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domingo, junho 10

PORTUGAL

Posted by PicasaImagem daqui

“Na era de 1166 [ano de 1128], no mês de Junho, na festa de S. João Batista, o ínclito Infante D. Afonso, filho do conde Henrique e da rainha D. Teresa, neto do grande imperador da Hispânia, D. Afonso, com o auxílio do Senhor e por clemência divina, e também graças ao seu esforço e persistência, mais do que à vontade e ajuda dos parentes, apoderou-se com mão forte do reino de Portugal. Com efeito, tendo morrido seu pai, o conde D. Henrique, quando ele era ainda criança de dois ou três anos, certos [indivíduos] indignos e estrangeiros pretendiam [tomar conta] do reino de Portugal; sua mãe, a rainha D. Teresa, favorecia-os, porque queria, também, por soberba, reinar em vez de seu marido, e afastar o filho do governo do reino. Não querendo de modo algum, suportar uma ofensa tão vergonhosa, pois era já então de maior idade e de bom carácter, tendo reunido os seus amigos e os mais nobres de Portugal, que preferiam, de longe, ser governados por ele, do que por sua mãe ou por [pessoas] indignas e estrangeiras. Acometeu-os numa batalha no campo de S. Mamede, que é perto do castelo de Guimarães e, tendo-os vencido e esmagado, fugiram diante deles e prendeu-os. [Foi então que] se apoderou do principado e da monarquia do reino de Portugal.”

Anais de D. Afonso, Rei dos Portugueses”, citado por José Mattoso, em “D. Afonso Henriques” que, de seguida, comenta: “Este texto mostra que o seu autor considerava a batalha [de S. Mamede, 24 de Junho de 1128] como o primeiro episódio da história portuguesa."

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”S. Mamede”, pg. 45 (11)
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sábado, junho 9

AFONSO HENRIQUES CAVALEIRO

“Como é evidente, a revolta dos barões portucalenses não foi, de início, comandada por Afonso Henriques. Em 1122 ele era demasiado jovem para tomar uma decisão desse género. Resultou, portanto, de um movimento espontâneo da aristocracia portucalense, sem intervenção do príncipe. Como foi que ele resolveu tomar o seu comando?”

“Não é provável que se tivesse deixado envolver no movimento que, segundo a minha hipotética reconstrução, teria sido comandado por seu aio Ermígio Moniz. Mesmo que tenha sido este o seu aio e que vivesse com ele até aos 11 ou 12 anos, deixou, em 1120, de estar na sua dependência, porque, a partir de então, encontramos muitas vezes a sua subscrição nos documentos de D. Teresa. (…)

Até 1127, não se pode apontar nenhum indício seguro de qualquer conflito entre ele e a “rainha”. A evolução dos seus sentimentos deve ter ficado marcada pela cerimónia de investidura como cavaleiro, em 1125 ou 1126, mas as dúvidas acerca das circunstâncias em que esta se deu impedem-nos de estabelecer uma relação clara entre os factos.”
(…)
“Os autores modernos que adoptam uma interpretação voluntarista do papel do infante, e que lhe atribuem desde o princípio a chefia da revolta, como faz, implicitamente, o autor dos
Anais, tendem, por isso, a colocar neste momento o início do afastamento do infante para com a sua mãe e fazem da cerimónia cavaleiresca um acto de rebeldia.”
(…)
“Se aceitarmos a veracidade da referencia ao lugar, (
Zamora) teremos, logicamente, de admitir que a cerimónia se teria realizado com o acordo de D. Teresa, e, dadas as suas relações com Fernão Peres, também com o seu consentimento. Dir-se-ia que se tratava de assegurar os direitos de D. Afonso à sucessão, quem sabe se para apaziguar a oposição dos barões portucalenses ou para prevenir a concorrência de um eventual filho de Teresa e Fernão Peres aos direitos sucessórios do infante.”
(…)
“Todavia, se esta manobra se destinava também, na mente de D. Teresa e dos Travas, a apaziguar os protestos dos nobres portucalenses, não teve o efeito que desejavam. Em vez de esvaziar a sua oposição, teve o efeito contrário, a julgar pela nova vaga de deserções da corte, nesse mesmo ano de 1125, como já vimos.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”A investidura de Afonso Henriques como cavaleiro”, pgs. 38/39. (10)
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segunda-feira, junho 4

