Um dia fora de Lisboa, a trabalhar, sem notícias e logo no dia das eleições na América. Original. Agora que vejo as notícias não encontro nada de novo. Reparo que JA Barreiros se despediu de colunista do DN e que todos descobrem o que eu já tinha experimentado vai para 2 anos. Bolas, estavam todos ceguinhos ou quê?
Essa teia promíscua entre os poderes político, económico e mediático, que agora tantos condenam, não é dos tempos deste governo. Já vem do anterior. A diferença está na gestão que se tornou, dia a dia, mais grosseira, descarada e disparatada. Nada de essencial mudou. Mas atenção que muitos dos que agora clamam contra a manipulação desesperada dos “media”, em favor da maioria governamental, amanhã a defenderão se ela satisfizer os seus próprios interesses.
Os únicos que podem ser os verdadeiros detentores do equilíbrio entre a verdade, a justiça e a liberdade, na gestão comunicacional, são os fazedores da própria notícia, ou sejam, os jornalistas. Os jornalistas profissionais, não os comentadores ou colaboradores de ocasião.
Quando se revoltam os jornalistas? Quando decidem tomar a palavra e colocá-la ao serviço da denúncia da corrupção dos seus próprios órgãos de comunicação? Têm medo? A democracia faz medo aos jornalistas? Que estranha democracia é esta em que os jornalistas têm medo da verdade?
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, novembro 2
Diários de Motocicleta - título original
Tempo atrás dei a notícia de que tinha estreado, no Festival de Cannes, o filme brasileiro “Diários de Motocicleta”, de que tinha lido muitas referências positivas na blogosfera do Brasil.
Fui ontem, finalmente, ver o filme que já está em exibição em Portugal. A sala, ao contrário da minha expectativa, estava quase cheia. Não esperava uma profunda reflexão filosófica acerca da revolução. Nem sequer um retrato da mitologia criada em torno de Che Guevara. O filme não caíu nessas tentações.
É simplesmente um filme. Uma sequência de belas imagens da américa latina e da situação social nela vivida no início do anos 50. Gostei porque me suscitou prazer e me comoveu. É o que me interessa, simplesmente. Além do mais o meu pai, na mesma época, tinha uma Norton, igualzinha à "Poderosa" na qual viajaram os dois amigos até certa altura da acção.
Vão ver que vale a pena.
Fui ontem, finalmente, ver o filme que já está em exibição em Portugal. A sala, ao contrário da minha expectativa, estava quase cheia. Não esperava uma profunda reflexão filosófica acerca da revolução. Nem sequer um retrato da mitologia criada em torno de Che Guevara. O filme não caíu nessas tentações.
É simplesmente um filme. Uma sequência de belas imagens da américa latina e da situação social nela vivida no início do anos 50. Gostei porque me suscitou prazer e me comoveu. É o que me interessa, simplesmente. Além do mais o meu pai, na mesma época, tinha uma Norton, igualzinha à "Poderosa" na qual viajaram os dois amigos até certa altura da acção.
Vão ver que vale a pena.
domingo, outubro 31
Cavafy na hora roubada
Eu aproveitei a hora para Federico Garcia Lorca. Preciso, de vez em quando, lá ir. Não sei explicar muito bem a razão mas isso também não interessa para nada.
Mas verifiquei que Pacheco Pereira no Abrupto voltou a Cavafy com o poema “O prazo de Nero”.
Entendi, embora estejam prometidas, para depois, outras notas. E, como da outra vez, eu volto com a tradução, diversa, de Jorge de Sena:
O PRAZO DE NERO
Inquieto, Nero não ficou, ouvindo,
do oráculo a resposta em Delfos:
“Que devia temer setenta anos mais três”.
Pois tem imenso tempo de gozar a vida.
Com trinta anos de idade! Como ainda vem longe
o prazo que o Deus lhe demarcou
para temer de perigos iminentes.
Voltará para Roma, cansado um pouco,
mas tão deliciosamente cansado de uma viagem
que nada foi que dias de prazer –
- nos teatros, nos parques, nos estádios…
o entardecer das cidades da Acaia…
E mais: a volúpia da nudez dos corpos…
Assim Nero pensava. Mas na Espanha Galba
secretamente reúne e prepara um exército:
um velho de setenta e mais três anos.
[1918]
Nota de Jorge de Sena dedicada a este poema:
“É o outro poema que tem Nero como personagem (ou outro intitula-se “As passadas”, anterior a 1911). A fonte pode ser qualquer história romana suficientemente vasta, mas o episódio vem narrado por Seutónio (70-c.122), no De Vita Caesarum, em que conta as biografias dos Césares, desde Júlio César até ao Imperador Domiciano. É histórico que Nero fez uma viagem triunfal à Grécia, em 67, de onde foi chamado, porque as conspirações se sucediam. Galba, general de alta linhagem e governador em Espanha, aceitou, nos princípios de 68, chefiar a revolução que derrubou Nero e o levou ao poder, quando Nero se suicidou. Mas Galba, por sua vez, foi assassinado no ano seguinte. Parece que ou o oráculo de Delfos ou Seutóneo (que recolhia tudo quanto há para a sua deliciosa e pérfida história) se enganaram quanto à idade de Galba que tinha cerca de 62 anos ao conspirar e reinar. Mas isso é de somenos importância para o belo poema."
Poema e Nota in “90 e Mais Quatro Poemas”, Constantino Cavafy, com tradução, prefácio, comentários e notas de Jorge de Sena, Edições ASA.
Mas verifiquei que Pacheco Pereira no Abrupto voltou a Cavafy com o poema “O prazo de Nero”.
Entendi, embora estejam prometidas, para depois, outras notas. E, como da outra vez, eu volto com a tradução, diversa, de Jorge de Sena:
O PRAZO DE NERO
Inquieto, Nero não ficou, ouvindo,
do oráculo a resposta em Delfos:
“Que devia temer setenta anos mais três”.
Pois tem imenso tempo de gozar a vida.
Com trinta anos de idade! Como ainda vem longe
o prazo que o Deus lhe demarcou
para temer de perigos iminentes.
Voltará para Roma, cansado um pouco,
mas tão deliciosamente cansado de uma viagem
que nada foi que dias de prazer –
- nos teatros, nos parques, nos estádios…
o entardecer das cidades da Acaia…
E mais: a volúpia da nudez dos corpos…
Assim Nero pensava. Mas na Espanha Galba
secretamente reúne e prepara um exército:
um velho de setenta e mais três anos.
[1918]
Nota de Jorge de Sena dedicada a este poema:
“É o outro poema que tem Nero como personagem (ou outro intitula-se “As passadas”, anterior a 1911). A fonte pode ser qualquer história romana suficientemente vasta, mas o episódio vem narrado por Seutónio (70-c.122), no De Vita Caesarum, em que conta as biografias dos Césares, desde Júlio César até ao Imperador Domiciano. É histórico que Nero fez uma viagem triunfal à Grécia, em 67, de onde foi chamado, porque as conspirações se sucediam. Galba, general de alta linhagem e governador em Espanha, aceitou, nos princípios de 68, chefiar a revolução que derrubou Nero e o levou ao poder, quando Nero se suicidou. Mas Galba, por sua vez, foi assassinado no ano seguinte. Parece que ou o oráculo de Delfos ou Seutóneo (que recolhia tudo quanto há para a sua deliciosa e pérfida história) se enganaram quanto à idade de Galba que tinha cerca de 62 anos ao conspirar e reinar. Mas isso é de somenos importância para o belo poema."
Poema e Nota in “90 e Mais Quatro Poemas”, Constantino Cavafy, com tradução, prefácio, comentários e notas de Jorge de Sena, Edições ASA.
