Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, dezembro 14
FORD PREFECT
Ford Prefect – Fotografia de Família
As fotografias de família confrontam-nos com as memórias. Reconciliam-nos ou antagonizam-nos connosco no contexto da família a que pertencemos. O colectivo e o individual misturam-se na poeira do tempo. São imagens que reflectem fragmentos da vida captados em fracções de segundos.
Sempre me reconcilio com a memória quando olho as fotografias de família. Na diversidade das diversas famílias a que pertenço. Outros lidam mal com elas e horrorizam-se quando vasculham no baú da memória.
A partir dos finais dos anos 40 o meu pai adquiriu três objectos de culto: a moto “Norton”, a máquina fotográfica “Kodak” e o automóvel “Ford Prefect”.
Esta é uma fotografia rara retratando um objecto: o “Ford Prefect” surge como se fosse um membro da família. Matrícula LH-14-11. Uma matrícula que, ao contrário de outras, nunca mais esqueci.
As fotografias de família confrontam-nos com as memórias. Reconciliam-nos ou antagonizam-nos connosco no contexto da família a que pertencemos. O colectivo e o individual misturam-se na poeira do tempo. São imagens que reflectem fragmentos da vida captados em fracções de segundos.
Sempre me reconcilio com a memória quando olho as fotografias de família. Na diversidade das diversas famílias a que pertenço. Outros lidam mal com elas e horrorizam-se quando vasculham no baú da memória.
A partir dos finais dos anos 40 o meu pai adquiriu três objectos de culto: a moto “Norton”, a máquina fotográfica “Kodak” e o automóvel “Ford Prefect”.
Esta é uma fotografia rara retratando um objecto: o “Ford Prefect” surge como se fosse um membro da família. Matrícula LH-14-11. Uma matrícula que, ao contrário de outras, nunca mais esqueci.
RUÍNAS
Fotografia daqui
Vi dois operários dignos revestidos em gangas puídas. Operários dos antigos. Os seus passos ressoam em meus ouvidos. A cadência antiga: peça a peça, rosca a rosca, brasa a brasa. Operários envergonhados entre colarinhos brancos. A fuligem assumida contra a pose esvaziada. Os dois operários carregavam nas mãos os sinais do cansaço. Caminhavam por entre paredes de vidro. Subiam aos andaimes. Sinalizavam as medidas. Cortavam o silêncio. Falavam a língua dos gestos sem palavras. Multicolores. Onde estão os operários que erguiam punhos? Transportavam dignidade nos braços ao longo do corpo. Caminhavam entre as futuras ruínas.
Vi dois operários dignos revestidos em gangas puídas. Operários dos antigos. Os seus passos ressoam em meus ouvidos. A cadência antiga: peça a peça, rosca a rosca, brasa a brasa. Operários envergonhados entre colarinhos brancos. A fuligem assumida contra a pose esvaziada. Os dois operários carregavam nas mãos os sinais do cansaço. Caminhavam por entre paredes de vidro. Subiam aos andaimes. Sinalizavam as medidas. Cortavam o silêncio. Falavam a língua dos gestos sem palavras. Multicolores. Onde estão os operários que erguiam punhos? Transportavam dignidade nos braços ao longo do corpo. Caminhavam entre as futuras ruínas.
quarta-feira, dezembro 13
BACHELLET / PINOCHET
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Um Búzio e Uma "Litografia"
Leonel Lopez-Nussa (1916-2004)
Nos idos de 1976 visitei Cuba. Che tinha sido assassinado, nove anos antes, em 9 de Outubro de 1967. Faço a referência à efeméride para dar a ideia da profundidade e significado de terem já passado 37 anos desde esse acontecimento que tanto marcou a minha juventude.
Ao ver o filme “A Viagem de Che Guevara”, as personagens, os sonhos e as canções que envolvem o mito de Che lembrei-me desta memorável viagem. Era uma delegação do MES composta por mim, pelo Vítor Wengorovius e pelo Francisco Farrica.
Julgo que não havia um objectivo concreto a alcançar mas tão só dar testemunho do processo político português. Estávamos em plena campanha das eleições presidenciais, em Portugal, e Otelo era, à época, muito popular em Cuba.
