Ouço Santana a falar no púlpito adornado com a palavra Competência. A imagem ressoa a falso. A personagem não se encontra a si própria. A mensagem é reduzida a uma espécie de diálogo do candidato consigo próprio. Cada um que se amanhe na decifração da mensagem. Não há memória de um personagem como Santana na política portuguesa contemporânea.
Estou a ler “Portugal Hoje – o medo de existir”, um livro breve, mas cristalino, sobre o ser português, de José Gil, que a certo passo escreve:
“O que é próprio do santanismo, com toda a sua avidez pelo controlo dos meios de comunicação social, não é trazer a vida para o palco mediático, mas moldar a vida à imagem, os comportamentos ao capital de mediatização, produzir acontecimentos cuja importância se deverá medir pelo seu grau de eficácia mediática.” (…)
“A sua falsa “leveza”, no entanto, permite muita estratégia obscura, muito menos leve de poderes económicos e de eminências pardas que eventualmente imporiam políticas de controlo desastrosas. Tão desastrosas que podem levar a formas insuspeitadas de autocracia política ou de ditadura mediática no seio da democracia.
Se não afastarmos agora o nevoeiro que ameaça novamente toldar o nosso olhar, poderá ser demasiado tarde quando nos apercebermos que, sem dar por isso, nos encurralaram num beco, por um período indeterminado. Não pelo regime santanista, que pode ser breve, mas por outro qualquer que aproveite uma série de circunstâncias (económicas, sociais, psicológicas) para operar uma derrapagem da democracia para um sistema autocrático de tipo desconhecido.”
Verdadeiramente preocupante, senão mesmo assustador!
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, janeiro 24
domingo, janeiro 23
Uff...
Tanto esforço, tanto esforço, para quê? Só não sei o que são um “Monumento ao Cristo” e uma pré-escola…palavras para quê! Só gasto espaço com isto para ilustrar a pública falta de vergonha que tomou conta do nosso governo demitido… em gestão, ou lá o que é isto.
“Em cerca de hora e meia, o primeiro-ministro inaugurou hoje, no concelho, uma unidade de cuidados continuados de saúde, um “Monumento ao Cristo”, um complexo cultural e recreativo e outro desportivo e de lazer, uma pré-escola, um terminal de camionagem, um bairro de habitação social nos Pinheirais com 26 fogos, um posto de turismo, a sede da junta de freguesia da Arrifana e ainda o pavilhão polidesportivo municipal Eduardo Campos."
“Em cerca de hora e meia, o primeiro-ministro inaugurou hoje, no concelho, uma unidade de cuidados continuados de saúde, um “Monumento ao Cristo”, um complexo cultural e recreativo e outro desportivo e de lazer, uma pré-escola, um terminal de camionagem, um bairro de habitação social nos Pinheirais com 26 fogos, um posto de turismo, a sede da junta de freguesia da Arrifana e ainda o pavilhão polidesportivo municipal Eduardo Campos."
"Quem Tem Medo do Vento?"
(...) "5) Provérbio a propósito: semeias florestas, colhes tempestades. Como todos os aprendizes de feiticeiro. Ainda bem. O vento nas ramagens confusas. Quem tem medo do vento?”
(Pacheco Pereira no Abrupto, certamente, por coincidência reproduz hoje a citação, que intitulei “A Dignidade”, postada no passado dia 19.)
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 11 (1 de 4)
(Pacheco Pereira no Abrupto, certamente, por coincidência reproduz hoje a citação, que intitulei “A Dignidade”, postada no passado dia 19.)
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 11 (1 de 4)
Moralismos Serôdios
Serôdios = “que estão fora do seu tempo” (Houaiss)
Não vi o debate Portas/Louçã que havia de ser o debate entre os dois lideres mais afastados no plano ideológico na política portuguesa.
Mas ouvi e li a frase que marcou esse debate. Acerca da despenalização do aborto Louça atirou a Portas: “O senhor não sabe o que é gerar uma vida! O senhor não sabe o que é gerar uma vida! Não tem a mínima ideia do que isso é! Eu tenho uma filha! Eu sei o que é o sorriso de uma criança!” (transcrito de Ana Sá Lopes – “Público”, de hoje, “ A velha Esquerda Moralista ao Ataque” – não disponível na versão on line).
