domingo, maio 16

Racismo

A relação privilegiada Ele não procurava a relação exclusiva (possessão, ciúme, cenas); também não procurava a relação generalizada, comunitária; o que ele queria era, de todas as vezes, uma relação privilegiada, assinalada por uma diferença sensível, remetida ao estado de uma espécie de inflexão afectiva absolutamente singular, como a de uma voz de timbre incomparável; e, coisa paradoxal, ele não via qualquer obstáculo a que essa relação privilegiada fosse multiplicada: nada senão privilégios, em suma; a esfera da amizade era assim povoada por relações dualistas (donde uma grande perda de tempo: era preciso estar com os amigos um por um: resistência ao grupo, ao bando, ao magote). O que era procurado era um plural sem igualdade, sem in-diferença. Como diz Freud (Moisés), um pouco de diferença leva ao racismo. Mas muitas diferenças afastam dele, irremediavelmente. Igualar, democratizar, massificar, todos estes esforços não conseguem expulsar "a mais pequena diferença", gérmen da intolerância racial. O que era preciso era pluralizar, subtilizar desenfreadamente." "Roland Barthes por Roland Barthes" Edição portuguesa: "Edições 70"

1 comentário:

António Ladrilhador disse...

Sobre o racismo em Portugal, refleti extensamente em https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2021/06/racismo-o-homem-cor-de-rosa_26.html , que o convido a visitar.
Trata-se de uma abordagem que procurei que resultasse objetiva e desapaixonada, por entender que só nessa base a mensagem poderá passar junto de quem não está propriamente sentibilizado para ela - e não na da emotividade facilmente explorável por quem da causa se quer aproveitar.
Lerei, com o maior interesse, o comentário que, se julgar o texto digno, quiser produzir.