Fizemos as visitas da praxe, pisamos os lugares mais emblemáticos da revolução cubana, visitamos uma fábrica de “puros habanos”, uma plantação de cana, fomos recebidos por alguns dirigentes político intermédios, mas não por Fidel.
Lembro-me de ter ficado impressionado com o olhar triste ou, talvez, melancólico das trabalhadoras da fábrica de charutos. Apesar de tudo a viagem foi há quase trinta anos. A situação de Cuba era menos difícil do que na actualidade. O calor humano dos cubanos, a sua amabilidade e companheirismo eram, e são, incomparáveis. E, em muitos casos, disfarçavam a custo as críticas.
Mas lembro-me de ter sentido, de parte do regime, um alheamento que só consigo explicar pela nossa postura intelectual de não cedência à eventual expectativa de uma atitude reverencial que nunca seríamos capazes de assumir. Não tínhamos nada para pedir. Ninguém ousou oferecer-nos nada. Saímos como entramos.
Da minha parte trouxe de Cuba um búzio e uma “água-forte”, escolhida e comprada por mim, no atelier de Lopez-Nussa (*), aquando de um passeio livre por Havana. O búzio enorme que colhi, em plena praia de Camaguey, mereceu uma detalhada análise das desconfiadas (ou interesseiras?) autoridades alfandegárias à chegada ao aeroporto de Lisboa.
São as mais preciosas recordações que guardo dessa viagem. Mas espero lá voltar, em breve, como simples turista.
(*) Pelas minhas pesquisas trata-se de uma litografia de um grande artista plástico cubano, Leonel Lopez-Nussa Carion, 1916, Havana, da série “Música e Músicos”, intitulada “Músicas 5 A”.
Nos idos de 1976 visitei Cuba. Che tinha sido assassinado, nove anos antes, em 9 de Outubro de 1967. Faço a referência à efeméride para dar a ideia da profundidade e significado de terem já passado 37 anos desde esse acontecimento que tanto marcou a minha juventude.
Ao ver o filme “A Viagem de Che Guevara”, as personagens, os sonhos e as canções que envolvem o mito de Che lembrei-me desta memorável viagem. Era uma delegação do MES composta por mim, pelo Vítor Wengorovius e pelo Francisco Farrica.
Julgo que não havia um objectivo concreto a alcançar mas tão só dar testemunho do processo político português. Estávamos em plena campanha das eleições presidenciais, em Portugal, e Otelo era, à época, muito popular em Cuba.
Fizemos as visitas da praxe, pisamos os lugares mais emblemáticos da revolução cubana, visitamos uma fábrica de “puros habanos”, uma plantação de cana, fomos recebidos por alguns dirigentes político intermédios, mas não por Fidel.
Lembro-me de ter ficado impressionado com o olhar triste ou, talvez, melancólico das trabalhadoras da fábrica de charutos. Apesar de tudo a viagem foi há quase trinta anos. A situação de Cuba era menos difícil do que na actualidade. O calor humano dos cubanos, a sua amabilidade e companheirismo eram, e são, incomparáveis. E, em muitos casos, disfarçavam a custo as críticas.
Mas lembro-me de ter sentido, de parte do regime, um alheamento que só consigo explicar pela nossa postura intelectual de não cedência à eventual expectativa de uma atitude reverencial que nunca seríamos capazes de assumir. Não tínhamos nada para pedir. Ninguém ousou oferecer-nos nada. Saímos como entramos.
Da minha parte trouxe de Cuba um búzio e uma “água-forte”, escolhida e comprada por mim, no atelier de Lopez-Nussa (*), aquando de um passeio livre por Havana. O búzio enorme que colhi, em plena praia de Camaguey, mereceu uma detalhada análise das desconfiadas (ou interesseiras?) autoridades alfandegárias à chegada ao aeroporto de Lisboa.
São as mais preciosas recordações que guardo dessa viagem. Mas espero lá voltar, em breve, como simples turista.
(*) Pelas minhas pesquisas trata-se de uma litografia de um grande artista plástico cubano, Leonel Lopez-Nussa Carion, 1916, Havana, da série “Música e Músicos”, intitulada “Músicas 5 A”.
