sábado, fevereiro 10

ESPLANADA

Posted by PicasaPraia de Faro – Anos 60

A imagem da esplanada é-me familiar. Passei lá muitas horas e lá sonhei muitos sonhos. Tinha ao fundo, junto ao balcão, uma caixa de discos daquelas de moeda. Tocava os êxitos da época, música francesa, Sylvie Vartan, Françoise Hardy, talvez Ray Charles …
O charme dela era o ambiente. Juntávamo-nos na esplanada da praia para trocar roupas, olhares e afectos. Olhando a sua imagem compreendo a razão do seu desaparecimento: era uma estrutura leve que não sobreviveu à selvajaria do betão.

CAMUS - SUBLINHADOS NUM DIA DE REFLEXÃO

Fotografia daqui

Ressonância de 9 e10 de Fevereiro de 2004 respectivamente no absorto e nos Cadernos de Camus. O texto de entrada original é o que agora publico. É interessante assinalar como este conjunto de sublinhados contém referências a diversas questões centrais do pensamento e obra de Camus e, em particular, à questão de Deus abordada, de forma aprofundada, no livro que estou a ler, neste momento: “Camus et l’Homme sans Dieu”, de Arnaud Corbic.

E como tudo isto se interliga com o tema que deveria ter estado em debate a propósito do referendo de amanhã e que somente, aqui e ali, aflorou. Ou de como alguns temas que, por vezes, julgamos ultrapassados estão sempre presentes nos grandes debates acerca do destino do homem: liberdade, revolta, heroísmo, santidade, cristianismo, marxismo, Deus …

Estes são últimos sublinhados do Caderno n.º5. É notória a referência a um conjunto de figuras ligadas ao processo revolucionário na Rússia dos finais do Século XIX e inícios do Século XX que, na maior parte dos casos, caíram no esquecimento para os não especialistas daquele período histórico. No entanto tendo tido a curiosidade de visitar algumas das suas biografias verifiquei a influência e a importância do seu pensamento, e/ou acção, durante aquele período que, nalguns casos, é muito relevante.

““O que existe na Rússia é uma liberdade colectiva “total” e não pessoal. Mas que é uma liberdade total? É-se livre de alguma coisa – em relação a. Visivelmente, o limite é a liberdade em relação a Deus. Vê-se então claramente que essa liberdade significa a sujeição ao homem.””

“Peça Dora: Se tu não amas ninguém, isso não pode vir a acabar bem.”
(Mais uma vez a peça “Os Justos”, assim como nalguns excertos que surgirão a seguir.)

““Quantos eram os membros da “Vontade do povo”? 500. E o Império Russo? Mais de cem milhões.””
(Sublinhei somente “500”)

“” Vera Figner: “Eu devia viver, viver para ser julgada, pois o processo coroa a actividade do revolucionário.””

““Peça. Dora ou outra: “Condenados, condenados a serem heróis e santos. Heróis à força. Por isso não nos interessa, compreendem, não nos interessam nada os sórdidos negócios deste mundo envenenado e estúpido que se pega a nós como visco. – Confessai, confessai-o, que o que vos interessa são os seres e o seu rosto... E que, pretendendo procurar uma verdade, não esperais no fim de contas senão amor.””

“É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos.”

“Formas e revolta. Dar uma forma aquilo que é informe, é o fim de toda a obra. Não há apenas criação, mas correcção (ver mais acima). Daí a importância da forma. Daí a necessidade de um estilo para cada assunto, não de todo diferente porque a língua do autor é sempre sua. E é justamente esta que fará quebrar não a unidade deste ou daquele livro mas a da obra inteira.”