Esta é uma daquelas tiradas que devia fazer pensar aqueles que olham o BE como uma força política de esquerda. Na verdade a afirmação de Louçã não é um lapso de um pensamento assente numa base ideológica defensora dos valores da liberdade e da tolerância. É, afinal, o seu contrário, radicando em princípios de intolerância e cultura antidemocrática de uma extrema-esquerda que foi varrida, há muito tempo, para o caixote do lixo da história.
Tem razão Ana Sá Lopes quando afirma: “O uso da vida privada de cada um com objectivos políticos é uma arma sempre populista e quase sempre indecorosa.” “Deliberadamente ou não, o BE fez o jogo da direita mais conservadora, colando-se a ela nos seus valores e preconceitos”. “A velha esquerda polícia de costumes ressurgiu, em todo o seu esplendor, na ira de Francisco Louçã …”.
Por mim sempre defendi, e pratiquei, (com consequências penalizantes para a minha própria vida pessoal, profissional e política) a mais completa e radical defesa da separação entre vida privada, vida profissional ou vida pública, seja por efeito da acção política ou de qualquer outra militância cívica.
Pois, de facto, penso que o fundamentalismo nesta separação de águas é essencial para a defesa dos próprios alicerces em que assenta a convivência humana fundada nos valores da liberdade individual e da democracia representativa.
Mas muitos já se esqueceram que o BE não é mais do que uma “diluição” entre o PSR (trotskista) e a UDP (maoista) que nunca abdicaram das suas verdadeiras ideologias de raiz, ou seja, de vocação totalitária.
Não vi o debate Portas/Louçã que havia de ser o debate entre os dois lideres mais afastados no plano ideológico na política portuguesa.
Mas ouvi e li a frase que marcou esse debate. Acerca da despenalização do aborto Louça atirou a Portas: “O senhor não sabe o que é gerar uma vida! O senhor não sabe o que é gerar uma vida! Não tem a mínima ideia do que isso é! Eu tenho uma filha! Eu sei o que é o sorriso de uma criança!” (transcrito de Ana Sá Lopes – “Público”, de hoje, “ A velha Esquerda Moralista ao Ataque” – não disponível na versão on line).
Esta é uma daquelas tiradas que devia fazer pensar aqueles que olham o BE como uma força política de esquerda. Na verdade a afirmação de Louçã não é um lapso de um pensamento assente numa base ideológica defensora dos valores da liberdade e da tolerância. É, afinal, o seu contrário, radicando em princípios de intolerância e cultura antidemocrática de uma extrema-esquerda que foi varrida, há muito tempo, para o caixote do lixo da história.
Tem razão Ana Sá Lopes quando afirma: “O uso da vida privada de cada um com objectivos políticos é uma arma sempre populista e quase sempre indecorosa.” “Deliberadamente ou não, o BE fez o jogo da direita mais conservadora, colando-se a ela nos seus valores e preconceitos”. “A velha esquerda polícia de costumes ressurgiu, em todo o seu esplendor, na ira de Francisco Louçã …”.
Por mim sempre defendi, e pratiquei, (com consequências penalizantes para a minha própria vida pessoal, profissional e política) a mais completa e radical defesa da separação entre vida privada, vida profissional ou vida pública, seja por efeito da acção política ou de qualquer outra militância cívica.
Pois, de facto, penso que o fundamentalismo nesta separação de águas é essencial para a defesa dos próprios alicerces em que assenta a convivência humana fundada nos valores da liberdade individual e da democracia representativa.
Mas muitos já se esqueceram que o BE não é mais do que uma “diluição” entre o PSR (trotskista) e a UDP (maoista) que nunca abdicaram das suas verdadeiras ideologias de raiz, ou seja, de vocação totalitária.
Neve em Lisboa?
Será que, cinquenta e um anos depois, vai nevar a sul? O anúncio de uma forte vaga de frio, e da probabilidade de chover no sul, fez-me retornar à realidade de 1954.
“O Instituto de Meteorologia disse à TSF que os dias mais frios serão 26 e 27 de Janeiro, podendo as temperaturas baixar aos 10 graus negativos nas terras altas.
Os técnicos deste organismo consideram também que, a partir do próximo dia 27, há alguma probabilidade, embora muito baixa, de chover no Centro e no Sul do país. Mesmo assim, não deverão ser quantidades significativas.”
