segunda-feira, dezembro 18

JORGE VASCONCELOS

Posted by Picasa Imagem daqui

Acabei de ler a notícia que o governo “dispensou” Jorge Vasconcelos impedindo, assim, a sua ida ao parlamento conforme estava previsto.

Parece-me o culminar de um episódio triste em que o ministro da Economia, e o governo, perderam em toda a linha perante a plena afirmação da independência de uma entidade reguladora.

Jorge Vasconcelos foi publicamente acusado de se preparar para auferir uma reforma milionária. Foi essa a notícia do “Correio da Manhã” amplificada por todo a comunicação social. A notícia veio a verificar-se não corresponder à verdade. Mas depois de ser colocada na manchete do “Correio da Manhã” … o costume!

Conheço o antigo presidente da entidade reguladora da energia através de uma sua filha que, por acaso, é colega do meu filho. Um conhecimento pouco profundo mas suficiente para saber, de certeza certa, que estamos perante um caso em que a “má moeda” expulsa a “boa moeda”.

Como sei, por experiência própria, alguns governantes, seja qual for o governo, são incapazes de conviver com a independência dos gestores e, pior do que isso, não se coíbem de lançar lama para cima deles quando se recusam a “falar pela voz do dono”.

Acerca da independência, probidade pessoal e profissional de Jorge Vasconcelos não tenho qualquer dúvida mas o mesmo já não seria capaz de jurar de alguns membros dos governos o que, aliás, a experiência passada plenamente ilustra. Fica para memória futura… como um mau sinal dos caminhos da governação socialista.

A UNIDADE:LOJA, OFICINA E HABITAÇÃO

Posted by Picasa Fotografia de Família – Meu pai e meu irmão no trabalho.

A “Óptica Graça” abriu, em Faro, no ano de 1958. Posteriormente, o anúncio luminoso do gato transformou-se num ícone da cidade.

Após a formação de meu irmão nas duas artes (óptico e gravador) era necessário escolher a sede para instalar o negócio. E o critério central que influenciou a escolha não podia ter sido mais ajustado: a baixa da cidade, o centro do centro.

Abdicando, numa primeira fase, da dimensão, a loja abriu no “vão de escada” da Rua de Santo António, 36. No 1º andar instalou-se a oficina e a família veio atrás. Passei a viver no centro da cidade. É verdade que sobrava no alojamento oficinal o espaço que faltava na loja. Mas o essencial nesta actividade, como muito bem tinham intuído meu pai e irmão, era a localização.

Mais tarde a loja haveria de ganhar espaço, design e a qualidade de acolhimento actuais. A fotografia é, certamente, dos anos 60. Na verdade o meu pai não conhecia as técnicas daquele ofício. Como a fotografia pode enganar a realidade!

SIM

Posted by Picasa Fotografia de sophie thouvenin


"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"

SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM.

domingo, dezembro 17

Camus - Un journaliste engagé

Posted by Picasa Imagem Daqui

Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução (1)

On l’a dit, Camus ne pratique pas le mélange des genres. Si, dès L’Envers et l’Endroit, l´intérêt porté au «quartier pauvre» témoigne d’un indéniable engagement d’ordre social, cet engagement n’a pas de dimension politique explicite. Camus réserve ses prises de position d’homme de gauche pour ses activités culturelles – le théâtre, le secrétariat de la Maison de le culture qui tente de se crier – et, bientôt, pour le journalisme. Recruté par Pascal Pia qui en est le directeur, il entre à Alger républicain dès la naissance de ce journal qui entend soutenir le Front populaire à Alger, en octobre 1938. (…)

Quand l’éphémère Soir républicain succède à Alger républicain en septembre 1939, s’ajoute, en plein guerre, le combat «pour la vraie paix», comme le répète quotidiennement la manchette du journal – lequel sera rapidement censuré. Camus a déjà la conception exigeante de ce qu’il considère comme un véritable métier, il est déjà le journaliste engagé, conscient de sa responsabilité, que l’on retrouvera au temps de Combat et de sa collaboration à L’Express. »
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Jean Daniel desenvolveu, recentemente, a faceta de Camus jornalista em “Avec Camus” obra que ainda leio e sublinho.