O não blog de Clara Ferreira Alves
Trancrevo a crónica de Clara Ferreira Alves publicada, ontem, no "Expresso". Serei um, entre muitos, a dar blog a Clara.
"O meu «blog»
«Aqui para nós que ninguém nos ouve, seria uma péssima ideia ser directora do 'Diário de Notícias'.»
Não tenho um «blog» mas, há alturas em que um «blog» dá muito jeito. Se eu tivesse um «blog» faria estes breves apontamentos.
1. Quem me convidou ao certo para dirigir o «Diário de Notícias»? O Governo, o primeiro-ministro, o presidente da PT, os accionistas da PT, ou o Mário Bettencourt Resendes e o Luís Delgado? Ou será que sonhei? Porque esse lugar de director não estava vago.
2. Uns dias antes da minha recusa em dirigir o «Diário de Notícias» apareceu publicado nesse jornal um texto de uma assessora política do primeiro-ministro. Eis o tipo de texto que eu jamais publicaria se fosse directora do «Diário de Notícias» mas, curiosamente, enquanto os jornalistas se afadigavam a atacar-me e ao meu famoso «santanismo», ninguém com excepção de José Pacheco Pereira no seu «blog» (o jeito que dá um «blog») reparou neste exemplo de independência, isenção e critério jornalístico do «Diário de Notícias».
3. No dia seguinte à minha recusa em dirigir o «Diário de Notícias», o mesmo «Diário de Notícias» não dava uma única notícia sobre o assunto, ignorando-o jornalisticamente, olimpicamente. Foi o único órgão de comunicação social a fazê-lo. No «Diário de Notícias», que fui convidada para dirigir, eu não sou notícia nem breve nem «fait-divers». Coisa interessante. E tudo na mesma como dantes. Mais isenção.
4. Na mesma semana agitada, daquelas semanas em que mais valia estarmos, como dizia o cómico W. C. Fields, em Filadélfia, uma «fonte governamental» confirmou que a minha decisão «estava tomada». Coisa interessante. Como é que a «fonte governamental» sabe o que eu estou a pensar? E como é que se arroga o direito de responder por mim? Aqui, remeto para a minha carta ao Abrigo do Direito de Resposta que o EXPRESSO publica neste número.
5. O wittgensteiniano Não sei Quantos Cintra Torres, que sempre confundo com alguém que vendia parabólicas, e que para escrever sobre um «reality show» cita Kant, Hegel e o neo-confusionismo, presume de culto e de saber de tudo. E lá veio ele, lesto e molesto, acusar-me de ser uma «santanete» colocada no «Diário de Notícias» para manipular e controlar o jornal a favor do Governo. É bom que Cintra Torres, que também posso confundir com o homem das cervejas Cintra, deixe de se meter comigo, o que ele tem feito modestamente até aqui. Porque eu, ao contrário do que ele pensa, sou incontrolável, e escrevo melhor do que ele (sem citar Wittgenstein). E já agora, Cintra Torres está a fazer um projecto de uma série, ou um filme, ou lá o que é, com o actual director do «Diário de Notícias», (não, não sou eu, não seria, não fui...) para a RTP. A mesma RTP para quem Cintra Torres trabalha como colaborador e crítico imparcial. Será que é ele que vai criticar o trabalho dele na RTP? Mais um caso de isenção e imparcialidade nos «media».
6. Aqui para nós que ninguém nos ouve, seria uma péssima ideia ser directora do «Diário de Notícias», porque deixava de poder escrever estas coisas. Ou então, arranjava um «blog» (o jeito que dá um «blog»).
7. Mudando de assunto, para refrescar, o actual procurador da República veio dizer esta frase «Eu seria o último a prejudicar o PS». Isto, porque foi o PS que lhe deu este emprego. Eis um dos raríssimos casos dos últimos tempos em que não foi Santana Lopes o culpado de tudo. Imaginem se o procurador dissesse «Eu seria o último a prejudicar o PSD». Era mau, não era?
8. Conheço o Pedro Santana Lopes há muitos anos e nem ele nem eu temos culpa disso. Mas, se eu sou «santanete», por que não há-de ele ser «clarete»? Eis mais um caso flagrante de discriminação e perseguição das mulheres. Nunca teremos poder suficiente para... E, com mulheres a recusarem cargos de chefia de jornais, nunca teremos. Porque, vê-se bem que todos os jornais em Portugal são feitos por homens (e quase todos os «blogs» também, embora elas comecem a crescer e multiplicar-se.).
9. Na melhor tradição machista e misógina da praça portuguesa, ou melhor, da praceta portuguesa, assim que se soube por esses jornais fora que eu tinha sido convidada para directora do «Diário de Notícias», coisa que todos os jornais sabiam menos o «Diário de Notícias» (coisa interessante), começaram logo a debochar sobre o meu corte e cor de cabelo e os meus «bâtons» berrantes e por aí fora. Nos «blogs». Um tal Luís Nazaré escreve uma palhaçada sobre mim por causa disso. Será o mesmo homem simpático e educado que me convidou há tempos (e à minha probidade intelectual) para um Encontro sobre Educação do Partido Socialista? Não deve ser. Devo dizer que sem um bom corte de cabelo e um bom «bâton», considero impossível dirigir um jornal sério como o «Diário de Notícias». É uma condição contratual tão importante como a garantia da autonomia, independência e isenção.
10. E, a finalizar, por que é que eu não fui afinal dirigir o «Diário de Notícias»? Bom, esperem pelas minhas Memórias. Ou talvez nem seja preciso. Depois do tempo perdido com o jornalismo português contemporâneo, que tão doente anda, bem preciso de regressar aos livros. E escrever um livro é um acto solitário perfeito, como o onanismo.
11. Finalizo em tom nostálgico e «esquerdista», naquele estilo que os meus inimigos literários abominam. Tenho saudades do tempo português em que existiam Natálias Correias (e Veras Lagoas). Muita saudade. O que por aí anda não presta. Muito silêncio, muito medo, muita agenda política disfarçada, muito emprego a segurar. Muita ambição sem talento. Muito cabotinismo.
"O meu «blog»
«Aqui para nós que ninguém nos ouve, seria uma péssima ideia ser directora do 'Diário de Notícias'.»
Não tenho um «blog» mas, há alturas em que um «blog» dá muito jeito. Se eu tivesse um «blog» faria estes breves apontamentos.
1. Quem me convidou ao certo para dirigir o «Diário de Notícias»? O Governo, o primeiro-ministro, o presidente da PT, os accionistas da PT, ou o Mário Bettencourt Resendes e o Luís Delgado? Ou será que sonhei? Porque esse lugar de director não estava vago.
2. Uns dias antes da minha recusa em dirigir o «Diário de Notícias» apareceu publicado nesse jornal um texto de uma assessora política do primeiro-ministro. Eis o tipo de texto que eu jamais publicaria se fosse directora do «Diário de Notícias» mas, curiosamente, enquanto os jornalistas se afadigavam a atacar-me e ao meu famoso «santanismo», ninguém com excepção de José Pacheco Pereira no seu «blog» (o jeito que dá um «blog») reparou neste exemplo de independência, isenção e critério jornalístico do «Diário de Notícias».
3. No dia seguinte à minha recusa em dirigir o «Diário de Notícias», o mesmo «Diário de Notícias» não dava uma única notícia sobre o assunto, ignorando-o jornalisticamente, olimpicamente. Foi o único órgão de comunicação social a fazê-lo. No «Diário de Notícias», que fui convidada para dirigir, eu não sou notícia nem breve nem «fait-divers». Coisa interessante. E tudo na mesma como dantes. Mais isenção.