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[Ressonância de 13 de Dezembro de 2004. Confirmei que se trata, de facto, de uma litografia de autoria de Lopez-Nussa, falecido em 29 de Abril de 2004, que faz parte de uma vasta obra, de inspiração musical e erótica, na linha estética da obra que ilustra este post.]
terça-feira, dezembro 12
REQUIEM POR SALVADOR ALLENDE
Fotografia de Hélder Gonçalves
(…)
Foi no ano de mil novecentos e setenta
ano em que eu fiquei a apodrecer no meu país
que uma coligação do tipo frente popular tomou
pela via legal conta do poder no Chile
legalidade sempre respeitada por ti allende
mas por fim desrespeitada pelos militares pelas direitas pela
cristã democracia partido bem pouco cristão e pouco democrático
falavas tu dizias a verdade
uma bala na boca nessa boca donde ainda pouco antes
saíam as palavras na verdade belas como balas
salvador allende guerrilheiro sem metralhadora e sem boina
de casaco e gravata para essas guerrilhas no parlamento
guerrilhas todas elas tão contrárias à guerra quão favoráveis à paz
essa palavra alada como ave ave não só de georges braque
mas de nós todos aves verticais aves a última estação
árvores desfolhadas num definitivo inverno
allende do cansaço dos problemas da preocupação constante
(…)
Foi no ano de mil novecentos e setenta
ano em que eu fiquei a apodrecer no meu país
que uma coligação do tipo frente popular tomou
pela via legal conta do poder no Chile
legalidade sempre respeitada por ti allende
mas por fim desrespeitada pelos militares pelas direitas pela
cristã democracia partido bem pouco cristão e pouco democrático
falavas tu dizias a verdade
uma bala na boca nessa boca donde ainda pouco antes
saíam as palavras na verdade belas como balas
salvador allende guerrilheiro sem metralhadora e sem boina
de casaco e gravata para essas guerrilhas no parlamento
guerrilhas todas elas tão contrárias à guerra quão favoráveis à paz
essa palavra alada como ave ave não só de georges braque
mas de nós todos aves verticais aves a última estação
árvores desfolhadas num definitivo inverno
allende do cansaço dos problemas da preocupação constante
em jogares limpo]
com quem em vez de mãos utensílio de paz vinha com bombas
com quem em vez de mãos utensílio de paz vinha com bombas
em lugar das mãos]
allende já há muito tempo sem uns olhos para olhares o mar
e sem poderes olhar as pedras preciosas de que fala
pablo neruda teu e meu poeta teu íntimo amigo
em las piedras del cielo esse livro puríssimo
e são pedras do céu mas mais do que do céu pedras da terra
Sol que te pões e nascerás no Chile
leva-me a um país que em criança conhecíamos apenas
dos sacos de serapilheira com o nome impresso de um nitrato
e não por dar o nome a uma pequena mas confusa praça de lisboa
nem por sair nas páginas diárias dos jornais
(…)
Ruy Belo
[No dia do funeral do ditador a versão integral do poema.]
In “Todos os Poemas – III” – “Toda a Terra” – I Parte “Areias de Portugal”
allende já há muito tempo sem uns olhos para olhares o mar
e sem poderes olhar as pedras preciosas de que fala
pablo neruda teu e meu poeta teu íntimo amigo
em las piedras del cielo esse livro puríssimo
e são pedras do céu mas mais do que do céu pedras da terra
Sol que te pões e nascerás no Chile
leva-me a um país que em criança conhecíamos apenas
dos sacos de serapilheira com o nome impresso de um nitrato
e não por dar o nome a uma pequena mas confusa praça de lisboa
nem por sair nas páginas diárias dos jornais
(…)
Ruy Belo
[No dia do funeral do ditador a versão integral do poema.]
In “Todos os Poemas – III” – “Toda a Terra” – I Parte “Areias de Portugal”
Assírio & Alvim – 2ª edição (Outubro de 2004)
O MEU PAI À JANELA
Fotografia de Família
O meu pai Dimas à janela da casa onde nasci. Foi através dela que conheci um mundo banhado pela claridade da luz do sul. Vivi debruçado nesta janela até aos oito anos. Todo o tempo necessário para aprender a natureza.