(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard,
Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
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sábado, dezembro 16

O MEU IRMÃO DIMAS NO PORTO

Posted by Picasa Foto de Família – O meu irmão Dimas naRetina”, Porto

As voltas da vida levaram a que meus pais viessem a adoptar, antes do tempo, o modelo quase perfeito da família nuclear. Um casal e dois filhos. Mas é interessante que já os pais de meus pais haviam gerado famílias pequenas: os meus avós paternos com três filhos e os maternos com dois. O modelo da família alargada havia ficado pelas gerações anteriores.

O meu irmão Dimas nasceu onze anos antes de mim. Ele é contemporâneo dos inícios da guerra civil de Espanha e eu sou um “baby boomer” típico. Não sou capaz de imaginar a intensidade do impacto do meu nascimento tardio no equilíbrio familiar.

Mas é um facto que o meu irmão não concluiu o liceu tendo os meus pais que buscar uma via alternativa para a sua formação. Por ruas e travessas chegaram a um caminho que deu certo. O meu irmão, ainda antes de 1955, partiu para o Porto para aprender, ao mesmo tempo, dois ofícios: óptico e gravador.

Lembro o dia da sua partida. Naquela época a distância entre o extremo sul de Portugal e o Norte, entre Faro e o Porto, era incomensuravelmente maior do que é hoje. O meu irmão Dimas, com menos de vinte anos, instalou-se no Porto, tendo encetado a sua aprendizagem na “Óptica Retina”.

Aprendeu bem todos os segredos dos ofícios a que se propôs dedicar-se o que lhe permitiu durante quase cinquenta anos fazer um percurso ascendente, à maneira de um “self-made-man”, que lhe havia de granjear prestígio profissional e social além de prosperidade económica.

Como escrevi, por alturas da sua morte, prematura e injusta, é um caso de alguém que subiu a pulso na vida, com o esforço do seu trabalho, o apoio inicial dos pais, e uma forte exigência na qualidade do seu próprio desempenho pessoal e profissional.

Os meus pais, forçados pelas circunstâncias da vida, com alegrias e amarguras, fizeram, em relação ao futuro dos filhos, o melhor que puderam. E, no essencial, acertaram. Ao mais velho uma profissão, ao mais novo um curso superior. Depois cada um que assumisse, com liberdade, o seu próprio futuro.

ESTES DIAS

Posted by Picasa Fotografia de Simon Gris

Estes dias em que as palavras se arrastam
Rios caudalosos de memórias que correm
Salpicando as margens da alegria distante

Lisboa,15 de Dezembro de 2006

sexta-feira, dezembro 15

Jane Birkin

Oscar Niemeyer

AVEC CAMUS

Posted by Picasa Avec Camus. Comment résister à l'air du temps Jean Daniel - Edition Gallimard

Regressada de Paris a minha mulher colocou nas minhas mãos uma obra, recentemente editada, acerca de Camus. Desta vez uma incursão reflexiva de Jean Daniel sobre Camus jornalista. É uma obra pequena, de153 páginas, na qual Jean Daniel começa por tentar explicar a modernidade de Camus e a admirável surpresa do interesse que a sua obra desperta um pouco por todo o lado. Iniciei a sua leitura e espero terminá-la no fim-de-semana. Às primeiras impressões parece-me bastante didáctica e repleta de referências às experiências e percursos de escritores/jornalistas, ou vice-versa, muito recomendável a jornalistas em início de carreira que os outros já sabem tudo. Para aperitivo vejam-se os títulos de alguns capítulos: “Contre l’argent”, “La morale contre le moralisme”, “L’idiote et l’innocente”, “Pas même le Christ ...”, “Une outre éthique”, “Retour à l’air du temps » …

quinta-feira, dezembro 14

O MEU AVÔ DIMAS

Posted by Picasa Fotografia de Família

Conheci os meus avós de forma diferente. Os paternos de memórias. Eram mais velhos e eu, filho tardio, cheguei tarde demais para os conhecer de perto. Compenso-me dessa ausência mantendo perto de mim uma fotografia do meu avô Dimas Eduardo Graça (Dimas é o nome de meu pai e de meu irmão mais velho, Eduardo é o meu).

