sábado, julho 14

COIMBRA

A mudança de residência de Afonso Henriques de Guimarães para Coimbra em 1131 constitui, no entanto, um facto da maior importância histórica, pelo seu significado próprio e pelas consequências que teve na vida nacional.
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Assim a instalação de Afonso Henriques em Coimbra, ao mesmo tempo que confere uma força enorme à corrente cultural e institucional de carácter mediterrânico, encaminha o futuro país para a síntese que absorve não só a separação entre o condado de Portucale e o de Coimbra mas também a oposição cultural entre o Norte e o Sul, para os integrar numa só entidade política, apesar de nela continuarem a existir regiões com características bem diferentes umas das outras. As duas grandes regiões do Norte e do Sul, porém, tornam-se verdadeiramente complementares. Agem e reagem uma sobre a outra, como dois pólos opostos, mas indissoluvelmente ligados entre si por uma corrente que se alimenta da sua própria diferença.

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”6. Coimbra”, pgs. 75/79 (20).
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sexta-feira, julho 13

VOTO NO COSTA (II)

Volto a uma questão que já anteriormente abordei no início desta campanha eleitoral para a Câmara Municipal de Lisboa.

Trata-se da ideia, expendida por Vasco Pulido Valente, citada pelo Da Literatura, da derrota inexorável de António Costa e, por arrastamento, de Sócrates e do PS. E o que diz VPV, entre considerações próprias da vulgata populista anti partidos:

“A campanha para a câmara também é um aviso para o PS e o PSD. Por mal que se pense de Helena Roseta, o facto subsiste que ela revelou uma incomodidade básica do eleitorado socialista com o governo de Sócrates. Se o resto da esquerda aguentar o voto, o resultado provável de António Costa é uma derrota de consequência: e não exclusivamente para ele.”

A resposta a esta ideia, luminosa, de que o vencedor mais do que provável é o perdedor inevitável, pode resumir-se à consulta do histórico das eleições autárquicas em Lisboa no decurso da III República.

O PS só ganhou, concorrendo a solo, a Presidência da Câmara Municipal de Lisboa, nas primeiras eleições autárquicas, em 1976, elegendo Aquilino Ribeiro Machado. Nunca, em qualquer outra eleição, para a Câmara Municipal de Lisboa, no pós 25 de Abril, o PS ganhou a Presidência concorrendo sozinho.

Quer Jorge Sampaio, quer João Soares, foram eleitos presidentes da CML apoiados por coligações de esquerda, congregando o eleitorado do PS e do PCP, o que permite retirar a conclusão, simples e directa, que, caso António Costa, como todas as sondagens indicam, obtenha a maioria, simples ou absoluta, nestas eleições, será a segunda vez, que um candidato socialista é eleito presidente da CML apoiado, a solo, pelo PS.

Não enxergo onde se pode vislumbrar a derrota na vitória seja de quem for e muito menos em eleições democráticas que, caso sejam limpas, permitem ser declarado um vencedor nem que seja pela diferença de um voto. Ora, neste caso, o que é notável, quer pela história quer pela conjuntura política, é a unanimidade das sondagens apontando para uma vitória folgada de António Costa.

Onde está o problema? Vão proclamar a vitória da abstenção? Vão proclamar a vitória dos derrotados através da adição dos seus votos? O melhor é votar e esperar pelo resultado!
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NÃO QUERER

Posted by PicasaBill Kane - USA, b.1951

No Caderno de Poesia, da série Primeiros Poemas, Não Querer, com um poema de Jorge de Sena.
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António Costa sobe na última sondagem conhecida. Só há uma certeza: Costa vai ganhar, resta saber qual a expressão dessa vitória que depende, no essencial, da taxa de abtenção. Acrescento uma reflexão de bom senso acerca das sondagens em Lisboa.

quarta-feira, julho 11

VOTO NO COSTA

Posted by PicasaANTÓNIO COSTA

Quando oportunamente manifestei o meu apoio a António Costa, à frente da lista do PS à Câmara Municipal de Lisboa, cumpri um dever de cidadania.

Tal apoio foi acompanhado por um apelo para que os candidatos de todas as listas, além da declaração de interesses, que são obrigados a depositar no Tribunal Constitucional, fossem mais além declarando abdicar de todas as funções e actividades profissionais que, directa ou indirectamente, pudessem lançar suspeitas acerca da transparência das suas ambições políticas.

Tempos atrás o Arquitecto Manuel Salgado, nº 2 da lista do PS, fez uma declaração nesse sentido que, do meu ponto de vista, é satisfatória face à observância do princípio da transparência. Não me dei conta que qualquer outro candidato, de qualquer lista, tenha seguido o mesmo caminho.

