sábado, abril 25

O QUE VALE A PENA

Fotografia de Hélder Gonçalves

Nestes dias de penumbra o que vale a pena é exercer a liberdade. Não ceder à tentação de renunciar ao exercício da liberdade. Somos um grão de areia na formação da opinião pública que conta com milhões de operadores.

Na sua esmagadora maioria são operadores individuais. O mundo dos blogues é um exemplo extraordinário desta explosão de "fazedores de opinião". Cada vez que perscruto esse mundo, fazendo uma ou outra viagem mais ousada, se me abre a boca de espanto.

Não sou um fanático, nem mesmo um especialista, mas a internet é mesmo muito mais forte do que cada um de nós possa imaginar.

Este é o terreno privilegiado, nos nossos dias, para o exercício da liberdade. Sublinho esta ideia, porventura, desnecessária para muitos daqueles que são mais afeiçoados a esta realidade.

Mas creio que o seu desenvolvimento ainda interessa a muitos mais que dela estão alheios. Não vale a pena tentar passar ao lado. Manuel Castells tem uma abundante reflexão acerca da relação entre Internet e Liberdade que se recomenda aqueles que pretendam aprofundar este tema.

O que vale a pena é desfrutar dos seus benefícios.

É o que me apetece re-dizer no dia em que se celebra o 35º aniversário do 25 de Abril. [In Abébia Vadia – 2004]. Ver ainda aqui.
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sexta-feira, abril 24

25 DE ABRIL

(Rádio Clube Português, 4 h 30 m).
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TELMA MONTEIRO

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TORTURA


Os amigos republicanos de José Manuel Durão Barroso, os íntimos republicanos de Paulo Portas, condecorado por Rumsfeld, governaram com métodos próprios dos tiranos. É aterrador pensar que a democracia possa ser tomada de assalto por gente como Donald Rumsfeld, o secretário da Defesa de Bush que “perguntava, numa nota anexada a um dos relatórios, porque é que os suspeitos só eram obrigados a ficar de pé quatro horas se ele estava levantado dez horas por dia”.
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quinta-feira, abril 23

SEIXAS DA COSTA

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UMA IMPRESSÃO DIGITAL

Na praia da Figueira da Foz, aquele Verão, a minha mãe lia Albert Camus, A Peste, e um livro cujo título eu não compreendia , Calígula seguido de O Equívoco. Não sei se Camus tinha morrido. Eu pensava que todos os escritores estavam mortos há muito tempo. Os livros que lia, muito inapropriados para a tua idade, falavam sempre de um tempo que passara, ou que ainda não chegara à praia da Figueira da Foz, uma praia de vento, água fria e cabo-de-mar. Uma vez, para minha surpresa, o meu pai convidou para jantar um amigo poeta. Eu lera o livro dele e sabia de cor alguns poemas. Quando o poeta chegou não me desiludiu. Estava vivo mas talvez fosse um morto-vivo, de tal forma era magro e doente. Vinha com uma mulher que só podia ser a mulher dos poemas, linda e de voz clara como deviam ser as mulheres dos poetas. Deixei-os e fui às escondidas ao livro do poeta para reler o nome da mulher, embora soubesse o nome dela. E pensei que se quisesse uma mulher assim, bondosa e serena, de fronte alta e cabelo liso, teria que ser poeta, teoria que a Psicologia evolutiva viria a confirmar amplamente ao investigar o significado da arte.Na praia da Figueira da Foz os mais ricos estavam na zona dos chapéus, chegavam tarde, tomavam banho às horas proibidas, tinham livre-trânsito para a piscina do Grande Hotel e óculos de sol para as olheiras da noite. As famílias remediadas alugavam casa em Buarcos, toldos na segunda fila. Chegavam cedo de mais, tomavam banho nas zonas protegidas, respeitando a bandeira, punham creme Nívea apesar de já haver Ambre Solaire, iam almoçar a casa e dormir uma sesta de onde raramente regressavam. A minha mãe lia Camus e eu pensava que Camus devia ser um notável escritor porque ela olhava longamente o mar ou interrompia a leitura para nos dizer que estava a ler um livro de uma pessoa excepcional. Uns anos antes, Hannah Arendt, numa carta ao marido escrevia que Camus era “ o melhor homem da França”. Talvez a minha mãe pensasse, e pelos mesmos motivos, que não havia, em Portugal, um homem assim.

[De A Natureza do Mal]
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quarta-feira, abril 22

PRINCÍPIOS

A criação é uma forma de afirmação das diferenças que não das desigualdades.

Compete-nos, como cidadãos livres, encontrar um sopro de inspiração, na medida das nossas escassas forças, para combater o conformismo e o aviltamento dos valores essenciais que salvaguardam a humanidade da barbárie.

Esses valores são velhas bandeiras do pensamento humanista e liberal dos últimos séculos: direito à vida, defesa da liberdade individual e da democracia. Igualdade de oportunidade para todos no acesso aos benefícios do progresso económico, cientifico, tecnológico e social.

Na vertigem deste caminho muitas interrogações sempre se colocaram aos homens dos tempos modernos: o humanismo é um pensamento limitado? O liberalismo é um pensamento pervertido? O progresso uma aspiração antiquada?

A revolta do homem talvez aconselhasse a adoptar sempre os princípios de um pensamento que tudo tomasse em conta. Sem sublinhados nem os encargos de múltiplas heranças filosóficas ou históricas.

