sexta-feira, junho 6

RESPIRAR O MESMO AR

Fotografia de Hélder Gonçalves
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Le salut par un Noir

Jean Daniel - Le Nouvel Observateur

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Ce qui empêche toute spéculation pessimiste sur les Etats-Unis, c'est que l'affrontement aux élections primaires d'une femme et d'un Noir a montré au monde que les Etats-Unis peuvent rester le pays du changement. Selon le titre d'un livre célèbre, il y a même chez les Américains une «tradition du changement». L'avenir, pour eux, ce n'est pas conserver, c'est adapter ou innover. Quand bien même, d'ailleurs, changeraient-ils de mentalité, les Américains ne sont plus maîtres d'une certaine évolution, notamment démographique. La population américaine a changé. Le nombre de Blancs d'origine européenne décline au fur et à mesure que celui des Hispaniques et des Asiatiques augmente. La seule chose qui pourrait dans l'avenir les rattacher à l'ancien monde, c'est la prédiction de Samuel Huntington dans son «Choc des civilisations», à savoir que le plus grand danger sera constitué par une alliance islamo-confucéenne entre les Chinois et les musulmans contre l'Occident. Mais Barack Obama a déclaré que c'était précisément contre une si funeste éventualité qu'il se battrait.
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A CADEIRA DO PODER

Charlize Theron

A história das divisões na esquerda é antiga, repleta de disputas fratricidas, mal entendidos, alianças e cisões, inimizades e rompimentos, ódios e ressentimentos. Basta puxar um pouquinho pela memória e logo nos lembraremos de inenarráveis acontecimentos nos quais está presente toda esta panóplia de fenómenos do “mal-estar” no interior da própria esquerda os quais resultam, em boa medida, da sua difícil relação com o exercício do poder. Fora do governo a esquerda parece que se reencontra consigo própria. É o que deixa passar a mensagem de Alegre. O governo assenta bem à direita e a oposição assenta bem à esquerda. Mas para que servirá a esquerda, em democracia, se não for capaz de assumir as dificuldades de governar. Se não for capaz de resistir aos apelos do imaginário da esquerda tradicional que a coloca sempre no lugar da resistência?
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CRISTIANO RONALDO

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quinta-feira, junho 5

UM DIA ...

O perigo de entregar o poder a fanáticos, seja qual for a sua ideologia, ou religião, é que de um dia para o outro o mundo pode desabar sobre as nossas cabeças. E esta notícia mostra-nos, certamente, só a ponta do iceberg.
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VERGONHAS ALGARVIAS


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ALEGRE (II)

Fotografia daqui

Devo esclarecer que nada me move contra Manuel Alegre que foi, aliás, para mim, como para tantos portugueses da minha geração, uma referência forte na resistência ao estado novo. Mas quando os artistas, de qualquer disciplina, se metem nos caminhos da política activa ponho-me em guarda!

A recente arrancada de Manuel Alegre em confronto com a direcção do PS, e do Governo por ele suportado, não é inocente. Ele lá sabe as linhas com que se coze. Mas achei-o demasiado azedo para os primórdios de uma campanha presidencial “à la longue” e demasiado polémico para uma manobra de força tendo em vista a repartição interna de poderes “à la carte”.

Pura ostentação de um esquerdismo tardio? Antecipação de oposição a um governo de “bloco central”, pós legislativas de 2008? Em qualquer caso, contra as minhas expectativas, depois da sessão do Trindade, a dissidência de Alegre parece irreversível!

Tenho a convicção que hoje, à vista da evolução do mundo e, em particular, da Europa, talvez seja preferível um PS de centro/esquerda a um outro PS qualquer que, não sei com quem, de forma séria, se teria de arranjar para formar governo. Pois é do exercício do poder que estamos a falar e não da organização de saraus culturais.

Acho que o PCP é a única força política da esquerda com sabedoria, histórica e prática, para entender isso. Não é por acaso que se não envolveu na aventura do Trindade. O PCP só se envolve em aventuras se caído em desespero, no fim do caminho, ou arrastado por acontecimentos imprevisíveis, deixando, mesmo assim, sempre uma porta aberta para retroceder em boa ordem. É uma tradição que vem de longe.

