quinta-feira, abril 27

SOPHIA/SENA

Posted by Picasa Imagem in Da Literatura

De um trago li a “Correspondência” trocada entre Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena editada, em livro, pela “Guerra e Paz”.

Dizem-se coisas inauditas de ternura e violência, abrem-se os corações e confessam-se as exigências práticas da vida, descrevem-se viagens e sonham-se projectos, anunciam-se filhos novos e chora-se a morte e muito mais para tão poucas páginas.

Lá para o fim do livro, Sena que acabara de sair, em 11 de Setembro de 1971, de Lisboa, em carta dirigida a Sophia, datada de 9 de Outubro, desse mesmo ano, dispara um poema antecedido da seguinte frase:

“Aqui te copio um violento poema de Lisboa, em paga da leitura dos teus esplêndidos poemas novos”

Que esperar daqui? O que esta gente
Não espera porque espera sem esperar?
O que só vida e morte
Informes consentidas
Em todos se devora e lhes devora as vidas?
O que quais de baratas e a baratas
É o pó de raiva com que se envenenam?

Emigram-se uns para as Europas
E voltam como se eram só mais ricos.
Outros se ficam envergando as opas
De lágrimas de gôzo e sarapicos.

Nas serras nuas, nos baldios campos,
Nas artes e mesteres que esvasiam,
Resta um relento de lampeiros lampos
Espanejando as caudas com que se ataviam.

Que Portugal se espera em Portugal
Que gente ainda há-de erguer-se desta gente?
Pagam-se impérios com o bem e o mal
mas com que há-de pagar-se a quem só rouba a mente?

Chatins engravatados, pelenguentas fúfias,
Passam de trombas de automóvel caro
Soldados, prostitutas, tanto rapaz sem braços
Ou sem as pernas – e como cães sem faro
Os putas poetas se versejam trúfias.

Velhos e novos, moribundos mortos
Se arrastam todos para o nada nulo.
Uns cantam, outros choram, mas tão tortos
Que a mesquinhês transborda ao mais singelo pulo.

Chicote? Bomba? Creolina? A liberdade?
É tarde, e estão contentes de tristeza,
Sentados no seu mijo, alimentados
Dos ossos e do sangue de quem não se vende.

(Na tarde que anoitece o entardecer nos prende).

ANIVERSÁRIOS

Posted by Picasa Penélope Cruz

No dia 28 de Abril não nasceram somente seres pouco recomendáveis.

Também nasceram Penélope Cruz e a Jessica Alba. E eu também nasci nesse dia. Amanhã coloco a Jessica e o mais que logo se verá.

quarta-feira, abril 26

25 de ABRIL - JANTAR DE EXTINÇÃO DO MES

Posted by Picasa Jantar de Extinção do MES – Fotografia inédita (clique em cima da foto para aumentar)

Para culminar esta série de fotos inéditas acerca do 25 de Abril oferece-vos uma imagem do momento final da aventura do MES retratando alguns dos seus protagonistas.

Como descrevi numa série de posts, de Março/Abril de 2004, o MES (Movimento de Esquerda Socialista) assumiu a sua extinção de forma original: um jantar/festa que deve ter ocorrido em 4 ou 5 de Outubro de 1981 (quem souber a data exacta que me diga).

Não consigo identificar toda a gente. Se quiserem ajudar indiquem-me os nomes dos participantes, de preferência de baixo para cima e da esquerda para a direita, ou vice-versa.

Um partido não acaba todos os dias mas este tinha mais vocação de contra poder e, sabendo o que sei hoje, foi sábia a decisão de acabar com ele.

terça-feira, abril 25

25 de ABRIL - NA "PORTA DE ARMAS"

Posted by Picasa No interior da “porta de armas” do quartel do Campo Grande – João Mário Mascarenhas (à esquerda) e eu próprio – fotografia inédita do 25 de Abril

Outras imagens inesquecíveis destes dias:

Os soldados deitados nas camaratas do quartel, em posição defensiva, vigiando a rua ou o recital de poesia do alferes Mário Viegas no refeitório do quartel.