Tirada em Santos, no Brasil, para onde emigrou no tempo em que os portugueses partiam em busca de uma vida melhor, a foto é majestosa pela qualidade, em si mesma, e pela figura que retrata.

Um dia de visita a S.Paulo quis visitar a rua na qual, em Santos, o meu avô Dimas tinha trabalhado numa fábrica de malas, baús, malões, ao que suponho propriedade de seu irmão.

No SESC de S. Paulo falei alto acerca da minha vontade de visitar a rua e, se possível, a fábrica ou os resquícios que dela tivessem sobrevivido. E eis que uma das presentes me diz ter vivido numa vivenda mesmo em frente da fábrica que eu procurava. E lembrar-se, em criança, das pessoas que nela trabalhavam.

No outro dia lá fui. Em plena zona industrial a rua estava tal e qual com o mesmo nome. E o número da porta também não tinha mudado. Era um armazém de fronte do qual pude observar a vivenda que me tinha sido referida.

Por ser domingo não pude entrar mas era aquele o espaço, agora ao serviço da empresa de celulares que a PT explora na região de S. Paulo, onde o meu avô tinha trabalhado boa parte da sua vida.

Regressei com o sentimento de ter cumprido uma das íntimas missão que, desde há muito, me tinha imposto a mim próprio.

[Ressonância de 14 de Dezembro de 2004 desta vez ilustrada com a fotografia do meu avô Dimas.]

DESIGN

FORD PREFECT

Posted by Picasa Ford Prefect – Fotografia de Família

As fotografias de família confrontam-nos com as memórias. Reconciliam-nos ou antagonizam-nos connosco no contexto da família a que pertencemos. O colectivo e o individual misturam-se na poeira do tempo. São imagens que reflectem fragmentos da vida captados em fracções de segundos.

Sempre me reconcilio com a memória quando olho as fotografias de família. Na diversidade das diversas famílias a que pertenço. Outros lidam mal com elas e horrorizam-se quando vasculham no baú da memória.

A partir dos finais dos anos 40 o meu pai adquiriu três objectos de culto: a moto “Norton”, a máquina fotográfica “Kodak” e o automóvel “Ford Prefect”.

Esta é uma fotografia rara retratando um objecto: o “Ford Prefect” surge como se fosse um membro da família. Matrícula LH-14-11. Uma matrícula que, ao contrário de outras, nunca mais esqueci.

RUÍNAS

Posted by Picasa Fotografia daqui

Vi dois operários dignos revestidos em gangas puídas. Operários dos antigos. Os seus passos ressoam em meus ouvidos. A cadência antiga: peça a peça, rosca a rosca, brasa a brasa. Operários envergonhados entre colarinhos brancos. A fuligem assumida contra a pose esvaziada. Os dois operários carregavam nas mãos os sinais do cansaço. Caminhavam por entre paredes de vidro. Subiam aos andaimes. Sinalizavam as medidas. Cortavam o silêncio. Falavam a língua dos gestos sem palavras. Multicolores. Onde estão os operários que erguiam punhos? Transportavam dignidade nos braços ao longo do corpo. Caminhavam entre as futuras ruínas.

quarta-feira, dezembro 13

BACHELLET / PINOCHET

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Um Búzio e Uma "Litografia"

Posted by Picasa Leonel Lopez-Nussa (1916-2004)

Nos idos de 1976 visitei Cuba. Che tinha sido assassinado, nove anos antes, em 9 de Outubro de 1967. Faço a referência à efeméride para dar a ideia da profundidade e significado de terem já passado 37 anos desde esse acontecimento que tanto marcou a minha juventude.