O Dr. Marques Mendes, líder do PSD, partido que geriu, de forma desastrosa, a Câmara de Lisboa desde finais de 2001, foi obrigado a optar por uma candidatura encabeçada por Fernando Negrão. Com todo o respeito por Fernando Negrão, que é uma pessoa estimável, ficou claro, desde o início, que se trata de uma candidatura perdedora.

Seja qual for o diferencial de votos expressos, a dimensão do fenómeno abstencionista, a maledicência contida nos ataques à candidatura de Costa, e ao seu mandatário, nada deverá salvar Marques Mendes de sofrer uma derrota, restando saber se o PSD conseguirá segurar o 2º lugar ou se vai cair para o3º, ou mesmo 4º.

A partir do dia 15 de Julho muita coisa pode mudar no panorama da oposição ao Governo maioritário apoiado pelo PS. Tal como em Dezembro de 2001 a derrota do PS, em Lisboa e no Porto, ditaram a demissão de Guterres, no dia 15 o resultado da eleição de Lisboa pode ditar, sejamos claros, a queda de Marques Mendes.

Estou convencido que Sócrates é o último a desejar essa queda antes preferindo que o PSD sendo derrotado, não seja humilhado, para que não surja daí uma crise interna grave na sua liderança. Mas é difícil antever sucesso no alívio das dores do PSD neste difícil parto eleitoral.

Estou convencido que os maiores adversários do PS são, em primeiro lugar, a abstenção, com a cumplicidade do próprio Estado, através da inacção da Comissão Nacional de Eleições, e, em segundo lugar, as candidaturas independentes que buscam, através de um discurso anti partidos captar, de forma mais ou menos subtil, o desencanto dos cidadãos face à politica.

Mas o que está em causa, nestas eleições, é encontrar uma liderança mobilizadora para a Câmara Municipal de Lisboa capaz de iniciar, de forma séria e determinada, a resolução dos graves problemas em que a gestão da direita mergulhou Lisboa. Essa liderança, nas actuais circunstâncias, só pode ser assumida por António Costa em cuja candidatura depositarei o meu voto.
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O ESTADO SOCIAL E A LIBERDADE

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

"O estado social não é a liberdade: é o controlo, pelo poder político, da vida de cada um. E o que o Governo faz, neste momento, é o necessário para manter e reforçar esse controlo."

Rui Ramos, PÚBLICO, 11-07-2007


Nesta série de citações, oriundas de artigos do Público, é-nos oferecido um painel saboroso como se fosse o espelho da ideologia do seu director José Manuel Fernandes. Há um evidente problema mal resolvido na relação dele com a questão da liberdade.

O tema é um clássico do debate político e filosófico de todos os tempos e não serei eu que aprofundarei a dissertação acerca do mesmo. A razão é simples: não vou expor a minha ignorância sobre tão magna questão.

Mas não resisto a transcrever aquela citação de hoje acerca da questão da liberdade, (para não ir directo ao emérito bispo Azevedo), como uma espécie de cereja no cimo do bolo. Para os liberais, embora com variantes, o estado social é a raiz de todos os males; poder-se-ia mesmo simplificar mais a questão e dizer que para eles o estado é a raiz de todos os males.

A questão do “estado social”, apesar dos desvios de percurso, ficou resolvida, na minha cabeça, aí pelos meus 20 anos quando li, pela primeira vez, os Cadernos de Camus.

Nessa longínqua primeira leitura não entendi tudo mas entendi certamente o essencial da questão da relação entre a justiça e a liberdade. Ao longo da vida, por vezes, de forma brutal, outras vezes, de forma subtil, somos obrigados a fazer opções nas quais se joga o equilíbrio entre os dois conceitos na vida prática e na acção social e política.

Ora a questão da liberdade, abordada por Camus, no imediato pós guerra, por volta de Setembro/Outubro de 1945, mantém plena actualidade:

"Gosto imenso da liberdade. E para todo o intelectual, a liberdade acaba por confundir-se com a liberdade de expressão. Mas compreendo perfeitamente que esta preocupação não está em primeiro lugar para uma grande quantidade de Europeus, porque só a justiça lhes pode dar o mínimo material de que precisamos, e que, com ou sem razão, sacrificariam de bom grado a liberdade a essa justiça elementar.
Sei estas coisas há muito tempo. Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que devemos pensar, neste caso?"

(…)

"Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade. A justiça num mundo silencioso, a justiça dos mundos destrói a cumplicidade, nega a revolta e devolve o consentimento, mas desta vez sob a mais baixa das formas. É aqui que se vê o primado que o valor da liberdade pouco a pouco recebe. Mas o difícil é nunca perder de vista que ele deve exigir ao mesmo tempo a justiça, como foi dito. (...)"

