quarta-feira, janeiro 12

Nevou a Sul

Uma página interessante do meu “livro artesanal” com fragmentos do “O aprendiz de Feiticeiro”, de Carlos de Oliveira, é, sem dúvida, a página 5. Nessa página, antecedendo um longo fragmento, que ocupa mais de duas páginas, escrevi um texto que assinala um dos acontecimentos mais extraordinários a que assisti na minha vida.

Eis esse curto texto:

“Noite de 1 para 2 de Fevereiro de 1954. Digo eu que andava na memória à procura desta data há anos. Depois dessa noite nunca mais nevou no Algarve (nem no sul). Foi quando vi pela primeira vez nevar ainda não tinha 7 anos e recordo como se fosse hoje. O meu pai abençoou a neve, o frio, tudo, pois fazia o carvão depositado ao ar livre pesar mais”.

O fragmento de Carlos de Oliveira começa assim:

“Contudo, relato a seguir o que me aconteceu na noite de 1 para 2 de Fevereiro de 1954, quando venci por fim a proibição interior e alinhei sem emendas ou hesitações os sessenta e três versos da primeira fala de “O Inquilino”….”

(No próximo fragmento surgirá a descrição da neve a cair em Lisboa)

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 5 (1 de 1)

Afinal a Verdade era Mentira

A notícia é extraordinária pelo seu vazio paradoxal.

Os americanos deixaram de procurar o que nunca procuraram porque sabiam de antemão que não existiam armas para procurar.

O que os americanos procuravam era outra coisa que toda a gente sabe o que é e que não vão deixar de explorar porque sabem de antemão que existe.

Os americanos fizeram o favor de dar agora conhecimento ao mundo de que o pretexto para a guerra no Iraque foi arquivado.

O resto do mundo tomou conhecimento. Obrigado.

Grupo de investigadores deixou de trabalhar no terreno antes do Natal.
Estados Unidos deixaram de procurar armas de destruição maciça no Iraque

Os Mergulhos do Ministro (2)

Já me tinha interrogado acerca da constituição de comitiva de Morais Sarmento na viagem a S. Tomé e Principe. As notícias acerca dos petróleos começam a dar ao assunto um interesse que ultrapassa o divertimento.

Qual o teor da mensagem do PM levada por Morais Sarmento e qual o papel do administrador da Galp na comitiva? A coisa é mais complexa do que parecia...para mais com a declaração em que Álvaro Barreto diz que "desconhece ligação de viagem com interesses da Galp".



terça-feira, janeiro 11

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira

Sombras de Inverno


Para a Susana no seu 50º Aniversário
do Helder Gonçalves

Epitáfio

“Chamem um dos velhos cantadeiros de Ançã (a dois passos daqui) e mandem gravar na campa do poeta o epitáfio que ele próprio escreveu:

A dádiva suprema é dar a vida
Ao silêncio de pedra que é a morte.
Larga-me da vida, morte,
Faz-me da morte pedra.


Um desses humildes herdeiros dos escopros de João de Ruão. Chamem-no depressa. Com o sol que está, as palavras ficarão doiradas.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 4 (2 de 2)

Forum Novas Fronteiras

Está disponível e funciona

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Foto de Helder Gonçalves

PS, Cuidado!

As sondagens apresentam resultados convergentes.

O PS obteria um resultado em torno dos 46% (maioria absoluta) e, mais importante, quase todos os portugueses pensam que o PS vai ganhar. Os perigos destas sondagens são evidentes para o PS.

Excesso de confiança, forte abstenção, compaixão pelos fracos, idolatria pelo chefe da maioria, menosprezo pelo programa, desprezo pelas diferenças, obsessão pelos lugares, ascensão dos mais medíocres entre os medíocres ... fico-me por aqui.

Espero que surjam, em favor do PS, umas sondagens menos radiosas apesar da actual maioria tudo fazer para perder por muitos.

segunda-feira, janeiro 10

Afonso Duarte

“Agora, pouco importa. Caminho entre o povo, atrás do caixão de Afonso Duarte, o extraordinário gravador de lápides rústicas, e sinto que nem todas as colheitas se perdem, que as coisas se compensam umas às outras no seu obscuro equilíbrio natural.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 4 (1 de 2)

Árvore


Uma visão clara e desolada do nosso suave inverno. Continuando a experiência de publicação de imagens. Foto de Helder Gonçalves.

Desculpa lá, ó Zé Manel

"Burros reconhecidos em Bruxelas".

(notícia do "Expresso on line")

Mergulhos

Morais Sarmento foi a mergulhos.

Para uma maioria que pregou, desde o primeiro dia, a “moral e os bons costumes”, o “rigor” e a “austeridade”, que fustigou e fustiga os governos PS e os seus responsáveis pela “bancarrota”, os perseguiu, e persegue, por “despesismo” e por um interminável rol de “crimes” de lesa orçamento público, não está mal esta viagem de Morais Sarmento.

Por mais desculpas e justificações que se possam arranjar, de forma atrapalhada, está na cara que seria, no mínimo, uma manifestação de bem senso e pudor não embarcar para S. Tomé e Principe um ministro e comitiva (que comitiva?), num Falcom fretado, com sessões de mergulho, ...para assinar um protocolo mais meia dúzia de actos de rotina da cooperação.