“O Instituto de Meteorologia disse à TSF que os dias mais frios serão 26 e 27 de Janeiro, podendo as temperaturas baixar aos 10 graus negativos nas terras altas.
Os técnicos deste organismo consideram também que, a partir do próximo dia 27, há alguma probabilidade, embora muito baixa, de chover no Centro e no Sul do país. Mesmo assim, não deverão ser quantidades significativas.”
sábado, janeiro 22
Programa do PS
O Programa do PS para as eleições legislativas já está disponível aqui.
Uma primeira leitura “em diagonal” permite perceber que se trata de uma peça bem estruturada. Sem prejuízo de um juízo crítico que espero concretizar a propósito, em particular, das áreas que mais me interessam, é um bom augúrio.
Uma primeira leitura “em diagonal” permite perceber que se trata de uma peça bem estruturada. Sem prejuízo de um juízo crítico que espero concretizar a propósito, em particular, das áreas que mais me interessam, é um bom augúrio.
Floresta (2)
(…) “Assim continuarei até entrar na floresta donde não se volta. Que seja o mais tarde possível. Apesar de tudo gosto de perder-me entre as árvores. Descobrir belas adormecidas, embora poucas vezes consiga desencantá-las; pensar no som ausente do vento; ver de quando em quando o cristal do céu, a abóbada das clareiras; vaguear, indagar, viver.”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 10 (3 de 3)
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – Pag. 10 (3 de 3)
IRC, chuva de milhões
O Ministro das Finanças é o mesmo, o tal da competência especial! O Director do Fisco é o mesmo, o tal do ordenado especial!
Faltam 28 dias!
"Migração de informação para novo sistema informático não foi assumida correctamente
Fisco devolveu por erro milhões de euros a empresas"
Faltam 28 dias!
"Migração de informação para novo sistema informático não foi assumida correctamente
Fisco devolveu por erro milhões de euros a empresas"
Barata Tonta
No “Expresso da Meia-noite” Santana Lopes parecia uma “barata tonta”. Entrevistado por três jornalistas a sério, mesmo que não se goste deles, parecia um personagem em busca do seu papel. Um vazio absoluto.
No fim não foi apresentada, como é habitual, a primeira página do “Expresso”. Logo me pareceu que quiseram evitar ser deselegantes para Santana Lopes. De facto vejo agora que nessa primeira página se anuncia o primeiro candidato a Presidente do PSD após a derrota de Santana nas eleições.
“Mendes na calha
A SUCESSÃO no PSD já está em marcha. Marques Mendes tem tudo preparado para exigir um Congresso extraordinário e lançar-se na corrida à liderança em caso de derrota do PSD a 20 de Fevereiro, independentemente de José Sócrates conseguir ou não a maioria absoluta. «Se o PSD perder, isso significa uma mudança de ciclo político, uma alteração de fundo para o PSD com a saída do poder. E será necessário um Congresso para decidir o caminho e o futuro», justifica ao EXPRESSO fonte próxima do ex-ministro.”
“Expresso on line”
No fim não foi apresentada, como é habitual, a primeira página do “Expresso”. Logo me pareceu que quiseram evitar ser deselegantes para Santana Lopes. De facto vejo agora que nessa primeira página se anuncia o primeiro candidato a Presidente do PSD após a derrota de Santana nas eleições.
“Mendes na calha
A SUCESSÃO no PSD já está em marcha. Marques Mendes tem tudo preparado para exigir um Congresso extraordinário e lançar-se na corrida à liderança em caso de derrota do PSD a 20 de Fevereiro, independentemente de José Sócrates conseguir ou não a maioria absoluta. «Se o PSD perder, isso significa uma mudança de ciclo político, uma alteração de fundo para o PSD com a saída do poder. E será necessário um Congresso para decidir o caminho e o futuro», justifica ao EXPRESSO fonte próxima do ex-ministro.”
“Expresso on line”
sexta-feira, janeiro 21
O Nada Assumido
O PP anuncia o nada. O paradigma da promessa incumprível. Um caso de estudo para a ciência política. As cidades candidatas aos JO de 2012 estão escolhidas. Assunto arrumado. Então que tal anunciar a candidatura de Lisboa?