Ao ver o filme “A Viagem de Che Guevara”, as personagens, os sonhos e as canções que envolvem o mito de Che lembrei-me desta memorável viagem. Era uma delegação do MES composta por mim, pelo Vítor Wengorovius e pelo Francisco Farrica.

Julgo que não havia um objectivo concreto a alcançar mas tão só dar testemunho do processo político português. Estávamos em plena campanha das eleições presidenciais, em Portugal, e Otelo era, à época, muito popular em Cuba.

Fizemos as visitas da praxe, pisamos os lugares mais emblemáticos da revolução cubana, visitamos uma fábrica de “puros habanos”, uma plantação de cana, fomos recebidos por alguns dirigentes político intermédios, mas não por Fidel.

Lembro-me de ter ficado impressionado com o olhar triste ou, talvez, melancólico das trabalhadoras da fábrica de charutos. Apesar de tudo a viagem foi há quase trinta anos. A situação de Cuba era menos difícil do que na actualidade. O calor humano dos cubanos, a sua amabilidade e companheirismo eram, e são, incomparáveis. E, em muitos casos, disfarçavam a custo as críticas.

Mas lembro-me de ter sentido, de parte do regime, um alheamento que só consigo explicar pela nossa postura intelectual de não cedência à eventual expectativa de uma atitude reverencial que nunca seríamos capazes de assumir. Não tínhamos nada para pedir. Ninguém ousou oferecer-nos nada. Saímos como entramos.

Da minha parte trouxe de Cuba um búzio e uma “água-forte”, escolhida e comprada por mim, no atelier de Lopez-Nussa (*), aquando de um passeio livre por Havana. O búzio enorme que colhi, em plena praia de Camaguey, mereceu uma detalhada análise das desconfiadas (ou interesseiras?) autoridades alfandegárias à chegada ao aeroporto de Lisboa.

São as mais preciosas recordações que guardo dessa viagem. Mas espero lá voltar, em breve, como simples turista.

(*) Pelas minhas pesquisas trata-se de uma litografia de um grande artista plástico cubano, Leonel Lopez-Nussa Carion, 1916, Havana, da série “Música e Músicos”, intitulada “Músicas 5 A”.
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[Ressonância de 13 de Dezembro de 2004. Confirmei que se trata, de facto, de uma litografia de autoria de Lopez-Nussa, falecido em 29 de Abril de 2004, que faz parte de uma vasta obra, de inspiração musical e erótica, na linha estética da obra que ilustra este post.]

terça-feira, dezembro 12

REQUIEM POR SALVADOR ALLENDE

Posted by Picasa Fotografia de Hélder Gonçalves

(…)

Foi no ano de mil novecentos e setenta
ano em que eu fiquei a apodrecer no meu país
que uma coligação do tipo frente popular tomou
pela via legal conta do poder no Chile
legalidade sempre respeitada por ti allende
mas por fim desrespeitada pelos militares pelas direitas pela
cristã democracia partido bem pouco cristão e pouco democrático
falavas tu dizias a verdade
uma bala na boca nessa boca donde ainda pouco antes
saíam as palavras na verdade belas como balas
salvador allende guerrilheiro sem metralhadora e sem boina
de casaco e gravata para essas guerrilhas no parlamento
guerrilhas todas elas tão contrárias à guerra quão favoráveis à paz
essa palavra alada como ave ave não só de georges braque
mas de nós todos aves verticais aves a última estação
árvores desfolhadas num definitivo inverno
allende do cansaço dos problemas da preocupação constante
em jogares limpo]
com quem em vez de mãos utensílio de paz vinha com bombas
em lugar das mãos]
allende já há muito tempo sem uns olhos para olhares o mar
e sem poderes olhar as pedras preciosas de que fala
pablo neruda teu e meu poeta teu íntimo amigo
em las piedras del cielo esse livro puríssimo
e são pedras do céu mas mais do que do céu pedras da terra
Sol que te pões e nascerás no Chile
leva-me a um país que em criança conhecíamos apenas
dos sacos de serapilheira com o nome impresso de um nitrato
e não por dar o nome a uma pequena mas confusa praça de lisboa
nem por sair nas páginas diárias dos jornais

(…)

Ruy Belo

[No dia do funeral do ditador a versão integral do poema.]