Mas a maioria, salvo os assassinos, que estão sempre prontos a sujar as mãos de sangue e a lançar para a valeta os corpos das suas vítimas, executadas à vista de todos, os homens de boa vontade, aceitam certamente, que fiquem de pé, na luta contra a barbárie, os princípios do direito à vida, à liberdade e à justiça.

Julgo que são esses os nossos princípios.

25 de Abril de 2004

[No dia 25 de Abril de 2004 um grupo de amigos iniciou a aventura de criação de um blogue colectivo o qual, depois de muita hesitação, resolvemos intitular de “Abébia Vadia”. Foi uma experiência efémera, como todas as experiências, mas que permitiu acolher uma mão cheia de boas postas, ou seja, algumas reflexões, testemunhos, mais sérias ou mais irónicas, sobre a vida política e a política da vida. Vou republicar pelo menos algumas das postas que dei à luz enquanto a Abébia florescia. O pensar (ainda) é um sentir extravagante. Disponível aqui.]
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terça-feira, abril 21

O MERCADO PERFEITO

Eric Percher

Uff! É mais ou menos o mesmo assim como eu ter visto um sujeito roubar a carteira a um concidadão e quando perguntado pela polícia acerca desse facto responder: eu estava lá, vi o que se passou, mas foi tudo uma mera coincidência. E nada mais tem a declarar? Nada! Neste ramo de actividade, digo dos larápios, o mercado é mais do que perfeito! Só por essa razão não concorre, em eficácia, com o mercado dos combustíveis que é somente perfeito. Hoje estou como o povo!
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MAGALHÃES, SEMPRE!

Douglas Prince

"O Programa Magalhães é a mais sofisticada e avançada implementação das tecnologias de informação em educação no mundo", afirma o canadiano Don Tapscott que hoje participa no Fórum Mundial das Telecomunicações em Lisboa. [A notícia, da manhã para a tarde, deixou de estar disponível no Expresso online.]

Esta notícia é assustadora! Transcrevo-a com os máximos cuidados. Será o autor da entrevista uma pessoa real? Fui fazer jornalismo de investigação, ou seja, digitei o nome do senhor num motor de busca: o senhor, aparentemente, existe como se pode verificar na versão brasileira e na versão inglesa, mais desenvolvida.

Nada mau mesmo que se trate de pura propaganda do governo como será tudo o que se disser de positivo acerca das suas medidas daqui até, pelo menos, final de Outubro.

PS (costuma utilizar-se querendo dizer Post-Scriptum): Ouvi dizer que Vasco Graça Moura vai sair das listas do PSD ao Parlamento Europeu sendo “despedido”, com o restante plantel, à Benfica! Ninguém comenta?
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segunda-feira, abril 20

SEMPRE À "ORDEM"


Estranho! Quando vi a manchete pensei que pudesse ter sido uma diligência das autoridades encarregadas de uma investigação. Mas não! Parece que o pedido foi feito por um jornalista de investigação. Fiquei a saber que qualquer pessoa pode pedir à Ordem dos Notários o registo dos actos notariais de uma outra qualquer pessoa. Assim como, por exemplo, no âmbito de um processo de divórcio uma das partes obter informações acerca das andanças do património da outra parte; ou num processo de partilhas; ou … no que quer que seja … que envolva a actividade dos notários. Estranho! Este processo expedito de obtenção de informações acerca das transacções patrimoniais é próprio de um país do primeiro mundo. Assim como a justiça na América para o doutor Louçã. Mas já agora fiquei com curiosidade em saber quem foi o jornalista que solicitou os serviços da Ordem dos Notários. E se houver algum jornalista de investigação disponível para fazer investigação era interessante saber se o pedido em referência foi satisfeito, em que termos, segundo que regulamento da Ordem, se a título gratuito ou oneroso, assim alguns detalhes para que todos os cidadãos possam ter acesso, de forma segura e equitativa, aos serviços de tão prestimosa Ordem!
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A ENERGIA DEVE SER PÚDICA

O grande líder dos explorados e oprimidos portugueses, e de todo o mundo, líder de um partido comunista radical, cujo programa é sintetizado, de forma brilhante, sob o slogan “A todos o que é de todos” é, afinal, um apreciador do modelo de justiça praticado na pátria do imperialismo:
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sábado, abril 18

CUBA: OBAMA CUMPRE


Obama, a respeito das relações com Cuba, anuncia grandes mudanças. Para quem não queria acreditar Obama cumpre. Faz o que tem que ser feito e bem feito. Resta saber o que farão Fidel e Raul Castro!
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quinta-feira, abril 16

Global Recession to Be Long, Deep with Slow Recovery


Para que conste a crise está para durar. Nos países democráticos, com eleições à vista, a escolha dos cidadãos será condicionada pela crise: qual o melhor programa de governo para lidar com a crise? O do socialismo democrático ou o da direita liberal? Qual a melhor solução governativa? Maioria de um só partido? Governo minoritário? Ou governo de coligação? Neste caso, coligação de esquerda? De direita? Ou ao centro? O pior cenário possível para um combate eficaz à crise, e para a governabilidade, é o crescimento do poder dos extremos. Quem não entender este detalhe não entende nada! Ou gosta de brincar com o fogo, mesmo que seja para arder com ele!
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terça-feira, abril 14