“Retirei-me do mundo não porque tivesse inimigos, mas porque tinha amigos. Não que eles não me fossem prestáveis como é habitual, mas julgavam-me melhor do que sou. É uma mentira que eu não posso suportar”

“Para os cristãos, a Revelação está no início da história. Para os marxistas, está no fim. Duas religiões.”
(Coloquei? no fim da frase)


“Pequena baía antes de Tenés, na base de uma cadeia de montanhas. Semicírculo perfeito. Ao cair da noite uma plenitude angustiada plana sobre as águas silenciosas. Compreende-se então porque é que os Gregos formaram a ideia do desespero e da tragédia sempre através da beleza e do que nela há de opressivo. É uma tragédia que culmina. Ao passo que o espírito moderno produz o seu desespero a partir da fealdade e do medíocre.
É o que Char quer dizer talvez. Para os Gregos, a beleza é o ponto de partida. Para um europeu, é um fim, raramente atingido. Não sou moderno.”

“Verdade deste século: À força de vivermos grandes experiências, tornamo-nos mentirosos. Acabar com tudo o mais e dizer o que tenho de mais profundo.”

Extractos, in “Cadernos” (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº5 (Setembro de 1945/ Abril de 1948).
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TANGO PESSOAL

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Dizem que a memória deixa pegadas
e chamam-lhe as pegadas da memória.
Vou supor que está bem claro (claro que podia ser muito melhor).

Mas o 25 de Abril de há 25 anos não deixou apenas pegadas retóricas.
As pegadas são nomes de homens concretos à espera da morte
em Peniche ou no Tarrafal.
Das bandeiras em parada de legionários carnavalescos possuo ainda
uma caixa de cinzas.

Mais pegadas:
Os Ladrões de Bicicletas.
Redol a corrigir para os coronéis da censura um livro à pressa.
Júlio Pomar obrigado a comer cal.
Humberto Delgado a ser assassinado.
Soldados forçados a morrer em África.

A cardeala cereijiforme
preocupada com a fímbria da saia
depois de fazer jogging horizontal para baixo e para cima
sobre o cadáver santacombadense.

E, ao mesmo tempo,
eu a corromper-me a dançar o tango nos Fenianos,
o Manuel de Oliveira a fazer jogging transversal
à volta do corpo vivo de Potemkin, disfarçado de couraçado,
enquanto o carro do bebé desce para o seu destino.

Até que deixei uma noite de dançar o tango
e com dois amigos caçadores
(um deles o Alexandre O’Neill)
ferimos, a espingarda caçadeira,
em pleno escuro, no alto da Lixa,
um informador da polícia política.

Nada nos aconteceu
porque éramos tão fixes, gente tão fina,
que dançávamos o tango horizontal para cima e para baixo
em deboche obrigatório com as debutantes do Clube Tripeirense.

Entretanto, apanhávamos chumbos a Matemática.

Mais tarde, chegou-nos a vez de dançar o tango em Caxias
até que o Salgueiro Maia
garantiu de cima do tanque de guerra
que a Liberdade estava garantida.

Pegadas: claro que
esta memória não deixa pegadas de apagar com o vento.
Não são vagas pegadas a cheirar a alfazema rápida.
São antes a própria carne de que vamos vivendo.

E, olarila!,
acabou-se o tango.

Alexandre Pinheiro Torres
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Cardiff, Janeiro 1999
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sexta-feira, fevereiro 9

quinta-feira, fevereiro 8

TARDE DEMAIS


Aznar reconhece, tarde e a más horas, algo que toda a gente já sabia e que os governantes, à época, tinham a obrigação de saber.
Espero, ansiosamente, uma declaração de José Manuel Barroso. São estes “pequenos” atrasos na percepção da realidade, e as suas trágicas consequências, que tornam os políticos desprezíveis quando, em coerência com a gravidade dos seus erros, não têm a coragem de se demitir.

A PRINCESA CHORA

SIM

Posted by PicasaJenny Lynn- Suspension of Disbelief, 1977

"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"

SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM.

SIMULACRO

Posted by PicasaFotografia de Hélder Goçalves

Um gesto pode ser
um simulacro apenas.
Como quando arrefece
e acendes a lareira
para dar sangue às brasas.
No halo
da chama há sempre
uma voz que cintila
e te agradece.
É isso que se chama
dar voz ao silêncio.

