Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, novembro 8
JOÃO MÁRIO ANJOS
João Mário Anjos (à esquerda), Eduardo Ferro Rodrigues (ao centro) e o subscritor (à direita).
Publicado nos Caminhos da Memória
Nas vésperas do almoço de celebração do 30º aniversário da extinção do MES dedico a reedição deste post ao João Mário Anjos levando-o comigo no coração e pensamento ao convívio do próximo dia 12 atendendo à sua ausência por motivos de saúde.
Um dos acontecimentos mais marcantes a que assisti no período imediatamente a seguir ao 25 de Abril de 1974 foi o da recusa dos oficiais milicianos (João) Anjos e (Carlos) Marvão em comandar uma acção destinada a reprimir uma greve dos trabalhadores dos CTT. Na verdade a unidade militar na qual, no dia 17 de Junho de 1974 (?), ocorreu esse acontecimento era aquela onde eu prestava serviço militar: o 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (ao Campo Grande).
Alguém dos poderes provisórios, saídos da revolução, não sei quem, decidiu que caberia àquela unidade militar estrear um tipo de intervenção que colocaria as forças armadas, acabadas de sair triunfantes do 25 de Abril, contra uma acção reivindicativa de trabalhadores. Foi uma decisão surpreendente, ainda para mais, quando nos demos conta que o comando da força repressiva seria cometido a oficiais milicianos.
Lembro-me de nos terem reunido e de um oficial superior encetar a tarefa impossível de ordenar a um oficial miliciano (ou oficiais) que comandasse a força. Começou por uma ponta na qual, por acaso, se haviam posicionado o João Mário Anjos e o Carlos Marvão. Não sei já qual foi o primeiro a recusar a ordem mas indagado o segundo, que também recusou, o oficial resolveu suspender a diligência. Logo a seguir, na terceira posição, se não me falha a memória, estava eu próprio. Nos dias 25 e 26 de Junho foi concretizada a prisão dos oficiais rebeldes que seguiram para a prisão da Trafaria.
A greve dos trabalhadores dos CTT terminou no dia 20 de Junho mas a posterior prisão daqueles oficiais despertou a mais profunda indignação dando origem a diversas manifestações, com significativa participação popular, de que possuo registo de duas: a primeira convocada para 28 de Junho no Campo Grande, junto à Churrasqueira, e a segunda realizada no dia 9 de Julho na Praça Marquês de Pombal proibida, aliás, pelas autoridades. Segundo uma cronologia do Centro de Documentação 25 de Abril Os manifestantes recusam-se a obedecer e desfilam até ao Marquês de Pombal.
O MES convocou as manifestações, pelo menos, através de três comunicados: o primeiro subscrito pela Comissão Política, com data de 27 de Junho (dois meses após o 25 de Abril), com o título Dois Milicianos Presos na Trafaria Por Não Quererem Reprimir os Trabalhadores, o segundo e terceiro, ambos subscritos pelos Grupos Socio-Profissionais Mistos, sem data, com os títulos Exijamos a Libertação dos Milicianos Presos e Libertemos Anjos e Marvão! A Luta Continua!
O Robin Fior, designer inglês, apanhado em Lisboa pela revolução, que foi o autor do símbolo e dos primeiros materiais de propaganda do MES, concebeu um inesquecível cartaz, com a palavra de ordem Anjos e Marvão Libertação. O cartaz de que não possuo qualquer exemplar, nem encontrei disponível na internet, ostenta um design gráfico invulgar para a época sendo, certamente, uma das peças de propaganda mais notáveis daquele período. [Quem o puder enviar, agradeço.]
Um dos oficiais milicianos presos era, nem mais nem menos, o João Mário Anjos que havia, comigo e o António Dias, bastante antes do 25 de Abril, constituído uma das «células» do MES que, por essa altura, «marinava» entre a semi-clandestinidade, que nós pensávamos que o serviço militar exigia, e a legalidade que o 1º de Maio, ainda fresco na memória de todos, reclamava. Conviveríamos com esta ambiguidade durante os meses seguintes pois, na verdade, vivíamos, com ou sem razão, na incerteza dos destinos da revolução que aquelas inopinadas prisões pareciam confirmar.
