão Coordenadora da "Nova Esquerda", constituída por Afonso de Barros, Agostinho Roseta, Eduardo Ferro Rodrigues, Eduardo Graça e Vitor Wengorovius anuncia que, após seis anos, a "atitude de solidariedade crítica externa ao PS se esgotou e deve ser superada por uma intervenção política concreta que, para a maioria dos membros desta comissão, pode e deve ser realizada, desde já, dentro do PS."

Em consequência, no decurso do ano de 1986, todos os membros da Comissão da "Nova Esquerda", com excepção de Vitor Wengorovius, entre outros ex-activistas do MES, aderiram colectivamente ao PS.

(17 de 32 continua)

segunda-feira, abril 5

Abandono Escolar - uma emergência nacional (I)

A Comissão Europeia divulgou um "projecto de relatório intercalar" acerca dos objectivos da "Estratégia de Lisboa" para os sistemas de educação e de formação na Europa.

Esse relatório revela que, considerando os jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, a "taxa média de casos de abandono escolar, precoce, na União é de 18,8 %".

Surpreendente, ou talvez não, os dez países aderentes apresentam melhor desempenho que os actuais Estados membros da União com uma taxa de 8,4 %.

Outro facto relevante é que Portugal apresenta a mais alta taxa de abandono escolar da União Europeia com 45,5%. Ainda mais preocupante é o facto de Portugal (com a Dinamarca) ter invertido, a partir de meados da década de 90, a tendência para a melhoria deste indicador, encetada no início dessa mesma década.

Mesmo que se tente suavizar a situação, questionando os critérios adoptados para construir estes indicadores, são notícias preocupantes para a Europa e, em particular, para Portugal.

É uma situação reveladora da profunda "desvantagem competitiva" de Portugal face aos restantes países da EU. Não está em causa a estatística mas a economia e as vidas que se escondem por detrás da estatística.

Os jovens, na maior parte dos casos, abandonam a escola por razões económicas no quadro de situações familiares à beira do limiar da sobrevivência.

(Artigo publicado no "Semanário Económico" - 2 de Abril de 2004)

(1 de 3 continua)

PT - II

Nova notícia excitante acerca da PT.

Na anterior soube-se que a PT não pagava IRC. Não vi nem ouvi qualquer comentário, desmentido, referência crítica, enfim, tudo normal…

Agora uma venda das acções próprias a um Banco que afirma que não quer exercer os seus direitos... Altruísmo!

"Banco holandês detém 4,54% do capital e direitos de voto
A Portugal Telecom vendeu a totalidade das suas acções próprias ao banco holandês ABN Amro. O banco, que passou a deter 4,54 por cento do capital da PT, diz que não pretende exercer influência na gestão da empresa."

"Quem a tem..."


Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.

Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Jorge de Sena

Fidelidade (1958)

25 de Abril - notas pessoais

O I Congresso do MES - II


A ruptura política operada no 1º Congresso, e a consequente saída de Jorge Sampaio do nascente MES, não foi inesperada. Ela resultou de um longo processo de debate que durou semanas, ou meses, ao longo dos quais não se estabeleceram as pontes pessoais e políticas que poderiam ter inflectido aquele desenlace.

Recebi, pela minha parte, abundantes avisos e missivas alertando para a gravidade da ruptura que se adivinhava no horizonte. Tenho em minha posse os originais de duas cartas que me foram dirigidas, a título pessoal, que testemunham a consciência daquela situação.

Uma foi-me enviada, do Porto, por José Galamba de Oliveira, datada de 7 de Novembro de 1974, afirmando: " (...) Parece-me que estamos numa encruzilhada. Não prevejo que futuro está traçado a curto e médio prazo para este país nem vejo claro o que deveremos e poderemos fazer para inflectir favoravelmente o desenrolar do processo histórico. Embora não pense que a luta de classes se desenrole nas cúpulas, gostava de saber o que está arquivado nas gavetas das secretárias de Ford, Brejnev e companhia. Cada vez mais o que se passa num país é menos independente do panorama internacional, e continuo sem ver claro qual o projecto do PCP cá para o burgo lusitano."

E afirma a propósito do Congresso que se avizinhava: "Não estamos suficientemente fortes para depurações. Toda a flexibilidade e diplomacia são poucas para preservar o essencial".