4. Na mesma semana agitada, daquelas semanas em que mais valia estarmos, como dizia o cómico W. C. Fields, em Filadélfia, uma «fonte governamental» confirmou que a minha decisão «estava tomada». Coisa interessante. Como é que a «fonte governamental» sabe o que eu estou a pensar? E como é que se arroga o direito de responder por mim? Aqui, remeto para a minha carta ao Abrigo do Direito de Resposta que o EXPRESSO publica neste número.
5. O wittgensteiniano Não sei Quantos Cintra Torres, que sempre confundo com alguém que vendia parabólicas, e que para escrever sobre um «reality show» cita Kant, Hegel e o neo-confusionismo, presume de culto e de saber de tudo. E lá veio ele, lesto e molesto, acusar-me de ser uma «santanete» colocada no «Diário de Notícias» para manipular e controlar o jornal a favor do Governo. É bom que Cintra Torres, que também posso confundir com o homem das cervejas Cintra, deixe de se meter comigo, o que ele tem feito modestamente até aqui. Porque eu, ao contrário do que ele pensa, sou incontrolável, e escrevo melhor do que ele (sem citar Wittgenstein). E já agora, Cintra Torres está a fazer um projecto de uma série, ou um filme, ou lá o que é, com o actual director do «Diário de Notícias», (não, não sou eu, não seria, não fui...) para a RTP. A mesma RTP para quem Cintra Torres trabalha como colaborador e crítico imparcial. Será que é ele que vai criticar o trabalho dele na RTP? Mais um caso de isenção e imparcialidade nos «media».
6. Aqui para nós que ninguém nos ouve, seria uma péssima ideia ser directora do «Diário de Notícias», porque deixava de poder escrever estas coisas. Ou então, arranjava um «blog» (o jeito que dá um «blog»).
7. Mudando de assunto, para refrescar, o actual procurador da República veio dizer esta frase «Eu seria o último a prejudicar o PS». Isto, porque foi o PS que lhe deu este emprego. Eis um dos raríssimos casos dos últimos tempos em que não foi Santana Lopes o culpado de tudo. Imaginem se o procurador dissesse «Eu seria o último a prejudicar o PSD». Era mau, não era?
8. Conheço o Pedro Santana Lopes há muitos anos e nem ele nem eu temos culpa disso. Mas, se eu sou «santanete», por que não há-de ele ser «clarete»? Eis mais um caso flagrante de discriminação e perseguição das mulheres. Nunca teremos poder suficiente para... E, com mulheres a recusarem cargos de chefia de jornais, nunca teremos. Porque, vê-se bem que todos os jornais em Portugal são feitos por homens (e quase todos os «blogs» também, embora elas comecem a crescer e multiplicar-se.).
9. Na melhor tradição machista e misógina da praça portuguesa, ou melhor, da praceta portuguesa, assim que se soube por esses jornais fora que eu tinha sido convidada para directora do «Diário de Notícias», coisa que todos os jornais sabiam menos o «Diário de Notícias» (coisa interessante), começaram logo a debochar sobre o meu corte e cor de cabelo e os meus «bâtons» berrantes e por aí fora. Nos «blogs». Um tal Luís Nazaré escreve uma palhaçada sobre mim por causa disso. Será o mesmo homem simpático e educado que me convidou há tempos (e à minha probidade intelectual) para um Encontro sobre Educação do Partido Socialista? Não deve ser. Devo dizer que sem um bom corte de cabelo e um bom «bâton», considero impossível dirigir um jornal sério como o «Diário de Notícias». É uma condição contratual tão importante como a garantia da autonomia, independência e isenção.
10. E, a finalizar, por que é que eu não fui afinal dirigir o «Diário de Notícias»? Bom, esperem pelas minhas Memórias. Ou talvez nem seja preciso. Depois do tempo perdido com o jornalismo português contemporâneo, que tão doente anda, bem preciso de regressar aos livros. E escrever um livro é um acto solitário perfeito, como o onanismo.
11. Finalizo em tom nostálgico e «esquerdista», naquele estilo que os meus inimigos literários abominam. Tenho saudades do tempo português em que existiam Natálias Correias (e Veras Lagoas). Muita saudade. O que por aí anda não presta. Muito silêncio, muito medo, muita agenda política disfarçada, muito emprego a segurar. Muita ambição sem talento. Muito cabotinismo.
Romance de la guardia civil española
A Juan Guerrero
Cónsul General de la Poesía
Los caballos negros son.
Las herraduras son negras.
Sobre las capes relucen
manchas de tinta y de cera.
Tienen, por eso no lloran,
de plomo las calaveras.
Con el alma de charol
vienen por la carretera.
Jorobados y nocturnos,
por donde animan ordenan
silencios de goma oscura
y miedos de fina arena.
Pasan, si quieren pasar,
y ocultan en la cabeza
una vaga astronomía
de pistolas inconcretas.
*
¡Oh ciudad de los gitanos!
En las esquinas banderas.
La luna y la calabaza
con las guindas en conserva.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Ciudad de dolor y almizcle,
con las torres de canela.
*
Cuando llegaba la noche,
noche que noche nochera,
los gitanos en sus fraguas
forjaban soles y flechas.
Un caballo malherido,
llamaba a todas las puertas.
Gallos de vidrio cantaban
por Jerez de la Frontera.
El viento vuelve desnudo
la esquina de la sorpresa,
en la noche platinoche
noche, que noche nochera.
*
La Virgen y San José,
perdieron sus castañuelas,
y buscan a los gitanos
para ver si las encuentran.
La Virgen viene vestida
con un traje de alcaldesa
de papel de chocolate
con los collares de almendras.
San José mueve los brazos
bajo una capa de seda.
Detrás va Pedro Domecq
con tres sultanes de Persia.
La media luna soñaba
un éxtasis de cigüeña.
Estandartes y faroles
invaden las azoteas.
Por los espejos sollozan
bailarinas sin caderas.
Agua y sombra, sombra y agua
por Jerez de la Frontera.
*
¡Oh ciudad de los gitanos!
En las esquinas banderas.
Apaga tus verdes luces
que viene la benemérita.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Dejadla lejos del mar, sin
peines para sus crenchas.
*
Avanzan de dos en fondo
a la ciudad de la fiesta.
Un rumor de siemprevivas
invade las cartucheras.
Avanzan de dos en fondo.
Doble nocturno de tela.
El cielo, se les antoja,
una vitrina de espuelas.
*
La ciudad libre de miedo,
multiplicaba sus puertas.
Cuarenta guardias civiles
entran a saco por ellas.
Los relojes se pararon,
y el coñac de las botellas
se disfrazó de noviembre
para no infundir sospechas.
Un vuelo de gritos largos
se levantó en las veletas.
Los sables cortan las brisas
que los cascos atropellan.
Por las calles de penumbra
huyen las gitanas viejas
con los caballos dormidos
y las orzas de monedas.
Por las calles empinadas
suben las capas siniestras,
dejando atrás fugaces
remolinos de tijeras.
En el portal de Belén
los gitanos se congregan.
San José, lleno de heridas,
amortaja a una doncella.
Tercos fusiles agudos
por toda la noche suenan.
La Virgen cura a los niños
con salivilla de estrella.
Pero la Guardia Civil
avanza sembrando hogueras,
donde joven y desnuda
la imaginación se quema.
Rosa la de los Camborios,
gime sentada en su puerta
con sus dos pechos cortados
puestos en una bandeja.
Y otras muchachas corrían
perseguidas por sus trenzas,
en un aire donde estallan
rosas de pólvora negra.
Cuando todos los tejados
eran surcos en la sierra,
el alba meció sus hombros
en largo perfil de piedra.
*
¡Oh ciudad de los gitanos!
La Guardia Civil se aleja
por un túnel de silencio
mientras las llamas te cercan.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Que te busquen en mi frente.
Juego de luna y arena.
Federico Garcia Lorca
Cónsul General de la Poesía
Los caballos negros son.