Albano Martins
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quarta-feira, fevereiro 7

TEMOS PORTUGAL

Posted by PicasaFotografia daqui

Portugal 2 - Brasil 0. Ao contrário de todas a aparências este não é um facto rotineiro. Portugal ganhou ao Brasil, se não erro, quatro vezes duas delas com Scolari.

CRIME? QUAL CRIME?

Posted by PicasaFotografia daqui

Pois é! Vivemos num país de brandos costumes e de silêncios cúmplices. Os governos tratam os cidadãos como mentecaptos. Alguém que faça uma “fita do tempo” para que se busquem as “coincidências” entre a luta contra o terrorismo e alguns acontecimentos políticos em Portugal.

Alguém que investigue o período que decorreu entre finais de 2001 (ataque às “torres gémeas” e demissão de Guterres) e inícios de 2005 (fim dos governos Durão Barroso/Santana Lopes/Paulo Portas). Por aqui nos ficamos. Investiguem os meandros, investiguem mesmo.

Não acredito pois como dizia Camus tomando as palavras de Saint-Beuve: “Sempre pensei que se as pessoas dissessem o que pensam durante um minuto apenas a sociedade ruiria.”
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SIM

Posted by PicasaFotografia de sophie thouvenin

"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"

SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM.

terça-feira, fevereiro 6

CADERNOS DE CAMUS - SUBLINHADOS

Posted by PicasaImagem Daqui

Prossigo com as ressonâncias dos meus sublinhados de juventude nos Cadernos de Camus. Esta é a ressonância de um post publicado em 3 de Fevereiro de 2004. Podem encontrar-se pequenas diferenças nos textos introdutórios mas que em nada influenciam os sublinhados pois esses estão mesmo marcados no próprio livro (e bem marcados).

Estes não são os derradeiros sublinhados no Caderno n.º5. O conjunto era demasiadamente longo e por essa razão dividi-o em duas partes. Como em anteriores excertos há casos de citações de citações. Tentei sempre ser o mais claro possível colocando-me do lado do leitor destas notas. Omito, nesta série de sublinhados, a transcrição de um excerto por ser demasiado extenso e apresentar uma configuração que não se enquadra neste formato. O Caderno n.º5, do volume Cadernos III (edição portuguesa), respeita ao período Setembro de1945/Abril de 1948:

“Palante diz com razão que se há uma verdade una e universal, a liberdade não tem razão de ser.”

“É como se fosse absolutamente necessário escolher entre o aviltamento e o castigo.”

“Mas ninguém é culpado absolutamente, não se pode pois condenar ninguém absolutamente I) aos olhos da sociedade 2) aos olhos do indivíduo.”

““Sócrates atingido por um pontapé. “Se um burro me tivesse batido iria porventura apresentar queixa?” (Diógenes Laércio, II, 2I)””

““Para Schopenhaurer: a existência objectiva das coisas, a sua “representação” é sempre agradável, ao passo que a existência subjectiva é sempre dor.
“Todas as coisas são belas à vista e terríveis no seu ser, donde a ilusão, tão corrente e que sempre me impressiona, da unidade exterior da vida dos outros.””

““Problema da transição. Deveria a Rússia passar pelo estádio da revolução burguesa e capitalista, como o exigia a lógica da história? Neste ponto só Tkatchev (com Netchaev e Bakunine) é o predecessor de Lénine. Marx e Engels eram mencheviques. Eles só tinham em vista a revolução burguesa futura.
As constantes discussões dos primeiros marxistas sobre a necessidade do desenvolvimento capitalista da Rússia e a sua tendência para acolherem esse desenvolvimento. Tikhomirov, velho membro do partido da vontade do povo, acusa-os de se fazerem “os paladinos das primeiras capitalizações.””

“Finalmente, á a vontade do proletariado que transforma o mundo. Há por conseguinte verdadeiramente no marxismo uma filosofia essencial que denuncia a mentira da objectivação e afirma o triunfo da actividade humana.”

“Em russo volia significa igualmente vontade e liberdade.”

“Lénine afirma a primazia do político sobre o económico (a despeito do marxismo).”