Numa longa carta, de 15 de Dezembro de 1974, que me enviou de Moçambique, Luís Salgado de Matos adverte: "...rezo aos meus santinhos para que não façam cisões - sobretudo a cisão na confusão. Corre-se mais o risco da grupuscularização sem dogma que da social democratização derrapante: não defendo a síntese da carne e do peixe (...) mas julgo que é um risco grave cortar o pano sem ver o tecido. Cisão, a haver - pelo que se pode desenhar - afastará o social democratismo (...) mas reduzirá o MES ao nível do grupinho necessariamente sectário mas sem um conjunto rígido de princípios (que costuma ser a safa destes grupinhos)."

Sábias palavras...

(16 de 32 continua)

domingo, abril 4

Teresa Dias Coelho

Tomei nota pelo Causa Nossa que a Teresa Dias Coelho prestou um depoimento ao Público acerca da sua experiência de presa política às mãos da PIDE/DGS. Conheci a Teresa no rescaldo dos anos quentes de 74/75 e sempre admirei a sua pintura. Não conhecia os detalhes da sua experiência de prisão. Dá-me prazer recordar, com esse pretexto, a sua figura e recomendar a sua pintura.

Citação

"Quantos esforços desmedidos para ser apenas normal!"

Albert Camus

sábado, abril 3

Saramago

A discussão pública acerca da participação popular em eleições acendeu-se com a posição de Saramago acerca do voto em branco. Parece ser uma campanha de publicidade ao seu livro colocado, recentemente, no mercado. Lamentável! Colocar em discussão uma questão de tamanha importância a reboque do puro comércio.

Saramago mostra-se actualizado nesta matéria. É um carácter, no mínimo, um pouco estranho. Do livro não falo porque ainda não o li.

A questão do voto já tinha sido suscitada, recentemente, com a divulgação de sondagens anunciando uma fortíssima abstenção nas próximas eleições para o Parlamento Europeu. No entanto, nas recentes eleições em Espanha e em França, a abstenção caiu e ninguém ouviu falar do voto em branco. Mas a campanha publicitária de Saramago já estava em marcha.

As minhas desculpas mas vou dizer umas frases muito pouco sofisticadas a propósito deste magno tema da democracia representativa. Eu sei que na história da democracia houve ditadores que chegaram ao poder pela via eleitoral. Mas a defesa da democracia representativa vale a pena mesmo correndo os riscos do seu desvirtuamento.

A democracia e a liberdade admitem aperfeiçoamentos desde logo porque aceitam ouvir a voz daqueles que se lhes opõem; as ditaduras só aceitam o silêncio do consentimento e só sobrevivem através da supressão violenta das diferenças. A contestação da democracia cabe dentro da própria democracia. Estou aí nesse espaço em que se possa lutar para acrescentar mais democracia à democracia e mais liberdade à liberdade.

Sempre votei em todas as eleições livres (era esta a reivindicação dos tempos da ditadura, lembram-se?) que tiveram lugar após o 25 de Abril. Já tinha mais de 18 anos. E também votei nas farsas eleitorais, antes do 25 de Abril, quando a oposição democrática chegou até às urnas.

Nunca votei em branco. Votar em branco não representa uma escolha, representa a renúncia a uma escolha. As eleições existem para fazer escolhas. É esse o princípo em que se fundamenta o sufrágio universal. Para se chegar a este sistema, desprezado por Saramago, travaram-se muita lutas, fizeram-se muitos sacrifícios, muita gente se enganou, muitos foram humilhados e outros morreram...lembremo-nos da conquista do voto das mulheres e do voto dos negros...

Sempre que haja uma oportunidade para participar num acto eleitoral das duas uma: ou cada um de nós assume a sua responsabilidade individual pelos destinos do governo da comunidade votando no Partido ou Candidato da sua predilecção, ou, não exercendo esse dever, se demite de ser cidadão.

Pela parte que me toca só tive pena de não ter votado em Humberto Delgado. Mas, em 1958, tinha 11 anos. Nessa época só pude sentir o ambiente de forte apoio popular ao General conduzido, nas manifestações da sua campanha no Algarve, pela mão de meu pai.

Tenho a convicção que em Portugal se deverá adoptar, com urgência, o voto electrónico permitindo que todos possam votar, no limite, sem sair de casa. Questiono-me se não será de adoptar, também, como sucede noutros países, o voto obrigatório com penalização para quem não votar.

A democracia e a liberdade são o bem mais precioso da nossa comunidade. Devem pois ser defendidas e preservadas com a maior firmeza e determinação.

Se assim for os discursos dos Saramagos, com todo o respeito, não têm importância nenhuma.