CUBA - O REGIME BALANÇA

Alex Webb

Obama avança com medidas concretas, e graduais, para pôr fim ao bloqueio dos USA a Cuba. Fidel responde na defensiva pressentindo o efeito devastador daquelas medidas na opinião pública cubana. Fidel nada pode fazer para contrariar esses efeitos pois Obama não precisa negociar nada de essencial com as autoridades cubanas. Basta-lhe tomar medidas unilaterais de levantamento gradual do bloqueio que todos sabem, dentro e fora de Cuba, corresponderem aos mais profundos anseios do povo cubano. Depois o tempo se encarregará de fazer o resto … Obama foi o pior Presidente americano que Fidel poderia enfrentar. Só pode dizer bem dele, e das suas políticas que, afinal, conduzirão ao fim do regime que criou, dirigiu e ainda dirige. Se Fidel assistir à sua própria queda será uma improvável ironia da história!

Yoani Sanchez en Generación Y diz, acerca da presente situação das relações Cuba/USA, o essencial:

La pelota está en terreno cubano después que Obama la lanzara ayer anunciando nuevas flexibilizaciones en su política hacia Cuba. Los jugadores del lado de acá parecen algo confundidos, dudando entre recoger la bola, criticarla o sencillamente ignorarla. El contexto no podía ser mejor: la fidelidad al gobierno nunca había parecido más dañada y el fervor ideológico no había estado –como ahora- tan en el piso. Encima de eso, pocos se creen todavía el cuento del poderoso vecino que vendrá a atacarnos y la mayoría siente que esta confrontación ha durado demasiado tiempo.

La próxima jugada le toca al gobierno de Raúl Castro, pero presiento que nos quedaremos esperando. Debería “despenalizar la discrepancia política”*, lo que dejaría sin efecto –inmediatamente- las largas condenas de cárcel de quienes han sido castigados por delitos de opinión. La pelota que desearíamos que él lanzara es la de abrir espacios para la iniciativa ciudadana, permitir la libre asociación y –en un gesto de suma honestidad política- poner su puesto a disposición de unas verdaderas elecciones populares. En un osado salto sobre la cancha, “el eterno segundo” tendría que atreverse a dar algo más que un ramo de olivo. Esperamos que elimine las restricciones migratorias, que ponga fin a ese negocio extorsionador en que se ha convertido el permiso para salir o para retornar a la Isla.

El juego se volvería más dinámico si dejaran al pueblo cubano tomar la voluble pelota de los cambios. Muchos la golpearíamos para que termine la censura, el control estatal sobre la información, la selección ideológica para ocupar ciertos empleos, el adoctrinamiento en la educación y el castigo al que piensa diferente. La lanzaríamos para que nos dejen navegar en Internet sin páginas bloqueadas o para que en los micrófonos abiertos podamos decir la palabra “libertad” y no ser acusados -por ello- de hacer “una provocación contrarrevolucionaria”.

Varios nos hemos bajado de las apartadas gradas, desde donde mirábamos el partido. Si el gobierno cubano no recoge la pelota, hay miles de manos dispuestas a usar nuestro turno de lanzamiento.

25 de Abril de 1974 - Os Verdadeiros Comandantes da Revolução


Entre a madrugada do dia 25 de Abril e o 1º de Maio de 1974 vivi enclausurado no Quartel do Campo Grande, em Lisboa, onde hoje funciona uma universidade privada e naquela época estava sedeado o 2º Grupo de Companhias de Administração Militar. Lá entrei já a madrugada ia alta, tal conjurado, com o António Dias, após termos perseguido, de carro, a coluna do Salgueiro Maia desde a sua entrada no Campo Grande até ao Terreiro do Passo.

Já contei essa história. De todas as imagens que guardo na memória a mais impressiva é a da fragilidade da coluna revoltosa. Não sabia quem a comandava mas o impensável viria a tornar-se realidade. E a vitória dos mais fracos deveu-se, tão-somente, à justeza das suas razões e à coragem do seu líder. Aos leitores mais ortodoxos do colectivismo assinalo que falo num símbolo. Também sei que, desde sempre, reinou a desconfiança, entre os “donos” da mudança, a respeito de Salgueiro Maia, como hoje reina a desconfiança a respeito de tantos que ousam tomar toda e qualquer iniciativa de mudança (o que é a mudança, hoje?).

Para os “donos” da revolução nem todos devem desfilar na Avenida da Liberdade mas quis o destino – ou a ordem de operações – que quem primeiro nela desfilou fosse Salgueiro Maia que, oferecendo o peito às balas, fez estalar o click que mudou o rumo da história. Olhem com atenção para as imagens que, por vezes, passam na TV. Esse comandante, Salgueiro Maia, era um entre muitos e quem dirigia as operações era um comando com a seguinte constituição: Amadeu Garcia dos Santos, Hugo dos Santos, José Eduardo Sanches Osório, Nuno Fisher Lopes Pires, Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Crespo. O coordenador era Otelo por decisão do Movimento das Forças Armadas. [Ver a “Fita do Tempo da Revolução - A noite que mudou Portugal”.]

O tempo faz esquecer. O tempo é malicioso. O tempo mata a memória. Salgueiro Maia não era um oficial crente nos amanhãs que cantam, dizem até que era conservador mas, perdoem-me o plebeísmo, “tinha-os no sítio”, estão a compreender! Para dar lume a uma revolução mais vale um conservador com “eles no sítio” do que um revolucionário desertor da coragem no momento da verdade.