Manuel Alegre faz-me lembrar Humberto Delgado sem as estrelas do jovem general e sem a ditadura de Salazar do outro lado! Sem ditadura do outro lado, e sem tropas do seu, o “general” Alegre corre o risco de bivacar no campo do “bloco de esquerda”, ou seja, numa futura “terra de ninguém”.
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IGUALDADE


Pedro Lomba, no Diário de Notícias, escreve: JÁ QUE FALAM DE IGUALDADE. Mais coisa, menos coisa, poderia escrever o mesmo. À direita, e em certa esquerda, reina um grande equívoco na apreciação das aquisições do estado social, em particular, na Europa.
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quarta-feira, junho 4

Jefferson Airplane

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ALEGRE

uma chamada esquerda do PS que é a esquerda e a direita de si própria. O seu lugar situa-se algures entre o passado o presente e o futuro. O seu passado é republicano laico e socialista, o seu presente é ser “do contra” e o seu futuro é admirar o seu passado. Há uma esquerda do PS que se move em torno de princípios que estão enunciados em tábuas antigas, prossegue lutas em prol das conquistas da história e nutre a crença que há sempre uma porta entreaberta para o futuro. Há uma chamada esquerda do PS que sempre encarnou as dores do parto de uma esquerda nova. Geme, trina, sentencia, pontua, comunica, compunge-se, chora e, na versão popular, acena lenços brancos nas bancadas.
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JORGE DE SENA - pelo 30º aniversário da sua morte

[Lisboa, 2 de Novembro de 1919 - Santa Barbara, Califórnia, 4 de Junho de 1978]

Quisera adormecer
como a criança acorda,
à beira de outro tempo, que é o nosso.

Só quero o que não posso.

8/4/53

Em finais de 1979, não sei precisar a razão, interessei-me por conhecer a obra de Jorge de Sena. Talvez tenha sido a memória, muito viva, que retive do seu empolgante discurso na cerimónia realizada, na Guarda, no dia 10 de Junho de 1977. Talvez tenha sido o resultado da busca de refúgio para as dores de uma ruptura amorosa; talvez tenha sido a necessidade de me reencontrar com a obra de artistas que, tal como Camus, fizeram do culto pela liberdade o seu lema de vida.

Hoje preocupam-me os sinais da ascensão de novas formas de autoritarismo que, inevitavelmente, brigarão com a liberdade. E dou comigo a pensar como é possível que os herdeiros das diversas variantes do estalinismo, no nosso país, ganhem créditos, cívicos e eleitorais, apresentando-se como estrénuos defensores da liberdade que, na verdade, abominam. E de como por essa Europa fora se adensam os sinais da ascensão de um novo (ou velho?) fascismo.

Na roda da história volta à tona a velha contradição entre justiça e liberdade sendo que os defensores do primado da liberdade sempre se vêem isolados em épocas de escassez material, relativa ou absoluta, em favor da popularidade de ideologias igualitárias, sejam de matiz comunista ou fascista.

Quando escasseia o pão, e a vida encarece, ganham fôlego os demagogos, de todas as cores, que aproveitam o descontentamento popular para cavalgar a onda e alcandorar aos píncaros o “discurso social” que o mesmo é dizer a reivindicação do predomínio dos princípios, e das políticas, da igualdade sobre os princípios, e as políticas, da liberdade.

Por mim advogo, correndo todos os riscos, o primado da liberdade. Nem novo estalinismo, nem novo fascismo. Nem a sombra dos tiranos quanto mais os seus rostos. No tempo da sociedade da informação a liberdade está na ponta dos nossos dedos mais do que pensam alguns energúmenos cujo maior prazer é vigiar os passos dos amantes da liberdade.

Meus caros: é por isso que me dou ao trabalho, minoritário e persistente, mas afinal na companhia de tantos outros, de lembrar personagens, que arrostando com o silêncio da nossa cultura oficial, pelo seu exemplo e pela sua obra, nos conclamam à vigilância activa, apesar da flacidez das chamadas democracias consolidadas, na defesa da liberdade.