In “Todos os Poemas – III” – “Toda a Terra” – I Parte “Areias de Portugal”
Assírio & Alvim – 2ª edição (Outubro de 2004)

O MEU PAI À JANELA

Posted by Picasa Fotografia de Família

O meu pai Dimas à janela da casa onde nasci. Foi através dela que conheci um mundo banhado pela claridade da luz do sul. Vivi debruçado nesta janela até aos oito anos. Todo o tempo necessário para aprender a natureza.

Paredes brancas de cal. Ladrilhos coloridos. Ruas de terra batida. Vistas de campos espraiados até ao mar. Recantos floridos. Sombras de árvores de frutos. Mãos carinhosas. Telhas de barro quente. O azul transparente do mar.

A família sobreviveu a todas as adversidades próprias das épocas de guerra. Razão mais que suficiente para, apesar da tirania, se sentir feliz. O meu pai era uma pessoa honrada e ensinou-me a liberdade. Honra e liberdade. Foi essa a herança que dele recebi. Fica-lhe bem a moldura daquela janela na qual aprendi a sonhar.

[Fotografia anterior a 1955, colhida na Rua Coelho de Melo, em Faro.]
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A casa permanece intacta e habitada e esta é uma das suas duas janelas térreas. O encanto que lhe encontrava estendia-se à vizinhança, aos corredores internos e às ruas circundantes.

A PACIÊNCIA NÃO É ETERNA

Posted by Picasa Fotografia de Simon Gris

No dia de hoje, quatro anos atrás, o “Diário de Notícias” exibiu a seguinte manchete: “Investigação no Inatel – Bagão Félix ordenou uma sindicância com carácter de urgência às áreas financeira e patrimonial da instituição”.

Por acaso era eu próprio o presidente da direcção da instituição em causa. A propósito, dois anos atrás, publiquei um artigo intitulado: “Há silêncios que não podem ser eternos”.

Tudo mantém, na sua essência, uma actualidade desconcertante. Um dia acrescentarei mais detalhes a este episódio que marcou (e marca) a minha vida, pessoal e profissional, e a daqueles que comigo partilharam, durante sete anos, as responsabilidades pela gestão do Inatel.
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segunda-feira, dezembro 11

PINOCHET / ALLENDE

Posted by Picasa Pablo Neruda

Ler, no Catatau, um conjunto de textos e notícias a propósito da morte de Pinochet.

Interessou-me, em particular, uma longa citação de Pablo Neruda, a propósito de Salvador Allende, contida em: Confesso que Vivi (download do livro em espanhol).

PERDOAR SEM NUNCA ESQUECER

Posted by Picasa Fotografia de Hélder Gonçalves

Isabel Allende: 'Las víctimas seguimos buscando justicia, no venganza'

Até que ponto vai a nossa capacidade de perdoar. Os ditadores que morrem na cama, os assassinos absolvidos pelas omissões da justiça, os justos perseguidos por defenderem causas nobres, a morte anunciada do espírito da liberdade no coração dos homens. Até que ponto seremos capazes de nos desenvencilharmos do espírito de vingança respeitando a morte dos adversários e, mesmo, dos inimigos. A morte do assassino não se comemora antes conclama as consciências livres ao exercício da justiça. Sem descanso, nem medos, nem remorsos, os injustiçados merecem a plena reparação da sua honra. A miséria humana espreita à esquina de todos os noticiários. Não se combate a injustiça com a injustiça. Só há um caminho decente para dignificar a condição humana no julgamento da acção dos homens: perdoar sem nunca esquecer. Ir até ao fim.