O PACTO DE TUI

Dou um salto cronológico para assinalar o “Pacto de Tui” assinado no dia 4 de Junho de 1137. Passam hoje, precisamente, 870 anos. Até à assinatura desse pacto Afonso Henriques não desistira de atacar a fronteira norte, ou seja, o território do reino da Galiza.

“…Afonso Henriques aproveitou a rebelião de Garcia de Navarra, como afirmam a História compostelana e a Crónica do Imperador para ocupar pela força os condados de Toroño e de Límia. Este ataque deve ter-se efectuado depois de 1136, quando o Infante fez uma importante doação ao mosteiro galego de Toujos Outos.”
(…)
“Fernão Peres de Trava e Rodrigo Veilaz, conde de Sárria, com outros nobres galegos, procuraram defender os direitos de Afonso VII, opondo-se pelas armas aos portugueses. Os dois exércitos encontraram-se em Cerneja, nas terras de Límia, e travaram uma batalha, tendo Afonso Henriques conseguido capturar Rodrigo Veilaz. Afonso VII estava nessa altura em Palência. Apesar da distância, mais de 300 quilómetros, marchando de dia e de noite, conseguiu chegar a Tui três dias depois e entrava na cidade sem combate.”
(…)
“Sem que haja, pois, notícia de qualquer combate, o facto é que o imperador se encontrou com seu primo (
Afonso Henriques) na cidade de Tui, e aí firmou com ele um pacto de que existe ainda o texto (provavelmente parcial). Foi assinado por Afonso Henriques no dia 4 de Junho de 1137. A evidente submissão que este acto representa é surpreendente, face à anterior vitória de Cerneja. Tem-se procurado explicar a efectiva cedência de Afonso Henriques por ter sido obrigado a acorrer à fronteira sul para defender o território contra uma invasão muçulmana.”
(…)
“Afonso VII devia estar disposto a deixar seu primo tranquilo, contanto que este lhe respeitasse a supremacia, lhe guardasse lealdade e jurasse auxiliá-lo no caso de ser atacado por algum inimigo. (…) Afonso Henriques, por sua vez, pressionado, talvez, por alguma incursão serracena, pode ter assinado o compromisso sem se preocupar demasiado com o seu futuro cumprimento.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, 9.”A homenagem a Afonso VII” – "Nova conjuntura em Leão e Castela”, “O pacto de Tui” e “A opinião dos eruditos”, pgs. 100/103. (9)
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sábado, junho 2

D. AFONSO HENRIQUES - RESPONSABILIDADES POLÍTICAS

Voltando à génese do conflito que opôs D. Teresa a seu filho Afonso Henriques de passagem para a segundo capítulo do livro de José Mattoso do qual temos vindo a transcrever alguns sublinhados da minha leitura pessoal.