Se assim não for ficam abertam as portas para que os aspirantes a tiranos sonhem com o poder. Eles esvoaçam por cima das nossas cabeças!


sexta-feira, abril 2

Um Estudo

O Público divulga um estudo realizado nos EUA que apresenta conclusões aparentemente banais mas muito interessantes para o debate do papel do investimento público e da qualidade dos serviços públicos como incentivos ao desenvolvimento.

"A melhoria da qualidade dos serviços públicos é um factor de captação de investimento superior ao da baixa de impostos ou concessão de incentivos, conclui um estudo agora divulgado pelo Instituto norte-americano de Política Económica (IPE)."

25 de Abril - notas pessoais

O I Congresso do MES - I


O Movimento de Esquerda Socialista, forjado no período ante-25 de Abril, rompeu-se no seu 1º Congresso, realizado na Aula Magna, em Lisboa, a meio do mês de Dezembro de 1974.

Nesse congresso estavam em confronto duas concepções do papel de um Partido da esquerda socialista no "processo revolucionário".

Uma maioria, fortemente radicalizada, sentia-se legitimada, pelo curso dos acontecimentos, para impor, ao futuro MES, uma orientação política anti-capitalista que, em si mesmo, não tinha originalidade, não fora ser fortemente influenciada pela ideologia da democracia directa que, no caso do MES, tomaria a designação de Poder Popular.

Ficava assim subalternizada a aceitação programática do modelo de democracia representativa vigente na maioria dos países da Europa ocidental.

A minha participação nesse congresso foi marcada pela dilaceração de ter percebido que não seria possível, na prática, evitar uma ruptura entre o grupo liderados por Jorge Sampaio e o grupo majoritário dos delegados ao Congresso.

Alguns dirigentes com responsabilidades, nos quais me incluía, tomamos, pelo silêncio, o partido da maioria, deixando que o coração vencesse a razão, abrindo, assim, a porta a uma deriva esquerdista com a qual, apesar de tudo, tempos mais tarde, tivemos a capacidade de cortar de forma original.

(15 de 32 continua)

quinta-feira, abril 1

"Quisera Adormecer"


Quisera adormecer
como a criança acorda,
à beira de outro tempo, que é o nosso.

Só quero o que não posso.

Jorge de Sena

8/4/53

O "Efeito Espanhol"


"As próximas eleições europeias vão-se realizar num ambiente político particularmente hostil aos partidos da coligação. Até há duas semanas esse ambiente prendia-se essencialmente com a conjuntura económico-social interna, mas a esses factores já de si muito negativos junta-se agora uma conjuntura externa fluida, depressiva e perigosa."

Pacheco Pereira reflecte hoje no Público acerca do "efeito espanhol". Aliás todos os comentadores políticos reflectem acerca do mesmo tema. No caso de JPP a sua reflexão é um alerta ao PSD: não se permita que o PSD "seja cada vez mais apresentado pelos seus adversários, sem qualquer protesto, como a "direita" ou um "partido de direita"".

Há caminhos que levam a becos sem saída. JPP já percebeu, e não foi agora, que o PSD sacrificou a sua "identidade social-democrata e reformista" quando optou pela aliança com o PP. Não foram as bombas de Madrid que provocaram, no caso de Portugal, o "forte mal-estar" e a agudização das críticas ao governo da coligação PSD/PP. Somente revelaram a profundidade desse mal-estar social, a fragilidade da estratégia reformista do governo, os interesses que nela se acobertam, os métodos autoritários, que mal se escondem, e a consciência do carácter transitório do poder.

Um dia se fará o balanço e o julgamento político do modelo político institucional e da governação da coligação PSD/PP. Só nessa altura JPP poderá conhecer os meandros desta governação, os seus beneficiários, enfim, a sua herança.

O estranho sentimento de "mal-estar" cujas razões agora lhe escapam, e que a sua argúcia lhe permite intuir, surgirão, nesses dias, em todo o seu esplendor nos destroços de um "arranjo político" de ocasião.

Nesse dia todos ficaremos a compreender a razão dos perigos que JPP hoje assinala: o PSD é um partido de direita, tem uma imagem pública de direita, os seus dirigentes não se demarcam da direita, tendo abandonado o programa reformista social-democrata.

Tenho uma solução para o quebra-cabeças de JPP: considere o PSD um "partido reformista de direita". Talvez seja uma inevitabilidade histórica.


25 de abril - notas pessoais

Uma base programática


Os subscritores do livro "Classes, Política Políticas de Classe" sublinham, na versão inicial da introdução, de Março de 74, a importância da intervenção do General Spínola e do seu livro "Portugal e o Futuro", "anunciando porventura uma maior acutilância da terceira força no xadrez político do País...", o que demonstra uma expectativa positiva face à hipótese de uma saída negociada para a crise do regime.