Paredes brancas de cal. Ladrilhos coloridos. Ruas de terra batida. Vistas de campos espraiados até ao mar. Recantos floridos. Sombras de árvores de frutos. Mãos carinhosas. Telhas de barro quente. O azul transparente do mar.
A família sobreviveu a todas as adversidades próprias das épocas de guerra. Razão mais que suficiente para, apesar da tirania, se sentir feliz. O meu pai era uma pessoa honrada e ensinou-me a liberdade. Honra e liberdade. Foi essa a herança que dele recebi. Fica-lhe bem a moldura daquela janela na qual aprendi a sonhar.
[Fotografia anterior a 1955, colhida na Rua Coelho de Melo, em Faro.]
O meu pai Dimas à janela da casa onde nasci. Foi através dela que conheci um mundo banhado pela claridade da luz do sul. Vivi debruçado nesta janela até aos oito anos. Todo o tempo necessário para aprender a natureza.
Paredes brancas de cal. Ladrilhos coloridos. Ruas de terra batida. Vistas de campos espraiados até ao mar. Recantos floridos. Sombras de árvores de frutos. Mãos carinhosas. Telhas de barro quente. O azul transparente do mar.
A família sobreviveu a todas as adversidades próprias das épocas de guerra. Razão mais que suficiente para, apesar da tirania, se sentir feliz. O meu pai era uma pessoa honrada e ensinou-me a liberdade. Honra e liberdade. Foi essa a herança que dele recebi. Fica-lhe bem a moldura daquela janela na qual aprendi a sonhar.
[Fotografia anterior a 1955, colhida na Rua Coelho de Melo, em Faro.]
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A casa permanece intacta e habitada e esta é uma das suas duas janelas térreas. O encanto que lhe encontrava estendia-se à vizinhança, aos corredores internos e às ruas circundantes.
A PACIÊNCIA NÃO É ETERNA
Fotografia de Simon Gris
No dia de hoje, quatro anos atrás, o “Diário de Notícias” exibiu a seguinte manchete: “Investigação no Inatel – Bagão Félix ordenou uma sindicância com carácter de urgência às áreas financeira e patrimonial da instituição”.
Por acaso era eu próprio o presidente da direcção da instituição em causa. A propósito, dois anos atrás, publiquei um artigo intitulado: “Há silêncios que não podem ser eternos”.
Tudo mantém, na sua essência, uma actualidade desconcertante. Um dia acrescentarei mais detalhes a este episódio que marcou (e marca) a minha vida, pessoal e profissional, e a daqueles que comigo partilharam, durante sete anos, as responsabilidades pela gestão do Inatel.
No dia de hoje, quatro anos atrás, o “Diário de Notícias” exibiu a seguinte manchete: “Investigação no Inatel – Bagão Félix ordenou uma sindicância com carácter de urgência às áreas financeira e patrimonial da instituição”.
Por acaso era eu próprio o presidente da direcção da instituição em causa. A propósito, dois anos atrás, publiquei um artigo intitulado: “Há silêncios que não podem ser eternos”.
Tudo mantém, na sua essência, uma actualidade desconcertante. Um dia acrescentarei mais detalhes a este episódio que marcou (e marca) a minha vida, pessoal e profissional, e a daqueles que comigo partilharam, durante sete anos, as responsabilidades pela gestão do Inatel.
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segunda-feira, dezembro 11
PINOCHET / ALLENDE
Pablo Neruda
Ler, no Catatau, um conjunto de textos e notícias a propósito da morte de Pinochet.
Interessou-me, em particular, uma longa citação de Pablo Neruda, a propósito de Salvador Allende, contida em: Confesso que Vivi (download do livro em espanhol).
Ler, no Catatau, um conjunto de textos e notícias a propósito da morte de Pinochet.
Interessou-me, em particular, uma longa citação de Pablo Neruda, a propósito de Salvador Allende, contida em: Confesso que Vivi (download do livro em espanhol).