“Ora, durante os seis anos que se seguiram à instalação de Fernão Peres de Trava (em Janeiro de 1121) na região de Coimbra e ao sancionamento da sua autoridade pela “rainha” D. Teresa, aqueles nobres, (a “aristocracia nortenha”) que até então confirmavam a maioria dos diplomas condais, deixaram de aparecer na corte.”
(…)
“Não conhecemos os pormenores da divergência que opôs os senhores portucalenses a D. Teresa e aos Travas, mas o mais verosímil é que Fernão Peres, uma vez adquirida a tenência de Coimbra, os excluísse de qualquer papel de chefia no combate contra o Islão e, por conseguinte, da glória inerente à participação destacada na guerra santa e das vantagens materiais e simbólicas que dai adviriam.”
(…)
“Os documentos de que hoje dispomos nada dizem acerca do que se passou então, no que concerne às relações entre os senhores revoltados e D. Teresa. Só sabemos que deixaram de confirmar documentos condais., o que quer dizer que abandonaram a corte.”
(…)
“Não temos meios de seguir os acontecimentos no terreno, mas o facto de, em 1125, se ter verificado uma segunda vaga de deserções da corte significa que, nesse ano, o movimento ganhou tal força que se tornou difícil contê-lo. Ignoramos se houve então algum episódio que provocou o alastramento da revolta, ao ponto de deixarem a rainha e os Travas quase completamente isolados.
(…)
“Como é evidente, a revolta dos barões portucalenses não foi, de início, comandada por Afonso Henriques. Em 1122 ele era demasiado jovem para tomar uma decisão desse género. Resultou, portanto, de um movimento espontâneo da aristocracia portucalense, sem intervenção do príncipe. Como foi que ele resolveu tomar o seu comando?”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “2. Responsabilidades políticas” – "A aristocracia nortenha e os condes galegos” e “A investidura de Afonso Henriques como cavaleiro”, pgs. 36/38. (8)
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terça-feira, maio 29

OS TRAVAS

Enquanto decorre a polémica acerca da abertura do túmulo de D. Afonso Henriques adiciono mais alguns fragmentos para a compreensão do papel de D. Teresa (mãe de Afonso Henriques) na formação do futuro reino de Portugal.

“Como vimos a sua aproximação (entre D. Teresa e os Travas) foi aumentando a partir de 1116. Em Janeiro de 1121, Fernão Peres Trava já se encontrava na corte de D. Teresa. Deve ter sido o sancionamento dessa situação por parte de D. Urraca que a levou a fazer as pazes. Em que consistia o acordo a que chegaram?”
(…)
"Pode, então, considerar-se a hipótese de D. Teresa, que sempre reivindicara o direito a herdar pelo menos uma parte do reino de seu pai, pretender obter o seu governo como soberana independente, e persuadir Pedro Froilaz de Trava a apoiá-la para o conseguir. O seu casamento com o seu filho Fernão Peres só podia reforçar esse projecto. Interessava a ambas as partes: D. Teresa, para conseguir a ajuda do mais poderoso magnata da Galiza; ao conde, para ascender à dignidade de consorte de uma rainha.”
(…)
“Ora, a união entre D. Teresa e Fernão Peres não podia ser aceite pela Igreja, porque o conde estava ligado por um casamento precedente (…).
Além disso, a rainha vivera antes, segundo parece, com Bermudo Peres, irmão de Fernão. (…) Ora o casamento com o irmão de alguém com quem houvera relações sexuais anteriores, era considerado pelo Direito Canónico como um impedimento da maior gravidade. A situação de D. Teresa e dos dois Travas tornava-se assim duplamente incestuosa. Foi, decerto, esse o “pecado” grave que eles procuraram reparar mandando construir o mosteiro de Sobrado, como recorda também a crónica. “
(…)
"Nada disto podia agradar a Diego Gelmirez, que se apresentava como um acérrimo defensor dos princípios da reforma gregoriana, e que viu assim prolongar-se por uma nova geração a rivalidade com Pedro Friolaz, e, pior, formar-se uma coligação entre galegos e portugueses para combater as suas pretensões hegemónicas. Daí o ódio que os redactores da História compostellana votavam a D. Teresa.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “1. A Juventude de um predestinado” – "Os Travas”", pgs. 30/31. (7)
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domingo, maio 27

ASSÉDIO MUÇULMANO A COIMBRA

É notável o papel das mulheres na direcção política dos acontecimentos, anteriores à formação do reino, assim como as relações de D. Teresa com os cavaleiros galegos entre os quais se destacaram os Travas.