Hoje, passados 35 anos sobre esses acontecimentos, por dever de consciência, presto homenagem pública aqueles dois camaradas de armas e, em especial, ao João Mário Anjos, cuja coragem física e clarividência política, de que possuo evidências, nunca foram, pelos seus próprios companheiros, suficientemente reconhecidas. Onde quer que se encontre quero dizer-lhe que o não esqueci, nem esquecerei.
segunda-feira, novembro 7
Albert Camus
Albert Camus nasceu em Mondovi, Argélia, em 7 de Novembro de 1913. Não esmoreceu o meu interesse pela sua biografia e obra. Espero daqui a algum tempo, quando os afazeres profissionais abrandarem de ritmo, voltar à sua leitura, comentário e, porventura, algo mais arriscado. A ver vamos mas não me falta a vontade nem a energia.
sexta-feira, novembro 4
terça-feira, novembro 1
segunda-feira, outubro 31
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quarta-feira, outubro 19
segunda-feira, outubro 17
sábado, outubro 15
quinta-feira, outubro 13
UM ENCONTRO
Hoje, no Porto, no final de uma actividade profissional na Faculdades de Letras fui surpreendido por uma surpresa desejada. Conheci pessoalmente a única mulher portuguesa, Maria Luisa Borralho, autora de um dos dois livros, publicados em Portugal, acerca de Albert Camus (1984). Fiquei feliz. Pode ser que deste conhecimento que, finalmente, foi além do virtual possa surgir alguma iniciativa interessante. Tenho o seu livro, já muito sublinhado a lápis, após a primeira leitura, aqui perto de mim.
quarta-feira, outubro 12
segunda-feira, outubro 10
Silvio Berlusconi desafiado por Giuseppe Verdi.
No último dia 12 de março a Itália festejava os 150 anos de sua criação, ocasião em que a Ópera de Roma apresentou a ópera Nabuco de Verdi, símbolo da unificação do país, que invoca a escravidão dos Judeus na Babilónia, uma obra não só musical, mas também política, à época em que a Itália estava sujeita ao império dos Habsburgos (1840).
Sylvio Berlusconi assistia, pessoalmente, à apresentação, que era dirigida pelo maestro Ricardo Mutti. Antes da apresentação o prefeito de Roma, Gianni Alemanno - ex-ministro do governo Berlusconi, discursou, protestando contra os cortes nas verbas da cultura, o que contribuiu para politizar o evento.
Como Mutti declararia ao TIME, houve, já de início, uma incomum ovação, clima que se transformou numa verdadeira «noite de revolução» quando se sentiu uma atmosfera de tensão ao iniciarem-se os acordes do coral «Va pensiero», o famoso hino contra a dominação. «Há situações que não se podem descrever, mas apenas sentir; o silêncio absoluto do público, na expecativa do hino, clima que se transforma em fervor aos primeiros acordes do mesmo. A reação visceral do público quando o côro entoa - 'Ó minha pátria, tão bela e perdida'».
Ao terminar o hino, os aplausos da plateia interrompem a ópera e o público manifesta-se com gritos de «bis», «viva Itália», «viva Verdi». Das galerias são lançados papéis com mensagens políticas.
Não sendo usual dar bis durante uma ópera, e embora Mutti já o tenha feito uma vez em 1986, no teatro La Sacala de Milão, o maestro hesitou, pois, como ele depois disse: «não cabia um simples bis; havia de ter um propósito particular». Dado que o público já havia revelado o seu sentimento patriótico fez com que o maestro se voltasse no púlpito e encarasse o público e, com ele, o próprio Berlusconi.
Fazendo-se silêncio, pronunciou-se da seguinte forma, e reagindo a um grito de «longa vida à Itália» disse:
- «Sim, longa vida à Itália mas... [aplausos] não tenho mais 30 anos e já vivi a minha vida, mas como um italiano que percorreu o mundo, tenho vergonha do que se passa no meu país. Portanto concordo com o vosso pedido de bis para Va Pensiero. Isto não se deve apenas à alegria patriótica que senti em todos, mas porque nesta noite, enquanto eu dirigia o côro que cantava 'Ó meu pais, belo e perdido', eu pensava que a continuarmos assim mataremos a cultura sobre a qual assenta a história da Itália. Neste caso, nós, nossa pátria, será verdadeiramente 'bela e perdida' [aplausos retumbantes, incluindo dos artistas da peça].
Reina aqui um 'clima italiano'; eu, Mutti, me calei por longos anos. Gostaria agora... nós deveriamos dar sentido a este canto; como estamos em nossa casa, o teatro da capital, e com um côro que cantou magnificamente, e que é magnificamente acompanhado, se for de vosso agrado, proponho que todos se juntem a nós para cantarmos juntos.»