Quem fez triunfar a revolução não foi Ramalho Eanes, nem Spínola, nem Costa Gomes, não foi nenhum General estrelado pelo Antigo Regime, ou promovido administrativamente pelo novo, quem decidiu o triunfo da revolução foram os “capitães” e o povo, que alargaram à rua o posto de comando e que tomando a rua para si tudo decidiram. Não cito mais nomes, pois todos sabem os nomes, e em nome do povo sempre, à distância de tantos anos, podem caber todos os nomes.

A revolução foi branda para com os seus inimigos, perdoou-lhes os crimes, ofereceu o seu sangue em troca da liberdade, ganhou a admiração do mundo e isso é o seu legado histórico mais valioso. Os antigos carrascos da liberdade: os PIDES, os censores, os legionários, todos os esbirros da ditadura, seus ajudantes e admiradores, ganharam o direito a viver em liberdade, ainda hoje se cruzam connosco nas ruas e nos locais de trabalho, emitem opinião, sendo detentores de todos os direitos cívicos e políticos.

Mas se a nossa revolução foi branda para com os carrascos da liberdade pode orgulhar-se da grandeza de lhes oferecer o bem mais precioso que eles sempre negavam aos seus benfeitores. Os verdadeiros comandantes da Revolução foram generosos. Mas que ninguém, verdadeiro amante da liberdade, espere que os aspirantes a tiranos lhes retribua tanta generosidade. Por isso é prudente que, para preservar a liberdade, a democracia não vacile no combate aos seus inimigos.
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Comentários deixados nos Caminhos da Memória (somente fiz ligeiras alterações para facilitar a leitura):

Não acredito que ele fosse conservador. Provavelmente Salgueiro Maia era de tal forma apartidário, que os elementos com ligações partidárias (quase todos...) desconfiavam dele. Ainda hoje é assim. Raramente se acredita nas pessoas que dizem não sentir afinidades por qualquer força política (com os clubes de futebol ainda é pior...)

luis eme


Posso confirmar que não era conservador. Conhecíamo-nos de Santarém ele e o major bernardo, marido da felisbela, minha antiga colega de liceu, há muitos anos. Durante a campanha de 1969 , fui eleito membro da comissão executiva da cde de Santarém e por essa altura tive imensos contactos com militares da escola prática. Em 1971 é preso José Jaime Fernandes no quartel de Santarém e depois houve uma grande explosão ainda hoje não explicada. O José Jaime correu Caxias, Peniche e passou pelo presídio militar de Santarém, onde através do apoio de diversos militares amigos fizemos chegar diversos materiais. Em 1972 ele e outros amigos fizeram um relatório sobre o presídio militar de Santarém que publicámos no boletim da comissão de socorro aos presos políticos. Para isso contribuíram vários amigos militares. Antes de Abril desertaram seis capitães de Santarém, entre eles o capitão Vítor Pires, meu antigo colega de liceu, para a Suécia e eu e José Jaime fizemos os contactos para os ajudar a desertar No congresso de Aveiro de 1973 eu era um dos responsáveis do gabinete de imprensa, tendo trabalhado em estreito contacto com a comissão organizadora do congresso. Eu a helena Neves, João Paulo Guerra e Vareda pelo secretariado do MOD. Eu na altura pertenci também ao secretariado do Mod, representandoSantarém, com Tengarrinha . Cardia, Hélder Madeira, Vareda e outros. Nessa qualidade tive contactos com vários militares em Santarém que se queriam informar sobre o congresso de Oposição Democrática, em particular sobre a nossa posição sobre a guerra colonial.Diziam não ter posição política mas queriam compreender a nossa posição. Antes de 25 de Abril fui ainda contactado por um antigo colega de liceu, militar, que me quis informar da amplitude do movimento militar e das suas esperanças. Durante a madrugada do 25 de Abril, fui o primeiro a chegar à redacção do meu jornal ,pelas quatro horas da madrugada e já sabia por um telefonema que me acordou que devia ir para o jornal. Pelas cinco da manhã fui ao rádio clube português por ordem do meu chefe de redacção e lá encontrei alem do meu amigo Filipe costa o capitão da força aérea Vítor Cunha, meu antigo colega de liceu e meu amigo, mais tarde conselheiro da revolução. Ficaram eufóricos quando me viram. Precisamos do apoiodas forças democráticas. Em 28 de Abril levei ao rcp o primeiro comunicado da uec que me foi entregue pelo Edgar Valles. O Vítor Cunha e o sobral Costa cansadíssimos pediram-me um comunicado dos "maioreszinhos". No Carmo durante a manhã de 25 Abril tive todo o apoio de salgueiro maia que falou várias vezes comigo, mas quando Marcelo estava para sair no tanque, pediu-me explicitamente para eu falar à população como representante da oposição democrática. Expliquei-lhe que estava como jornalista e sugeri-lhe o "tareco" da oposição católica progressista que eu vira falar na manifestação que tínhamos feito no patriarcado contra a guerra colonial. Durante a noite de 26, passei a noite junto de Caxias com Helena Pato, minha antiga colega de Coimbra e subi de manhã com os marinheiros para o pátio de Caxias, onde cumprimentei os meus amigos presos e continuei contactos com militares. À tarde abri celas a presos e presidi com um militar de Spínola e outro representando o MFA, por sugestão de advogados democratas presentes, em particular Wengorovius e Galvão Teles à libertação dos presos políticos. Estou a escrever um livro sobre este período histórico mas gostaria de contribuir para mudar a imagem conservadora de Salgueiro Maia.
José João Louro
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segunda-feira, abril 13

ESTÁ UM POUCO ESCURO LÁ FORA

Kyle Ford

Taxa de variação homóloga do IPC diminui para -0,4% - Março de 2009

A notícia foi divulgada e apresenta uma faceta da evolução da economia nacional. Para não complicar pode dizer-se que a tendência de evolução dos preços no consumidor é para a baixa. Fala-se, com frequência, nos comentários dos especialistas, no fenómeno da deflação. Do que estamos a falar? O contrário da inflação que é na linguagem dos políticos uma coisa má. Será a deflação uma coisa boa? Não parece.