Eis a razão de fundo porque presto a minha homenagem a Jorge de Sena, morto faz hoje 30 anos, e que jaz sepultado, para vergonha da pátria portuguesa, na última das terras da sua peregrinação – os Estados Unidos da América. Salvé Jorge Cândido de Sena!

Ver aqui e aqui algumas referências e poemas de Jorge de Sena.
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Fiz uma pequena alteração no título deste post e, numa primeira leitura da comunicação social, não encontrei uma única referência à efeméride.
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terça-feira, junho 3

RAMMSTEIN


Como manifestação de repúdio em relação às novas exigências das autoridades americanas para a entrada nos Estados Unidos de cidadãos dos países da UE (isso mesmo, da União Europeia!) posto uma música de homenagem à causa palestiniana pela controversa, e popular, banda alemã Rammstein.
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ELOGIO DA VIDA MONÁSTICA

Jorge de Sena (pelo 30º aniversário da sua morte)
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Portrait

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HUMBERTO DELGADO (VI)

Humberto Delgado

Visitei um dia destes o Café Aliança, na minha cidade de Faro, acompanhado pelo meu filho. Aproximei-me das mesas dos “habitués” e meti conversa:

“ – Olá! Como estão, ando atrás de uma fotografia da passagem do Humberto Delgado aqui pelo café. Está difícil de encontrar.” Todos se interessaram pela conversa e, quase todos, tinham bem presente na memória a passagem de Humberto Delgado pelo Algarve.

“Eu vi-o entrar por aquela porta, isto estava cheio de Pides"; “Eu vi duas fotografias dele, uma naquela porta e outra aqui no café!”; “Eu estava, à época, em Olhão e vi a loucura que foi a sua recepção pelo povo!” As fotografias, até hoje, não apareceram mas isso pouco importa.

Foi no dia 3 de Junho de 1958, ao fim da tarde, que Humberto Delgado chegou a Faro: “Ao cair do dia, em Faro, esperava-o uma invulgar concentração de agentes da PIDE, por toda a cidade e no hotel onde ficou hospedado.” “ – Tive de me refrear para não me atirar a eles”, confessou. “O Café Aliança serviu de palco improvisado, numa grande barafunda de populares amontoados à entrada, a revezarem-se para ouvir e ver o candidato presidencial”.

No dia seguinte (4 de Junho) Humberto Delgado rumou a Portimão, visita que o seu neto descreve a traços largos e da qual destaco um detalhe:

“À porta do cemitério, também sobressaiu em arroubos de euforia uma operária conserveira, de seu nome Maria da Conceição Ramos Matias, que utilizou nesse dia as suas moedas de poupança para oferecer flores ao general. Gritou-lhe palavras de ordem de sabor comunista e, rebentando de emoção, impôs o seu desejo de lhe cantar sozinha o Hino nacional, até que, por estar tanto calor, lhe desmaiou nos braços.”

De regresso a Faro é assinalado um almoço tardio e a arrancada para visitar Olhão. Lembro-me da aglomeração de povo à beira dos passeios nas ruas de Faro, acontecimento absolutamente inédito, só comparável com a passagem de algumas procissões e, muito mais tarde, em 1966, aquando da chegada a Faro do bispo Júlio Tavares Rebimbas.

Ninguém sabia ao certo, nem os percursos, nem os horários do General em campanha, mas o meu pai encontrou o caminho, e o momento certo, para se integrar na comitiva que percorreu os nove quilómetros ente Faro e Olhão, que eu acompanhei, ainda criança, certamente, a bordo do Ford Prefect (LH-14-11) familiar. Lembro-me ainda de ter andado na rua, pela mão de meu pai, assistindo à calorosa recepção do povo de Olhão ao General.

Que estranho influxo de coragem atravessou o coração das gentes para que ousassem mostrar, publicamente, a sua dissidência, desafiando um regime político temido pela repressão que exercia sobre os seus opositores? Nesse mesmo dia, 4 de Junho de 1958, a comitiva seguiu para Tavira, Vila Real de Santo António, subindo depois na direcção de Beja cidade na qual a campanha havia de terminar, em apoteose.