O popular, de bicicleta, levantando nas mãos a bandeira nacional aos gritos: Liberdade, Liberdade, Portugal, Portugal!

segunda-feira, abril 24

25 DE ABRIL - TRÊS AMIGOS DE BRANCO

Posted by Picasa Uma Fotografia Inédita - João Mário Anjos, Eduardo Ferro Rodrigues e eu próprio

Poema de geometria e de silêncio
Ângulos agudos e lisos
Entre duas linhas vive o branco

Sophia de Mello Breyner Andresen
In Coral - Editorial Caminho


O 25 de Abril foi vivido, e participado, por todos nós por entre “sinais de fumo”. Cada um cumpria a sua missão e esperava que o outro a cumprisse.

A comunicação seria feita a seu tempo. Não havia net nem sequer telemóveis (celulares como dizem os nossos amigos brasileiros). Naquelas horas da manhã do 25 de Abril devem ter sido batidos todos os recordes de telefonemas jamais realizados em Portugal.

Para mim o branco foi a cor desses dias. Angústia, espera, clausura desde a madrugada de 25 de Abril até depois do 1º de Maio. Não vivi o colorido da festa nas ruas nem participei nas manifestações …

Foram muitos os que tiveram que abdicar da festa, pá! Telefonemas, telegramas, umas olhadas ao movimento defronte do quartel, imagens na rtp, a preto e branco, e pouco mais. Mas o coração transbordava de contentamento.

Um dos convivas da fotografia estava comigo no quartel e foi protagonista, mais tarde, de uma das situações mais difíceis do período de brasa da revolução. O do meio adivinhe quem é? A republicar com legendagem!

domingo, abril 23

25 DE ABRIL - O GOSTO DA LIBERDADE

Posted by Picasa O meu irmão Dimas ao trabalho – finais dos anos 50.

No dia 25 de Abril de 1974 em que a história, o imaginário e o simbólico se fundiram, num magna único, as raízes falaram mais alto. Uma das recordações mais fortes do 25 de Abril, que persistem em mim, foi a preocupações em telefonar, naquela manhã, do quartel onde ficara enclausurado, para casa de meus pais.

Talvez seja incompreensível a persistência desta memória mas ela explica-se pelo facto de ter vivido, a maior parte da minha vida, longe da família, rodeado pela memória das paredes brancas, da luz do sul, dos cheiros da terra com vista para o mar. Das vozes e dos olhares que me viram crescer. Das ruas que conheço de cor e sou capaz de imaginar ao pormenor. Do rosto daqueles que são o rio no qual desagua o meu imaginário.

Naquele momento mágico, a madrugada do 25 de Abril de 1974, em que o sonho de gerações de portugueses se transformou em realidade veio ao cimo das minhas preocupações o que, em regra, nunca constituía preocupação: falar com a família para lhes dar a boa nova, trocar uma palavra de regozijo, ofertar um cravo imaginado, abraçar o futuro, verter uma lágrima, agradecer a liberdade que me tinham oferecido mesmo antes dos cravos brilharem nos canos das espingardas.

Reparei então como não somos nada sem as raízes que nos prendem ao chão das nossas origens.

O 25 de Abril foi uma vertigem de libertação que ainda mais despertou em mim o gosto da participação cívica. Ganhei esse gosto pela iniciativa do meu irmão Dimas à época em que todos os pais hesitam acerca do destino dos seus filhos. Os gostos não são inatos. Não nascem connosco. São uma construção na relação com o mundo que nos rodeia.

Sendo um filho tardio recebi dos meus pais a liberdade de escolher a minha vida e do meu irmão a discreta cumplicidade para que me afirmasse, no que quer que fosse, com respeito pelos princípios da liberdade e da democracia. O 25 de Abril foi a confluência de uma miríade de vontades libertadoras, um momento singular, que honraremos cultivando o gosto da liberdade.

sábado, abril 22

"...la liberté ..."