“Lucaks: O sentido revolucionário é o sentido da totalidade. Concepção do mundo total em que a teoria e a prática são identificadas.
Sentido religioso segundo Berdiaev.”
(Andava eu, certamente, a ler Lucaks)

Extractos, in “Cadernos” (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº5 (Setembro de 1945/ Abril de 1948).
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1927 - REVOLTA NO ALGARVE

Leia-se no Almanaque Republicano o relato breve da revolta de Fevereiro de 1927 no Algarve. Da lista dos revoltosos presos, após o fracasso, ressoam na minha cabeça alguns apelidos conhecidos.

No dia 4 de Fevereiro de 1927, rebenta a revolta no Algarve. Ao largo de Faro, a canhoneira Bengo, comandada pelo 1º tenente Sebastião José da Costa e tendo a bordo o comité revolucionário constituído ainda pelo Dr. Manuel Pedro Guerreiro e o Dr. Victor Castro da Fonseca, começa a bombardear a cidade de Faro. Estes seriam os principais elementos revoltosos que comandavam alguns militares da marinha, da GNR, elementos do regimento de caçadores nº 4, de Tavira e algumas dezenas de civis.

OBRA E GRAÇA DE ABRIL

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Algo semelhante
e de repente um empurrão
da ponte abaixo.

Ou uma bala que voa
ao teu encontro, vinda
de nenhures, assobiando.

Ou tu algemado e
no gume de baionetas.

Ou seres nomeado
da forma mais vil.

Ou conheceres o cárcere
na vastidão das ruas.

Vícios, défices,
ultrajes
que já só de memória.
já só nos alforges
da memória. Por
obra e graça de Abril.

A. M. Pires Cabral
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segunda-feira, fevereiro 5

SIM

Posted by PicasaFotografia de sophie thouvenin

"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"

SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM.

OLHO. É O FISCO, SEMPRE O FISCO ...

Posted by PicasaLaetitia Casta

Abro o computador, dou uma volta pelas notícias, reparo que todos os destaques se concentram nos sucessos do fisco. O governo, nesta matéria, faz-me lembrar o Solnado numa peça em que, com o seu talento inato, enchia o palco mesmo sabendo mal o papel.

Os resultados são meritórios mas fica-se com a sensação de que a peça é velha, repetida e, um dia destes, o ministro das finanças vai mesmo baralhar os números. Duas notas telegráficas:

- As receitas fiscais não são uma alavanca do crescimento da economia e tal como nos recursos marinhos o peixe miúdo pode ficar ameaçado de extinção pelo exagero da chamada “pesca de arrasto”;

- As vias virtuosas para estimular a economia estão todas do lado da despesa, ou seja, o estado tem de gastar menos e melhor, exercendo com mais eficácia as suas funções reguladoras e de estímulo ao investimento inovador.

Pode ser engano meu mas parece-me que o primeiro prato desta balança está muito cheio e o segundo demasiado vazio.
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domingo, fevereiro 4

SIM

Posted by PicasaFotografia de sophie thouvenin

"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"

SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM.

SE EU SAIR DAQUI VIVO

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Se eu sair daqui vivo
da Casa de Saúde do Telhal
crivo numa pedra nua e resistente
o tamanho do meu mal.
Assanho-me de tal
e vou e venho
onde me seja mais natural.
Se sair daqui vivo
privo-me de tudo
da minha liberdade
que não sou um homem mudo
sou um homem de verdade.
Privo-me na idade
do bem que não fizeram
do bem que tudo tem.
É numa simplicidade
que convém.

António Gancho

14/3/96
Casa de Saúde do Telhal

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A POESIA ESTÁ NA RUA
25º Aniversário 25 de Abril

Conspiração

A poesia. A conspiração da metáfora saiu à rua. Num Abril assim: de palavras, de palavras sem endereço. Porque eram para todos os que as desejassem colher. Assim como quem colhe a manhã, ou um lírio ou um simples papel para amarrotar e atirar ao chão. Poesia na rua, no espaço livre e inalienável.