[Transcrições, a bold, de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. Omiti as notas que remetem para as fontes. Continua.]
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segunda-feira, junho 2

MOURINHO NO INTER DE MILÃO

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ITÁLIA - O REGRESSO DO FASCISMO?

Imagem daqui

O caldo ideológico em que medra o fascismo faz o seu caminho em Itália. Mais do que a afirmação de uma ideologia estão em marcha politicas visando a perseguição a grupos étnicos minoritários. Espera-se uma reacção enérgica, e exemplar, da Comissão Europeia presidida por José Manuel Barroso. Assim como a condenação pública da política xenófoba e racista do governo italiano por parte dos governos dos países da Europa democrática. Se tal não acontecer tornar-se-ão cúmplices daquela política e perderão a autoridade moral e política para defenderem os seus próprios nacionais emigrantes. Portugal como país de emigração – à vista de todos nas imagens a propósito do europeu de futebol – deveria ser o primeiro país a condenar publicamente a deriva fascizante do governo italiano. E já agora a nova líder do PSD que foi eleita trazendo na boca a palavra “social”.
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domingo, junho 1

A SELECÇÃO A CAMINHO DA SUIÇA

Acompanhei um pouco por acaso, mas com curiosidade, reportagens da viagem da selecção de futebol a caminho da Suíça. Pondo de lado a componente oficial é impressionante a capacidade de mobilização popular da selecção. A chegada a Neuchâtel mostra uma imagem do povo português - emigrante - ao mesmo tempo entusiasta, moderno e disciplinado. Talvez excessivamente confiante no sucesso da selecção neste europeu. Sou céptico mas anseio que a realidade me desminta.
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HUMBERTO DELGADO (V)


O ambiente na cidade dos estudantes estava muito tenso, na verdade, e mais tenso se tornou no dia seguinte, por ser a data prevista para a enguiçada visita de Humberto Delgado a Braga. Tinha sido adiada inicialmente para 3 de Junho, mas acabou sendo antecipada, por sua decisão, para o primeiro dia do mês. Era um domingo, e logo pela manhã Raul Porto Duarte dirigiu-se a Humberto Delgado, no Hotel Astória. Ao ver o inspector da PIDE, este perguntou?

“- Que quer?

“- Quero comunicar-lhe que não está autorizado a seguir para o norte. Terá de regressara a Lisboa.

“ – Oiça: eu só recebo ordens que venham de alguém com a minha categoria ou superior. De si, não as recebo.

“Porto Duarte esboçou um gesto, quase imperceptível, de levar a mão à arma, mas o general atalhou brutalmente:

“ – E se o pretender fazer com uma pistola, tenho aqui outra.” – E mostrou na cintura a arma que trazia. “ – Convença-se que não recebo ordens da PIDE, que não é coisa alguma e não pode prender um general no activo. Estou disposto a seguir para Braga e só não irei se receber uma ordem militar por escrito, emanada do Governo.”

“O General olhava para o outro como se fosse um verme e deu meia volta (…) O pide estava branco como a cal, hesitou uns segundos e saiu.”

Humberto Delgado acabou por não ir a Braga nesse dia seguindo o conselho dos seus correligionários que reuniu para esse fim. A ordem escrita proibindo militarmente a deslocação acabou por chegar à uma hora da manhã por um oficial do Estado Maior do Quartel General da 2ª Região Militar.

A ida a Braga, por si só, não era a principal preocupação de Humberto Delgado, nem foi por acaso que antecipou de 3 para 1 de Junho a projectada visita à capital do Minho. O que estava realmente em jogo naquele início do mês era a eclosão de um levantamento militar pelo qual assumia a responsabilidade. Se os oficiais envolvidos cumprissem a intentona, marcada que estava para o dia 2, Humberto Delgado encontrar-se-ia então no local da arrancada do “28 de Maio”, o que teria um efeito moral , podendo funcionar como catalisador de adesões no exército. A intentona, no entanto, acabou por não ser levada a cabo.

[Transcrição de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. Omiti as notas que remetem para as fontes. Continua.]
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