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quarta-feira, abril 30

ESQUERDA SOCIALISTA - Nº 1

E como estamos em véspera do 1º de Maio aqui fica o número um do “Esquerda Socialista” jornal do Movimento de Esquerda Socialista, disponível na Hemeroteca Digital da Câmara Municipal de Lisboa. Pode ser folheado aqui.

O jornal foi dado à estampa tardiamente – 16 de Outubro de 1974 – e o seu design gráfico, tal como o símbolo do MES, são de autoria do Robin Fior. O seu primeiro director foi o César de Oliveira. Antes, pela passagem do 1º aniversário do golpe militar que derrubou Allende, no Chile, 11 de Setembro, já tinha saído o nº0 com uma tiragem de loucura! Aí uns 100 000 exemplares, ou estou enganado? [Post corrigido.]
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segunda-feira, abril 28

IMAGENS RARAS DO 25 DE ABRIL




Este epílogo dos murais de Abril tem muitas imagens que ecoam na minha memória. E já que se falou, algures, do pano de fundo do I Congresso do MES (Dezembro de 1974) aqui o deixo, de novo, numa fotografia rara. O pano foi desenhado com os pés descalços marcando pegadas que caminhavam para o centro do símbolo. Este foi o único símbolo feminil dos partidos surgidos, à luz do dia, com a revolução do 25 de Abril. Nem seta, nem aresta, nem punho, nem martelo, nem foice, simplesmente um círculo vermelho encerrando a sigla e a estrela de cinco pontas.
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terça-feira, maio 1

QUE VIVA O 1º DE MAIO!

Posted by PicasaFotografia de Rosário Belmar da Costa
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Hoje é dia de Maio, dizia-se no campo de meus avós, tão longe no tempo, tão perto na memória. Hoje passam 33 anos sobre a data em que se desfizeram muitas dúvidas acerca da natureza da revolução de Abril.

Por toda a parte ressoaram os passos de milhões de manifestantes. Num repente um povo submisso parecia ter-se transformado num povo rebelde. Mas as revoluções só sobrevivem naqueles breves momentos de fusão em que tudo parece ser possível.

Torga, apesar do seu cepticismo, vigilantemente crítico, escrevia, pouco tempo depois, no seu Diário:

“Aveiro, 9 de Junho de 1974 – A caminho da Costa Nova, com a sensação de que os barcos navegam no meio dos milheirais.”

E, ainda antes, a propósito das suas incursões pela política:

“Coimbra, 1 de Junho de 1974 – Discurso num comício socialista. Ainda hei-de escrever meia dúzia de linhas a propósito da situação trágico-cómica de um poeta em bicos de pés num estrado cívico, a esforçar-se por estar à altura da sua reputação e ao mesmo tempo a saber que ninguém o ouve.”

Jorge de Sena, na América, escreveu em 2 de Maio de 1974 o poema “Com que então libertos, hein?...”: “Falemos de política, / discutamos de política, escrevamos de política, /vivamos quotidianamente o regressar da política à posse de cada um /essa coisa de cada um que era tratada como propriedade do paizinho. /Tenhamos sempre presente que, em política, os paizinhos/ tendem sempre a durar quase cinquenta anos pelos menos. /E aprendamos que, em política, a arte maior é a de exigir a lua/ não para tê-la ou ficar numa fúria por não tê-la, / mas como ponto de partida para ganhar-se, do compromisso, /uma boa lâmpada de sala, que ilumine a todos. (…)

As quatro fotografias, a preto e branco, das quais esta é a última, sobreviveram 33 anos tal como a maioria de nós que nelas se podem rever. Nesta última, entre muitos dos activistas do MES que, publicamente, se anunciava, vejam se conseguem reconhecer o Eduardo Ferro Rodrigues!

QUE VIVA O 1º DE MAIO!
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segunda-feira, abril 30

O “saneamento” de Eduardo Barroso

Só hoje li a revista “Única”, “Expresso” do passado sábado, cuja capa eu já tinha visto na versão “on line” mas sem acesso ao texto pois não dou um tostão para o peditório do tio Balsemão. Tinha reparado na fotografia do Eduardo Barroso e no título “Um cirurgião de elite” muito ao género das manchetes dos jornais dos países civilizados.