Las herraduras son negras.
Sobre las capes relucen
manchas de tinta y de cera.
Tienen, por eso no lloran,
de plomo las calaveras.
Con el alma de charol
vienen por la carretera.
Jorobados y nocturnos,
por donde animan ordenan
silencios de goma oscura
y miedos de fina arena.
Pasan, si quieren pasar,
y ocultan en la cabeza
una vaga astronomía
de pistolas inconcretas.
*
¡Oh ciudad de los gitanos!
En las esquinas banderas.
La luna y la calabaza
con las guindas en conserva.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Ciudad de dolor y almizcle,
con las torres de canela.
*
Cuando llegaba la noche,
noche que noche nochera,
los gitanos en sus fraguas
forjaban soles y flechas.
Un caballo malherido,
llamaba a todas las puertas.
Gallos de vidrio cantaban
por Jerez de la Frontera.
El viento vuelve desnudo
la esquina de la sorpresa,
en la noche platinoche
noche, que noche nochera.
*
La Virgen y San José,
perdieron sus castañuelas,
y buscan a los gitanos
para ver si las encuentran.
La Virgen viene vestida
con un traje de alcaldesa
de papel de chocolate
con los collares de almendras.
San José mueve los brazos
bajo una capa de seda.
Detrás va Pedro Domecq
con tres sultanes de Persia.
La media luna soñaba
un éxtasis de cigüeña.
Estandartes y faroles
invaden las azoteas.
Por los espejos sollozan
bailarinas sin caderas.
Agua y sombra, sombra y agua
por Jerez de la Frontera.
*
¡Oh ciudad de los gitanos!
En las esquinas banderas.
Apaga tus verdes luces
que viene la benemérita.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Dejadla lejos del mar, sin
peines para sus crenchas.
*
Avanzan de dos en fondo
a la ciudad de la fiesta.
Un rumor de siemprevivas
invade las cartucheras.
Avanzan de dos en fondo.
Doble nocturno de tela.
El cielo, se les antoja,
una vitrina de espuelas.
*
La ciudad libre de miedo,
multiplicaba sus puertas.
Cuarenta guardias civiles
entran a saco por ellas.
Los relojes se pararon,
y el coñac de las botellas
se disfrazó de noviembre
para no infundir sospechas.
Un vuelo de gritos largos
se levantó en las veletas.
Los sables cortan las brisas
que los cascos atropellan.
Por las calles de penumbra
huyen las gitanas viejas
con los caballos dormidos
y las orzas de monedas.
Por las calles empinadas
suben las capas siniestras,
dejando atrás fugaces
remolinos de tijeras.
En el portal de Belén
los gitanos se congregan.
San José, lleno de heridas,
amortaja a una doncella.
Tercos fusiles agudos
por toda la noche suenan.
La Virgen cura a los niños
con salivilla de estrella.
Pero la Guardia Civil
avanza sembrando hogueras,
donde joven y desnuda
la imaginación se quema.
Rosa la de los Camborios,
gime sentada en su puerta
con sus dos pechos cortados
puestos en una bandeja.
Y otras muchachas corrían
perseguidas por sus trenzas,
en un aire donde estallan
rosas de pólvora negra.
Cuando todos los tejados
eran surcos en la sierra,
el alba meció sus hombros
en largo perfil de piedra.
*
¡Oh ciudad de los gitanos!
La Guardia Civil se aleja
por un túnel de silencio
mientras las llamas te cercan.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Que te busquen en mi frente.
Juego de luna y arena.
Federico Garcia Lorca
Um poema longo de Federico Garcia Lorca
Um poema longo significa um intervalo e uma dificuldade.
Os posts querem-se curtos tal como o instante em que a hora mudou. Foi há momentos atrás. Passou a ser uma hora mais cedo.
Vale a pena conhecer Federico Garcia Lorca.
Os posts querem-se curtos tal como o instante em que a hora mudou. Foi há momentos atrás. Passou a ser uma hora mais cedo.
Vale a pena conhecer Federico Garcia Lorca.
sábado, outubro 30
União Europeia - um fracasso e o que está para vir
Está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo “ELEIÇÕES EUROPEIAS – SINAIS DE PREOCUPAÇÃO” publicado no rescaldo das eleições europeias de Junho de 2004.
O recente fracasso de José Manuel Barroso, na aprovação da proposta de Comissão pelo Parlamento Europeu, é só um primeiro sinal das dificuldades que se vão seguir.
Os processos de ratificação da Constituição Europeia, ontem assinada em Roma, pelos Chefes de Estado e de Governo, de cada um dos 25 países membros, revelarão que, como se afirma, na parte final do artigo, “os sentimentos euro-cépticos e euro-fóbicos, assim como os nacionalismos radicais, que afloraram, com veemência, nas últimas eleições europeias, podem transformar-se em verdadeiras ameaças ao desenvolvimento do projecto europeu e à própria democracia representativa que gerações sucessivas construíram à custa de milhões de mortos e de sacrifícios sem fim.”
E concluo: “A propósito destas preocupações lembro sempre o que Albert Camus escreveu e que é a chave para entender muitas mudanças que, à primeira vista, nos podem surpreender: “Organiza-se tudo: É simples e evidente. Mas o sofrimento humano intervém e altera todos os planos”
O recente fracasso de José Manuel Barroso, na aprovação da proposta de Comissão pelo Parlamento Europeu, é só um primeiro sinal das dificuldades que se vão seguir.
Os processos de ratificação da Constituição Europeia, ontem assinada em Roma, pelos Chefes de Estado e de Governo, de cada um dos 25 países membros, revelarão que, como se afirma, na parte final do artigo, “os sentimentos euro-cépticos e euro-fóbicos, assim como os nacionalismos radicais, que afloraram, com veemência, nas últimas eleições europeias, podem transformar-se em verdadeiras ameaças ao desenvolvimento do projecto europeu e à própria democracia representativa que gerações sucessivas construíram à custa de milhões de mortos e de sacrifícios sem fim.”
E concluo: “A propósito destas preocupações lembro sempre o que Albert Camus escreveu e que é a chave para entender muitas mudanças que, à primeira vista, nos podem surpreender: “Organiza-se tudo: É simples e evidente. Mas o sofrimento humano intervém e altera todos os planos”
Um ano é muito tempo - II
Nicolau Santos, no Expresso, faz qualquer pessoa de bom senso alinhar nas críticas de Cavaco Silva. É uma ironia da história. Mas a realidade tem mais força do que a ideologia.
A política económica de um governo tomado por uma deriva eleitoralista pode colocar Portugal numa situação ainda mais difícil não só face ao cumprimento dos critérios da UE mas à criação de condições para a criação de riqueza nacional e a uma sua mais justa distribuição.
Não é o programa da direita no poder que está em causa é o futuro de uma outra qualquer política económica de um futuro governo socialista.
"Já estamos todos a rezar, professor - Cavaco dá sinal de que não gosta do OE 2005
CAVACO Silva pediu esta semana aos portugueses para rezarem para que o poder político não lance Portugal noutra crise de finanças públicas. Eu, pela minha parte, já comecei. Mas em verdade lhe digo, professor, que embora os ventos divinos sempre tenham estado connosco - e é ver o caso do «Prestige», que só não poluiu as águas marítimas portuguesas por intervenção de Nossa Senhora de Fátima, segundo o ministro Paulo Portas - desta vez o milagre vai ser mais difícil do que o Sporting ganhar jogos com o auxílio do Além, por interposto padre Vítor Melícias.
É que, logo por azar, no mesmo dia em que Cavaco fazia tão lancinante apelo, o comissário europeu Joaquín Almunia, divulgava as previsões de Outono da Comissão Europeia, onde se afirma que em 2005 Portugal não vai violar um, mas os três critérios do Pacto de Estabilidade. Não vamos cumprir o défice de 3%, a dívida será superior a 60% do PIB (já vai em 62%) e o défice estrutural não descerá meio ponto do produto como nos dois anos anteriores.