Foi assim que Mutti convidou o público a cantar.Toda a ópera de Roma se levantou... O coro também. Foi um momento magnífico na ópera! Vê-se, também, o pranto dos artistas.
Aquela noite não foi apenas uma apresentação do Nabuco mas, sobretudo, uma declaração do teatro da capital dirigida aos políticos.
Obrigada à Luisa Alegre
domingo, outubro 9
sábado, outubro 8
Wall Street Protest Spurs Online Dialogue on Inequity
Este movimento ao qual, deste lado de cá, como de costume, poucos estão atentos, vai dar uma grande volta à situação. Pode ser, e será, a meu ver, o princípio de uma nova era. O futuro do mundo passa por aqui.
sexta-feira, outubro 7
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segunda-feira, outubro 3
sábado, outubro 1
sexta-feira, setembro 30
quarta-feira, setembro 28
terça-feira, setembro 27
domingo, setembro 25
sábado, setembro 24
Memórias do MES
Inclui as fotografias de Rosário Belmar da Costa do 1º de Maio de 1974
Este texto foi elaborado para o blogue, já encerrado, Caminhos da Memória e republico-o a propósito do almoço/convívio de 12 de Novembro próximo. (Com pequenas alterações).
Como escrever uma posta acerca de uma memória antiga que não surja aos olhos de quem a lê como o rumorejar de um passado morto? Não sei! Apesar do risco sinto que, no terreno movediço das memórias, há exercícios que valem a pena. É o caso deste que partilho convosco.
Um dia, nos idos de 2007, através de uma cadeia de amigos chegaram-me às mãos quatro fotografias que testemunham o surgimento público do MES (Movimento de Esquerda Socialista).
Aconteceu na celebrada manifestação do 1º de Maio de 1974, em Lisboa, a tal inultrapassável em tudo - desde a aritmética à emoção - que autenticou a vitória do golpe militar com a marca de água de uma massiva, genuína e entusiástica adesão popular. Tendo-me chegado às mãos as ditas quatro fotografias, depois de tanto ter cismado acerca da sua eventual inexistência, havia de promover a sua divulgação.
Escrevi então, se não erro, três postas no absorto mas a colecção nunca antes havia sido publicada. O interesse em voltar ao tema, no presente, é, pois, somente o de deixar disponíveis, e arquivadas, nos Caminhos, as fotografias (únicas) da Rosário Belmar da Costa e, em jeito de remate transcrever dois comentários de quem testemunhou, ao vivo, a manifestação (no caso a fotógrafa de ocasião) dando conta da anárquica discussão acerca da sigla do nascente MES que havia de ser, até ao fim, «de esquerda» e não «da esquerda» como surgiu anunciado no artesanal pano inaugural.
Comentou a Rosário:
Eduardo,
Estivemos, eu e o Xico (Camões), a puxar pela memória e o que nos lembramos é que começámos o dia por ir ao Bombarral buscar uns livros de capa preta que o Mil Homens tinha conseguido imprimir numa tipografia de lá (sobre o que eram os livros já não nos lembramos - textos de antes do 25 de Abril e prefácio posterior, mas talvez tu saibas *).
Depois viemos ter com o Agostinho (Roseta) (lá para os lados da Portugália) que, fardado, não queria aparecer em evidência. Não sei mesmo mas penso que é o tipo de costas ao pé do pau do lado esquerdo.
A ideia do cartaz foi do César de Oliveira (creio que ainda houve alguma discussão sobre se era Movimento da Esquerda ou Movimento de Esquerda…), que esteve o tempo todo esfuziante aos gritos. Ao pé de nós apareceu um grupo, de desertores e refractários acabadinhos de chegar de Paris, animadíssimo (bem animadíssimos estávamos todos) capitaneado pelo Zé Mário Branco aos gritos de «Desertores, Refractários, Amnistia Total!». Foi uma tarde de sonho, tal era o entusiasmo, a quantidade de gente toda feliz, a alegria que estava no ar!
Quanto à fotografia o problema é lembrarmo-nos dos nomes…A partir de uma determinada altura já não foi possível fotografar mais nada, já que era tanta a gente que só do alto e com grandes angulares, meios fora do alcance dos amadores que éramos. Felizmente foram a P&B, que têm muita mais conservação que as feitas a cores!.
Rosário Belmar da Costa
* O livro intitula-se: Classes, política - política de Classes.