Quando os preços tendem, de forma consistente, no tempo e em todas – ou quase todas - as categorias de bens e serviços, a baixar, gera-se uma dinâmica de contracção do consumo. É fácil de compreender: pois se a expectativa é de os preços baixarem no futuro próximo os consumidores tendem a adiar as suas decisões de compra. “Mais tarde poderei comprar mais barato e/ou em melhores condições.” As famílias com mais poder de compra também são aquelas com mais capacidade para acomodar o adiamento de decisões.

A economia tende a reagir com cortes na capacidade produtiva, redução de custos, em mão-de-obra, em aquisição de matéria-prima e serviços …. É um cenário desolador. Mesmo aqueles, como os funcionários públicos, que obtiveram aumentos salariais acima da inflação esperada, neste contexto, serão prejudicados a médio prazo. As contas do estado vão degradar-se pela acção conjugada da queda de receitas e aumento da despesa. Mais tarde o estado vai acertar as contas. É inevitável.

Numa situação de crise aguda mais vale distribuir os sacrifícios, entre todos, de forma o mais equitativa possível, ao longo do tempo. Mas o pior cenário é o da conjugação da deflação, da escassez do crédito e do crescimento da dívida externa. Não andamos longe desse cenário a nível mundial. E em Portugal também. Ver o caso japonês.

Verdadeiramente curioso é que até este momento não sejam conhecidas reacções substanciais dos partidos à divulgação deste indicador. Devem estar a estudar a matéria. Na verdade é uma matéria complexa. Mas assim se vê quem tem unhas para apresentar alternativas, quer de política económica, quer de governo.
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quarta-feira, abril 8

PLURALISMO E DEMOCRACIA

Kyle Ford: Second Nature

Sócrates apoia Durão Barroso porque considera que fez um bom trabalho

Nada mau para um partido que alguns democratas de velha cepa têm apelidado de monolítico, submetido ao jugo do pensamento único, enfim, uma bela desmontagem prática da colagem do rótulo de partido estalinista ao PS. Ou, se quisermos, de como o governo pode divergir do PS, partido maioritário que o apoia ou, ao menos, da posição de Vital Moreira, seu cabeça de lista às eleições para o Parlamento Europeu. Oportunismo? Pluralismo e democracia em qualquer caso. Olaré!
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A posição de Vital Moreira:
Em relação à especulação indevidamente feita à volta das minhas declarações, ontem no Porto, sobre a eleição do presidente da Comissão Europeia, importa clarificar o seguinte:
a) Entendo que, de acordo com as regras comuns da democracia eleitoral, deve ser o partido mais votado nas eleições europeias a indigitar o presidente da Comissão Europeia, o qual tem de ser aprovado pelo Parlamento Europeu ;
b) Assim, se o PPE for de novo o partido mais votado, cabe-lhe obviamente indigitar o Presidente da Comissão, para o qual aliás já aprovou oficialmente a candidatura do actual presidente, Durão Barroso;
c) Nesse caso, sendo ele naturalmente o nome proposto pelo Conselho ao Parlamento Europeu, não tenho nenhuma razão para não votar a favor, respeitando o voto dos cidadãos europeus, tratando-se além disso de um cidadão português;
d) Caso, porém, seja o PSE a ganhar as eleições, é lógico que, mesmo sem um candidato pré-eleitoral, seja ele a propor o candidato a presidente da Comissão.
e) Não desconheço a posição oficial do PS de apoio à recandidatura de Durão Barroso, mas também é público e notório que o PS respeita as posições individuais dos seus deputados ao PE nesta matéria.
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EXERCÍCIO DO PODER


O boticário mor do reino continua a fazer das suas. Depois de fazer gato-sapato de governos, ministros e candidatos a primeiros-ministros, não admitindo qualquer tipo de concorrência no negócio das boticas, ameaça o Estado com a justiça, ou seja, ameaça morder a mão do dono. Pois retirem os dinheiros públicos do circuito do negócio das farmácias e logo terão uma pequena lição do como o mercado, no caso em apreço, é uma falácia. Dizem que as farmácias são um sector que se modernizou e parece ser verdade. Mas também se dizia o mesmo da banca! E, se?
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segunda-feira, abril 6

NÁUSEA


Toda a gente fala mesmo os que sempre mostraram que não têm vocação para falar, sem uma palavra autêntica de arrependimento, ou de auto-crítica sincera, antecipando juízos que não lhes competem e sem deixar chegar ao fim os julgamentos de cujos processos foram tristes protagonistas. Até aos limites da náusea, sem carisma, nem dignidade institucional.
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domingo, abril 5