Sejamos justos: dois dos critérios não vamos cumprir. Mas o défice, com mais alguma desorçamentação, com mais algum fundo de pensões transferido para a Caixa Geral de Aposentações, com mais alguma venda de património, acabará por ser cumprido.
O mais importante, contudo, é que já se deitou por terra todo o trabalho de contenção feito nos dois anos anteriores e a política económica mudou radicalmente.
Como Cavaco disse, tem dúvidas sobre o rumo do país e as grandes orientações estratégicas da política económica. Nós também, professor. E uma única certeza: isto não é obra do Demo, mas de um Governo e de um ministro das Finanças que vão andar por cá até ao final de 2006."
Nicolau Santos
"Expresso"
A política económica de um governo tomado por uma deriva eleitoralista pode colocar Portugal numa situação ainda mais difícil não só face ao cumprimento dos critérios da UE mas à criação de condições para a criação de riqueza nacional e a uma sua mais justa distribuição.
Não é o programa da direita no poder que está em causa é o futuro de uma outra qualquer política económica de um futuro governo socialista.
"Já estamos todos a rezar, professor - Cavaco dá sinal de que não gosta do OE 2005
CAVACO Silva pediu esta semana aos portugueses para rezarem para que o poder político não lance Portugal noutra crise de finanças públicas. Eu, pela minha parte, já comecei. Mas em verdade lhe digo, professor, que embora os ventos divinos sempre tenham estado connosco - e é ver o caso do «Prestige», que só não poluiu as águas marítimas portuguesas por intervenção de Nossa Senhora de Fátima, segundo o ministro Paulo Portas - desta vez o milagre vai ser mais difícil do que o Sporting ganhar jogos com o auxílio do Além, por interposto padre Vítor Melícias.
É que, logo por azar, no mesmo dia em que Cavaco fazia tão lancinante apelo, o comissário europeu Joaquín Almunia, divulgava as previsões de Outono da Comissão Europeia, onde se afirma que em 2005 Portugal não vai violar um, mas os três critérios do Pacto de Estabilidade. Não vamos cumprir o défice de 3%, a dívida será superior a 60% do PIB (já vai em 62%) e o défice estrutural não descerá meio ponto do produto como nos dois anos anteriores.
Sejamos justos: dois dos critérios não vamos cumprir. Mas o défice, com mais alguma desorçamentação, com mais algum fundo de pensões transferido para a Caixa Geral de Aposentações, com mais alguma venda de património, acabará por ser cumprido.
O mais importante, contudo, é que já se deitou por terra todo o trabalho de contenção feito nos dois anos anteriores e a política económica mudou radicalmente.
Como Cavaco disse, tem dúvidas sobre o rumo do país e as grandes orientações estratégicas da política económica. Nós também, professor. E uma única certeza: isto não é obra do Demo, mas de um Governo e de um ministro das Finanças que vão andar por cá até ao final de 2006."
Nicolau Santos
"Expresso"
sexta-feira, outubro 29
Um ano é muito tempo
Dizem-se palavras cada vez mais duras. Surgem apelos à revolta da pena de intelectuais, artistas, políticos e comentadores conceituados mesmo que deles, aqui e ali, discordemos.
Este clamor não tem paralelo nos tempos mais recentes. Talvez só se encontrem semelhanças nos confrontos do período pós revolucionário de 1975. Tenho dito, citando conversas que oiço no quotidiano: “um dia vai haver uma revolta popular”.
Não é preciso saber muito de economia, nem de política, para entender que a corda, se esticar mais, vai partir. Não são as medidas reformistas que indignam, mas as injustiças, os linchamentos públicos, a descarada partilha partidária do poder, as negociatas e a promiscuidade entre os poderes económico, político e mediático. Toda a gente já percebeu tudo.
A igreja já o denunciou a propósito do agravamento dos fenómenos de extrema pobreza. Todos os dias milhões de conversas e frases reproduzem, pelo país fora, sentimentos profundos de desilusão, amargura e desespero.
As eleições podiam ser um escape e uma resposta para retemperar a esperança perdida. Mas em tempo normal as próximas eleições – autárquicas – serão daqui a um ano. Mas um ano, nestas condições, é muito tempo!
Este clamor não tem paralelo nos tempos mais recentes. Talvez só se encontrem semelhanças nos confrontos do período pós revolucionário de 1975. Tenho dito, citando conversas que oiço no quotidiano: “um dia vai haver uma revolta popular”.
Não é preciso saber muito de economia, nem de política, para entender que a corda, se esticar mais, vai partir. Não são as medidas reformistas que indignam, mas as injustiças, os linchamentos públicos, a descarada partilha partidária do poder, as negociatas e a promiscuidade entre os poderes económico, político e mediático. Toda a gente já percebeu tudo.
A igreja já o denunciou a propósito do agravamento dos fenómenos de extrema pobreza. Todos os dias milhões de conversas e frases reproduzem, pelo país fora, sentimentos profundos de desilusão, amargura e desespero.
As eleições podiam ser um escape e uma resposta para retemperar a esperança perdida. Mas em tempo normal as próximas eleições – autárquicas – serão daqui a um ano. Mas um ano, nestas condições, é muito tempo!
Pequeño Poema Infinito
Para Luis Cardoza y Aragón
Equivocar el camino
es llegar a la nieve
y llegar a la nieve
es pacer durante veinte siglos las hierbas de los cementerios.
Equivocar el camino
es llegar a la mujer,
la mujer que no teme la luz,
la mujer que mata dos gallos en un segundo,
y luz que no teme a los gallos
y los gallos que no saben cantar sobre la nieve.
Pero si la nieve se equivoca de corazón
puede llegar el viento Austro
y como el aire no hace caso de los gemidos
tendremos que pacer otra vez las hierbas de los cementerios.
Yo vi dos dolorosas espigas de cera
que enterraban un paisaje de volcanes
y vi dos niños locos que empujaban llorando las pupilas de un asesino.
Pero el dos no ha sido nunca un número
porque es una angustia y su sombra,
porque es la guitarra donde el amor se desespera,
porque es la demostración de otro infinito que no es suyo
y es las murallas del muerto
y el castigo de la nueva resurrección sin finales.
Los muertos odian el número dos,
pero el número dos adormece a las mujeres
y como la mujer teme la luz
la luz tiembla delante de los gallos
y los gallos sólo saben volar sobre la nieve
tendremos que pacer sin descanso las hierbas de los cementerios
10 de enero de 1930. Nueva York
Federico Garcia Lorca
Equivocar el camino
es llegar a la nieve
y llegar a la nieve
es pacer durante veinte siglos las hierbas de los cementerios.
Equivocar el camino
es llegar a la mujer,
la mujer que no teme la luz,
la mujer que mata dos gallos en un segundo,
y luz que no teme a los gallos
y los gallos que no saben cantar sobre la nieve.
Pero si la nieve se equivoca de corazón
puede llegar el viento Austro
y como el aire no hace caso de los gemidos
tendremos que pacer otra vez las hierbas de los cementerios.
Yo vi dos dolorosas espigas de cera
que enterraban un paisaje de volcanes
y vi dos niños locos que empujaban llorando las pupilas de un asesino.
Pero el dos no ha sido nunca un número
porque es una angustia y su sombra,
porque es la guitarra donde el amor se desespera,
porque es la demostración de otro infinito que no es suyo
y es las murallas del muerto
y el castigo de la nueva resurrección sin finales.