Comentou a Luísa Ivo:
O nome do movimento foi amplamente discutido numa reunião no Centro Nacional de Cultura, no fim-de-semana entre o 25 de Abril e o 1º de Maio. Não me lembro de alternativas à sigla depois aparecida, nem recordo já quem defendeu fosse o que fosse. Sei que foi uma reunião confusa, com pessoas a entrar e a sair, com variadíssimos contactos telefónicos, mesmo para outros pontos do país. Tentava-se informar a malta que connosco se articulava há anos. Recordo um telefonema que fiz para amigos do Sindicato dos Electricistas de Coimbra (ou talvez do Centro), por indicação do Victor Wengorovius que teve um papel central nessa reunião de coordenação.
Um abraço grande para quem aqui passa e para ti em especial da
Luísa Ivo
quinta-feira, setembro 22
quarta-feira, setembro 21
terça-feira, setembro 20
segunda-feira, setembro 19
MES - 30 ANOS DEPOIS
A memória não é uma arma de arremesso mas simplesmente o que nos faz viver em paz connosco mesmos. Uma comunidade sem memória é uma comunidade desarmada perante os desafios do futuro e os seus perigos. Seremos nós próprios mais autênticos perante a sociedade se assumirmos, em todas as suas facetas, o nosso passado. Evocar e celebrar, em liberdade, um acto político do passado que nos tocou profundamente é um exercício de cidadania. É esse o sentido da minha adesão à iniciativa que podem conhecer acedendo a este blogue.
sábado, setembro 17
35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5!
quinta-feira, setembro 15
segunda-feira, setembro 12
domingo, setembro 11
CHILE - 11 DE SETEBRO DE 1973
hommage a salvador allende por dictys
Há uns anos atrás visitei Santiago e, pela manhã cedo, de um dia frio, depositei cravos vermelhos na campa de Allende. Os Estados Unidos, campeões da democracia, sem ironia, apoiaram o derrube de Allende, eleito pelo voto popular, colocando no seu lugar um ditador. Ironias da história! Para que não esqueça. Todos os anos este dia deve ser cravado na memória dos democratas.
sábado, setembro 10
11 DE SETEMBRO DE 2001
Em 2008 publiquei um post alusivo ao 11 de Setembro. Ele mantém-se actual com excepção de Obama ter apanhado Laden o que Clinton e Bush não foram capazes de fazer. Mas o mundo hoje, sem Laden, está mais perigoso que nunca.
O DIA 11 DE SETEMBRO DE 2001 FOI O PRIMEIRO DIA DE AULAS NA ESCOLA DO MEU FILHO. POUCOS MINUTOS ANTES DAS 8 DA MANHÃ DEIXEI-O PARA O INÍCIO DO 5º ANO. POUCO DEPOIS NO LOCAL DE TRABALHO ACHEI O AMBIENTE ESTRANHO. A TELEVISÃO LIGADA TRANSMITIA UM ACONTECIMENTO QUE PARECIA FICÇÃO. ENTENDI QUE ALGUMA COISA DE MUITO GRAVE SE ESTAVA A PASSAR. A PARTIR DESSE DIA O MUNDO MUDOU E ESSE CICLO DE MUDANÇA AINDA NÃO CHEGOU AO SEU TERMO. OU TALVEZ SEJAM DIVERSOS CICLOS DE MUDANÇA QUE SE ENTRECUZAM... AO FIM DE SETE ANOS BUSH NÃO ACHOU LADEN. O MUNDO TORNOU-SE MAIS PERIGOSO. PAIRAM NO AR AMEAÇAS DE RECESSÃO E DE GUERRA (FRIA?). NA ESCOLA DO MEU FILHO ESTE ANO AS AULAS JÁ COMEÇARAM E NÃO O FUI LEVAR. É O 12º E ELE GANHOU AUTONOMIA. SINTO QUE ESTAMOS TODOS MAIS SOZINHOS E DESCRENTES NO FUTURO.
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segunda-feira, julho 25
SINAL DE ALARME
É perigoso menosprezar, ou banalizar, este atentado. Aos responsáveis políticos, em democracia, compete fazer o seu trabalho incluindo exigir às polícias todas que não se deixem cair na rotina. Os cidadãos, incluindo neles os que têm como profissão "fazer opinião", que cuidem de não ceder ao populismo aceitando as diferenças com uma cuidada tolerância.
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sábado, julho 23
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