Pelas minhas colegas – jovens, sorridentes e pró activas – fiquei a saber que tive direito, na entrevista, a uma referência a propósito da infeliz passagem de Barroso pelo MES da qual, paradoxalmente, só me lembro da Helena Salvador, sua primeira mulher.

É a pura da verdade e acho mesmo que nunca falei, nos dias da minha vida, com o Eduardo Barroso. Com a Helena sim: uma mulher criativa e cativante que integrou uma estrutura do MES que eu dirigia, ou pensava que dirigia, ostentando uma designação que não lembra ao diabo: DNAPC (Departamento Nacional para a Agitação, Propaganda e Cultura). Seria assim?

Ora o que diz Eduardo Barroso, na referida entrevista, em resposta às perguntas da jornalista:

Existe um clã soarista e/ou barrosista?

Não. Somos uma família unida. Tirando o meu primo Alfredo, que foi chefe da Casa Civil do Dr. Soares durante dez anos, não há ninguém na família que tirasse vantagem dessa ralação pessoal.

A questão não era nesse sentido. Aliás, de João Soares diz-se que na política tem sido mais prejudicado do que beneficiado por ser filho de quem é.

Tive essa experiência no MES (Movimento de Esquerda Socialista), o único sítio onde militei, e foi das coisas mais humilhantemente ridículas que vivi. Queria ser candidato a deputado, a minha estrutura elegeu-me e, depois, três grandes elementos chamaram-me à sede e disseram-me que não podia por ser sobrinho do Dr. Soares! Acabou por ir o meu colega e amigo José Gameiro. A minha militância acabou nesse dia (também ia devido mais à minha primeira mulher).

O MES era dirigido por Augusto Mateus, Ferro Rodrigues e Eduardo Graça, por isso só podem ter sido eles.

Nem confirmo nem desminto. Também já andava um bocado farto … Até para as praias da Costa da Caparica tínhamos ido armados com pás para impedir uma invasão da NATO!! Nunca fui um político, sempre fui demasiado anarquista. Defino-me como conservador de esquerda.

O Eduardo Barroso auto intitula-se um “conservador de esquerda” e compreendo, sem ironia, o seu posicionamento político. Ele é cirurgião e, ao que todos dizem, dos bons. Nunca fui cortado por ele, graças a Deus, ao contrário dele que, pelos vistos, terá sido cortado por mim das listas eleitorais do MES que, por sinal, nunca elegeram ninguém. Mas ser candidato era um gosto que ele tinha e “três grandes elementos do MES”, impediram-no de o satisfazer.

A jornalista, estranhamente, refere três nomes, entre eles o meu, que ele não confirma nem desmente. Teríamos sido nós os desmancha-prazeres do seu gosto? Nem sequer me lembro se a espoliação de que Barroso se queixa lhe foi aplicada com anestesia ou a frio. Por mim não sou capaz de cortar nem coser carne e é isso que os cirurgiões fazem todos os dias.

Eu, apesar de ser citado na entrevista como putativo co-participante daquela espécie de saneamento implacável de Barroso do MES, em favor do José Gameiro, um estimado amigo mas, no caso, psiquiatra -o que torna a preferência de todo apropriada – declaro que não me lembro de nada.

Mas, pelo sim pelo não, o que não quero é cair nas mãos de um cirurgião que pense que eu algum dia o tenha cortado mesmo que a "maldade" lhe tenha dado o pretexto para sair dessa organização humilhantemente ridícula que, no seu douto parecer, foi o MES afirmação vinda, ainda por cima, de “Um cirurgião de elite” e “conservador de esquerda”!

Por mim a ser cortado que o seja por um cirurgião, de preferência, conservador e de direita. É que já tenho experiência e não vou estranhar nem as dores nem a longa convalescença!
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1º DE MAIO DE 74 - AS PALAVRAS AMARGAS DE TORGA

Posted by PicasaFotografia de Rosário Belmar da Costa
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Terceira fotografia que testemunha o primeiro acto público em que o MES (Movimento de Esquerda Socialista) se assumiu como movimento político. No 1º de Maio de 1974 todos estávamos ainda em estado de levitação.