Los muertos odian el número dos,
pero el número dos adormece a las mujeres
y como la mujer teme la luz
la luz tiembla delante de los gallos
y los gallos sólo saben volar sobre la nieve
tendremos que pacer sin descanso las hierbas de los cementerios
10 de enero de 1930. Nueva York
Federico Garcia Lorca
Eleições na Améica
O caso não se passa na Venezuela. Nem no Sudão. O caso passa-se no país que se intitula a Pátria da Liberdade e da Democracia: Os Estados Unidos da América!
Roubo de boletins de voto na Florida
Roubo de boletins de voto na Florida
De ambos os lados da barricada
Esta história faz-me lembrar tanta coisa. Li e assustei-me. Não conhecesse as personagens e seria capaz de efabular.
José Manuel Barroso, em dificuldades, regressa a Lisboa para dirigir o DN.
Santana Lopes, em dificuldades no Governo, assume a direcção de informação da TVI, acumulando com os comentários de domingo à noite.
Portas, em dificuldades no governo, regressa ao Independente. E assim por aí adiante.
Desta forma ficaria garantido o controle da comunicação social. E o governo não duraria muito tempo sob o fogo cruzado dos mais violentos e implacáveis ataques da comunicação social. Até ir ao tapete.
Não estejam a pensar que desgraçado governo seria esse. Era este mesmo, que está em funções, ainda com mais legitimidade pois teria os seus mais ferozes inimigos e críticos lá dentro. Só assim a sua ânsia de protagonismo ficaria saciada... de ambos os lados da barricada.
Como dizia hoje Freitas do Amaral, citando uma frase de época, “de vitória em vitória até à derrota final…”
José Manuel Barroso, em dificuldades, regressa a Lisboa para dirigir o DN.
Santana Lopes, em dificuldades no Governo, assume a direcção de informação da TVI, acumulando com os comentários de domingo à noite.
Portas, em dificuldades no governo, regressa ao Independente. E assim por aí adiante.
Desta forma ficaria garantido o controle da comunicação social. E o governo não duraria muito tempo sob o fogo cruzado dos mais violentos e implacáveis ataques da comunicação social. Até ir ao tapete.
Não estejam a pensar que desgraçado governo seria esse. Era este mesmo, que está em funções, ainda com mais legitimidade pois teria os seus mais ferozes inimigos e críticos lá dentro. Só assim a sua ânsia de protagonismo ficaria saciada... de ambos os lados da barricada.
Como dizia hoje Freitas do Amaral, citando uma frase de época, “de vitória em vitória até à derrota final…”
quinta-feira, outubro 28
Frank O´Hara
“The days lady deid” un poema de Frank O'Hara, representativo de su estilo, escrito en recuerdo de la muerte de la célebre cantante Billie Holliday.
(La traduccion es propiedad de Hartz.)
EL DIA EN QUE MURIO UNA DAMA
Son las 12:20 en Nueva york un viernes
tres días después del día de la Bastilla
en 1959 y voy a hacerme limpiar los zapatos
porque marcharé en el de las 4:19 para estar en Easthampton
a las 7:15, después voy derecho a cenar
y no conozco a la gente que me dará de comer
subo por la sofocante calle que empieza a asolearse
y tomo una hamburguesa, una cerveza negra y compro
un feo NEW WORLD WRITING para ver lo que hacen
actualmente los poetas de Ghana
continúo hacia el banco
donde Miss Stillwagon (de nombre de pila Linda según me he enterado)
ni siquiera comprueba mi saldo por una vez en su vida
y en el GOLDEN GRIFFIN compro un breve Verlaine
para Patsy con dibujos de Bonnard, aunque en verdad
pienso en Hesíodo, trad. de Richmond Lattimore,en
el nuevo drama de Brendan Behan, en Le Balcon o Les Nègres
de Genet, pero no, me quedo con Verlaine
después de casi dormirme en la indecisión
y por Mike deambulo hasta la Tienda de Licores
PARK LANE, pido una botella de Strega y
después vuelvo de donde vine a la Sexta Avenida
y al estanquero del Teatro Ziegfield y
pido distraído una caja de Gauloises, una caja
de Picayunes y un NEW YORK POST que trae la cara de ella
y sudo mucho ahora, recuerdo
haberme apoyado en la puerta del wáter en el 5 SPOT
mientras ella le susurraba una canción a lo largo del teclado
a Mel Waldron, y todo el mundo y yo suspendíamos la respiración
(Versão portuguesa)
The day lady died
São 12.20 em Nova Yorque uma sexta feira
três dias depois do dia da Bastilha, sim
é 1959 e vou engraxar os sapatos
porque sairei do das 4:19 em Easthampton
às 7:15 e depois vou direito ao jantar
e nem conheço as pessoas que me convidaram
caminho pela rua sufocante onde o sol começa a aparecer
e como um hamburguer e um malte e compro
um feio NEW WORLD WRITING para ver o que os poetas
do Gana escrevem por estes dias
entro no banco
e Miss Stillwagon (nome próprio Linda ouvi dizer)
nem sequer olha para o meu saldo por uma vez na vida
e no GOLDEN GRIFFIN compro um pequeno Verlaine
para Patsy com desenhos de Bonnard embora hesite
quanto ao Hesíodo, trad. Richond Lattimore ou
a nova peça de Brendan Behan ou Le Balcon ou Les Nègres
de Genet, mas não, permaneço com Verlaine
depois de quase adormecer de embaraço
e para Mike limito-me a passar pela Loja de Bebidas
de PARK LANE e compro uma garrafa de Strega e
então regresso por onde vim para a 6ª Avenida
e a tabacaria no Ziegfield Theatre e
distraidamente peço um maço de Gauloises e um maço
de Picayunes, e um NEW YORK POST que trás a cara dela
e agora já estou a suar muito e pensando em
encostar-me à porta da retrete do 5 SPOT
enquanto ela sussurava uma canção ao correr ao teclado
para Mal Waldron e eu e todos deixámos de respirar.
In “Vinte e cinco poemas à hora do almoço”, Assírio e Alvim,
Tradução de José Alberto Oliveira
(La traduccion es propiedad de Hartz.)
EL DIA EN QUE MURIO UNA DAMA
Son las 12:20 en Nueva york un viernes
tres días después del día de la Bastilla
en 1959 y voy a hacerme limpiar los zapatos
porque marcharé en el de las 4:19 para estar en Easthampton
a las 7:15, después voy derecho a cenar
y no conozco a la gente que me dará de comer
subo por la sofocante calle que empieza a asolearse
y tomo una hamburguesa, una cerveza negra y compro
un feo NEW WORLD WRITING para ver lo que hacen
actualmente los poetas de Ghana
continúo hacia el banco
donde Miss Stillwagon (de nombre de pila Linda según me he enterado)
ni siquiera comprueba mi saldo por una vez en su vida
y en el GOLDEN GRIFFIN compro un breve Verlaine
para Patsy con dibujos de Bonnard, aunque en verdad
pienso en Hesíodo, trad. de Richmond Lattimore,en
el nuevo drama de Brendan Behan, en Le Balcon o Les Nègres
de Genet, pero no, me quedo con Verlaine
después de casi dormirme en la indecisión
y por Mike deambulo hasta la Tienda de Licores
PARK LANE, pido una botella de Strega y
después vuelvo de donde vine a la Sexta Avenida
y al estanquero del Teatro Ziegfield y
pido distraído una caja de Gauloises, una caja
de Picayunes y un NEW YORK POST que trae la cara de ella
y sudo mucho ahora, recuerdo
haberme apoyado en la puerta del wáter en el 5 SPOT
mientras ella le susurraba una canción a lo largo del teclado
a Mel Waldron, y todo el mundo y yo suspendíamos la respiración
(Versão portuguesa)
The day lady died
São 12.20 em Nova Yorque uma sexta feira
três dias depois do dia da Bastilha, sim
é 1959 e vou engraxar os sapatos
porque sairei do das 4:19 em Easthampton
às 7:15 e depois vou direito ao jantar
e nem conheço as pessoas que me convidaram
caminho pela rua sufocante onde o sol começa a aparecer
e como um hamburguer e um malte e compro
um feio NEW WORLD WRITING para ver o que os poetas
do Gana escrevem por estes dias
entro no banco
e Miss Stillwagon (nome próprio Linda ouvi dizer)
nem sequer olha para o meu saldo por uma vez na vida
e no GOLDEN GRIFFIN compro um pequeno Verlaine
para Patsy com desenhos de Bonnard embora hesite
quanto ao Hesíodo, trad. Richond Lattimore ou
a nova peça de Brendan Behan ou Le Balcon ou Les Nègres
de Genet, mas não, permaneço com Verlaine
depois de quase adormecer de embaraço
e para Mike limito-me a passar pela Loja de Bebidas
de PARK LANE e compro uma garrafa de Strega e
então regresso por onde vim para a 6ª Avenida
e a tabacaria no Ziegfield Theatre e
distraidamente peço um maço de Gauloises e um maço
de Picayunes, e um NEW YORK POST que trás a cara dela
e agora já estou a suar muito e pensando em
encostar-me à porta da retrete do 5 SPOT
enquanto ela sussurava uma canção ao correr ao teclado
para Mal Waldron e eu e todos deixámos de respirar.