CUBA - FIM DO BLOQUEIO / FIM DO REGIME

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Perante as medidas de Obama, destinadas a promover o fim gradual do bloqueio dos USA a Cuba (bloqueio que já foi rompido por muitos outros países), Fidel afirma não temer o diálogo pois sabe que os USA não precisam de diálogo para promover a abertura. A abertura que Obama encetou é um desejo profundo do povo cubano que olha para Obama, hoje, com a mesma esperança com que, ontem, olhou a revolução cubana. O que diz Fidel:
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Michelle Obama Presents Carla Bruni-Sarkozy with a Guitar

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LIÇÕES DE DIPLOMACIA NO FEMININO:

The American First Lady presented French First Lady Carla Bruni-Sarkozy with a practical – and very rock 'n' roll – gift: an acoustic Gibson guitar.


sexta-feira, abril 3

VIVA A CRISE

É PUBLICIDADE MAS COM QUALIDADE
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SONDAGENS

Como gosto de acompanhar as sondagens, sejam quais forem os resultados, deixo acima os gráficos das mais recentes (clicar em qualquer deles para aumentar). Os institutos responsáveis são a Eurosondagem e a Marktest. [Aqui pode ver os quadros da SIC respeitantes à Eurosondagem.] Os trabalhos de campo decorreram num período cujas características só poderiam penalizar o PS. Mas no meio da tempestade o PS desce (pouco) numa e sobe (pouco) noutra. O que continua a surpreender é o facto de o PSD ter um comportamento quase simétrico, ou seja, não dá sinais consistentes de recuperação. Vamos ver quem ganha o outro “campeonato” cada vez mais renhido entre BE e PCP com o PP a ameaçar intrometer-se. Quem quiser ter uma ideia mais estruturada acerca das tendências de longo prazo sempre pode consultar o Margens de Erro.

quinta-feira, abril 2

O TRIUNFO DOS PORCOS

É sempre bom saber destas coisas, mesmo 70 anos depois, para se aquilatar do que sempre se oculta acerca da censura. A censura, ou a rasura do pensamento, por motivos políticos, é só a ponta do iceberg. Os detentores do poder, seja de que natureza for, são tentados a fazer censura, suprimindo, ou limitando, as liberdades. Não se pode publicar tudo! Não se pode dizer tudo! O próximo alvo dos censores institucionais é a internet: uma verdadeira dor de cabeça para todos os que toleram mal o regime democrático liberal. Uma arma letal contra as ditaduras. A defesa da liberdade de acesso, e utilização, da internet é uma das principais bandeiras, nos nossos dias, na luta contra a tirania. Uma batalha que vai endurecer nos próximos tempos.
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ESTIVADORES

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SABOR A SAL

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quarta-feira, abril 1

UM PROBLEMA QUE VEM DE LONGE

Michael Matsil

O ponto de vista situacionista: tudo o que aconteceu na educação nos últimos quatro anos não é verdade. Mas será verdade o que aconteceu nos últimos 149 anos? Durante quase século e meio ocuparam a pasta da Educação 120 Ministros. Destes só 7, contando com a actual ministra, exerceram funções por mais de 4 anos.
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terça-feira, março 31

ACERCA DA CRISE

Carlos Tarrats

A crise financeira internacional vai revelando um infindável cortejo de aberrações na gestão dos empórios financeiros e industriais, um magma, por vezes indecifrável, de aberrantes privilégios que só podem encontrar justificação na crença cega nas virtudes do mercado como antes, com o império soviético, muitos acreditaram cegamente nas virtudes da propriedade colectiva dos meios de produção. O problema é que, sob as mais diversas formas, a crise faz sempre engrossar as fileiras dos extremistas. Os cidadãos trabalhadores, em todos os níveis da escala social, crentes na vantagem do regime democrático, exigem que os governos eleitos não distribuam os recursos de todos em favor dos “ladrões do templo”. Os governos democráticos não podem ceder às facilidades de apoiar, indiscriminadamente, quem mais alto grita a sua aflição. Não quero sequer pensar que aqueles que pagam, a tempo e horas, os seus impostos, contribuições, taxas e afins, os cidadãos cumpridores das suas obrigações perante a comunidade, sejam espoliados por uma aliança espúria entre políticos eleitos e ladrões com estatuto de empreendedores. É preciso desmanchar a trama. E para surpresa de muitos que acreditaram, com boa fé, nos amanhãs que cantam, têm que ser os partidos do centro esquerda a tomar a iniciativa de empreender políticas regeneradoras. A direita fará sempre renascer a especulação desenfreada, a esquerda da esquerda os mitos do colectivismo empobrecedor. É preciso, nesta época difícil, como aconteceu outras vezes no passado, ter a coragem de defender as reformas centradas no bom senso, na conciliação dos interesses, na defesa de um modelo de radicalismo centrista. A alternativa é o populismo que conduz à guerra. Mas como os políticos do ocidente, seja qual for o seu quadrante político, nos dias de hoje, não têm a memória da guerra era uma boa terapia que frequentassem a rua e ouvissem, na pastelaria, a conversa da mesa do lado. Um exercício simples mas eloquente para informar políticas. Como Obama confessava, numa entrevista recente, faz-lhe falta ouvir a rua e essa falta, na verdade, é um handicap terrível para os políticos da era mediática.
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segunda-feira, março 30

25 de Abril de 1974 - três momentos fascinantes

Foto de Bruno Barbey
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A rendição de um PIDE

Num post anterior, publicado em 16 de Março, aniversário do «Golpe da Caldas» descrevi, de forma mais sucinta possível, a minha insólita participação na coluna de Salgueiro Maia na madrugada do 25 de Abril.