Posted by Picasa Béjart, Le Sacre du Printemps 1999
Fotografia de Philippe Pache

W. Whitman. «Lorsque la liberté s´en va de quelque part, elle n´est pas la première chose à s´en aller. Elle attend que toutes les autres s´en aillent, elle est la toute dernière.»

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

sem título XXVI

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Sabemos de nós tudo através do olhar dos outros

21 de Abril de 2006

sexta-feira, abril 21

COMO PARTICIPEI NA COLUNA DE SALGUEIRO MAIA NA MADRUGADA DO 25 DE ABRIL DE 1974

Posted by Picasa Excerto da Ordem de Operações para o 25 de Abril de 1974

Hoje relatei ao vivo, pela primeira vez, um episódio da minha participação no 25 de Abril de 1974. Aquela singular experiência de ter feito parte da coluna militar comandada por Salgueiro Maia.

A descrição dos factos pode ser lida no IR AO FUNDO E VOLTAR onde transcrevo sequencialmente, com pequenas alterações de detalhe e um parêntese novo, alguns posts de uma série publicada em Março/Abril de 2004.

Todas as informações conhecidas posteriormente, incluindo o “registo de operações” da noite de 24 para 25 de Abril de 1974, publicado no livro “A Fita Do Tempo Da Revolução – A noite que mudou Portugal”, organização de Boaventura Sousa Santos, confirmam as minhas impressões contidas no testemunho escrito do qual agora transcrevo uma parte.

As operações que tiveram lugar na Rua do Arsenal/Terreiro do Paço, ao longo de toda a madrugada e manhã de 25 de Abril, opondo a coluna da Cavalaria de Santarém, comandada por Salgueiro Maia, e o Regimento de Cavalaria 7, comandado por Junqueira dos Reis, afecta ao regime deposto, foram decisivas e a acção de Salgueiro Maia determinante no desenlace vitorioso do golpe militar e na sua transformação em movimento popular.

PRIMEIRO POEMA DE MADRID

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Que por todos se faça a poesia
(…)

Ruy Belo

PRIMEIRO POEMA DE MADRID
Transporte no Tempo

PALÁCIO FRONTEIRA

 Posted by Picasa

quinta-feira, abril 20

sem título (XXV)

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Se fosse noite ver-te-ia correr em mim
longa carícia colorida, sonho sem fim

20 de Abril de 2006

25 de ABRIL - UMA COMEMORAÇÃO SINGULAR

Posted by Picasa Mural em Portalegre (Escola Técnica)

Amanhã no “Espaço Noesis”, na Av. 24 de Julho 140 – C, uma celebração do 25 de Abril em cuja organização participei. Apresentação de um DVD acerca do tema, orientado para a população estudantil (mesmo muito interessante!) e uma exposição, minimalista e intimista, de 30 fotografias da vasta colecção de Maria da Conceição Neuparth, depositada no Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra, retratando os murais do 25 de Abril.

Por antecipação pode ver algumas das fotografias seleccionadas aqui:

Murais Artísticos 25 de Abril
Colecção de Conceição Neuparth


E aqui o programa do evento.

quarta-feira, abril 19

PIPAS

Posted by Picasa Sharon Stone
Um plano de educação … quê? Parece ser uma preocupação um bocadinho tardia para a Casa Pia! Estarei a ler mal? Ou são manobras do pessoal do Dr. Bagão Félix? Ilustro com a Sharon Stone também um bocadinho tardia.

terça-feira, abril 18

sem título (XXIV)

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Um brado difuso me percorre no fio do silêncio
desesperada ausência o rosto na voz esquecida

18 de Abril de 2006

"...les offenses,..."

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

«Il y a des gens dont la religion consiste à toujours pardonner les offenses, mais qui ne les oublient jamais. Pour mois je ne suis d´assez bonne étoffe pour pardonner à l´offense, mais je l´oublie toujours.»