PERDOAR SEM NUNCA ESQUECER
Fotografia de Hélder Gonçalves
Isabel Allende: 'Las víctimas seguimos buscando justicia, no venganza'
Até que ponto vai a nossa capacidade de perdoar. Os ditadores que morrem na cama, os assassinos absolvidos pelas omissões da justiça, os justos perseguidos por defenderem causas nobres, a morte anunciada do espírito da liberdade no coração dos homens. Até que ponto seremos capazes de nos desenvencilharmos do espírito de vingança respeitando a morte dos adversários e, mesmo, dos inimigos. A morte do assassino não se comemora antes conclama as consciências livres ao exercício da justiça. Sem descanso, nem medos, nem remorsos, os injustiçados merecem a plena reparação da sua honra. A miséria humana espreita à esquina de todos os noticiários. Não se combate a injustiça com a injustiça. Só há um caminho decente para dignificar a condição humana no julgamento da acção dos homens: perdoar sem nunca esquecer. Ir até ao fim.
Isabel Allende: 'Las víctimas seguimos buscando justicia, no venganza'
Até que ponto vai a nossa capacidade de perdoar. Os ditadores que morrem na cama, os assassinos absolvidos pelas omissões da justiça, os justos perseguidos por defenderem causas nobres, a morte anunciada do espírito da liberdade no coração dos homens. Até que ponto seremos capazes de nos desenvencilharmos do espírito de vingança respeitando a morte dos adversários e, mesmo, dos inimigos. A morte do assassino não se comemora antes conclama as consciências livres ao exercício da justiça. Sem descanso, nem medos, nem remorsos, os injustiçados merecem a plena reparação da sua honra. A miséria humana espreita à esquina de todos os noticiários. Não se combate a injustiça com a injustiça. Só há um caminho decente para dignificar a condição humana no julgamento da acção dos homens: perdoar sem nunca esquecer. Ir até ao fim.
domingo, dezembro 10
A NÃO ESQUECER
Fotografia de Hélder Gonçalves
O ditador morreu e não se fez justiça. Ao contrário do que afirmam muitos amnésicos o Chile, como sinteticamente escreveu Tomás Vasques, possui uma longa tradição democrática. Alguns podem tentar transformar os ditadores em heróis mas nem por isso a história os absolverá. A ditadura de Pinochet, repleta de crimes hediondos, jamais poderá ser branqueada ou esquecida.
O ditador morreu e não se fez justiça. Ao contrário do que afirmam muitos amnésicos o Chile, como sinteticamente escreveu Tomás Vasques, possui uma longa tradição democrática. Alguns podem tentar transformar os ditadores em heróis mas nem por isso a história os absolverá. A ditadura de Pinochet, repleta de crimes hediondos, jamais poderá ser branqueada ou esquecida.
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JARDIM EM ÓRBITA, JÁ!
'Discovery'"
A notícia mais importante da imprensa estrangeira é o lançamento da “Discovery”. Em Portugal é Jardim, por ele mesmo, e Pinto da Costa, por interposta pessoa. Bonito …
A política portuguesa sofrerá um rude golpe quando perder o "brilho" que lhe é emprestado por Alberto João Jardim. Mas é urgente pôr fim à “stand-up comedy” da Madeira.
Arcando com a responsabilidade da representação política da direita ultramontana e caceteira, cujos mais polidos representantes recolheram aos escritórios onde ciosamente guardam as jóias que a polícia fareja, Jardim precisa de entrar em órbita.
Se quisermos encontrar alguma evidência de mérito na política do governo, cirúrgica ou estratégica, não precisamos senão ouvi-lo. O seu discurso herda a tradição oratória dos ditadores do passado na caminhada para a tomada do poder.
Não dá para rir apesar de se tratar, segundo todas as evidências, no caso em apreço, de um mero exercício retórico. Mas a tolerância das democracias face às diatribes populistas dos aspirantes a ditadores tem um elevado preço e nunca deu bons resultados. Tenham a idade que tiverem e seja qual fôr o seu estatuto político.
Já basta!
A notícia mais importante da imprensa estrangeira é o lançamento da “Discovery”. Em Portugal é Jardim, por ele mesmo, e Pinto da Costa, por interposta pessoa. Bonito …
A política portuguesa sofrerá um rude golpe quando perder o "brilho" que lhe é emprestado por Alberto João Jardim. Mas é urgente pôr fim à “stand-up comedy” da Madeira.