In “Cadernos” – Setembro/Outubro de 1945

Não basta gostar imenso da liberdade e, finalmente, perante todas as misérias da vida material, escolher a liberdade. O difícil está em não perder de vista que o primado do valor da liberdade deve exigir, ao mesmo tempo, a justiça … e aqui entra o inevitável papel do estado, e o conceito de estado social, … uma discussão, como se vê, muito antiga.
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NUMA DEMOCRACIA PARLAMENTAR, FUNDADA NOS PARTIDOS, O DISCURSO ANTI-PARTIDOS PODE SER CONSIDERADO ANTI-DEMOCRÁTICO?
ZITA SEABRA POR NUNO RAMOS DE ALMEIDA, FILHO DE PEDRO RAMOS DE ALMEIDA QUE CONHECI COMO CLANDESTINO DO PCP - MUITO INTERESSANTE

terça-feira, julho 10

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Parece mentira mas é verdade. Vital Moreira sentiu-se obrigado, nos dias de hoje, a escrever um post, em jeito de esclarecimento, acerca da existência de fundações públicas de direito privado. Eu mesmo, em Maio de 2006, escrevi acerca do caso concreto do projecto de reforma estatutária do INATEL que vai exactamente nesse sentido. Desconfio que deve estar, após quase dez anos no armário, para sair à luz do dia. Mais tarde, quando for oportuno, volto ao assunto.

CHIPRE E MALTA

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FASCISTA


"Que se exija uma lealdade aos chefes que proíbem a crítica política é algo que não merece outra qualificação senão a de fascista"
José Vítor Malheiros, PÚBLICO, 10-07-2007

A minha boca abre-se de espanto. Estes jornalistas, que assim falam, estavam no activo entre Março de 2002 e Março de 2005? O Dr. José Manuel Barroso, e os seus ministros, o Dr. Portas e os seus ministros, incluindo o actual comentarista Bagão Félix, o Dr. Santana Lopes, e os seus ministros, são fascistas? Estes jornalistas, cuja profissão é o uso do verbo, não sabem medir o alcance das suas palavras? Sabem o que é o fascismo? Sinceramente começa a ser demasiado evidente que há gente a ocupar o espaço público que ensandeceu de vez. Terá sido, simplesmente, no caso dos jornalistas, pelo facto do governo ter acabado com a “Caixa” que lhes concedia benefícios na saúde? Se é essa a razão da espiral de irracionalidade que emerge na pena de muitos jornalistas estamos no reino da pura “vendetta” política. Das duas uma: ou metem baixa psiquiátrica ou apresentam queixa dos crimes de que têm conhecimento às autoridades competentes!



A NOTÍCIA DO DIA: "PEPE" NO REAL MADRID

segunda-feira, julho 9

ZECA AFONSO - 1963

Posted by PicasaFotografia de A Defesa de Faro
(Clicar na fotografia para aumentar)

Ainda acerca das fotografias de A Defesa de Faro aqui lhes deixo uma imagem extraordinária de um grupo em que avulta o Zeca Afonso. Conheci quase todos os que nela surgem e como os seus rostos serenos, estranhamente, me comovem.
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PÚBLICOS

Posted by PicasaFotografia de A Defesa de Faro
(Clicar na fotografia para ampliar)

O Nuno de A Defesa de Faro enviou-me uma fotografia da série dos públicos de que já tenho publicado outras. É difícil saber a data e o local exactos onde foram fixados os rostos dos espectadores num tempo em que o estádio de futebol era um local, ao mesmo tempo, de convivência e rivalidade.

A curiosidade desta fotografia é que, à semelhança de outra já anteriormente publicada, é provável que eu próprio nela figure. O prélio em causa deve ter sido disputado fora de portas. Não tenho a certeza absoluta mas é bem provável que esteja por ali entre a multidão.

Sei que o Nuno está a organizar uma exposição de fotografias desta série para a qual escrevi o texto de apresentação. A Defesa de Faro está a fazer um caminho de âncora da informação e, ao mesmo tempo, de apoio à descoberta e preservação de uma parte do património cultural da cidade que, de outra forma, corria o risco de se perder.

É uma iniciativa particular e, outro dia, em conversa com o Nuno, disse-lhe que se não admirasse com as exigências para com A Defesa de Faro de muitos agentes culturais e personalidades da região. A explicação é simples: é que A Defesa de Faro, sendo uma iniciativa particular, se transformou, paulatinamente, num serviço público. Agora é preciso aguentar o balanço!

Declaração de interesses: o Nuno é meu sobrinho.
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