Demarcam-se, por outro lado, cuidadosamente, do conteúdo integral dos textos que integram o livro afirmando que "...esta selecção não representa plena adesão ao que os textos a seguir apresentados exprimem, mas sim o reconhecimento da importância dos mesmos para a análise da realidade nacional."

Ganham, dessa forma, tempo para um debate que estava por fazer. O movimento tinha sido surpreendido pela queda do regime, numa fase atrasada da sua estruturação orgânica, e não possuía um corpo coeso de ideias que lhe permitisse avançar para a criação de um partido político.

Mas naquele livro estava esboçada a base programática possível do futuro MES que a primeira Declaração política formal, redigida posteriormente, plenamente confirma. Nos seus diversos capítulos se abordam, entre outras, as questões da luta sindical, operária e "da previdência", as "questões urbanas", "escolar e estudantil" e "questão da CDE", assim como a luta da "TAP de Julho 73".

Mas para viabilizar a implantação popular de um partido socialista de esquerda, emergente do entusiasmo das lutas de base, o radicalismo teria que ser temperado pelo contributo doutrinário e pragmático dos quadros mais experientes e mais velhos.

Essa simbiose, na qual alguns de nós guardavam esperanças, fracassou. A ruptura de Jorge Sampaio, e do grupo que viria a constituir o GIS, impediu que o MES disputasse o espaço político que o recém-criado Partido Socialista, de Mário Soares, parecia incapaz de preencher.

Os meses que se seguiram ao 25 de Abril foram vividos num inevitável turbilhão de acontecimentos que ainda mais estimularam, em crescendo, as posições radicais inviabilizando todas as hipóteses de evitar a ruptura fatal no seio do projecto inicial do MES.

(14 de 32 continua)

quarta-feira, março 31

Os nossos compromissos

O Joaquim Paulo Nogueira, editor do respiraromesmoar, que entrou hoje nos meus favoritos, presenteou-me com uma prosa que, porventura, resulta das nossas comuns preocupações com os valores da criação artística.

A minha é mais discreta mas ele é já um dramaturgo quase maduro. Nos aproximam questões de gosto e de sensibilidade. De preocupação pela qualidade da escrita e de aproximação à realidade do outro. Comigo colaborou e eu colaborei com ele.

Gostei da sua ousadia em falar das nossas afinidades. Mesmo das políticas. De afinidades assumidas é que o mundo precisa e, mesmo na diferença, é o que precisa a gestão da coisa público e, ainda mais alto, é o que precisa a política entendida na mais nobre das acepções. Fidelidades e ousadias fraternais. Bem hajas.


TAXAS DE CONCLUSÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO NA UE

(% da população, de 22 anos, que completou com êxito, pelo menos, o ensino secundário, dados de 2002)

Portugal, no contexto da UE, apresenta indicadores do desempenho do sistema de educação e formação, a fazer fé nas estatísticas do EUROSTAT, medíocres. No que respeita à taxa de abandono escolar Portugal apresenta o pior desempenho da UE. O mesmo sucede com a taxa de conclusão do ensino secundário. Eis uma síntese dos resultados referentes á conclusão do ensino secundário:

Média da UE : 75,4 %
Média dos 10 Países aderentes à UE: 90,1 %
Média de Portugal : 44,9 %, último classificado. O Relatório assinala, no entanto, que Portugal realizou, nos últimos anos, progressos significativos.
País melhor classificado: Suécia - 89,3%

Relatório referente aos objectivos dos sistemas de educação e de formação na Europa - "Estratégia de Lisboa"

(A desenvolver em próximas entradas)

PT não paga IRC

"Portugal Telecom Não Pagará IRC em 2004 e 2005"

"A Portugal Telecom (PT) não pagou IRC em 2003, apesar de ter registado lucros e ter apresentado nas suas contas 377,9 milhões de euros de imposto sobre o rendimento do exercício. Esta situação decorre do facto de a empresa ter afectado às suas contas as menos-valias geradas em 2002 com os seus investimentos no Brasil."

Eis uma notícia hoje publicada no Público, no mínimo, preocupante para aqueles que pagam todos os seus impostos. Então o Estado "isenta" a PT de pagamento de IRC para "cobrir" as menas valias dos investimentos da PT no Brasil ? Esta modalidade de "incentivo" é aplicda a todas as empresas portuguesas que investem no estrangeiro? Isto é verdade? As autoridades, ou seja o Governo, terá alguma palavra a dizer acerca do assunto? E a PT? Está tudo legal, não é?