Será esta a sua casa? Em Abril será sempre esta a sua frágil casa.

A associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto agradece a todos os poetas que deram rosto à conspiração – simples afinal, frágil como a casa da poesia.

Francisco Duarte Mangas
Presidente da AJHLP


Poesia – Sonho de uma nova liberdade

O 25 de Abril foi um sonho que sobreviveu. Poucos acreditavam ser possível dar asas, em Portugal, a esse sonho de uma nova liberdade que a poesia antecipou, tantas vezes, em palavras escritas e ditas.

Sejamos claros e honestos: o regime político que exausto acabou os seus dias no 25 de Abril de 1974 era uma ditadura, certamente com adeptos entre os portugueses, que desprezava as mais elementares regras do respeito pelo povo, desde logo negando-lhe o direito à escolha, em eleições livres, do tipo de regime ou de governo que mais lhe aprouvesse.

As profundas aspirações do povo português à liberdade e à justiça foram, finalmente, cumpridas e para mim esse sonho transfigurou-se, no Quartel do Campo Grande, pela poesia dita pelo Mário Viegas, amigo e companheiro de armas, num desses dias febris de Abril aos militares reunidos de improviso.

Sem querer esconjurar os demónios do passado, a revolução, para mim, só ganhou sentido verdadeiro nesse momento mágico de poesia.

Eduardo Graça
Presidente do INATEL


Estes dois textos foram escritos em 1999 e impressos na caixa/envelope que guardou os 50 panfletos, de cores variadas, transportando as 50 poesias que outros tantos poetas escreveram, ou cederam, para esta iniciativa, levada a cabo a nível nacional, aquando do 25º aniversário do 25 de Abril de 1974.

O mérito, alcance e êxito da mesma ficaram a dever-se, no essencial, a Manuela Espírito Santo, à época, Vice-presidente do INATEL, e a Francisco Duarte Mangas. Para eles as minhas homenagens.

Lembrei-me de arriscar um exercício de divulgação destes 50 poemas, de autores consagrados, à época todos vivos, associando, a cada um deles, uma fotografia da colecção que o Hélder Gonçalves ofereceu aos seus amigos pelos seus 50 anos, conforme o meu critério e gosto pessoal.

Aqui fica, deste modo, uma homenagem à poesia e, através dela, ao 33º aniversário do 25 de Abril.
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sábado, fevereiro 3

HÉLDER GONÇALVES

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

O Hélder Gonçalves celebra hoje o seu cinquentenário. Ele é um daqueles casos de pessoa que associa a formação académica, numa área científica, com o gosto pela arte – neste caso – a fotografia.

Na festa de aniversário muitos dos seus amigos vão ficar surpreendidos pela pujança e modernidade da sua arte que, como em tantos outros casos, não alcança a notoriedade pública que bem merecia. Mas fica o que mais interessa: o prazer do autor na realização da obra e o dos amigos na sua contemplação.

Foi com fotografias de sua autoria que a imagem surgiu, pela primeira vez, neste blogue e, desta vez, vou publicar, até ao próximo dia 25 de Abril, além desta, algumas dezenas de fotografias de sua autoria ilustrando, na sua maior parte, os poemas que foram divulgados, em forma de panfletos, numa iniciativa designada por “A Poesia Está na Rua”.

Foi um projecto resultante de uma parceria entre o INATEL e a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, concretizado em 1999, e da qual falarei, com mais detalhe, num dos próximos dias.