Arcando com a responsabilidade da representação política da direita ultramontana e caceteira, cujos mais polidos representantes recolheram aos escritórios onde ciosamente guardam as jóias que a polícia fareja, Jardim precisa de entrar em órbita.
Se quisermos encontrar alguma evidência de mérito na política do governo, cirúrgica ou estratégica, não precisamos senão ouvi-lo. O seu discurso herda a tradição oratória dos ditadores do passado na caminhada para a tomada do poder.
Não dá para rir apesar de se tratar, segundo todas as evidências, no caso em apreço, de um mero exercício retórico. Mas a tolerância das democracias face às diatribes populistas dos aspirantes a ditadores tem um elevado preço e nunca deu bons resultados. Tenham a idade que tiverem e seja qual fôr o seu estatuto político.
Já basta!
CAMUS - ARTISTA MAIS QUE FILÓSOFO
Albert Camus
Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução e Cronologia (1)
1935
Junho : Obtém a licenciatura em filosofia.
1936
Abril : A peça “Revolta nas Astúrias”, que deveria subir à cena pouco antes da Páscoa, é proibida pelo “maire” de Argel sob pretexto da campanha eleitoral.
3 de Maio: a “Frente Popular” alcança a maioria nas eleições legislativas.
Maio : Camus obtém o diploma de estudos superiores de filosofia com uma tese intitulada: “Metafísica cristã e neoplatonismo. Platão e Santo Agostinho”.
17 de Julho: tem início a Guerra Civil Espanhola. Viagem à Europa Central.
9 de Setembro: regresso a Argel. Separação de Simone Hié mas o divórcio só ocorrerá em Fevereiro de 1940.
Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução e Cronologia (1)
1935
Junho : Obtém a licenciatura em filosofia.
1936
Abril : A peça “Revolta nas Astúrias”, que deveria subir à cena pouco antes da Páscoa, é proibida pelo “maire” de Argel sob pretexto da campanha eleitoral.
3 de Maio: a “Frente Popular” alcança a maioria nas eleições legislativas.
Maio : Camus obtém o diploma de estudos superiores de filosofia com uma tese intitulada: “Metafísica cristã e neoplatonismo. Platão e Santo Agostinho”.
17 de Julho: tem início a Guerra Civil Espanhola. Viagem à Europa Central.
9 de Setembro: regresso a Argel. Separação de Simone Hié mas o divórcio só ocorrerá em Fevereiro de 1940.
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« Si tu veux être philosophe … »
Ces années d’initiation littéraire et théâtrale sont aussi celles des études philosophiques. (…) attentif à sont propre mode de pensée, il s’estime romancier ou artiste plus que philosophe : il note dans ses Carnets, en 1936 : «On ne pense que par image. Si tu veux être philosophe, écris des romans.» (…)
«Pourquoi suis-je un artiste et non un philosophe ? C’est que je pense selon les mots et non selon les idées.» (Carnet – 1945). (…)
Si Camus n’a pas élaboré de système de pensée, s’il a préféré écrire des « essais » plutôt que des traités, il incarne déjà, dans son mode d’être, une morale qui ne cessera d’être la sienne: ouverte au bonheur, désireuse de ne rien perdre de la beauté de la nature, mais gardant la mémoire de ce qui peut faire le malheur des hommes. Il le formulera parfaitement plus tard : «Il y a la beauté et il y a les humiliés. Quelles que soient les difficultés de l’entreprise, je voudrais n´être jamais infidèle ni à l’une, ni aux autres.» («Retour à Tipassa».)
(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
« Si tu veux être philosophe … »
Ces années d’initiation littéraire et théâtrale sont aussi celles des études philosophiques. (…) attentif à sont propre mode de pensée, il s’estime romancier ou artiste plus que philosophe : il note dans ses Carnets, en 1936 : «On ne pense que par image. Si tu veux être philosophe, écris des romans.» (…)
«Pourquoi suis-je un artiste et non un philosophe ? C’est que je pense selon les mots et non selon les idées.» (Carnet – 1945). (…)
Si Camus n’a pas élaboré de système de pensée, s’il a préféré écrire des « essais » plutôt que des traités, il incarne déjà, dans son mode d’être, une morale qui ne cessera d’être la sienne: ouverte au bonheur, désireuse de ne rien perdre de la beauté de la nature, mais gardant la mémoire de ce qui peut faire le malheur des hommes. Il le formulera parfaitement plus tard : «Il y a la beauté et il y a les humiliés. Quelles que soient les difficultés de l’entreprise, je voudrais n´être jamais infidèle ni à l’une, ni aux autres.» («Retour à Tipassa».)