“Em 1116, [Afonso Henriques nascera em 1109] uma forte expedição muçulmana comandada pelo próprio emir de Marrocos Ali b. Yusuf saiu de Santarém e, dirigindo-se para norte, saqueou e incendiou Miranda do Corvo, fazendo muitos prisioneiros.”
(…)
A 7 de Julho de 1116, os almorávidas conquistaram o castelo de S.Eulália, junto a Montemor-o-Velho, e puseram cerco a Coimbra, estando aí então a rainha, …" [
D. Teresa, no entanto, só se intitulou rainha em Maio de 1117]
(…)
“No ano seguinte, em Junho, os muçulmanos voltaram a atacar, comandados, de novo, pelo emir de Marrocos, que usou a via marítima, desembarcando perto de Montemor-o-Velho, e se juntou às tropas vindas por terra. Em 22 de Junho, voltou a pôr cerco a Coimbra, mas ao cabo de vinte dias teve de retirar sem haver conseguido apoderar-se da cidade.
Como é evidente, o perigoso ataque almorávida representava um risco acrescido em virtude das divisões internas que enfraqueciam a capacidade de defesa e a coordenação das forças cristãs sob a direcção de D. Teresa. Mas obrigaram os portugueses (…) a reforçarem os dispositivos de defesa, para se protegerem contra ataques de grande envergadura, como o que Coimbra, nessa altura, sofreu. A reacção não parece ter envolvido Urraca nem os membros da cúria régia que com ela partilhavam a responsabilidade de defender o reino, mas trouxe ao território português alguns nobres galegos, além de Bermudes Peres de Trava, (…). A presença de Teresa em Coimbra, pouco depois dos combates em torno do castelo de Sobroso, significa, talvez, que assumiu, sozinha ou com ajuda dos cavaleiros galegos, a defesa da cidade.”
(…)
“Seja como for, os nobres galegos vêm, nessa altura e nos anos seguintes, colaborar com os cavaleiros que defendiam Coimbra. O mais notável foi Fernão Peres de Trava, o filho primogénito de Pedro Froilaz, …”
(…)
Assim, o enfraquecimento do poder central leonez era compensado, na periferia meridional, por meio de uma concentração de forças militares de nível regional, que vinha contribuir, juntamente com outros factores, já referidos, para a estruturação dos poderes intermédios que antecederam a formação dos vários reinos peninsulares.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “1. A Juventude de um predestinado” – "Assédio muçulmano a Coimbra”", pgs. 28 e 29. (6)
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quinta-feira, maio 24

D. TERESA - O ENQUADRAMENTO DE UM CONFLITO

Posted by PicasaImagem do “Carambas!”

Alguns excertos para a compreensão do papel de D. Teresa (mãe de D. Afonso Henriques), e do conflito entre mãe e filho que assume proporções míticas na nossa história.

“Todavia, verificava-se, desde a morte de Afonso VI (1109), uma deslocação do nível em que se decidiam os problemas político-sociais dominantes, decorrentes de fenómenos de recomposição da aristocracia asturiana, leonesa, galega, castelhana ou aragonesa: antes resolviam-se na área do poder régio; a partir desses anos, a decisão passa a depender da recomposição dos poderes regionais (ou já nacionais). Com a perda da autoridade monárquica, os interesses regionais passaram a dominar o palco político, onde os protagonismos pessoais ou linhagísticos alcançam cada vez maior relevo. ”

(…)