Nada justifica esta viagem a não ser aproveitar o tempo que resta para gozar dos benefícios do poder. Até para Santana Lopes esta visita "É incómoda". Palavras...

domingo, janeiro 9

O Preço da Democracia

Não questiono que os cidadãos paguem os custos da democracia. Esses custos são sempre aceitáveis quando está em causa a escolha entre democracia e autocracia. Mas é preciso ter a coragem de reconhecer que cada vez mais cidadãos se interrogam se vale a pena pagar esses custos. Essa desconfiança assume a forma de uma simples pergunta que se ouve por todo o lugar: "vale a pena votar?".

É um sinal de desencanto com a qualidade do "produto" político que é oferecido aos cidadãos e um sinal de alarme que abre a porta à erosão da democracia e à urgência de uma reflexão acerca da reforma do regime.

Entretanto, a partir do início deste ano, com a entrada em vigor da nova
LEI DO FINANCIAMENTO DOS PARTIDOS POLÍTICOS E DAS CAMPANHAS ELEITORAIS
os deputados vão ficar mais caros aos cidadãos. Todos, em geral, e, em particular, os da Região Autónoma da Madeira.

A pergunta legítima que qualquer um de nós pode fazer é se a qualidade dos partidos e dos deputados corresponde e justifica o aumento do seu custo.

As inclusões e exclusões, os posicionamentos e os critérios adoptados, pelas direcções partidárias, nas escolhas dos candidatos a deputados para as próximas eleições legislativas dizem muito acerca dessa questão.

Normalmente não concordo com o radicalismo desencantado de António Barreto mas, desta vez, reconheço que ele tem razão quando responde negativamente a essa pergunta afirmando que
“Esta semana, o Parlamento foi nomeado”.

Gelnaa

“De Álvaro de Campos: “ó companheira que eu não tenho nem quero ter”. Olho para Gelnaa e não compreendo: tenho-a e quero tê-la. Mas ao mesmo tempo compreendo: não a devia ter a ela; ou não vale a pena tê-la; ou então dói-me a sua fragilidade, sombra dum arquétipo, eterno neste momento. Logo depois volto a não compreender: meu amor mortal, de carne e osso, tenho-te para sempre, agora. Coisas que se equivalem, na gramática relativa da vida. Não nos deram outra, Gelnaa. E mal acabo de pensar isto compreendo de novo: nenhuma companheira é possível e as solidões somadas pesam mais do que uma só. Etc.”

(Fragmento de um fragmento longo, de página e meia, do meu livro artesanal).

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 3 (1 de 1)

sábado, janeiro 8

Inauguração


Experiência de edição de imagem com uma fotografia de Helder Gonçalves.

Maioria e Maioria

PS com maioria absoluta nas próximas eleições

Faltam 42 dias para as legislativas de 20 de Fevereiro. Acerca do calendário ninguém tem dúvidas. A sondagem divulgada ontem confirma uma certeza já enraizada na opinião pública: o PS vai ganhar. Já não é nada pouco. Subsiste, no entanto, uma dúvida: qual a dimensão dessa vitória?
O fracasso do PS nestas eleições será a não obtenção da maioria absoluta: 116 deputados. Esta fasquia foi fixada pelo SG e assumida pelo PS. As consequências políticas desse fracasso são impressivas: enfraquecimento da posição do PR (em fim de mandato) e a necessidade do PS encontrar uma fórmula de acordo político envolvendo outra (s) força (s) partidária (s).
Em Portugal é difícil a esquerda ser pragmática, ao contrario da direita. Será que vai quebrar essa sua fraqueza no caso de não alcançar uma maioria absoluta? Subirá, então, ao primeiro plano do debate político a questão das alianças.
A sondagem merece-me um comentário/palpite: o PS obterá, certamente, um resultado à volta dos 46%, o PSD será mais penalizado do que indiciam os 33% previstos, o PP obterá uma expressão superior a 7%, o PCP inferior a este valor e o BE em torno dos previstos 4,5%.

Não se conhecem ainda os programas dos partidos mas o mais importante, neste “campeonato”, são os líderes e as expectativas para o futuro que criem no eleitorado. As vantagens estão todas do lado do PS. As desvantagens todas do lado do PSD. Pelo menos até 20 de Fevereiro se não ocorrer qualquer acontecimento imprevisto e anormal.
A partir de 21 de Fevereiro invertem-se as situações. Se o PS for governo, mesmo com maioria absoluta, vai gerir o caos e a penúria. É para criar esse cenário que a direita tem vindo a trabalhar na maior impunidade.

Carlos de Oliveira

Por vezes sentimos necessidade de explicar o que fazemos embora os nossos impulsos mais íntimos não se possam explicar senão através da arte.

A propósito da sequência de fragmentos de “O Aprendiz de Feiticeiro” de Carlos de Oliveira aqui deixo um belo texto de Gastão Cruz que explica muita coisa.

Que lhe diremos, mestre

“Numa noite do Verão de 1967 encontrei-me com Carlos de Oliveira na «pequena praça circular» a que ele se refere num texto do mesmo ano («Gás» O Aprendiz de Feiticeiro): «O arboricídio floresce (se me permitem a expressão). (...) De modo que descemos, Gelnaa e eu, do nosso sexto andar para assistir ao derrube das árvores na praça.»”

(“Gáz” é, aliás, o último fragmento de “O Aprendiz de Feiticeiro” que consta do meu livro artesanal).

sexta-feira, janeiro 7

Imaginação

“Aqui está como os grandes artistas estimulam a imaginação alheia.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 2 (7 de 7)

Um Compromisso Para a Educação

O artigo publicado hoje pelo “Semanário Económico”, com o título em epígrafe, pode ser lido aqui e ainda no IR AO FUNDO E VOLTAR onde encontrará também um conjunto resumido de indicadores acerca do estado da educação e formação na UE e em Portugal.