(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
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sábado, dezembro 9
ANA CACHOLA
Ana Cachola
Uma campeã numa modalidade desportiva pouco mediática, eminentemente individual e tecnicamente muito exigente. Ainda por cima da minha terra: Faro. Que viva!
Uma campeã numa modalidade desportiva pouco mediática, eminentemente individual e tecnicamente muito exigente. Ainda por cima da minha terra: Faro. Que viva!
sexta-feira, dezembro 8
DIFERENÇAS
Fotografia de Simon Gris
Estranhos são aqueles que não estranham. Cegam são aqueles que não vêem. Hipócritas são aqueles que fingem que não vêem. Posso ver o mar num objecto de contornos indecifráveis. O gosto individual está alojado num lugar inacessível aos outros. O que apreciamos na expressão do gosto dos outros é o nosso próprio gosto. A uniformização do gosto é o sonho das tiranias. Inalcançável. Mesmo quando parece que tudo marcha em harmonia, no silêncio do consentimento, subjaz a diversidade e a diferença. A tirania não suprime as diferenças suprime a revelação delas. Daí a vantagem da democracia pluralista. Reflecte, de forma mais autêntica, não só a realidade social como a individualidade nas suas múltiplas facetas.
Estranhos são aqueles que não estranham. Cegam são aqueles que não vêem. Hipócritas são aqueles que fingem que não vêem. Posso ver o mar num objecto de contornos indecifráveis. O gosto individual está alojado num lugar inacessível aos outros. O que apreciamos na expressão do gosto dos outros é o nosso próprio gosto. A uniformização do gosto é o sonho das tiranias. Inalcançável. Mesmo quando parece que tudo marcha em harmonia, no silêncio do consentimento, subjaz a diversidade e a diferença. A tirania não suprime as diferenças suprime a revelação delas. Daí a vantagem da democracia pluralista. Reflecte, de forma mais autêntica, não só a realidade social como a individualidade nas suas múltiplas facetas.
" SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL "
Fotografia de Angèle
Estes têm sido dias estranhos para aqueles que encaram a política do governo socialista como um desfile de medidas anti populares, lesivas dos direitos adquiridos pelos trabalhadores. A recente decisão acerca do “salário mínimo nacional” evidencia dois factos interessantes:
- O “salário mínimo nacional” foi, pela primeira vez, aprovado em sede de concertação social recolhendo o acordo expresso de todas as organizações sindicais e patronais; o acordo assumiu uma natureza plurianual tomando como horizonte 2011, ou seja, vai para além da presente legislatura que termina em 2009.
- Esta actualização do “salário mínimo nacional” desarmou a política reivindicativa da CGTP na justa medida em que corresponde, quase na íntegra, aos valores constantes do seu caderno reivindicativo representando uma vitória política do governo na área social, curiosamente, aquela na qual melhor se evidencia a diferença entre as políticas neo-liberais e as socialistas.
Estes têm sido dias estranhos para aqueles que encaram a política do governo socialista como um desfile de medidas anti populares, lesivas dos direitos adquiridos pelos trabalhadores. A recente decisão acerca do “salário mínimo nacional” evidencia dois factos interessantes:
- O “salário mínimo nacional” foi, pela primeira vez, aprovado em sede de concertação social recolhendo o acordo expresso de todas as organizações sindicais e patronais; o acordo assumiu uma natureza plurianual tomando como horizonte 2011, ou seja, vai para além da presente legislatura que termina em 2009.
- Esta actualização do “salário mínimo nacional” desarmou a política reivindicativa da CGTP na justa medida em que corresponde, quase na íntegra, aos valores constantes do seu caderno reivindicativo representando uma vitória política do governo na área social, curiosamente, aquela na qual melhor se evidencia a diferença entre as políticas neo-liberais e as socialistas.
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