Nessa madrugada já após termos ultrapassado a coluna de Salgueiro Maia não sei já se na Rua do Arsenal, ou na Av. Ribeira das Naus, entrámos, ia alta a noite, no Quartel do Campo Grande e desde essa madrugada, até depois do dia 1º de Maio de 1974, não saí do quartel senão uma única vez.

Não vivi na rua a verdadeira festa do 25 de Abril após a consumação da vitória da revolução. Não assisti à enxurrada de manifestações populares nem participei, com muita pena minha, na manifestação do 1º de Maio de 1974. Os soldados ficaram, horas a fio, alinhados nas casernas, por detrás das janelas de armas apontadas para a rua, preparados para o que desse e viesse. Alguém tinha que cuidar desses detalhes da «cozinha» da revolução.

Num desses dias, estava de oficial de dia o António Dias, quando foi procurado por alguém que da rua pretendia falar. Era um agente da PIDE que se queria entregar. Foi recebido com deferência. Identificou-se e fez a entrega da arma. Uma bela pistola que, devo confessar, me suscitou cobiça e nunca mais esqueci.

De seguida coube-me a tarefa de o escoltar a caminho da Ajuda onde o entreguei em «Cavalaria 7» ou «Lanceiros 2». Foi a minha única saída do quartel em todos aqueles dias de brasa.

No percurso, realizado em jipe, nem uma palavra se trocou. Lembro-me de ter cumprido a missão, com rapidez, respeitando e defendendo, do primeiro ao último momento, a dignidade de um homem aterrorizado que tinha passado, de um dia para o outro, de agente do poder a prisioneiro do poder.
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O passo em frente

Os dias que se seguiram ao 25 de Abril foram de ansiedade e expectativa. Nas ruas a euforia disfarçava o nervosismo mas nos quartéis o ambiente não era de certezas definitivas. O Oficial que assumiu o Comando da minha unidade, certamente o Major Azevedo, mandou reunir os oficiais milicianos.

Formámos um semi-círculo e o comandante perguntou se alguém estava contra, ou tinha reservas, face ao Movimento das Forças Armadas. Quem estivesse contra daria um passo em frente. Gerou-se um ambiente de silêncio e passividade total.

Eis senão quando o Graça (Mário), o de Moçambique, deu um passo em frente. Ficámos sem saber o que pensar. Mas ele explicou. Não tinha a certeza se os militares levariam até ao fim o processo de libertação do povo português e a descolonização.

Ficamos mais descansados e destroçamos com sorrisos. Na prática todos os oficiais milicianos do quartel estavam com o MFA.

Mário Viegas

Mas o oficial miliciano mais fascinante do meu Quartel era o Mário Viegas. O seu estatuto no serviço militar era apropriado ao seu talento de actor.

Vivemos em comum aqueles momentos inesquecíveis em que a liberdade foi devolvida aos portugueses. Tinha por ele um natural fascínio que sempre me retribuiu até à sua morte prematura.

Por um daqueles dias entre o 25 de Abril e o 1 de Maio de 1974, se não erro, no Quartel do Campo Grande, assisti ao espectáculo mais extraordinário de toda a minha vida. Havia que festejar o que agora comemoramos com nostalgia. O refeitório foi transformado numa sala de espectáculos. Nele se reuniu toda a gente de serviço no quartel.

Imaginem o elenco daquela festa improvisada: Carlos Paredes, Zeca Afonso e Mário Viegas. Todos mestres geniais na sua arte. A certa altura o Mário Viegas subiu para o tampo de uma mesa e a poesia brotou, em palavras ditas, como se diante de nós se revelasse um novo mundo ou tivéssemos da vida renascido.

[A partir de um conjunto de posts publicados no Absorto em Março/Abril de 2004.]
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Fascistas de vanguardia

[Também em IraoFundoeVoltar]
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domingo, março 29

El error Ratzinger se agiganta

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Vivemos num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos e nada mais.

“Antinomias políticas. Vivemos num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos – e nada mais. Esta escolha não é fácil. Pareceu-me sempre que na realidade não há carrascos, há apenas vítimas. No fim de contas, bem entendido. Mas é uma verdade que está pouco espalhada.
Gosto imenso da liberdade. E para todo o intelectual, a liberdade acaba por confundir-se com a liberdade de expressão. Mas compreendo perfeitamente que esta preocupação não está em primeiro lugar para uma grande quantidade de europeus, porque só a justiça lhes pode dar o mínimo material de que precisamos, e que, com ou sem razão, sacrificariam de bom grado a liberdade a essa justiça elementar.
Sei estas coisas há muito tempo. Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que devemos pensar, neste caso?” (Texto escrito entre Setembro e Outubro de 1945.)