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

segunda-feira, abril 17

NA COLINA DO INSTANTE

Posted by Picasa Fotografia de José Marafona

(…)
Somos quem fomos caminhamos tão de leve
temos tamanha dignidade de crianças
que nem a morte aqui de nós se lembraria
(…)

Ruy Belo

NA COLINA DO INSTANTE
Transporte no Tempo

INATEL – UGT E CGTP ACORDAM A CRIAÇÃO DE UMA FUNDAÇÃO DE DIREITO PRIVADO

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Ler, na integra, no IR AO FUNDO E VOLTAR“A Verdade de Uma Reforma” – (7 de 10)

CONTRA O ESQUECIMENTO

TERMÓPILAS

Posted by Picasa Fotografia daqui

Honra seja àqueles que na sua vida
definiram e guardam uma Termópilas.
Sem mover-se do seu dever constantes;
justos e rectos em todos os seus actos,
contudo com dó e compaixão;
dadivosos quando são ricos, e quando
são pobres, também modicamente dadivosos,
também auxiliando quanto puderem;
sempre da verdade afirmantes,
porém sem ódio para os fementidos.

E ainda mais honra lhes seja devida
quando prevêem (e muitos prevêem)
que Efialtès surdirá no fim,
e os medas finalmente passarão.

[1903]

Konstandinos Kavafis

In “Os Poemas” - Relógio D´Água
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis

(Ver a tradução, para português, do mesmo poema apresentada por catatau)

domingo, abril 16

sem título (XXIII)

Posted by Picasa Fotografia de Hélder Gonçalves

O dia desce sobre a cidade as ruas fumegam
os passos ecoam como corpos vestidos de dor

16 de Abril de 2006

DE REGRESSO

Posted by Picasa Fotografia de “sissi”

Acabei de regressar daqui que é também a minha cidade. Agradecimentos ao respirar o mesmo ar, catatau e Linha de Cabotagem - pela atenção permanente, links e comentários.

quinta-feira, abril 13

PECAREI

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Imaginem que eu digo que Philippe Pache, nesta fotografia, sem saber, fixou a imagem perfeita do rosto de meu filho.

O fascínio da busca da beleza, o sujeito no seu labirinto, a reflexão sobre o tempo e a luz do nosso tempo, as mãos que amassam o peso da palavra e da imagem, o nosso olhar para o exterior que fixa os outros sempre coerentes e a nós mesmos sempre fragmentados.

A Páscoa, para mim, é um intervalo nas tarefas do quotidiano, não um intervalo no tempo de reflexão. Soube agora que, provavelmente, a busca da informação e da beleza, a reflexão continuada, sem paragem, a leitura e a escrita sempre excessivas, nos apaixonados, é pecado para a Igreja Católica. Porquê? Regresso à infância.

Não acredito no medo que nos querem impor. Não o aceito. Minha mãe não queria impor-me o medo mas a disciplina da época. Para que me tornasse feliz. Compreendo a sua necessidade de que me tornasse um homem de fé. Mas os homens de fé não precisam de dogmas mas de convicções, não precisam de penitência mas de liberdade, contra todas as sujeições, contra todas as tiranias, contra todos os dogmas, contra todos os medos.

Deixem-me ver, nesta fotografia de Pache, por excesso de imaginação, a imagem do rosto de meu filho. Pecarei mas a busca da beleza é, para mim, o caminho da salvação do homem.

"...tentation, ..."

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

«L´altruisme est une tentation, comme le plaisir.»

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

ELVIS

Posted by Picasa Elvis with fans, 1958

Que será feito destes jovens. Nas vésperas do início dos anos 60 ganhava asas o sonho de transformar o mundo que povoa o imaginário da juventude de todos os tempos. Cada geração, à sua maneira, venera os seus ídolos. Elvis é um dos maiores dos tempos modernos – até o meu filho o admira…