CDS-PP compromete-se a estudar realização dos Jogos Olímpicos de 2012 em Lisboa
"Telmo Correia assumiu hoje, na apresentação da lista de candidatos do CDS pelo círculo de Lisboa, o compromisso de estudar a realização na capital portuguesa dos Jogos Olímpicos de 2012, embora o Comité Olímpico Internacional já tenha escolhido as cidades candidatas e já não seja possível entregar uma nova candidatura."
CDS-PP compromete-se a estudar realização dos Jogos Olímpicos de 2012 em Lisboa
"Telmo Correia assumiu hoje, na apresentação da lista de candidatos do CDS pelo círculo de Lisboa, o compromisso de estudar a realização na capital portuguesa dos Jogos Olímpicos de 2012, embora o Comité Olímpico Internacional já tenha escolhido as cidades candidatas e já não seja possível entregar uma nova candidatura."
Floresta (1)
"1) Floresta: nova constelação, novo signo astrológico. O meu destino sob outro influxo. Pedra preciosa: o poema petrificado.
2) Cada passo, livro, acaso, opção, paixão, me levou sempre a uma floresta. Primeiro a Amazónia insondável onde nasci. Depois a infância, a literatura, a insónia, o amor, a constante derrota política, a hantise da doença, a inadaptação aos códigos, a mania obsessiva do sonho. Floresta de florestas, desdobrando-se em mil raízes entrelaçadas, numa natureza demasiado pobre para tanto excesso.”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 10 (2 de 3)
2) Cada passo, livro, acaso, opção, paixão, me levou sempre a uma floresta. Primeiro a Amazónia insondável onde nasci. Depois a infância, a literatura, a insónia, o amor, a constante derrota política, a hantise da doença, a inadaptação aos códigos, a mania obsessiva do sonho. Floresta de florestas, desdobrando-se em mil raízes entrelaçadas, numa natureza demasiado pobre para tanto excesso.”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 10 (2 de 3)
Faltam 29 dias
O debate eleitoral é o que é. Hoje e amanhã PSD e PS apresentam os respectivos programas. Seria o momento oportuno para uma viragem no rumo do debate. Mas ninguém acredita que mude alguma coisa de essencial.
Ninguém está verdadeiramente interessado na economia real, no clima, na seca, na pobreza, nas desigualdades sociais, na reforma da administração pública, no combate à corrupção, no envelhecimento demográfico, na educação e formação, na cidadania, na imigração… Os temas constarão dos programas. Mas a sua transposição para a prática política é pouco mediática.
As mudanças são empreendimentos que comportam demasiados riscos e complexas operações de engenharia social. Por outro lado, como diria José Gil a inveja é, em Portugal, um sistema. Fazer obra perturba a paz dos espíritos. Não dá votos. Ou seja, tudo o que é “fazer futuro” requer tempo, estudo, ponderação, um compromisso geracional.
Há quem se preocupe com a verdadeira política. Mas são poucos, cada vez menos. Marginais e heréticos. Refugiados no silêncio da revolta.
Ninguém está verdadeiramente interessado na economia real, no clima, na seca, na pobreza, nas desigualdades sociais, na reforma da administração pública, no combate à corrupção, no envelhecimento demográfico, na educação e formação, na cidadania, na imigração… Os temas constarão dos programas. Mas a sua transposição para a prática política é pouco mediática.
As mudanças são empreendimentos que comportam demasiados riscos e complexas operações de engenharia social. Por outro lado, como diria José Gil a inveja é, em Portugal, um sistema. Fazer obra perturba a paz dos espíritos. Não dá votos. Ou seja, tudo o que é “fazer futuro” requer tempo, estudo, ponderação, um compromisso geracional.
Há quem se preocupe com a verdadeira política. Mas são poucos, cada vez menos. Marginais e heréticos. Refugiados no silêncio da revolta.
quinta-feira, janeiro 20
"A Árvore dos Tamancos"
No cimo da página dez do “livro artesanal” de “O Aprendiz de Feiticeiro” escrevi:
“A “Árvore dos Tamancos” fez-me, a mim, uma enorme e saudável impressão como reconstituição da infância vivida no meio camponês. Os mesmos cânticos, as mesmas desfolhadas, a mesma calma carícia do lume e do jogo de fazer as horas esperarem por nós, o mesmo ritmo comandado pelo homem vigoroso por dentro e calmo por fora que cria a sua própria riqueza do seu chão que a morte estruma mais tarde ou mais cedo. É um ciclo inacessível à maioria dos “animais” urbanos que dessa forma ficam incapazes de entender a vida inteira e de se transformarem a si próprios pois perdem um precioso termo de comparação.”