“Antinomies politiques. Nous sommes dans un monde où il faut choisir d´être victime ou bourreau – et rien d´autre. Ce choix n´est pas facile. Il m´á toujours semblé qu´en fait il n´y avait pas de bourreau, mais seulement des victimes. Au bout du compte, bien entendu. Mais c´est une vérité qui n´est pas répandue.
J´ai un goût très vif pour la liberté. Et pout tout intellectuel, la liberté finit pour se confondre avec la liberté d´expression. Mais je me rend parfaitement compte que ce souci n´est pas le premier d´une très grande quantité d`Européens parce que seule la justice peut leur donner le minimum matériel dont ils ont besoin et qu´à tort ou à raison ils sacrifieraient volontiers la liberté à cette justice élémentaire.
Je sais cela depuis longtemps. S´il me paraissait nécessaire de défendre la conciliation de la justice et de la liberté, c´est qu´à mon avis là demeurait le dernier espoir de l`Occident. Mais cette conciliation ne peut ce faire que dans un certain climat qui aujourd´hui n´est loin de me paraître utopique. Il faudra sacrifier l´une ou l´outre de ces valeurs ? Que penser, dans ce cas ? »*


Vivemos num mundo que não escolhemos
foi-nos dado viver nele e buscar um destino
ser colhidos como uma flor nascida acaso
na beira da estrada ou no canteiro florido
do lugar que não escolhemos para nascer

vivemos num mundo sombrio onde a luz
alumia um só caminho que não sabemos
percorrer lugar perdido em que é preciso
escolher toda a vida o incrédulo absurdo:
sermos vítimas ou carrascos e nada mais.

* Citação de 1945, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 5 (Setembro 1945 – Abril de 1948) - página 131, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (1935 – 1948) – “Cahier V (Septembre1945- avril 1948) – página 1026, Oeuvres complètes – II. (Mesmo quando surgem duvidas tenho mantido sempre a tradução original.) [Também no Caderno de Poesia.]

sábado, março 28

VAMOS LÁ A MAIS 1 HORA E MEIA DE SOFRIMENTO


O futebol está mais polémico do que nunca. No mau sentido. Quanto mais a crise aperta mais se aguça o engenho para ganhar a qualquer custo. O negócio esmaga absolutamente o jogo. Duvidamos do carácter aleatório dos resultados – o grande encanto do jogo. Pairam suspeitas com cada vez mais evidências empíricas acerca da verdade desportiva. Até há pouco tempo as selecções nacionais pairavam – ao menos na aparência – acima desta descrença. Mas as selecções nacionais, que podiam ser um último reduto benévolo de um nacionalismo são, tornam-se, pouco a pouco, numa réplica, com bandeira e hino, dos negócios de ligas, sociedades anónimas desportivas e empresários. O passo seguinte é acabar com as selecções em nome da competitividade e da salvação do futebol. Parece-me que está tudo ao contrário! Entretanto vamos ver se o Prof. Queiroz com aquele ar de deputado, deambulando nos Passos Perdidos, consegue fazer um esforço para transmitir um sopro de entusiasmo à selecção. Neste jogo Portugal (10ª selecção no ranking da FIFA, com 1025 pontos) confronta-se com a Suécia (25ª, com 782 pontos). Se não ganharmos confirma-se uma fase de declínio que aparenta ter tomado conta dos destinos da selecção e do futebol português. Se ganharmos acende-se uma luz ao fundo do túnel.
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Clarice Lispector

No dia 31 de Março estreia no Chapitô, a peça teatral "Que Mistérios tem Clarice" que aborda a vida e obra de uma das escritoras brasileiras mais emblemáticas do século XX. Com esta peça, Rita Elmôr recebeu a indicação para o prémio Shell de melhor actriz no ano de 1998.

A seguir, nos dias 1 e 2 de Abril, realiza-se na Casa Fernando Pessoa um colóquio sobre a escritora que contará, entre outros, com a presença da Profª Nadia Gotlib (Universidade de São Paulo) - autora da fotobiografia de Clarice da qual foram retiradas as imagens que compõem a mostra "Clandestina Felicidade" que poderá ser vista de 01 de Abril a 15 de Maio também na Casa Fernando Pessoa - e do Prof. Carlos Mendes de Sousa (Universidade do Minho), especialista em literatura brasileira, autor do livro: Clarice Lispector. Figuras da Escrita.

Como um recital, o espectáculo "Que Mistérios tem Clarice" reúne fragmentos de contos, entrevistas, cartas, reflexões e crónicas da autora. A peça busca as vivências mais quotidianas da escritora que tinha uma extraordinária capacidade de abordar o universo feminino a partir das suas próprias experiências.Rita Elmôr ressalta que a peça destaca textos onde Clarice falava sobre si mesma, a sua relação com a família e com o ato de escrever.

Confissões explícitas nos seus relatos escritos entre 1968 e 1973.

A encenação de Luiz Arthur Nunes, foi centrada no texto e privilegiou a palavra. A montagem se propõe a levar o espectador numa viagem imaginária para dentro da casa da escritora, conversando com ela, compartilhando momentos íntimos e desfrutando de sua inteligência, delicadeza e ironia, num clima de mistério e fantasia.
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sexta-feira, março 27

Maneiras Cooperativas de Pensar e Agir - Contributo para a História do Cooperativismo

Fotografia de Hélder Gonçalves

O José Hipólito dos Santos vai lançar um livro acerca de um tema interessante e muito pouco estudado: a história do cooperativismo. É na Universidade Lusófona – Campo Grande – em Lisboa, no dia 3 de Abril, pelas 18,30 horas. O edifício desta Universidade é o mesmo onde estava instalado o 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (2ºGCAM) onde eu prestava serviço militar aquando do 25 de Abril de 1974. Coincidências.
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