In “Vinte e cinco poemas à hora do almoço”, Assírio e Alvim,
Tradução de José Alberto Oliveira
Marcelo, outra vez
Não se passa nada. Tinha lido comentários acerca das declarações de Marcelo. Vi ontem ,finalmente, excertos mais alargados, das suas declarações. O assunto é político. Não é uma matéria cor de rosa. É a liberdade de opinião e informação que está em casa. Condicionar a liberdade é matá-la. Nunca repararam nisso? É grave. Esperam-se uns desabafos do PR. Gemidos. Desvanecidos ais. Mas não se passa nada. Como dizia Sena: “Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam...”
quarta-feira, outubro 27
Marcelo confirma pressões
A gravidade do "caso Marcelo" foi confirmada por Marcelo de viva voz. O modelo e o conteúdo dos comentários políticos que Marcelo realizava na TVI não eram bem aceites pelo Governo.
O governo se encarregou de pressionar a TVI que, por sua vez, pressionou Marcelo. Está tudo às claras. Só não entende quem não quiser entender.
O Comissário Delgado dirá que é tudo normal, não é? O Director do DN também se demitiu porque a administração convidou, sem o seu conhecimento, uma nova directora que entretanto resolveu não aceitar. O comissário Delgado dirá que é tudo normal, não?
O que virá a seguir?
Veja a qui a notícia da SIC on line Repensar os comentários
"Marcelo Rebelo de Sousa diz que foi convidado a mudar intervenções na TVI
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou hoje, perante a Alta Autoridade para a Comunicação Social, que foi convidado pelo presidente da TVI a repensar a orientação das suas intervenções de domingo no canal de Queluz."
O governo se encarregou de pressionar a TVI que, por sua vez, pressionou Marcelo. Está tudo às claras. Só não entende quem não quiser entender.
O Comissário Delgado dirá que é tudo normal, não é? O Director do DN também se demitiu porque a administração convidou, sem o seu conhecimento, uma nova directora que entretanto resolveu não aceitar. O comissário Delgado dirá que é tudo normal, não?
O que virá a seguir?
Veja a qui a notícia da SIC on line Repensar os comentários
"Marcelo Rebelo de Sousa diz que foi convidado a mudar intervenções na TVI
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou hoje, perante a Alta Autoridade para a Comunicação Social, que foi convidado pelo presidente da TVI a repensar a orientação das suas intervenções de domingo no canal de Queluz."
Crise política na UE
A Manchete do "El País" - tal como de todos os órgãos de comunicação da Europa e do munndo - é dedicada à acção de José Manuel Barroso à frente dos destinos da UE. O impacto negativo da notícia é, como se calcula, brutal. Promissor...
Barroso retira su equipo de Gobierno y pide aplazar la votación en el Parlamento
Lo más probable es que el equipo de Prodi siga en funciones hasta que el portugués presente una nueva propuesta.
El presidente electo de la Comisión Europea, Durão Barroso, ha abierto una crisis política sin precedentes en el seno de la UE. Momentos antes de la sesión de investidura, Barroso ha retirado la propuesta de su polémico equipo de Gobierno y ha solicitado un aplazamiento. La legislación europea no recoge una situación como ésta y es previsible que por el momento, el Ejecutivo de Romando Prodi siga en funciones.
Barroso retira su equipo de Gobierno y pide aplazar la votación en el Parlamento
Lo más probable es que el equipo de Prodi siga en funciones hasta que el portugués presente una nueva propuesta.
El presidente electo de la Comisión Europea, Durão Barroso, ha abierto una crisis política sin precedentes en el seno de la UE. Momentos antes de la sesión de investidura, Barroso ha retirado la propuesta de su polémico equipo de Gobierno y ha solicitado un aplazamiento. La legislación europea no recoge una situación como ésta y es previsible que por el momento, el Ejecutivo de Romando Prodi siga en funciones.
Os Avisos de Cavaco Silva
A crise política aberta na direita tem muitos protagonistas: o PR, Santana, Cavaco, Marcelo, Portas, Bagão ... No horizonte estão as eleições presidenciais ainda antes das legislativas.
A pouco mais de um ano de vista as forças e as personalidades políticas alinham-se e medem forças. Quase todos os episódios fazem parte da novela presidencial a exibir a partir de finais deste ano com o último episódio previsto para Janeiro de 2006.
É a esta luz que se deve ler esta tomada de posição crítica de Cavaco face ao projecto de orçamento de Estado para 2005, eleborado sob a influência dominante do PP e obedecendo à sua ideologia e calendário:
"Análise pessimista da economia portuguesa"
Cavaco Silva não acredita nas previsões do Governo para o crescimento da economia portuguesa. O ex-primeiro-ministro fez hoje uma análise muito pessimista e deixou o aviso de que uma nova crise de finanças públicas levará Portugal a mais quatro anos de divergência com Espanha e a União Europeia).”
terça-feira, outubro 26
Diário de Notícias - o declínio inevitável
Desde há muito tempo, vai para mais de dois anos, que o DN é um instrumento de propaganda do governo. Certamente que nenhum dos seus responsáveis (Direcção e jornalistas) desconhecem essa situação que o comunicado do "conselho de redacção" denuncia com factos concretos. Muitos outros haveria, certamente, para revelar mas que se mantêm reservados por razões que só os próprios responsáveis e jornalistas poderão explicar. O declínio irreversível do DN não é nada que se não pusesse prever. Esse declínio corresponde a uma orientação editorial continuada e persistente de subserviência aos interesses dos poderes economicos e políticos dominantes. A liberdade de informação deixou há muito de morar no DN.
DN: conselho de redacção alerta para o descrédito "irreversível" do jornal
Reproduz-se o primeiro ponto do "Comunicado dos membros eleitos do Conselho de Redacção" que pode ser lido, na íntegra, no link que se disponibiliza.
1. Os membros eleitos do Conselho de Redacção, confrontados com a inacreditável sucessão de acontecimentos que têm posto o Diário de Notícias na primeira linha da actualidade informativa, pelos piores motivos, manifestam por este meio a sua extrema preocupação pela situação do jornal, que tende a desacreditar-se irreversivelmente perante a opinião pública por razões alheias à vontade, à intervenção e à actuação dos seus jornalistas.