Agora resta-me agradecer ao Hélder Gonçalves ter depositado nas minhas mãos a tarefa de divulgar as fotografias que hoje, além do mais, vão estar expostas na festa do seu aniversário. Parabéns.

sexta-feira, fevereiro 2

Reforma da Administração Pública: pequenos detalhes

Posted by Picasa Laetitia Casta

Está disponível no site do “Semanário Económico” e no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo com o título em epígrafe do qual reproduzo a entrada:

Já se percebeu que há atrasos na aplicação de algumas medidas previstas no âmbito da reforma da Administração Pública. Nada que não fosse expectável. A tarefa é difícil e as suas consequências serão, certamente, dolorosas.

quinta-feira, fevereiro 1

ALDINA DUARTE

CAMUS - CADERNOS (SUBLINHADOS)

Posted by Picasa Albert Camus

Ressonância de 28 de Janeiro de 2004, no Absorto e de 7 de Fevereiro, do mesmo ano, nos Cadernos de Camus. Deste conjunto de sublinhados assinalo, porque vem a propósito, em plena campanha do referendo acerca da interrupção voluntária da gravidez, a seguinte reflexão: “Cristãos felizes: Guardaram a graça para si próprios e deixaram-nos a caridade.”


Nos meus sublinhados de juventude destes Cadernos omito, pela primeira vez, dois excertos de diálogos que viriam a integrar a futura peça de teatro “Os Justos”. A sua transcrição integral tornaria demasiadamente longa esta contribuição para o projecto Cadernos de Camus. Mantenho, no entanto, um excerto dos diálogos preparatórios dessa peça.

“Há quem se remanseie numa mentira como os que se refugiam na religião.”
(Esta frase sublinhada faz parte de um texto longo, que não transcrevo na íntegra, no qual, à margem, escrevi à mão: “cuidado!”)

“Conheço-me bem de mais para crer na virtude completamente pura.”

“O problema mais sério que se põe aos espíritos contemporâneos: o conformismo.”

“O grande problema da vida é saber como viver entre os homens”
(Apresenta uma nota de pé de página onde se lê: “No manuscrito, encontra-se entre parênteses: A.F.”)

“X. “Sou um homem que não crê em nada e que não ama ninguém, pelo menos no âmago. Há em mim um vazio, um deserto horrível...”

“Marc condenado à morte na prisão de Loos. Recusa que lhe tirem os ferros durante a Semana Santa para se parecer mais com o seu salvador. Antigamente disparava contra os crucifixos que encontrava nas estradas.”

“Cristãos felizes: Guardaram a graça para si próprios e deixaram-nos a caridade.”

“Peça.
D. – O que há de triste, Yanek, é que tudo isso nos envelhece. Nunca mais, nunca mais seremos crianças. Podemos morrer desde este instante, já esgotámos o homem (o homicídio é o limite.)
- Não, Yanek, se a única solução é a morte, então não seguimos a boa vida. A boa vida é a que leva à vida.
- Tomámos sobre nós o mal do mundo, este orgulho há-de ser castigado.
- Passámos dos amores infantis a essa inicial e derradeira amante que é a morte. Andámos depressa de mais. Não somos homens.”

(Este excerto é o único que transcrevo daqueles que sublinhei dos textos preparatórios da peça de teatro “Os Justos”. Esta peça foi concluída, após uma viagem à América Latina, no Verão de 1949, estando Camus gravemente doente. Nela é abordada a questão, fundamental para Camus, da violência política cujo debate requer, em qualquer circunstância, um adequado enquadramento filosófico e histórico.)

“Miséria deste século. Ainda não há muito tempo eram as más acções que precisavam de ser justificadas, hoje são as boas.”

“A solidão perfeita. No urinol de uma grande estação à uma hora da manhã.”

(Contém uma nota de pé de página onde se escreve. “Esta observação foi acrescentada à mão sobre a primeira redacção à máquina”).

“Bayle: pensamentos diversos sobre o cometa.

“Não se deve julgar a vida de um homem nem pelas suas crenças nem pelo que publica nos livros.””

“Como fazer compreender que uma criança pobre pode ter vergonha sem ter inveja”
(Clara referência à infância pobre do próprio Camus.)


“Vigny (correspondência): “ A ordem social é sempre má: de tempos a tempos é apenas suportável. Para se ir do mau ao suportável, a disputa não vale uma gota de sangue” Não, o suportável merece, se não o sangue, pelo menos o esforço de uma vida inteira. Misantropo em grupo, o individualista perdoa ao indivíduo.”