Como tinha sido possível acontecer a liberdade? Muitos já tinham desesperado e, finalmente, em poucos dias, ecoou uma explosão de liberdade onde se juntaram, espontaneamente, multidões de desconhecidos e os mais desencontrados sentimentos.

No quartel limitei-me a assistir a tudo, a preto e brando, pela RTP, a cor destas fotografias que sobreviveram trinta e três anos. O dia 1º de Maio de 1974 fez-nos acreditar que se tinha iniciado uma nova era em Portugal. Apesar de todas as vicissitudes foi mesmo verdade mas, hoje, compreendo o desabafo que Torga plasmou, em palavras amargas, no seu “Diário”:

“Coimbra, 6 de Maio de 1974 – Continua a revolução, e todos se apressam a assinar o ponto.
- O senhor não diz nada? – Interpelou-me há pouco, despudoradamente, um dos novos prosélitos.
E fiquei sem fala diante da irresponsabilidade de semelhante pergunta. Foi como se me tivessem feito engolir cinquenta anos de protesto.”
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domingo, abril 29

O MES NO 1º DE MAIO DE 74

Posted by PicasaFotografia de Rosário Belmar da Costa
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Esta é a segunda das quatro fotografias da primeira aparição pública do MES baptizado, posteriormente, como Movimento de Esquerda Socialista. Como num texto anterior diz a Rosário ficamos a saber que a ideia do cartaz foi do César de Oliveira. Não me admiraria que a própria sigla do movimento tenha sido inspirada por ele.

O “livro preto”, a que a Rosário se refere, não foi impresso no Bombarral mas no Porto, edição da Afrontamento, ostentando, na última página “Acabou de imprimir-se em 22 de Junho de 1974 na Tipografia Nunes, Lda. Porto”. Essa publicação foi concluída antes do 25 de Abril e publicada já com a revolução consumada e contém, de facto, a base programática do movimento sem, no entanto, nunca a ele se referir.

As duas introduções, datadas respectivamente de Março e Maio de 74, são assinadas pelos mesmos subscritores que assumem, pela primeira vez, publicamente, a paternidade de um conjunto de iniciativas políticas sectoriais que haveriam de convergir no MES. São eles: Agostinho Roseta, António Rosas, António Santos Júnior, Augusto Mateus, Edilberto Moço, Francisco Farrica, Jerónimo Franco, Jorge Sampaio, Manuel Lopes, Marcolino Abrantes, Paulo Bárcia e Vítor Wengorovius.

O documento que a Rosário e o Xico Camões trouxeram do Bombarral foi, quase certamente, a “Declaração do Movimento de Esquerda Socialista -M.E.S”, o primeiro documento em que o MES se assumiu como movimento político organizado, subscrita por uma “Comissão Organizadora” com uma constituição ligeiramente diferente do grupo que subscreveu o “Livro Preto”.

Nela não aparecem os nomes do Agostinho Roseta, Augusto Mateus, Jerónimo Franco, Jorge Sampaio, Marcolino Abrantes e Paulo Bárcia, surgindo, como novidade, os nomes do Rogério de Jesus, Machado (António), Luís Filipe Fazendeiro, Luís Manuel Espadaneiro, Carlos Pratas, José Galamba de Oliveira, Joaquim Mestre, José Manuel Galvão Teles, Eduardo Ferro Rodrigues, Nuno Teotónio Pereira e César de Oliveira.

A alteração nos subscritores marca a diferença entre uma publicação de cariz marcadamente ideológica, sem menção ao partido, e a declaração política que o anuncia, notando-se a vontade de equilibrar a representação dos militantes sindicalistas, estudantis, da CDE, cristãos e intelectuais.