DN: conselho de redacção alerta para o descrédito "irreversível" do jornal
Reproduz-se o primeiro ponto do "Comunicado dos membros eleitos do Conselho de Redacção" que pode ser lido, na íntegra, no link que se disponibiliza.
1. Os membros eleitos do Conselho de Redacção, confrontados com a inacreditável sucessão de acontecimentos que têm posto o Diário de Notícias na primeira linha da actualidade informativa, pelos piores motivos, manifestam por este meio a sua extrema preocupação pela situação do jornal, que tende a desacreditar-se irreversivelmente perante a opinião pública por razões alheias à vontade, à intervenção e à actuação dos seus jornalistas.
14 anos, tanto tempo e tão pouco...
O meu filho Manuel faz amanhã 14 anos. Estou proibido de falar nele neste blog. Mas estas palavras não falam dele mas numa data que representa o início da sua emancipação.
Além do mais a data fez-me lembrar, além de muitas coisas que não são para aqui chamadas, duas citações que só aparentemente nada têm a ver com ela.
"A espessura das nuvens diminuiu. Logo que o sol se libertou, as terras começaram a fumegar."
"Esse vento singular que corre sempre à borda da floresta. Curioso ideal do homem: no próprio seio da natureza, possuir uma casa."
A ele as dedico neste aniversário em homenagem ao seu interesse pela natureza e à defesa intransigente dos animais.
As citações são de Albert Camus, in Cadernos.
Além do mais a data fez-me lembrar, além de muitas coisas que não são para aqui chamadas, duas citações que só aparentemente nada têm a ver com ela.
"A espessura das nuvens diminuiu. Logo que o sol se libertou, as terras começaram a fumegar."
"Esse vento singular que corre sempre à borda da floresta. Curioso ideal do homem: no próprio seio da natureza, possuir uma casa."
A ele as dedico neste aniversário em homenagem ao seu interesse pela natureza e à defesa intransigente dos animais.
As citações são de Albert Camus, in Cadernos.
A Morte dos Velhos Ditadores e os Valores da Democracia
Não é que a notícia me tenha passado despercebida. Como diz um amigo meu as notícias são tantas, e tão desconcertantes, que, muitas vezes, não sabemos por onde lhes pegar. A política atinge o seu mais baixo nível quando se proclama a morte dos adversários ou, mesmo, inimigos. O desejo mal disfarçado de vingança através da eliminação física, seja lá de quem for, não é próprio dos democratas, ou mais prosaicamente, das pessoas de bem.
Eu sei que os políticos lidam, mais do que os seus ingénuos eleitores pensam, com a morte dos outros. A morte política está bem de ver. Mas quando uma alta responsável da UE proclama, sob diversos disfarces mal alinhavados, a morte como solução final para um problema da democracia, estamos no fim da linha.
Se Fidel Castro é um ditador e não foi derrubado pelo seu povo, qual a razão? Se Fidel Castro é um ditador e não foi derrubado por uma intervenção armada dos EUA, qual a razão? Se em Cuba vigora, há decénios, uma ditadura, às portas dos EUA, só se pode dever às fraquezas da democracia americana e não à força dessa ditadura. Se o império da liberdade tolera, à sua porta, uma tirania algo está mal. Se em Cuba o império da liberdade mantém uma prisão na qual não se respeitam os mais elementares direitos humanos, “algo está mal no reino da Dinamarca”.
Defendo a liberdade e repugna-me a tirania. Mas nem por isso os amantes da liberdade podem aceitar que se proclame como um valor aceitável a humilhação e a morte física de um velho ditador. Esta é uma longa história mas existe um precedente que devia dar que pensar aos dirigentes das sábias democracias contemporâneas: em Portugal, Salazar morreu mas nem por isso a ditadura morreu com ele.
É preciso ser implacável na condenação política das ditaduras e prudente no julgamento dos velhos ditadores. É uma diferença subtil? Mas tem jurisprudência. Basta atentar no caso de Pinochet, um velho ditador, apoiado pelo império da liberdade que, contra todos os vaticínios, tem escapado ao julgamento, proclama a sua inocência, está vivo e em liberdade.
Não me parece que a ex-Comissário De Palácio tenha valorizado a cultura democrática e os valores da liberdade e da tolerância ao fazer as declarações que se transcrevem a seguir. Deus nos guarde destes dirigentes conservadores para conceber e executar os programas políticos das democracias.
“A vice-presidente cessante da Comissão Europeia, a espanhola Loyola de Palácio, afirmou hoje que está à "espera que (Fidel) Castro morra", porque a morte do presidente cubano é "a única solução para a democratização de Cuba.
"Todos estamos à espera que Castro morra", afirmou De Palácio numa conversa informal com um grupo de jornalistas, defendendo que a morte do histórico líder cubano é a única forma de mudar a situação e de a democracia chegar à Ilha.
"Esperamos, mas não desejamos" o falecimento de Castro, ressalvou.
"Não digo que o matem, digo é que morra, porque duvido que mude enquanto viver", acrescentou a vice-presidente da Comissão numa reunião de despedida com os jornalistas espanhóis em Bruxelas antes de finalizar o seu mandato, no próximo dia 31 de Outubro.”
Eu sei que os políticos lidam, mais do que os seus ingénuos eleitores pensam, com a morte dos outros. A morte política está bem de ver. Mas quando uma alta responsável da UE proclama, sob diversos disfarces mal alinhavados, a morte como solução final para um problema da democracia, estamos no fim da linha.
Se Fidel Castro é um ditador e não foi derrubado pelo seu povo, qual a razão? Se Fidel Castro é um ditador e não foi derrubado por uma intervenção armada dos EUA, qual a razão? Se em Cuba vigora, há decénios, uma ditadura, às portas dos EUA, só se pode dever às fraquezas da democracia americana e não à força dessa ditadura. Se o império da liberdade tolera, à sua porta, uma tirania algo está mal. Se em Cuba o império da liberdade mantém uma prisão na qual não se respeitam os mais elementares direitos humanos, “algo está mal no reino da Dinamarca”.
Defendo a liberdade e repugna-me a tirania. Mas nem por isso os amantes da liberdade podem aceitar que se proclame como um valor aceitável a humilhação e a morte física de um velho ditador. Esta é uma longa história mas existe um precedente que devia dar que pensar aos dirigentes das sábias democracias contemporâneas: em Portugal, Salazar morreu mas nem por isso a ditadura morreu com ele.
É preciso ser implacável na condenação política das ditaduras e prudente no julgamento dos velhos ditadores. É uma diferença subtil? Mas tem jurisprudência. Basta atentar no caso de Pinochet, um velho ditador, apoiado pelo império da liberdade que, contra todos os vaticínios, tem escapado ao julgamento, proclama a sua inocência, está vivo e em liberdade.
Não me parece que a ex-Comissário De Palácio tenha valorizado a cultura democrática e os valores da liberdade e da tolerância ao fazer as declarações que se transcrevem a seguir. Deus nos guarde destes dirigentes conservadores para conceber e executar os programas políticos das democracias.
“A vice-presidente cessante da Comissão Europeia, a espanhola Loyola de Palácio, afirmou hoje que está à "espera que (Fidel) Castro morra", porque a morte do presidente cubano é "a única solução para a democratização de Cuba.
"Todos estamos à espera que Castro morra", afirmou De Palácio numa conversa informal com um grupo de jornalistas, defendendo que a morte do histórico líder cubano é a única forma de mudar a situação e de a democracia chegar à Ilha.
"Esperamos, mas não desejamos" o falecimento de Castro, ressalvou.
"Não digo que o matem, digo é que morra, porque duvido que mude enquanto viver", acrescentou a vice-presidente da Comissão numa reunião de despedida com os jornalistas espanhóis em Bruxelas antes de finalizar o seu mandato, no próximo dia 31 de Outubro.”
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