“É neste contexto que se situa a posição de D. Teresa e dos barões portucalenses. Coloca-se o problema de saber se seguem os interesses da nobreza galega ou se procuram desempenhar um papel próprio, análogo ao de outros conjuntos aristocráticos regionais. Parece-me claro que se verifica um processo de evolução rápida a partir de um estádio caracterizado por uma certa indefinição inicial, mas que depressa se transforma como consequência da evidente oposição de interesses entre portugueses e galegos. A rainha (D. Teresa) viria a sofrer as consequências de apoiar os segundos em desfavor dos primeiros. Mas a progressiva oposição dos nobres portugueses contra os galegos só se manifesta quando se acentuam as rivalidades paralelas no plano eclesiástico. Estas já vêm desde os últimos anos do século anterior, e polarizam-se em torno da polémica entre Braga e Compostela, acentuada, agora, pelas desmedidas ambições de Gelmirez (arcebispo de Compostela), que segue a estratégia de procurar aumentar o seu poder à custa da apropriação dos direitos metropolitanos de Braga, como antiga capital da província romana da Galécia.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “1. A Juventude de um predestinado” – "Alterações do cenário político”", pg. 26. (5)
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sábado, maio 19

A MÃE DE AFONSO HENRIQUES

D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, era filha do rei Afonso VI de Leão e Castela e de Constança, sendo irmã de Urraca e Raimundo (Conde de Amous e da Galiza). D. Teresa morre em 1 de Novembro de 1130. Afonso Henriques tinha 21 anos de idade.

“Se podemos imaginar alguns dos traços que o infante herdou de seu pai, torna-se bem mais difícil deduzir, das informações que temos, o que deveria ser a sua mãe. De facto, a figura de D. Teresa suscitou as mais variadas e contraditórias especulações, sem que seja possível formar uma opinião segura acerca do seu temperamento e dos motivos que nortearam as suas decisões.”
(…)
“Tentando encontrar o sentido das intervenções politicas que lhe conhecemos, não podemos deixar de ver nela uma personalidade ambiciosa, fortemente convencida do seu direito a herdar um dos estados governados por seu pai, ou seja, pelo menos, a Galiza. Na opinião de B. Reilly, Teresa nunca reconheceu sua irmã Urraca como rainha e herdeira de Afonso VI.”
(…)
“Tudo isto formou o temperamento não menos ambicioso de Afonso Henriques. O ambiente conflituoso e agitado da sua época, tanto do ponto de vista político, como religioso e social, não podia deixar de acentuar a propensão temperamental que herdou de sua mãe. Mesmo que tenha convivido pouco com ela, como é provável, a isso o convidava não só o que, sem dúvida, lhe contavam os membros da corte, companheiros e criados que lhe transmitiam as tradições familiares, empoladas e dramatizadas por exageros de vassalos, mas também o sistema de valores da época e do Norte da Península, fortemente polarizado pela luta contra o Islão, pelos conflitos religiosos e pela afirmação dos ideais nobiliárquicos cultivados pelos jovens cavaleiros.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “1. A Juventude de um predestinado” – "A mãe", pg. 20. (4)

[Agradeço a referência atenta de Paulo Alves, do Carambas!]
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sexta-feira, maio 18

O PAI DE AFONSO HENRIQUES

Fica aqui, a propósito, registada a actualidade da polémica em torno de uma decisão política: a Ministra (da Cultura) impede investigação a ossadas de D. Afonso Henriques.

“Afonso Henriques herdava de seu pai, o conde D. Henrique, um valor especial (…) De facto D. Henrique era um estrangeiro, nascido noutra latitude, educado de forma diferente dos nobres peninsulares. Pode-se considerar como um aventureiro ousado e ambicioso. As suas qualidades pessoais eram acentuadas pela sua alta ascendência, pois era bisneto de Roberto II, rei de França, …“
(…)
“D. Henrique agiu, de facto, como o verdadeiro chefe do grupo de cavaleiros, monges e clérigos de origem francesa, o qual desempenhou um papel muito activo na remodelação da politica e da Igreja no Ocidente peninsular durante a segunda metade do século XI.”

(O conde D. Henrique morre em Astorga, no dia 22 de Maio de 1112, ainda Afonso Henriques não fizera 3 anos.)