“Saint-Beuve: “Sempre pensei que se as pessoas dissessem o que pensam durante um minuto apenas a sociedade ruiria.”

Extractos, in “Cadernos” (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº5 (Setembro de 1945/ Abril de 1948).
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SIM

Posted by Picasa Fotografia de sophie thouvenin

"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"

SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM.

quarta-feira, janeiro 31

RODRIGO EMÍLIO

Posted by Picasa Fotografia de Bart Pogoda

Sou bem diferente de mim
Dentro do meu coração:
- O Momento, dou-O: à que me diz SIM.
- A Eternidade: à que me diz NÃO!
.
Acordo sempre sem ti, sempre que contigo sonho,
Nesta condenação, até sempre, indefinida
- De ter-te perto: no Sonho,
- De ter-te longe: na Vida!
.
Aonde ela for, eu vá; que ela me siga, onde eu for.
Eu e ela, ela e eu; eu – por ela, ela – por mim:
Paralelas do Amor
Sem um princípio ou um fim.
.
E, na luz do fim que o tempo doura,
Ser-me-ás o princípio, o fim e o centro,
Pela Vida fora,
Pela Morte dentro...

Rodrigo Emílio

[A Helena publicou um poema de Rodrigo Emílio.
Já conhecia vagamente a sua poesia, de leituras
dispersas, mas fiquei surpreso e interessado em
conhecer mais. O seu percurso político/ideológico
é diametralmente oposto ao meu mas a sua poesia
tem uma força que não sei bem explicar. A Helena
enviou-me outro poema dele que agora publico.
A formatação não respeita, certamente, o formato
original mas, sinceramente, acho que não faz mal.]

terça-feira, janeiro 30

JORGE CORVO - DOIS COMENTÁRIOS

Posted by Picasa Jorge Corvo

Volto ao ciclista algarvio que nunca ganhou a Volta a Portugal mas que, por três vezes, se classificou em 2º lugar, “puxando” dois comentários:

O tomas vasques lembra algo que, na sua época, foi um acontecimento extraordinário e que não referi antes por não ter a certeza da Volta na qual se processou o “cambalacho”: “Jorge Corvo perdeu a volta de 1959 para Carlos Carvalho por 5 segundos. Nessa Volta a Organização alterou um contra-relógio individual no contra-relógio por equipas para impedir a vitória de Jorge Corvo”.

O Carlos Maria, de muito longe, lança, a propósito de Jorge Corvo, uma frecha afectiva que ficou cravada no meu coração:

“Meu caro Eduardo Graça. O Jorge Corvo foi um grande atleta do Ginásio Clube de Tavira, como sabes. Não sei se a colectividade ainda existe – se resiste – e, muito menos, se nela ainda se pratica ciclismo. Mas praticou. E, apesar de ser do Benfica, este foi um dos ídolos que encheu o imaginário da minha infância.

Embora não me possa gabar de ter o conhecimento e a memória do Tomás Vasques, quem quer que ele seja. O Jorge Corvo é hoje – como podiam ter sido outros, da mesma cepa, de que tens falado – o pretexto ideal para te dizer que, embora discreto, sou leitor fiel do teu blogue desde que dele me deram nota.

Não sendo, é certo, palavra que conste do léxico mais comum deste espaço, devo dizer-te que leio e revejo e muitas coisas com indisfarçável saudade. E, não desfazendo na teu Camus ou no teu gosto pelo comentário político, gostava de te dizer que tenho apreciado, muito especialmente, as tuas incursões num certo passado desportivo, a dedicação firme à tua terra, o amor pela tua família.

O teu irmão Dimas foi-se tornando, de algum modo, familiar e, naturalmente, é com ternura que leio o que dizes, como o dizes, sobre o teu filho, desenhador de mérito. Obrigado, então, pelo mundo afectuoso que, aqui tão longe onde me encontro, me fazes chegar. Um abraço para ti. E, já agora, farás o favor de dar um grande abraço meu ao
António Pais, um gajo porreiro de quem (também) tenho muitas saudades. Até uma foto minha ele desencantou.”

Obrigado.