Carlos de Oliveira escreveu:
“Mas voltando à medicina: o mundo camponês (e digo camponês porque a maioria das histórias vem do campo) é evidentemente rudimentar, supersticioso, fatalista, apesar da finura crítica que o ilumina. E assim, quando há doenças e doentes, a última decisão pertence apenas ao arbítrio da Morte.”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 10 (1 de 3)
“A “Árvore dos Tamancos” fez-me, a mim, uma enorme e saudável impressão como reconstituição da infância vivida no meio camponês. Os mesmos cânticos, as mesmas desfolhadas, a mesma calma carícia do lume e do jogo de fazer as horas esperarem por nós, o mesmo ritmo comandado pelo homem vigoroso por dentro e calmo por fora que cria a sua própria riqueza do seu chão que a morte estruma mais tarde ou mais cedo. É um ciclo inacessível à maioria dos “animais” urbanos que dessa forma ficam incapazes de entender a vida inteira e de se transformarem a si próprios pois perdem um precioso termo de comparação.”
Carlos de Oliveira escreveu:
“Mas voltando à medicina: o mundo camponês (e digo camponês porque a maioria das histórias vem do campo) é evidentemente rudimentar, supersticioso, fatalista, apesar da finura crítica que o ilumina. E assim, quando há doenças e doentes, a última decisão pertence apenas ao arbítrio da Morte.”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 10 (1 de 3)
quarta-feira, janeiro 19
Pequenez
O país é demasiado pequeno para tantas promessas do governo. Todos os dias sem parar. Já se sabia que iria ser assim. O povo português aguenta. Os perdedores anunciados destilam ódio por todos os poros. Faltam 30 dias. São os dias do desespero. Tudo se pode esperar dos desesperados.
A grandeza dos homens emerge nos momentos difíceis. Mas os nossos governantes desconhecem a palavra grandeza, só conhecem a palavra poder. Desconhecem a palavra dignidade, só conhecem a palavra arrogância. Desconhecem a palavra compaixão, só conhecem a palavra vingança.
A grandeza dos homens emerge nos momentos difíceis. Mas os nossos governantes desconhecem a palavra grandeza, só conhecem a palavra poder. Desconhecem a palavra dignidade, só conhecem a palavra arrogância. Desconhecem a palavra compaixão, só conhecem a palavra vingança.
A Dignidade
“10) Fala duma personagem de romance:
- Dizem em voz alta, não muito alta: que porcaria, que nojo de sociedade, e em voz baixa, baixíssima: ora, o que é preciso é “triunfar”. Esta consciência elástica lembra o chewing-gum e pega-se fatalmente à esquerda e à direita. Por mais dez réis de propaganda ou al contado (também faz jeito). Por ninharias. E no entanto a dignidade cultiva-se como a beterraba ou as abóboras. Semeando-a, adubando-a, colhendo-a na altura própria. Muito rústico? Está bem, arranja-se outra coisa. Citadina. A dignidade, desenvolve-a uma ginástica vigilante e diária, que requer apenas paciência, atenção, vontade. Com uns anos de exercício torna-se instintiva, uma espécie de segunda natureza. Pouco maleável (rentável) na prática social mas esse defeito compensa-o largamente a tranquilidade interior (moral) que permite o crescimento livre de certa intranquilidade (imaginativa, criadora), ponto de partida para toda a obra literária alguns furos acima das “necessidades do mercado”. O que sucede nos casos vulgares é a falta da primeira liquidar a outra ou impedi-la dum completo desenvolvimento. E não me venham com o exemplo de alguns génios i(ou a)morais, porque posso arranjar logo uma dúzia de outros génios para contrapor a esses e, sobretudo, porque disse: nos casos vulgares.”