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “1. A Juventude de um predestinado” – "O pai", pg. 19/20. (3)
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terça-feira, maio 15

"O quadro familiar: o avô"

Tomando a cronologia de José Matoso, Afonso Henriques, nasceu (talvez), em Viseu, a 15 de Agosto de 1109, no mesmo ano da morte de seu avô, Afonso VI, pai de sua mãe D. Teresa. Logo está próxima a celebração do nongentésimo aniversário de Afonso Henriques.

Não sei se alguma entidade pública, ou outra, já se lembrou da data. Convenhamos que um país europeu desperdiçar a oportunidade de celebrar os 900 anos do nascimento do seu primeiro rei brada aos céus. Mas na nossa antiga pátria lusitana tudo é possível!

“Em 1109, nasce, pois, um menino, primeiro filho da condessa D. Teresa e do conde D. Henrique. Estava ligado por laços hereditários à família régia de Leão e Castela.”
(…)
“Os escribas do conde D. Henrique e da condessa D. Teresa quase nunca se esqueciam, nos seus diplomas, de recordar que ela era filha do “grande” rei Afonso; os de Afonso Henriques, sobretudo os primeiros, lembravam que ele era neto do mesmo rei; e por volta dos anos 1185-1190 o cónego de Santa Cruz de Coimbra que redigiu os Anais de D. Afonso, Rei dos Portugueses referia-se ainda a ele como ”o grande imperador da Hispânia D. Afonso””
(…)
“Em 1109, ano de nascimento de Afonso Henriques, havia, sem dúvida, quem não esquecesse a humilhante derrota sofrida pelo mesmo rei em 1085, na Batalha de Zalaca, contra as tropas almorávidas, nem, nos anos seguintes, a perda de muitas outras cidades importantes da fronteira; mas o ambiente de angústia pelo risco de perder um esplendor tão elevado contribuía, até, para engrandecer a sua memória. Afonso Henriques ficou para sempre ligado a essa referência. Considerava-se, por transmissão materna, como o legítimo herdeiro de um avô glorioso, cuja memória tinha obrigação de honrar, procurando imitar os seus feitos. Era reconhecido como tal pelos seus súbditos”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “1. A Juventude de um predestinado” – "O quadro familiar: o avô", pg. 18/19. (2)
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domingo, maio 13

AFONSO HENRIQUES

Inicio a publicação dos sublinhados da minha leitura de “D. Afonso Henriques”, de José Mattoso, edição do “Círculo de Leitores”. Como é natural a escolha decorre do meu livre arbítrio embora a selecção dos excertos que aqui trago tenha procurado não se tornar ininteligível. Nesta primeira transcrição surge uma importante advertência do autor que serve para todas as que se seguirem.

Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, nasceu em 1109 e morreu em 1185, sendo filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa de Leão e Castela. Iniciou a I Dinastia (1143-1383).

(...)
“A infância e adolescência de Afonso Henriques decorreram, portanto, num clima de intensas lutas, intrigas e contradições que não podiam deixar de influir no seu carácter, e de o pressionar a tomar partido entre as posições assumidas pelos senhores e familiares que viviam à sua volta. Todavia, estamos reduzidos a fazer deduções a partir dos acontecimentos, alguns deles de significado ambíguo, e sem o apoio de informações documentais expressas. Que o leitor não esqueça esta advertência para não transformar em certezas indubitáveis o que apresentamos apenas como uma interpretação verosímil dos factos.”
(...)
“Os acontecimentos mostravam ao infante a imperiosa necessidade da virtude da firmeza na conduta política.”
(...)
“O ambiente de combate que rodeou a infância e a juventude de Afonso Henriques podia ter influenciado o seu ânimo de maneira mais precisa ainda, incutindo nele o desejo de lutar pela independência, para reunir e concentrar as próprias forças, contando o menos possível com o apoio de poderes alheios, pois os acontecimentos em que viu envolvidos os seus próximos manifestavam a precariedade das alianças e a certeza das intrigas.” .

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “1. A Juventude de um predestinado” – "Afonso Henriques", pg. 32/33. (1)
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