Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, julho 1
CAMUS/CHAR E O NOBEL - 1957
Camus e Francine na cerimónia do NobelEstocolmo – Dezembro de 1957
O episódio do Nobel, atribuído a Camus em 1957, suscitou as mais diversas reacções. Muitos ficaram, como sempre acontece, condoídos, outros enraivecidos, mas Char, como seria de esperar, entusiasmado, escreveu-lhe, assim que soube da notícia, no dia 17 de Outubro de 1957:
"Mon cher Albert,
J’espére, je crois que l’on ne nous dit pas ce qui ne sera pas. Donc cette assurance dans la presse m’incite déja sans réserve à me réjouir et à truover ce jeudi 17 octobre 1957 le meilleur, le plus éclairé, oui le meilleus jour depuis long-temps pour moi entre tant de jours désespérants.
Je vous pris d’accepter, en souvenis d’aujourd’hui, cette petite boîte qui me sauva la vie jadis dans le Maquis et que j’ai conservée comme une relique vraiment intime.
Je vous presse la main fort, affectueusement, fraternellement,
René Char"
Duas notas:
1. Camus escreveu nos “Cadernos” nesse dia: “Nobel. Étrange sentiment d’accablement et de mélancolie. À vingt ans, pauvre, et nu, j’ai connu la vraie gloire. Ma mère.”
2. Ainda nos “Cadernos", em 19 de Outubro, escreveu acerca dos ataques a que estava a ser sujeito: “Effrayé par ce qui m’arrive et que je n’ai pas démandé. Et pout tout arranger attaques si basses que j’en ai le coeur serré. Rebatet ose parler de ma nostalgie de commander des pelotons d’exécution alors qu’il est un de ceux dont j’ai demandé, avec d’autres écrivains de la Résistance, la grâce quand il fut condamné à mort. Il a été gracié, mais il ne me fait pas grâce. Envie à nouveau de quitter ce pays. Mais pour où?”
2. Ainda nos “Cadernos", em 19 de Outubro, escreveu acerca dos ataques a que estava a ser sujeito: “Effrayé par ce qui m’arrive et que je n’ai pas démandé. Et pout tout arranger attaques si basses que j’en ai le coeur serré. Rebatet ose parler de ma nostalgie de commander des pelotons d’exécution alors qu’il est un de ceux dont j’ai demandé, avec d’autres écrivains de la Résistance, la grâce quand il fut condamné à mort. Il a été gracié, mais il ne me fait pas grâce. Envie à nouveau de quitter ce pays. Mais pour où?”
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sábado, junho 30
MEMÓRIAS - I
Fotografia de Hélder GonçalvesAquela singular corrente de memórias voa no tempo
Revolto-me em mudança permanente com o espelho
No qual espreito e nele me revejo em reminiscências
De mim naqueles olhares pacientes de mãos quentes
Abertas ao contar dos dias ou fechadas como punhos
Em seus gestos diligentes revendo o futuro do futuro
Com a morte pendurada nas paredes, os meus muros
São transparentes de cal pura brancos sem espessura
E o meu sangue goteja dos retratos sem que me veja.
Lisboa, 5 de Setembro de 2006
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sexta-feira, junho 29
CAMUS/CHAR - VERÃO DE 57
"Ne te courbe que pour aimer..." René CharO verão de 57 parece ter causado uma estranha sensação de ausência em ambos os amigos cada um deles viajando para seu lado. Era o tempo das cartas e dos postais, letras desenhadas à mão, (tenho uma grande colecção de postais trocados entre os meus pais, enquanto namorados, e a minha mãe escreveu-me cartas e postais até à morte.), o tempo tinha um outro sentido, a urgência a dimensão de alguns dias,
Char, em 14 de Setembro de 1957, interrogava Camus através de um postal ilustrado intitulado “Les Dernières Feuilles”: “Un peu, où êtes-vous, cher Albert? J’ai la sensation cruelle, tout à coup, de vous avoir perdu. Le Temps se fait en forme de hache. À quand ? Votre »
Camus, três dias depois, escrevia uma carta que duvido seja de resposta : "Cher René: Je suis en Normandie avec mes enfants, prés de Paris en somme, et encore plus près de vous par cœur. (…) Je rentre dans une semaine. Je n’ai rien fait pendant cet été, sur lequel je comptais beaucoup, pourtant (…)
Triste Normandie ! Sage, médiocre et bien peignée. Et puis un été de limaces. Je meurs de soif, privé de lumière [écrit dans la marge gauche de la lettre.]