“O Aprendiz de Feiticeiro”- Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 9 (1 de 1)
- Dizem em voz alta, não muito alta: que porcaria, que nojo de sociedade, e em voz baixa, baixíssima: ora, o que é preciso é “triunfar”. Esta consciência elástica lembra o chewing-gum e pega-se fatalmente à esquerda e à direita. Por mais dez réis de propaganda ou al contado (também faz jeito). Por ninharias. E no entanto a dignidade cultiva-se como a beterraba ou as abóboras. Semeando-a, adubando-a, colhendo-a na altura própria. Muito rústico? Está bem, arranja-se outra coisa. Citadina. A dignidade, desenvolve-a uma ginástica vigilante e diária, que requer apenas paciência, atenção, vontade. Com uns anos de exercício torna-se instintiva, uma espécie de segunda natureza. Pouco maleável (rentável) na prática social mas esse defeito compensa-o largamente a tranquilidade interior (moral) que permite o crescimento livre de certa intranquilidade (imaginativa, criadora), ponto de partida para toda a obra literária alguns furos acima das “necessidades do mercado”. O que sucede nos casos vulgares é a falta da primeira liquidar a outra ou impedi-la dum completo desenvolvimento. E não me venham com o exemplo de alguns génios i(ou a)morais, porque posso arranjar logo uma dúzia de outros génios para contrapor a esses e, sobretudo, porque disse: nos casos vulgares.”
“O Aprendiz de Feiticeiro”- Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 9 (1 de 1)
Eugénio de Andrade
82 anos. Hoje. Uma singela homenagem entre muitas. Um poema breve.
CODA
Nenhum pensar agora: calma
e profunda corrente de silêncio
entre mim e o que de mim ainda
se aproxima: simples fulgor
antes de arder no cume
talvez a cal: ou só o seu rumor.
in "véspera da água"
CODA
Nenhum pensar agora: calma
e profunda corrente de silêncio
entre mim e o que de mim ainda
se aproxima: simples fulgor
antes de arder no cume
talvez a cal: ou só o seu rumor.
in "véspera da água"
"Levantamento Nacional"
Também acho que vai haver um “levantamento nacional” no dia 20 de Fevereiro. O problema é que me parece que a primeira vítima vai ser quem o proclama. O desespero é mau conselheiro.
Santana Lopes: dissolução do Parlamento foi "embuste político"
"O líder do PSD, Pedro Santana Lopes, afirmou ontem à noite em Mira (Coimbra) que a dissolução do Parlamento foi um "embuste político", e disse esperar que nas eleições de Fevereiro haja um "levantamento nacional" contra a decisão."
Santana Lopes: dissolução do Parlamento foi "embuste político"
"O líder do PSD, Pedro Santana Lopes, afirmou ontem à noite em Mira (Coimbra) que a dissolução do Parlamento foi um "embuste político", e disse esperar que nas eleições de Fevereiro haja um "levantamento nacional" contra a decisão."
terça-feira, janeiro 18
Pecadoras Mentais
A propósito de um longo fragmento que começa assim: “Alguém me observou há tempos que as mulheres pequeno-burguesas dos meus livros são mais ou menos pecadoras mentais.” (…) Escrevi um pequeno intróito a esta página 8 do meu livro artesanal que reza assim: “ A descrição da vida social e da moral onde fui educado e que nunca aceitei, nem sei sequer explicar muito bem porquê, mas que explica certamente muita coisa.”
E Carlos de Oliveira, mais à frente, escreve: “Este ódio do homem pela mulher, com o fascínio equívoco, habitual, que a vítima exerce no carrasco e vice-versa (é bom não nos esquecermos disso), vem de longe e vicejou em todas as comunidades ocidentais à sombra da moral católica ou protestante. Trata-se com efeito de ódio, organizado socialmente como punição antes e depois do “pecado”: antes, para prevenir a falta e reprimir desde logo a tendência pecaminosa atribuída há muito ao sexo feminino; depois, para castigo exemplar. (…)”
“O Aprendiz de Feiticeiro”- Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 8 (1 de 1)
E Carlos de Oliveira, mais à frente, escreve: “Este ódio do homem pela mulher, com o fascínio equívoco, habitual, que a vítima exerce no carrasco e vice-versa (é bom não nos esquecermos disso), vem de longe e vicejou em todas as comunidades ocidentais à sombra da moral católica ou protestante. Trata-se com efeito de ódio, organizado socialmente como punição antes e depois do “pecado”: antes, para prevenir a falta e reprimir desde logo a tendência pecaminosa atribuída há muito ao sexo feminino; depois, para castigo exemplar. (…)”
“O Aprendiz de Feiticeiro”- Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 8 (1 de 1)
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