Serôdios = “que estão fora do seu tempo” (Houaiss)
Não vi o debate Portas/Louçã que havia de ser o debate entre os dois lideres mais afastados no plano ideológico na política portuguesa.
Mas ouvi e li a frase que marcou esse debate. Acerca da despenalização do aborto Louça atirou a Portas: “O senhor não sabe o que é gerar uma vida! O senhor não sabe o que é gerar uma vida! Não tem a mínima ideia do que isso é! Eu tenho uma filha! Eu sei o que é o sorriso de uma criança!” (transcrito de Ana Sá Lopes – “Público”, de hoje, “ A velha Esquerda Moralista ao Ataque” – não disponível na versão on line).
Esta é uma daquelas tiradas que devia fazer pensar aqueles que olham o BE como uma força política de esquerda. Na verdade a afirmação de Louçã não é um lapso de um pensamento assente numa base ideológica defensora dos valores da liberdade e da tolerância. É, afinal, o seu contrário, radicando em princípios de intolerância e cultura antidemocrática de uma extrema-esquerda que foi varrida, há muito tempo, para o caixote do lixo da história.
Tem razão Ana Sá Lopes quando afirma: “O uso da vida privada de cada um com objectivos políticos é uma arma sempre populista e quase sempre indecorosa.” “Deliberadamente ou não, o BE fez o jogo da direita mais conservadora, colando-se a ela nos seus valores e preconceitos”. “A velha esquerda polícia de costumes ressurgiu, em todo o seu esplendor, na ira de Francisco Louçã …”.
Por mim sempre defendi, e pratiquei, (com consequências penalizantes para a minha própria vida pessoal, profissional e política) a mais completa e radical defesa da separação entre vida privada, vida profissional ou vida pública, seja por efeito da acção política ou de qualquer outra militância cívica.
Pois, de facto, penso que o fundamentalismo nesta separação de águas é essencial para a defesa dos próprios alicerces em que assenta a convivência humana fundada nos valores da liberdade individual e da democracia representativa.
Mas muitos já se esqueceram que o BE não é mais do que uma “diluição” entre o PSR (trotskista) e a UDP (maoista) que nunca abdicaram das suas verdadeiras ideologias de raiz, ou seja, de vocação totalitária.
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