Chez Michel Gallimard (…)"
E Char, ainda em Setembro, numa carta sem data, rematava, certamente, em resposta : «Cher Albert, Merci pour votre présence réclamée comme un verre d’eau pure, un matin d’extrême désert. Ils sont en si petit nombre ceux que nous aimons réellement et sans réserve, qui nous manquent et à qui nous savons manquer parfois, mystérieusement, si bien que les deux sensations, celle en soi et celle qu’on perçoit chez l’autre apportent même élancement et même souci …
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quinta-feira, junho 28
PLANANDO SOBRE O REFERENDO
Bart Pogoda"Sócrates tem medo que um referendo à Europa se transforme num teste penalizador para o seu Governo"
Áurea Sampaio, "Visão", 28-06-2007
A Áurea Sampaio lá sabe mas parece-me uma audácia só ao alcance de adivinhos, ou políticos de grande envergadura, atribuir ao actual primeiro-ministro tal medo. O que me parece resultar da realidade das coisas é que ao assumir a Presidência da UE Sócrates não poderia comprometer-se com a realização de um referendo, em Portugal, já que a redacção do chamado Tratado Reformador será o tema central do seu mandato e, como é evidente, a assumpção de tal compromisso referendário, à cabeça, contaminaria todo o processo de negociação.
Pois, ao contrário do que afirma com zelo, Pacheco Pereira, e outros zelotes do compromisso referendário imediato, a negociação destinada à redacção do projecto de Tratado, apesar do compromisso escrito que saiu da reunião do Conselho de 21 e 22 de Junho, não é um trabalho de casa fácil e com sucesso garantido à partida. Para o provar basta atentar na pergunta que um jornalista polaco fez, hoje, ao Secretário de Estado, Lobo Antunes, numa conferência de imprensa em Bruxelas.
Em qualquer caso não há dúvida que, tal como na questão da localização do novo aeroporto de Lisboa, o programa do governo é claro: no que respeita ao aeroporto aquele programa diz, expressamente, que é na OTA; no que respeita ao Tratado europeu diz o seguinte:
“O Governo entende que é necessário reforçar a legitimação democrática do processo de construção europeia, pelo que defende que a aprovação e ratificação do Tratado deva ser precedida de referendo popular, amplamente informado e participado, (…)”
Pela parte que me toca defendo que, salvo qualquer situação absolutamente excepcional que ponha em causa o interesse nacional, o governo, oportunamente, deve propor ao Senhor Presidente da República a realização de um referendo. Para tal será necessário que o Conselho Europeu, previsto para Outubro próximo, aprove o projecto de Tratado que coube à Presidência portuguesa elaborar.
Nesta, como nas matérias decisivas para o futuro de Portugal e da União Europeia, nenhum político que se preze pode ter medo dos grandes desafios e tenho a certeza que se existir algum entrave à realização do referendo não é problema de Sócrates. Será necessário procurar a origem de eventuais resistências noutro lado, porventura, no campo daqueles que, hoje, proclamam a sua urgência!
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quarta-feira, junho 27
OS TEMPLÁRIOS
O Selo dos Templários“Em Março de 1129, Afonso Henriques confirma a doação que D. Teresa, sua mãe, havia feito do castelo e do termo de Soure à Ordem Militar do Templo de Jerusalém, exactamente um ano antes”. É assim que José Mattoso abre o Capítulo 4, intitulado “O Apelo de Jerusalém”, da sua obra “D. Afonso Henriques”.
Mais à frente prossegue: “O acto a que nos referimos, isto é, a doação de D. Teresa e dos seus barões à Ordem do Templo, e, logo a seguir, a sua confirmação por Afonso Henriques, depois de ter assumido o poder, representam, de facto, a decidida participação do Condado Portucalense nesse amplo movimento de expansão europeia e de projecção da cristandade para fora do espaço onde, até então, tinha estado encerrada.”
(…)
“Trata-se, na verdade, de um acto surpreendente pela sua precocidade, visto que, em Março de 1128, os templários não tinham ainda sido aprovados como uma ordem religiosa, constituíam uma comunidade com pouco mais de uma dúzia de membros e eram desconhecidos na maior parte da Europa.”
E logo de seguida Mattoso faz uma distinção muito interessante: “Além disso, nunca ninguém tinha tido a ideia de criar um exército de monges nem um convento de soldados. O estado de vida religiosa opunha-se à profissão das armas. A função dos milites (os que combatem) considerava-se não só diferente da função dos oratores (os que rezam) mas era incompatível com ela. (…) “Unir num só “estado” cavaleiros e monges parecia uma inovação absurda”.
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In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”4. O Apelo de Jerusalém”, “Entre o oriente e o ocidente” e “Uma novidade no mundo cristão””, pgs. 58/59 (16).
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