Esta declaração política, de quatro páginas, termina com a consigna que haveria de inspirar a primeira fase da acção política do MES: “A EMANCIPAÇÃO DOS TRABALHADORES TEM DE SER OBRA DOS PRÓPRIOS TRABALHADORES”
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sexta-feira, abril 27

1º MAIO 1974 - O MES SAÍU À RUA

Posted by PicasaFotografia de Rosário Belmar da Costa
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No dia 1 de Maio de 1974, o mais memorável dia do trabalhador da história contemporânea portuguesa, o país desceu à rua para celebrar a liberdade. Os relatos são incontroversos acerca da adesão em massa da população aos festejos.

Miguel Torga, por exemplo, no seu “Diário” escreveu: “Coimbra, 1 de Maio de 1974 – Colossal cortejo pelas ruas da cidade. Uma explosão gregária de alegria indutiva a desfilar diante das forças de repressão remetidas aos quartéis.
- Mais bonito do que a Rainha Santa … – dizia uma popular. “


Por mim estive remetido ao quartel e não pude participar na grande festa da liberdade. Ao contrário do que Torga escreveu as forças de repressão já não estavam remetidas aos quartéis pela simples razão de que tinham sido subjugadas ou aderido à revolução.

Nesse dia, na grandiosa manifestação de Lisboa, surgiu, pela primeira vez, em público, o MES (Movimento de Esquerda Socialista). Alguém tomou a iniciativa de desenhar num pano MOVIMENTO DA ESQUERDA SOCIALISTA (EM ORGANIZAÇÃO) e juntar atrás dele os activistas que antes militavam em diversos movimentos sociais e sectoriais.

Esta é uma de quatro fotografias, de autoria de Rosário Belmar da Costa, que me chegaram às mãos através do António Pais que, por sua vez, as recebeu de Inês Cordovil. Publicá-las-ei, sem tratamento gráfico, com autorização da autora, até ao próximo 1º de Maio.

Estas fotografias, 33 anos depois de terem sido fixadas, são, certamente, documentos únicos que testemunham o nascimento de um partido com vida efémera pois que, como é sabido, se auto dissolveu, num jantar, em 7 de Novembro de 1981.

Nesta primeira fotografia, colhida na Alameda D. Afonso Henriques, reconheço, entre outros, José Luís Ganhão, António Santos Júnior, Francisco Farrica e o Victor Silva. (Quem quiser que coloque na caixa de comentários, ou me envie por e-mail, elementos para uma legenda mais completa.)
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Eduardo,
Estivemos, eu e o Xico (Camões), a puxar pela memória e o que nos lembramos é que começámos o dia por ir ao Bombarral buscar uns livros de capa preta que o Mil Homens tinha conseguido imprimir numa tipografia de lá (sobre o que eram os livros já não nos lembramos - textos de antes do 25 de Abril e prefácio posterior, mas talvez tu saibas*).
Depois viemos ter com o Agostinho (Roseta) (lá para os lados da Portugália) que, fardado, não queria aparecer em evidência. Não sei mesmo mas penso que é o tipo de costas ao pé do pau do lado esquerdo.
A ideia do cartaz foi do César de Oliveira (creio que ainda houve alguma discussão sobre se era Movimento da Esquerda ou Movimento de Esquerda...), que esteve o tempo todo esfuziante aos gritos. Ao pé de nós apareceu um grupo, de desertores e refractários acabadinhos de chegar de Paris, animadíssimo (bem animadíssimos estávamos todos) capitaneado pelo Zé Mário Branco aos gritos de “Desertores, Refractários, Amnistia Total!”. Foi uma tarde de sonho, tal era o entusiasmo, a quantidade de gente toda feliz, a alegria que estava no ar!
Quanto à fotografia o problema é lembrarmo-nos dos nomes…A partir de uma determinada altura já não foi possível fotografar mais nada, já que era tanta a gente que só do alto e com grandes angulares, meios fora do alcance dos amadores que éramos. Felizmente foram a P&B, que têm muita mais conservação que as feitas a cores!
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Rosário Belmar da Costa

* O livro intitula-se: “Classes, política – política de Classes” e tem duas introduções, a primeira, datada de Março de 74, e a segunda de Maio